Cara, esse Steven era muito maluco, ri muito com ele naquela tarde, ele sempre estava sorrindo, já percebi que era bom ficar ao seu lado, porque eu já me sentia alegre de estar perto dele.

Depois de algumas horas de conversa, Steven foi embora prometendo voltar amanhã. Logo que ele foi embora minha mãe chegou:

– Oi Demi- disse ela colocando sacolas em cima da mesa- Trouxe comida.

– Uuuh- abri a sacola e vi que tinha comida chinesa- estava mesmo com vontade de comer isso. Valeu, mãe.

Enquanto comia, minha mãe foi pro quarto dela trocar de roupa. Às vezes eu a observava fazer isso. Minha mãe era muito bonita, ela era magra, alta, tinha os cabelos castanhos lisos, mas sempre os prendia em um coque mal feito, com algumas mechas pra fora, mas mesmo assim aquela mulher era incrivelmente bonita. Não sei como meu pai preferiu deixá-la...

Eu não tenho muitas lembranças do meu pai. Me lembro que, certo dia, ele já não estava mais ali, assim como as suas roupas, seus sapatos e calças. Só sobraram algumas coisas, como a blusa que eu estava vestindo... Foi nesse dia que eu percebi que não valia à pena dividir a vida com outra pessoa, porque se ela te deixasse, sua vida ia ficar com um buraco... Pior ainda se você dependesse dessa pessoa tanto financeiramente como emocionalmente. Acontece que eu não tinha ódio do meu pai, essa história ficou como pendente, um dia eu ia saber por que ele nos deixou:

– O que você fez o dia inteiro, filha?

Disse a minha mãe interrompendo meus pensamentos:

– Hãm?- perguntei- Que foi?

– O que você fez hojeeee???

– Ah ta- sorri- A mesma coisa de sempre: andei de bicicleta, atropelei, fui atropelada, essas coisas.

– Atropelada?? Mas, Demi... Como? Você está bem? Machucou? Deixa eu ver? Está doendo? Quer que eu te leve para o médico?? Quer...

– Caaalma, mulher!!!- dei uma risada- Eu estou bem, fica fria.

Ri mais ainda.

– Pare de rir, menina!!

Minha mãe riu também.

– Olha, mãe, eu posso sair agora?

– Pode- disse minha mãe- Mas fique por perto, pode ser perigoso, viu?

**********

Estava andando de bicicleta entre alguns prédios, desci escadas, passei por uns lugares apertados, andei na frente dos carros- isso era muito divertido, acredite-. O vento estava batendo em meu rosto e os meus cabelos esvoaçando. Virei à esquerda e... “PUTA QUE PARIU!”, pensei com os meus olhos arregalados e boca aberta. Recuei e cobri o lado esquerdo do meu peito com a minha mão: “Saul”. Sussurrei para mim mesma.

Ele estava na frente de uma loja de animais, no outro lado da rua, sem a sua bike. Estava vestindo uma jaqueta jeans escura, calças, all star e uma simples blusa. Ele parecia relutante, mas acabou entrando na loja. “O que ele está fazendo?” Pensei. Atravessei a rua e fiquei atrás de uma lata de lixo, na direita da loja. Deixei a minha bicicleta sozinha lá do outro lado da rua. O que eu estava pensando?

Esperei um tempinho atrás daquela fedorenta lata de lixo, já estava pensando sair de lá. Suspirei. “Triim!” Soou o sininho da porta de entrada. “Ele saiu!” Espiei por trás da lixeira. Saul saiu da loja com a manga de sua jaqueta sutilmente estufada, pensei ter visto alguma coisa verde saindo dela. “O que é isso?” Parei de pensar sobre a coisa verde e vi que tinha mais alguém com Saul. Era outro menino, um pouco menor que Saul, ele era loiro, tinha o cabelo bagunçado e estava dando risad... “Steven!” Exclamei. Eles atravessaram a rua e estavam indo embora por onde eu cheguei, onde estava a minha bike:

– Ih, olha, Saul- exclamou Steven- Uma bicicleta!

– Quem deixou aqui?- Disse Saul examinando e tocando na minha bicicleta- É maneira.

– Hm- Steven pensou- Vou levá-la...

Saul não disse nada, deu ombros e disse “Vamos”.

“Filho da mãe!” pensei. “E agora? Será que eu grito? Vou lá? Digo que é do meu amigo? Digo que é minha? Aaah meu deus!”:

– Steeeeeven!!

Quando vi, eu já havia gritado. “Puta merda”, meu coração disparou. Steven e Saul olharam pra mim. Gelei.