-Obrigado. – disse ele.

 -Você... – minha voz parecia não querer sair de jeito algum! Mesmo que eu a forçasse ela saia rouca e esganiçada.

 -Sim, eu ouvi. – ele riu novamente.

 -Eu não... – me desesperei com o fato dele poder ouvir meus pensamentos, já tive tantos bons e ruins em relação a ele que eu nem conseguia explicar minha preocupação.

 -Eu sei que não. – riu ele novamente.

 Forcei-me a não pensar mais nada em relação a ele, mas era complicado vendo aquele sorriso mágico, sua boca rosada em que ele passava a língua cuidadosamente pelo piercing e seus olhos esmeralda.

 -Melany, tem que me prometer uma coisa hoje. – disse ele vindo até mim, com seus olhos sedutores olhando os meus.

 Eu não conseguia me mover.

 Acenti.

 Ele veio até meu ouvido:

 -O que irei fazer, não poderá contar a ninguém, escutou? – ouvi sua voz ficar grossa e potente em meu ouvido.

 -Aham... – falei com a garganta seca.  

 Eu estava com medo, mas era um medo bom, um medo de pura adrenalina e emoção. Meu coração estava batendo tão forte e tão rápido contra meu peito que eu conseguia escutá-lo.

 Cuidadosamente ele se afastou de meu ouvido e pude sentir seu hálito quente vir pela minha pele, até ele encontrar minha boca.

 O ar ficava cada vez mais rarefeito para mim e estava complicado até de pensar, então deixei aquele momento me levar como uma dançarina na pista de dança. Eu dancei conforme a música e me senti a pessoa mais feliz do mundo ao sentir sua boca arder em meus lábios, eu sentia um gosto amargo, mas era misturado ao doce de seus lábios. Senti suas mãos passarem pelo meu braço e pararem em minha cintura fazendo movimentos circulares desorganizados, enquanto eu subi meus braços para seu obro e envolvi minhas mãos em seu pescoço.

 Eu me sentia flutuando, mas meu braço, onde minha Nirhak estava, estava latejando me fazendo quase chorar, então parei o longo beijo e o afastei, olhando-o nos olhos. 

 Não precisei dizer nada.

 -Também sinto. – fiquei feliz que ele estava sentindo o mesmo que eu, estava feliz que nós tínhamos uma conexão tão forte a esse ponto. Eu estava feliz.

 Ficamos um tempo em silêncio nos observando, até que eu olhei para o relógio de ponteiro em cima de sua cabeça, eram duas e meia da manhã e precisávamos voltar para nossas camas.

 -Está tarde... – falei largando-o e indo até a escada.

 Ouvi o clik do desligar das luzes da cozinha e ouvi seus passos rápidos atrás de mim.

 -Te levo até seu quarto. – falou ele segurando minha cintura.

 Eu estava me sentindo tão protegida e amada que mal pude acreditar que aquilo estava acontecendo.

 *

 Eu acordei extremamente feliz com o que tinha acontecido na noite passada.

 Nem conseguia imaginar que Matthew, o menino que eu tinha me encantado desde o primeiro olhar disse estar completamente apaixonado por mim.

 Ele me deixou no quarto sozinha depois de longos beijos em cima da cama, no tapete rosa e nas paredes.

 Parecia que tínhamos ficado tempo demais sem dizer nada sobre nossos sentimentos.

 Só naquele instante percebi que não havia dito o que eu sentia por ele, mas ele pode ver que era forte pelo jeito que nos apertávamos contra tudo que estava atrás de nós, como a parede, o chão, a cama...

 Estava com muita vontade de pular da cama e vê-lo o mais rápido possível, que eu nem conseguia respirar direito.

 Tirei as colchas do meu corpo, pulei da cama e fui em direção a porta sem ao menos colocar meus chinelos de bichinhos.

 Quando estava abrindo a porta o enorme sorriso que estava em meu rosto foi se transformando em uma linha. Eu não poderia fazer nada, demonstrar nada, ninguém poderia saber o que aconteceu entre eu ele. Embora eu quisesse contar para todo mundo e beijá-lo, abraçá-lo, rir para ele de um jeito diferente e amoroso, mas não tinha como, infelizmente.

 Voltei até perto da cama e pus meu chinelo de bichinhos e desci para o andar de baixo como se nada tivesse acontecido, apesar de por dentro, eu estar quase explodindo de felicidade ao ver Matthew sentado no sofá rindo ao ver Two And A Half Man na TV de plasma de Lara.

 Eu percebi que não havia visto os pais de Lara em nenhum momento enquanto estávamos lá. Não havia um caseiro, uma empregada, ninguém... Estranhei imediatamente. Mas, também! Eu estava muito entretida com muitas coisas enquanto estava lá para notar uma coisa tão ridícula, afinal quase todos éramos maiores de idade, menos eu e Lara, claro!

 Sentei-me ao lado de Peter, pegando uma caneca de chocolate quente que Catherine havia me entregado.

 Olhei para Matthew pelo canto dos meus olhos, enquanto me queimava com o chocolate, mas não me importei, eu estava muito concentrada para me preocupar com ardência de minha boca, língua e até mesmo meus dentes imploravam que eu parasse de tomar.

 Comecei a assistir o programa. Catherine estava discutindo com Peter que o Charlie do programa era um gato, mesmo com todos os problemas que ele tinha com sua “galinhagem” e Peter defendendo com unhas e dentes sua tese sobre ”Homens tem que ser livres e aproveitar a vida com fervor”. Eu estava a favor de Catherine secretamente.

 Lara estava reclamando que ser chocolate quente estava fervendo e que Catherine não podia deixá-lo tanto tempo no micro-ondas porque até a caneca estava fervendo. Ri quando ela quase vomitou quando Catherine disse que havia cuspido no chocolate quente dela. Catherine e Lara eram muito próximas, mas Catherine era extremamente fria, acho que até quando não queria ser.

 Matthew estava concentrado no programa, sorrindo sempre que Jake falava alguma besteira, como sempre fazia. O sorriso dele me fez acabar com o chocolate rapidamente e notar que minha língua estava dormente.

 -Gente, vamos logo com isso! – ouvi Catherine falar enquanto esticava sua mão no rosto de Peter e o empurrava delicadamente, sorrindo. Acho que eles têm alguma coisa... – pensei.

“Concordo com você...”

Assustei-me e dei um leve pulo para trás ao ouvir a voz de Matthew em minha mente. Eu não sabia que conseguia escutá-lo também. Encarei-o assustado com uma ponta de sorriso e ele sorriu para mim.

“Não demonstre tanta animação, aja normalmente.” – ouvi Matthew novamente.

 Balancei a cabeça positivamente.

 Felizmente ninguém viu nosso contato visual permanente, pois todos estavam discutindo alguma coisa relacionada a sair da casa com ou sem mantimentos.

 -Não precisamos de comida humana em Alídea! – ouvi Catherine dizer com o tom mais alto e áspero que o normal para Peter.

 -Nunca se sabe Cath! – falou Lara pensativa e colocando sua caneca ainda cheia na mesa de centro de sua sala.

 -Ah! Então faça o que quiser! – ela fez bico. – Vou pegar minhas coisas para irmos. – disse ela e levantando e indo para escada, mas antes ela se virou e fitou-me. – Se eu fosse você, me apressava. – ela me deu as costas jogando seu enorme cabelo preso.

 -Do que ela está falando? – perguntei revirando os olhos para Catherine e olhando para Peter.

 -Alídea é o nosso mundo Melany. – disse ele sorrindo e indo para o andar de cima junto a Catherine, enquanto discutiam ainda mais sobre algo que não consegui ouvir.