– O-oq... o que está acontecendo aqui? – falei com a voz rala.

Minha mãe estava com o cenho inexplicável, foi impossível saber o que ela estava sentindo. Eu, diferente dela, estava com a cara de extremo pavor, queria sair dali correndo. No momento que vi aquele homem sentado no nosso sofá com um sorriso estampado no rosto, senti uma enorme vontade de gritar, aquela mesma vontade que eu senti quando esse cara me surpreendeu no beco, mas o que consegui fazer foi apenas engolir em seco.

Fiquei estática em frente à porta, minha mãe pretendia dizer algo, mas ela só abriu a boca e gesticulou com as mãos. O homem, olhando em volta, levantou-se e disse:

– Então essa que a Demi - riu e continuou - Demi Melton, min...

– Não, não - disse minha mãe olhando para ele - Esse é o... o- ela olhou para todos os cantos, imaginando o que ia dizer- Esse é o Benson... ele já estava de saída, não é?

– É, certo... – o tal Benson disse e estendeu a mão para minha mãe como forma de despedida- Pois é, até mais.

Alyson apertou a mão do homem sem alguma expressão. Ele caminhou até a porta, e eu saí da frente da mesma para dar passagem. Benson a abriu e me olhou com um sorriso torto, passando a mão na minha cabeça ele se foi, fechou a porta e o silêncio predominou na nossa sala.

Eu não entendi porcaria alguma! Aquele tipo de homem conhecia a minha mãe? O que ele estava fazendo na nossa casa? O que ele pretendia falar quando Alyson o cortou?

Minha mãe colocou as mãos dentro dos bolsos do avental que estava usando, ela olhou para baixo e deu um longo suspiro, logo em seguida sentou-se no sofá e olhou para mim, com seus olhos marejados .

– Mãe? – disse eu preocupada indo em direção ao assento do lado dela – O que houve?

Quando me sentei ao seu lado, Alyson apoiou seus cotovelos em suas pernas e repousou o rosto no meio das palmas das mãos. Ouvi outro grande suspiro, e ao fim deste, percebi que minha mãe tinha começado a chorar. Olhei-a com certo espanto, mas passei minha mão no cabelo dela com a intenção de acalmá-la. Fiz isso repetidas vezes até que perguntei:

– É esse tal de Benson?

Alyson fez que sim com a cabeça tentando parar de chorar, ainda com o rosto entre as mãos.

– O que ele fez? Quem é ele, mãe?

Alguns segundos se passaram e ela levantou a cabeça e olhou para mim limpando as lágrimas com seu avental.

– Ai meu deus, filha... Como vou te explicar isso? Foi tão de repente...

–Não tem problema, mãe. Pode falar tudo sem medo...

Alyson olhou bem no fundo dos meus olhos durante alguns segundos, deu outro suspiro grande e colocou os cabelos atrás das orelhas.

– Eu conheci esse cara, Benson, há uns 15 anos. Nós éramos amigos... bem amigos, só que ele mudou muito de uma hora para outra. Eu queria ajudá-lo, mas era tarde de mais. Quando dei por mim, já estava envolvida até o pescoço com ele... eu o amava, mas nunca deu certo... – Alyson deu uma pequena pausa para evitar que as lágrimas rolassem pelo seu rosto – Até que um dia el...

Nesse momento, mamãe cobriu sua boca com uma das mãos e fechou os olhos. Eu nunca a vi daquele jeito:

– Mãe – disse eu – o que seja que aquele homem tenha feito, provavelmente, foi algo horrível! Eu est...

– Mas, Demi! – Alyson me cortou – isso não é uma simples coisa. É que...

–Eu sei, mãe! Mas você não pode ficar assim por causa de alguém! Você tem a mim!

– Sim, eu sei filha, mas...

– Tudo vai passar, mãe. Tomara que você nunca mais o veja!

– Isso por agora é impossível...

– Não é – a interrompi de novo – Eu vou te ajudar.

– Filha, você não entende!

– Entendo sim! Você tem que ser...

– Ele é o desgraçado do seu pai!

Ao ouvir essas palavras, meu corpo ficou completamente imobilizado, meus olhos ficaram vidrados e a minha boca entreaberta balbuciava algo como:

– P-pa-, pah, p – chacoalhei minha cabeça e por fim consegui dizer – Pai?! O que?! Como assim?! Ele? Meu pai?!

Minha mãe nada disse, só fez que sim com a cabeça. E eu, enquanto isso, me lembrei das vezes que me encontrei com Benson. “Malditos encontros!” pensei. Mas que tipo de homem era aquele que ficava atrás de garotinhas? Que andava todo desarrumado, agressivo e bêbado? “Como aquele ser humano podia ser meu pai? Como minha mãe pôde amá-lo?”.

Levantei-me do sofá e corri para meu quarto. Fechei a porta e fiquei com minhas costas apoiada na mesma. Todo o pavor, medo, insegurança e pânico voltaram à tona, como um vento forte e gelado que bate no rosto. “Não! Ele voltou!” lamentei em mente segurando os cabelos, “Não pode ser!” meus olhos marejaram enquanto eu escorregava até o chão, “Ele não só voltou para me pegar, agora ele também vai bagunçar a mente da minha mãe!”.

– Isso tudo é minha culpa! – sussurrei – A culpa é toda minha...

De repente o telefone tocou lá da sala, ele tocou três vezes e ninguém o atendeu, provavelmente minha mãe também estava em seu quarto, então resolvi ir até ele.

– A... – prendi a respiração para conter as lágrimas – Alô?

– Demi? – era a voz de Saul – O que aconteceu? – disse com tom de preocupação, ele havia percebido que eu não estava bem – Você está bem?

– A-ah, eu estou sim, é que...

– O que houve? – disse o menino.

– Não é nada... é só – não consegui continuar a frase, tive que parar, senti um enorme nó na garganta – E-eu n-ão consigo...

– Fica calma, estou indo aí.

Saul desligou , mas eu continuei com o fone no ouvido. Só consegui ficar parada, fechei com força a minha mão livre e a apertei, assim como fechei os olhos. Que bom que Saul estava a caminho...