-Onde estamos?! – perguntei ao ver de longe, por trás da neblina um armazém abandonado.

 Eu sabia que Matthew não era mal e não me faria mal, mas mesmo assim me apavorei ao ver que estávamos distantes de qualquer lugar.

 No carro, permanecemos em silêncio todo o tempo, por que tudo que eu tentava falar, ele me interrompia com um “shhh”, assim me fazendo ficar super nervosa e deixando para lá qualquer idéia que eu pudesse pensar de dizer algo. Odeio quando me mandam ficar quieta.

 -Logo irá ver... – falou ele encostando o carro perto de uma grande montanha de terra clara.

 Após encostar o carro ele tirou o cinto, o que me fez tirá-lo também.

 -Está preparada Melany? – disse ele, olhando-me, enquanto eu tentava me desenrolar do cinto.

 Papai sempre dizia que o que eu tinha de esperta, eu tinha de enrolada. Odiava quando ele dizia isso, mas como a risada de minha mãe sempre foi super contagiante, ele nunca notou que eu não gostava quando ele falava mal de minha pequena dificuldade com certas coisas.

 -Para que? – perguntei quando já tinha soltado o cinto de meu corpo. Finalmente!

 Silêncio.

 -Venha comigo... – falou ele saindo do carro velho e batendo a porta.

 Fiz o mesmo que ele.

 Enquanto ele me levava até a enorme porta de alumínio do armazém, eu pensava em como eu estaria completamente arruinada se não comparecesse no julgamento de hoje à tarde. Completamente perdida, ferrada e... É... Ferrada mesmo!

 Eu não sabia e nem tinha idéia do que Dr. Charlie poderia fazer comigo, mas se ele era realmente tão mal como Matthew dizia que ele era, então era melhor eu manter distância dele. O problema é que ele sabe onde me achar e como pude perceber, ele iria até o inferno, se fosse preciso, para me pegar.

 Ele empurrou a grande e pesada porta de alumínio do armazém.

 Ele adentrou. Estava escuro, eu não pude ver muita coisa, a não ser a silueta de Matthew entrando e desaparecendo na densa escuridão do local.

 Entrei. Preferi entrar e ficar com alguém, do que ficar sozinha do lado de fora.

 É claro que minhas pernas estavam bambas, coração a mil, suando frio, mãos cerradas e um grande medo correndo em minhas veias e em todo meu corpo, mas isso não me impediria de entrar. A curiosidade é maior do que eu.

 Assim que já estava completamente dentro do armazém, ouvi um grande estrondo ecoar pelos quatro cantos do local, assim percebendo que era gigantesco.

 Fiquei completamente apavorada, tentando enxergar e não conseguindo, estreitava meus olhos , olhava para todos os cantos, mas eu não conseguia ver nem se quer um palmo na frente de meu rosto.

 Pude notar que alguém tinha fechado a grande e pesada porta do local. Onde estava Matthew?! – pendei.

 -Olá Melany... É um prazer te conhecer. – ouvi uma voz feminina, doce e melódica.

 -Quem é? – perguntei, sem ao menos ver quem era.

 Ninguém sabe como é agonizante você não enxergar, não ver quem está a sua frente, não sentir a presença de ninguém. Ficar literalmente perdido na escuridão.

 -Ligue logo a luz gente! – ouvi outra voz masculina, mas não era igual à primeira que ouvi. Era mais grossa, mais... Potente.

 Senti minha vista arder quando senti os raios de luz entrarem pelos meus olhos repentinamente.

 Aos poucos as luzes foram acendendo. Luzes grandes e potentes instaladas no teto altíssimo do armazém. Uma por uma.

 Consegui recuperar a visão, depois de alguns segundos esfregando meus olhos.

 -Está tudo bem? – Matthew?

 Olhei para o local em geral.

 Não havia nenhum vestígio que ali tinha sido um armazém abandonado e sim uma academia de musculação, com tatame e tudo o que uma academia precisa.

 Havia mais algumas pessoas que eu não conhecia.

 Uma menina com saia quadriculada preta, uma blusa branca e um tênis vermelho, rosto angelical, cabelos enrolados nas pontas ruivos, olhos castanhos e branquíssima, com sardas em seu rosto. Parecia ter sido a primeira a falar comigo.  

 Outra menina com cabelos presos e lisos como o meu, castanhos com mechas azuis. Olhos verdes escuros e sua pele era morena. Estava de calça jeans azul marinho, blusa preta, escrito o nome de alguma banda que não consegui identificar e botas de veludo preto.

 Matthew estava do lado de um menino pálido,com cabelos loiros, olhos negros, lábios voluptuosos, rachados e ressecados, casaco marrom, calças jeans e all star.

 -Melany... – falou Matthew chegando próximo a mim. – Conheça os Nirhakianos. – ele sorriu e logo depois os outros sorriram.

 -Quem? – perguntei, confusa.

 -Esta é Lara. – apontou ele para a menina de saia quadriculada.Ela sorriu simpática e eu sorri de volta. – Este é Peter. – apontou ele para o outro único menino ali. Ele balançou a cabeça em sinal de aprovação, mas eu não me movi. – E esta é Catherine. – apontou ele, por fim, para a menina de mechas azuis.

 -Mas, então... – falei me aproximando de todos e de alguns materiais de musculação gastos e enferrujados. – O que é essa Nirhakianos e que lugar é este? – empaquei um pouco na hora de dizer aquela palavra difícil, não é tão fácil assim como pareceu.

 Olhei para o braço de cada um ali e vi que também tinham Nirhaks em seus braços, mas não deu para ver a cor de seus olhos.

 -Bem... – começou Laura. Acho que esse era o nome dela. – Este é o lugar onde costumamos treinar para ocasiões como esta. – falou ele e logo em seguida Peter emendou.