Acordei de manhã, mais ou menos umas 9:30. Vi que o disco do Aerosmith que estava na minha vitrola estava guardado, e que algumas roupas minhas sumiram do chão. Minha mãe passou por ali. Suspirei. Comecei a me lembrar da minha briga com ela. "Não!" Balancei a cabeça. Não queria me lembrar da noite passada, não queria me lembrar de seu rosto choroso, eu estava completamente arrependida.

Levantei e fui escovar os dentes, nem tirei o pijama. No banheiro me olhei no espelho... Tentei prender meu cabelo em coque que nem o de minha mãe, para ficar mais parecida com ela... E ficou. Ri.

Sai do banheiro e fui para a cozinha, meu café da manhã estava na bancada, como sempre. Dessa vez era suco de maçã e cereal. Alyson Melton era demais. Sorri. Comi.

Por alguma razão fui até no quarto de minha mãe e me joguei na cama e pensei, pensei e pensei. Pensei sobre Alyson Melton... Ela era perfeita.

Abri um sorriso.

Me levantei da cama e abri seu armário. Olhei para os vestidos dali. Peguei um azul marinho, ele tinha alguns brilhos e era sem mangas. O vesti. A peça de roupa estava um pouquinho abaixo dos joelhos, por eu ser mais baixa que a minha mãe. E a parte dos seios ficou frouxa. Procurei por um sapato e achei um preto com salto. Coloquei-o. Ele deixava o peito do meu pé livre e fechava nos dedos, nem frouxo e nem apertado, pois calçava o mesmo número que minha mãe. Seu salto era grosso e alto. Andei até o espelho e me vi. Sorri e ri alto. Estava muito parecida com Alyson. "Olá, eu sou Alyson Melton, sou bonita demais para você, saia daqui!" imitei a minha mãe com a mão no queixo. Continuei sorrindo. Saí da frente do espelho e comecei a girar com os braços abertos, dei uma tropeçada por conta do salto, mas continuei girando. Era engraçada a forma como o vestido ficava esvoaçado. Ri.

"TOC TOC!" Alguém batera na porta. Eu com um susto parei de girar, quem poderia ser?

— Demi??

Era a voz de Steven.

— Ah, to indo... S... Só um minuto.

Eu havia esquecido que Steven viria. Despi o vestido e joguei no armário, tirei o sapato e o deixei jogado no chão. Fui correndo para o quarto para vestir uma roupa. "TOC TOC"

— Vamos logo, Demi!

— Espera Steven! Já vou!

Procurei desesperadamente por uma roupa. Peguei um short e uma blusa branca qualquer e os vesti. "TOC TOC". Saí correndo para abrir a porta:

— Mas que droga, Steven, não sabe esperar não?!

Steven riu:

— Vamos logo! Vem

— Espera, deixa eu só pegar minha bicicleta e coloc...

— Não— Steven me interrompeu— Não precisa de sua bicicleta, vamos andando.

Respondi que estava tudo bem e fui colocar um tênis. Saímos de casa e paramos numa esquina:

— O Saul já está vindo— Steven falou— Ele disse para nós esperarmos aqui.

Steven mal terminou de falar e Saul apareceu subindo a esquina:

— Oi Steven, oi Demi!

Saul disse assim que chegou, respondi com um oi tímido. Ele deu uma pequena risada:

— Quando Steven me falou que você gosta de Led Zeppelin e Aerosmith, fiquei animado em te mostrar uma loja de discos perfeita, você vai pirar.

Sorri. Quando dei por mim, Saul estava me arrastando pela mão esquina à cima. Sorri por dentro. Steven estava tagarelando como sempre, mas dessa eu vez eu não estava escutando nada. Eu estava besta, idiota e retardada naquele momento, Saul pegou na minha mão. “Sua idiota!” Pensei de mim mesma.

Chegando na loja, percebi que o que Saul havia falado era verdade. Sorri de uma orelha a outra e entrei na loja. Lá era perfeito. The Rolling Stones, Jimi Hendrix, The Beatles, Black Sabbath, Led Zeppelin, Kiss, Queen, David Bowie, Ramones, Bob Dylan, Pink Floyd, AC/DC...

— CARACA!! EU QUERO TUDO ISSO AQUI!!

Andei pela loja olhando todos os discos, maravilhada.

— Quem é essa sua amiguinha, Saul?

Olhei para quem disse aquilo. Foi um homem, estava atrás do balcão, provavelmente era o dono da loja ou outra coisa parecida:

— Essa é a Demi, Phill. — Saul disse— Ela adora rock n' roll.

— Estou vendo!

Phill riu, e eu também. O dono da loja disse que conhecia a mãe de Saul, e por isso deixava o garoto pegar uns dois ou três discos emprestados, dissera também que Saul era muito cuidadoso. E dessa vez ele havia pegado dois: Aerosmith e Ramones.

Saímos da loja empolgados para ouvir os discos. Fomos para a casa de Saul ouvi-los. Sua mãe não estava lá, só a sua vó, Ola, Saul a adorava.

Ficamos escutando discos sentados no chão do quarto de Saul, foi muito bom. Percebi que nós três tínhamos muito em comum, nós odiávamos a escola, adorávamos ouvir discos por muito tempo, amávamos rock n’ roll e gostávamos de andar por L.A. tanto a pé quanto de bicicleta. Naquele dia conversamos e rimos muito, perdi até a vergonha que tinha quando estava perto de Saul- menos quando ele me tocava-.

Nesse dia eu observei Saul, vi que em sua escrivaninha tinha muitos desenhos, e ele disse que tinha os feito. Ele desenhava muito bem. Vi que ele gostava de animais, Saul não parava de falar em cobras e iguanas, isso era engraçado, porque às vezes Steven dizia que se alguém não o interromper o garoto das cobras ele ia ficar falando sobre elas o dia inteiro.

E no quarto de Saul, vi a iguana que ele havia roubado naquela loja de animais, no dia em que o conheci. Sorri.

 Ficamos lá até hora do almoço. Avisei aos meninos que eu tinha que ir para casa:

— Steven, você falou para ela?

Saul perguntou e Steven respondeu:

— O que?

— Ah, seu lerdo! Deixa que eu falo. — Saul riu— Então, hoje vai ter um "showzinho" no bar aqui perto, eu e Steven vamos você quer ir?

Na hora eu achei isso uma péssima ideia, minha mãe não iria deixar de jeito nenhum, mas como eu sou teimosa disse que sim:

— Te buscamos às oito— Saul sorriu— Ok?

— Claro! Mas quando chegarem lá, me chamem pela janela silenciosamente, ok?

Os meninos concordaram. Abri um sorriso.

Me despedi deles e de Ola e fui pra casa.

Quando dei por mim eu estava indo para CASA, ou seja, teria que encarar a minha mãe. "Puta que pariu!" Agora não tinha escapatória, eu ia ter que ouvi-la e levar broncas... Mas pelo outro lado... Iria me desculpar com ela.

Cheguei na porta de casa e respirei fundo. "É isso aí".