-Oi Nirhakiana. – sorriu ela, olhando para o horizonte.

 -Como sabe que...? – ela não me deixou terminar, e eu também não conseguiria.

 -Posso ouvir sua serpente querida. É novata não é? – disse ela, agora mexendo em alguma coisa embaixo da bancada.

 -Sim, sou... – falei com a voz mais baixa possível.

 Era chato não saber aonde ir, com quem falar e me surpreender o tempo todo.

 -Percebi! – riu ela. – Então... O que vai querer querida?

 -Bem... Quero um suco de sangue achocolatado e... – eu não sabia o que pedir. Se havia sangue achocolatado o que mais nojento deveria ter ali?! – Melhor! – falei, me arriscando. – Dois sucos de sangue achocolatados. – sorri, nervosa.

 -Saindo! – falou ela indo para dentro da barraquinha que havia um pano tampando o lugar aonde ela ia.

 Depois de esperar uns cinco minutos ela voltou com duas garrafas plásticas com alguma coisa marrom e espessa dentro e com um canudo em caracol e me deu.

 Assim que segurei, notei que não era plástico e nem vidro. Era alguma substância sólida, mas líquida ao mesmo tempo, era engraçado de segurá-la, parecia que estava segurando uma água-viva em formato de garrafa.

 -Realmente é novata. – sorriu ela. – São cinco pilas.

 Coloquei as garrafas encima da bancada e puxei duas pedrinhas e minha calça.

 -Aqui. – estendi o braço para ela.

 A mulher se virou e quando foi pegar o dinheiro, congelou, olhando para o meu braço.

 -Algum problema? – falei despercebida.

 -Sua Nirhak! – sussurrou ela, apontando e com um leve sorriso nos lábios.

 Deixei as pilas em cima da bancada, peguei as garrafas e cobri minha serpente com a manga cumprida do casaco.

 -Você é... A chave! – sorriu ela.

 Assustei-me com o olhar penetrante da mulher.

 -Obrigada. – saí perturbada.

           Por que será que aquela mulher estava tão feliz? – perguntei a mim mesma, enquanto andava, procurando o ringue de Thor e Rey.

 -Aqui está! – falei para Lara, após encontrá-la, exprimida no meio de uma multidão.

 Não havia dado um simples gole até chegar perto dela, queria ver a expressão dela, ao tomar.

 Ela pegou a garrafa e bebeu um enorme gole.

 -Ah! – sorriu ela, após beber. – Na Terra não tem isso! – riu ainda mais ela, olhando para a batalha que parecia nunca acabar.

 Olhei para Thor e Rey e os dois estavam definitivamente muito cansados e acabados. Estavam sujos e ofegantes, mas nenhum dos dois parecia querer acabar com a luta e ser o derrotado.

 Tomei um gole pequeno, somente para experimentar e notei que o gosto era maravilhoso! Era como um Milk-shake de chocolate, era ótimo!

 -Isso é bom! – sorri, bebendo mais um gole, só que agora, um longo.

 -Eu sei! – sorriu Lara.

 A luta terminou depois que Rey caiu inconsciente na arena e Thor estava quase vomitando sangue, foi uma bela luta.

 -Então, para onde vamos? – perguntei a Lara que estava gritando e chorando de felicidade sozinha, porque todos os outros que estavam vendo a batalha já havia ido embora.

 -Espera! Quero ver o Thor! – riu ela pulando e indo para frente de uma pequena tenda ao lado da arena.

 Olhei em meu relógio e estava marcando três e quarenta da manhã.

 -Lara, está tarde! Temos que ir! – falei puxando-a pelo braço.

 Ela ainda era uma criança, pois ela se debatia querendo voltar para a porta da tenda, enquanto eu a puxava para algum lugar.

 -Para onde temos que ir? – perguntei quando ela já havia se conformado que não voltaríamos, com os braços cruzados sobre o peito e de cara amarrada.

 -Para lá. – apontou ela com o dedo indicador.

 Ela apontava para a grande porta de sente metros.

 -Isso eu sei, mas e depois? – falei apressando o passo até a porta. Proêmios já estavam fechando-as. Não sei como, já que eram pequenos e as portas pesadas e enormes.

 -Venha comigo. – falou ela disparando na minha frente, com passos rápidos e zangados.

 Atravessamos a grande porta e em alguns instantes já estávamos no meio da cidade, com nem uma só alma na rua.

 -E agora? – perguntei com os braços cruzados sobre o peito e batendo um dos pés. Estava furiosa!

 Não havia ninguém! E Lara parecia até uma criança emburrada. Legal! Tinha virado babá e ainda por cima, estava perdida.

 -Vamos para casa da tia de Matthew. Ela mora logo ali. – apontou ela por sobre os ombros para uma casa enorme e luxuosa, que estava a uns cinqüenta metros de nós.

 Respirei fundo e caminhei, deixando-a para trás.

 Ouvi seus passos apressados correndo atrás de mim.

 -Desculpe, é que sou muito fã de Thor. – falou ela, quase correndo para acompanhar o meu passo.

 -Tudo bem... – falei. Estava mesmo tudo bem. Eu sabia que ela não havia feito por mal.

 Ficamos em silêncio indo para casa da tia de Matthew.

 Subimos a enorme escadaria. Sua casa era amarela e muito, muito, muito grande. Parecia ter uns mil quartos naquela casa.

 Passamos por sobre uma ponte, onde havia água cristalina passando embaixo de nossos pés. Lara não pareceu impressionada, pareceu que sempre ia lá, mas eu não, estava encantada.

 Depois de alguns segundos que percebi que a ponte flutuava por sobre a água, não havia cordas para prendê-las de um lado a outro, era incrível! Por incrível que pareça, eu não senti medo, estava mais era encantada.

 Lara chegou primeiro e apertou a campainha desenhada da casa da tia de Matthew.

 Fez um alto barulho que ecoou até fora da casa.  

 Uma mulher abriu a porta e subitamente abraçou a mim e a Lara.

 -Estava preocupada com vocês! – disse ela com a voz preocupadíssima. Ela se afastou e Lara entrou após falar com a moça e sorrir, mas eu permaneci. – Você é Melany, certo? – ela tinha um grande sorriso.

 Tinha olhos verdes escuros, cabelo loiro que descia até sua cintura, rosto redondo e pálido, saia longa, batendo nos pés e uma blusa de manga cumprida. Ela tinha um olhar carinhoso, afetuoso, de mãe mesmo, que nem o olhar de minha avó.

 -Sim, sou eu. – respondi alegremente.

 -Entre! Os meninos estão na cozinha comendo panquecas açucaradas. – sorriu ela.