Quando vi a minha mãe em pé com os braços cruzados, com uma cara feia e o cabelo solto, já soube que coisa boa não estaria por vir...

Entrei em casa e fechei a porta, olhei pra ela e disse:

- Tudo em cima?

Senti um cheiro de chuva:

- Tudo em cima o caramba, Demi Melton! Onde é que você estava? Pode me dizer?!

Pensei por um tempo mais do que o necessário. Tinha que sair dali rápido, porque eu estava cheirando a álcool:

- Não- respondi- tenho que tomar banho, com licença.

Ouvi um trovão e deixei minha bicicleta encostada na porta e passei por minha mãe para ir ao banheiro, e ela perguntou incrédula:

- Isso é cheiro de álcool, Demi?

“Ferrou” Pensei, “É agora que eu morro, Steven você vai ver”. Levei um susto com a pergunta e disse:

- Não.

Minha mãe me segurou pelo braço. Começou a chover:

- Me diga, agora!

Não falei sequer uma palavra. Simplesmente olhei-a fixamente. O lábio inferior dela tremeu:

- Meu deus, Demi! O que você estava pensando? Você tem o que na cabeça?- disse ela com a voz elevada- Só tem 12 anos!!

Eu já ia me desculpar, mas minha mãe havia dito aquilo come se eu fosse uma retardada completa:

- Me solta!- puxei meu braço- Preciso tomar banho. E não enche a porra do meu saco.

Trovão.

- Você não vai à lugar algum!

Minha mãe agarrou meu braço de novo:

- Demi Melton, me responde agora! Onde é que você estava? Com quem? Fazendo o que? Besteira?!

Não podia contar a minha mãe com quem eu estava, ela ia me proibir de me encontrar com Steven e Saul. Senti-me ofendida de novo:

- Acontece que isso não é do seu interesse, Alyson Melton.

- Claro que é! Por que não me conta logo? Já sei que a senhorita fez algo errado, está escrito na sua testa!

Minha mãe gritou, me senti ofendida:

- Pra que você quer saber?

- Hm, não sei, talvez seja porque a minha filha de 12 anos chegou tarde da noite em casa, fedendo a álcool, falando palavrão, e respondendo à mãe. Mas isso é só uma hipótese, na verdade eu não sei!

A ironia dela me ofendeu outra vez e a raiva cresceu dentro de mim:

- ME DEIXA EM PAZ!!- gritei- POR QUE VOCÊ NÃO VAI TIRAR SATISFAÇÕES COM O HOMEM QUE TE LARGOU HÁ SETE ANOS?!

Chuva.

Quando minha mãe ouviu o que eu havia dito, seu rosto murchou, sua mão enfraqueceu, e seus olhos se encheram de lágrimas. Piscou e uma lágrima caiu. Ela simplesmente disse com a voz trêmula:

- Vá tomar seu banho.

Soltei-me de sua mão e caminhei ao banheiro. Entrei. Fechei a porta. Suspirei.

Me despi e entrei no box, liguei o chuveiro e me coloquei sob a água quente.

Só depois que eu percebi o que a minha resposta fez com a minha mãe. Nunca tinha a visto chorar. Nem no dia em que meu pai foi embora eu a vi derramar uma lágrima. Percebi que o que eu fiz foi cruel. Sua única filha, a única prioridade de sua vida, seu único amor a fez chorar.

Encostei minhas costas na parede do box e fechei os olhos.

Por que agi assim? Ela queria o meu bem. O que eu fiz foi injusto. Gritei com ela e a fiz chorar.

 Lembrei do rosto de minha mãe no momento em que disse aquela coisa horrível. Vi tristeza em seu rosto, vi dor, vi desapontamento, vi lágrimas. Eu a deixei sem palavras e sem defesas, eu a deixei só.. Como eu puder fazer aquilo? Respirei fundo. Minhas pernas tremeram e não me aguentaram. Deslizei até o chão. Suspirei. Junto disso, vieram as lágrimas.

Embaixo da água quente do chuveiro, fiquei pensando sobre aquele dia. Conheci Saul e vi o que aqueles dois meninos costumavam fazer. Devia ser daquele jeito quase sempre. Roubavam, bebiam, ouviam música, andavam por aí... Faziam coisas erradas, resumindo. Mesmo sendo coisas erradas aquele dia foi bem legal. Seria muito maneiro fazer aquilo todos os dias.

Sorri.

Porém, havia machucado a minha mãe, coisa que eu nunca, nunca, NUNCA, poderia ter imaginado fazer. Mas a culpa foi minha, me senti ofendida por tudo que ela disse sem ter motivos, porque eu estava MESMO errada...

Percebi mais uma vez: Quando se está sozinha, a vida é melhor. Se eu não estivesse com Saul e Steven, nada disso teria acontecido, nunca teria brigado com a minha mãe. Porém, eu nunca teria conhecido Saul, nunca teria tido um dia muito legal como aquele... “Merda” sussurei.

Desliguei o chuveiro. Me sequei e saí do banheiro. Minha mãe estava em seu quarto com a porta fechada, “Droga! Demi sua estúpida!”. Caminhei até a porta de seu quarto e estendi a mão para bater na porta. Desisti. Pensei que eu não conseguiria encará-la. Resolvi deixar isso para amanhã.

Entrei em meu quarto e enrolei a toalha na cabeça. Vesti uma calça de dormir e uma blusa pequena. Estava procurando uma escova de cabelo quando passei na frente do espelho. Parei em frente dele e me encarei. “Será que eu sou bonita?” “Será que eu estou gorda?” Tirei a toalha da cabeça e vi os meus longos cabelos molhados, eles eram castanhos e um pouco claros, que nem os de minha mãe, mas os meus tinham algumas mechas escuras. “Será que alguém me acha bonita?” Eu não sabia realmente porque eu estava pensando naquilo, mas ninguém já me disse que eu era bonita... Estranho... Estranho porque eu nunca achei nada de mim... “O que será que Steven acha? Ou o que Saul acha?” Dei um tapinha na minha cabeça quando pensei nisso, “Larga de ser idiota, Demi.” Saí da frente do espelho e penteei os meus cabelos. Coloquei um disco do Aerosmith, me deitei e adormeci.