POV Patch

Eric chegou á Nora antes de mim, com sua velocidade de vampiro. Corri o máximo de pude e joguei-me de joelhos ao lado de seu corpo. Nora estava frágil, pálida e seus olhos estavam abertos formando quase uma expressão serena em seu rosto. Toquei com a ponta dos dedos sua bochecha, estava gelada, passei para seu pescoço procurando por pulso, ou algum batimento.

Nada.

Levei minhas mãos ao seus ombros, balançando-a. Ela continuou na mesma posição, braços ao lado do corpo, pernas dobradas e com os olhos cinzas tempestuosos que eu tanto amava sem vida, sem brilho.

Eric rosnou ao meu lado e me empurrou para trás, rapidamente ele rasgou um dos pulsos com as presas e já ia levar o sangue á boca de Nora quando eu parei sua mão.

- Não. – Disse num tom baixo e ameaçador.

- Quer que ela morra? – A expressão no rosto de Eric era quase de loucura, seus olhos ligeiramente arregalados e suas presas estavam para fora, sujas com seu sangue.

- Ela não vai virar uma vampira. – Sibilei e apertei mais seu pulso, o sangue pingava no chão ainda longe de alcançar Nora.

- Prefere ver ela morta? – Levantamo-nos e ficamos frente a frente.

- Ela não vai virar uma vampira. – Repeti, empurrando-o para trás. Ele estava atordoado e pensativo. Eric cambaleou para trás e ficou olhando, desesperado, para Nora.

Não podia permitir que ela se transformasse num monstro. Eu a amava mais que tudo. Daria tudo por ela, tudo que estivesse ao meu alcance e o que também não estivesse, eu daria minha alma por ela, mas não permitiria aquilo. Ela não me perdoaria por fazer isso, por mais que Nora quisesse, não fazia idéia do que estava se metendo quando se aproximou de Eric.

De repente o rosto de Eric contorceu-se em uma careta de raiva e lágrimas de sangue caíram de seus olhos. Num movimento rápido, tirou Pam para o outro lado da clareira e levantou Sookie do chão, seus olhos estavam quase se fechando e sua respiração fraca, um restinho de vida persistia em ficar dentro dela. Eu queria poder fazê-la pagar, mas mal conseguia me mover, estava estático.

Com um só golpe, Eric enfiou a mão dentro do peito de Sookie e tirou de lá, sem dificuldade alguma, trazendo junto o coração da garota. Jogou-o no chão e pisou até virar uma mistura de sangue e tecido. Sookie caiu imóvel no chão, quase que na mesma posição que Nora.

Ajoelhei ao lado do corpo da Anjo. Aquilo devia ser algum tipo de punição por todas as idiotices e atrocidades que fiz, mas por que tinha que ser logo com ela? Podiam me amarrar no inferno, arrancar minhas asas milhares e milhares de vezes seguidas. Eu não me importava, desde que ela estivesse segura. Abracei-a implorando para que Deus, o Demônio, que seja, me levasse com ela.

- Mas que merda...? – Eric indagou e logo ouvi o som de alguma coisa fritando. Virei-me para saber o motivo.

Era Eric. Ele estava ajoelhado no chão com os antebraços para cima tentando proteger o rosto. Ainda faltavam algumas horas para o sol nascer, só outra coisa poderia causar um brilho daquele. Uma luz tremeluziu e eu o senti.

- Gabriel. – Levantei-me apressadamente, deixando Nora com cuidado sobre a grama.

Não sei do que seria capaz. Arrancaria suas asas, o torturaria, tiraria seu colar de arcanjo. Que seja. Afinal, não tinha mais nada a perder.

Lá estava ele. Cabelos loiros, olhos azuis, pálido, e um sorrisinho cínico se esboçava em seu rosto.

- Jev. É bom ver você.

- Pare de fazer isso com ele. – Gesticulei para Eric que ainda estava com os antebraços na frente do rosto, gemendo de dor e tostando.

- Ah, isso? – Ele olhou para o vampiro e a luz pareceu se expandir. – Andando com esse tipo de... – Franziu o cenho. – Não sei se posso chamar isso de espécie. É mais uma aberração.

Num piscar de olhos, Eric - mesmo estando quase frito -, pulou para cima do arcanjo com as presas expostas. O anjo levantou a mão aberta e o vampiro voou alguns metros para trás com a força e com a luz.

- Era necessário? – Apertei a ponte do nariz, e virei-me para trás. Ver o rosto de Nora sempre me acalmava, mas agora só pareceu me dar mais forças para acabar com Gabriel.

Talvez ele me acorrentasse no inferno. Não podia ser tão mal assim.

Estar sem a Nora já era um inferno.

- Sei que tem raiva de mim, mas realmente precisava fazê-la pagar pelos meus erros? – Tentava controlar minha voz. – Seja homem o bastante, Gabriel.

- Não foi uma decisão inteiramente minha. – Deu os ombros. – Já estava na hora de acabar com isso. Deixamos que você ficasse com ela por tempo demais. Você é um anjo caído, Jev, não tem mais direito á felicidade.

- Eu não me importo com você, com suas regras e muito menos com... – Ele não me deixou terminar. Apenas levantou a mão.

- Não use o nome dele em vão. – Ele estava sério, mas eu sinceramente não estava com cabeça para aguentar aquilo. Avancei para cima dele e antes que eu pudesse chegar, sua imagem tremeluziu e desapareceu.

Olhei para os lados, mas o senti atrás de mim. Virei-me e ele estava com o corpo de Nora nos braços.

- Solte-a agora! – Rosnei. Ela era minha.

- Não tenho medo de você.

- E nem eu de você, Gabriel. Acho que já tivemos esse diálogo... – Balancei a cabeça negativamente. – Dê-me ela, agora.

Eric pareceu ter se recuperado das queimaduras, e num instante apareceu em pé ao meu lado. Fitava o arcanjo com curiosidade estudando-o minuciosamente. Ele continuava com Nora em seus braços, eu queria tirá-la dali, fugir com ela para algum outro lugar, onde eu pudesse ficar com minha dor. Sozinho.

Gabriel pareceu ignorar, olhava para Nora com atenção.

- Tão jovem. Tão bonita. – Olhou para mim com seu sorriso cínico. – É realmente uma pena que tenha um pouco de sangue dessa raça deplorável.

Eric rosnou ao meu lado e eu coloquei um braço na frente de seu corpo para impedi-lo de pular em Gabriel.

- Você é a única coisa deplorável aqui. Sem julgamentos, lembra? Você não tem o direito de criticar ninguém. – Meus punhos estavam cerrados e foi a vez de Eric me puxar para trás.

- Um anjo caído. Uma garota com sangue nefilim. Um vampiro. Meio cômico, não acha? – Retrucou e deu uma risadinha debochada. – Vou cuidar do corpo de jeito apropriado.

- Você não vai sair daqui com ela. Eu vou cuidar dela. – Passei por Eric e tentei arrancá-la dos braços de Gabriel, e mais uma vez ele levantou a mão, desta vez, jogando-me para trás.

- Não tem mais nada para ser cuidado. Vou encaminhá-la para outra vida, é o melhor.

Levantei-me num pulo e fui para o lado de Eric novamente, ele olhou para mim e sussurrou:

- Como assim outra vida?

Dirigi-me á Gabriel como que para responder a pergunta do vampiro.

- Ela vai reencarnar?

- Ora! Mas é claro que vai. Um dia todos reencarnam. Alguns mais cedo, outros depois de anos... Varia muito

- Não vai conseguir me separar dela. Vou achá-la.

Gabriel negou com a cabeça, com um sorriso.

- Ela não vai se lembrar de nada, você sabe... Todo aquele processo. – Fala aquilo com naturalidade, deu os ombros. – E isso me leva ao outro motivo pelo qual estou aqui.

Esperamos em silêncio. Eu ficava olhando para o corpo inerte de Nora, como se esperasse que ela voltasse a respirar de repente.

- Você disse que eu tenho raiva de você... Bom, é verdade. – Eu ainda ia arrancar cada dente daquela boca. Aquele sorrisinho me enojava. – Vocês não vão conseguir senti-la na próxima vida.

- O que? – Eu e Eric perguntamos em uníssono.

- Sabe como gosto de profecias, maldições... Resolvi presenteá-los com uma.

- E qual seria? – Eric indagou levantando uma sobrancelha, como se estivesse o desafiando.

- Vocês não vão conseguir senti-la até ela achar que encontrou seu... – Ele revirou os olhos. – “Verdadeiro amor”. Pode ser quando ela tiver 15, 20, 40 ou 50 anos.

Estava tentando digerir aquilo. Quando ele terminou:

- Você complicou muito minha vida, Jev. Deixe-me recompensá-lo por isso. – Sua forma tremeluziu, ele estava indo embora. Pulei para cima de sua imagem.

- Não pode me separar dela. Eu vou achá-la nem que eu tenha que procurar em todos os cantos da terra! – Berrei, e tentei arrancar Nora de seus braços, mas agora meus braços só passaram através de uma névoa.

Levei minhas mãos á cabeça, como se quisesse arrancar meus cabelos. Eu ficaria louco assim. Eric não estava muito melhor, ele tinha uma expressão arrasada e devastada, me imaginei assim também. Abri a boca para tentar dizer alguma coisa. Algo de tipo: “vou procurar por ela” ou “vou esperar por ela, sempre”, mas não saia nada de minha boca. Ficamos ali pelo o que pareceram minutos, apenas encarando o vazio.

Mas minha cabeça estava á mil. De duas coisas eu tinha certeza. Eu faria Gabriel pagar por isso. E eu acharia Nora, não importa quando tempo levasse, eu a acharia antes que pudesse senti-la e ia reconquistá-la de novo, só que dessa vez, ia achar um jeito para que ela ficasse comigo para sempre.