– Demi? Alôôô!

Fiquei parada em frente à porta, com a mão na maçaneta. Tremi. O que aquele cara estava fazendo em frente à minha casa? Coisa boa não podia ser.

– Ei, Demi! Tranquei a porta e fui até a janela para ver se o homem ainda estava lá. Olhei para a esquerda e para a direita, nem um sinal do ser humano.

– DEMI! - Abandonei meus pensamentos quando Mandy me chacoalhou pelos ombros.

– Ei, você está me ouvindo?

– Quê? Ah, hm, claro, claro, estou sim... Você... ahn... Quer alguma coisa?

– Não, sua estranha - Mandy riu - Vamos para o seu quarto? Tenho muita coisa para contar!

– Ah sim - disse eu sorrindo - Vamos!

Puxei Mandy pelo braço e a levei para meu quarto:

– Puxa, que quarto arrumadinho!

– Só agora que ele está assim - ri - arrumei porque você estava vindo!

Mandy foi olhar minha estante, que tinha vários livros e discos. Peguei um tempinho para observá-la. A menina estava com uma saia rodada preta com uma blusa regata estampada. Seus braços estavam repletos de pulseiras, suas orelhas carregavam um par de argolas de prata. E sobre os cabelos negros e curtos da menina, havia uma tiara branca. Mandy estava usando batom e um perfume cheiroso, porém, enjoativo.

– Você gosta dessas porcarias? - Mandy virou-se para mim com um dos meus discos do Aerosmith nas mãos.

– Porcaria? Você está maluca? - peguei o disco da mão dela e coloquei de volta na minha estante - Isso é uma obra de arte!

– Estou sabendo - Mandy debochou e riu, se jogando na minha cama com os braços abertos - E aí, Mi? O que anda fazendo?

“Mi” era como Mandy me chamava, fazia tempo que não ouvia esse apelido, então deixei o deboche passar e respondi:

– Ah, nada de mais...

– Sei, e os namorados? - Mandy falou rindo.

– Namorados? HA-HA-HA! Por favor, Mandy.

– Como assim, “por favor”? - disse a menina sentando na cama - Bem, não sei você, mas eu tenho um monte de coisa para contar sobre os meus!

“Meus? Mais de um? Eita porra!” Mandy começou a tagarelar e eu a viajar. Era um blá blá blá que não acabava mais, só fui concordando com tudo que ela dizia:

– Safado, não é?!

– É, é - fiz que sim com a cabeça - Safadão.

O falatório de Mandy foi interrompido quando o telefone tocou, fui correndo atender e Mandy foi atrás:

– Alô?

– Demi?

Mandy encostou seu ouvido perto do meu, tentando escutar a conversa. A voz era de Saul, eu não queria falar com ele, mas havia me esquecido disso e então respondi:

– Oi, Saul...

– Ah! Que bom que você atendeu... Escuta... Eu posso falar com você? ... Cara a cara?

– Ahn... Pode! Chama o Steven também!

– Chamar o Steven? Mas eu achei que a gente fosse c...

– É! Mas é que... - interrompi - Eu quero que vocês conheçam uma pessoa!

– Ah... Tudo bem. - Saul falou em um tom desapontado - Daqui a dez minutos então? Na pracinha daqui de perto?

– Fechado! A gente se vê - disse eu forçando alegria - Até logo...

Desliguei o telefone e olhei para Mandy:

– Quem é Saul? - perguntou a menina sorrindo.

– Ah, é um amigo meu...

– Ele tem uma voz sexy...

"É ele tem" Pensei.

– Quero que você conheça ele - respondi sorrindo - Ele e um outro, que se chama Steven.

– Agora? - perguntou Mandy animada.

– Sim, só vou avisar à minha mãe, vamos!

Minha mãe pediu um abono do trabalho para receber a velha amiga Margaret. Elas ainda estavam na calçada, monitorando a descarga do caminhão e conversando alegremente. Avisei a elas que nós estávamos indo ver Steven e Saul.

Eu e Mandy estávamos rindo e conversando pelo caminho. Mandy estava muito diferente. Na nossa conversa no quarto ela chamou Aerosmith de porcaria, e já teve vários namorados... Ela tinha apenas 14 anos. Mas eu deixei isso de lado e resolvi dar outra chance a menina, apesar de ela ter se interessado por Saul.

Chegando à pracinha, avistamos Steven e Saul, o último estava em sua bicicleta.

– Oi gente - forcei um sorriso me aproximando dos garotos - Eu queria apresentar Mandy a vocês...

– Prazer! - disse a garota sorrindo.

Os meninos em resposta sorriram.

– Eh... Mandy é uma velha amiga minha, ela era minha vizinha... Mas ela se mudou quando eu tinha oito anos... E agora está de volta.

– E aí, Mandy? Gosta de Aerosmith? - perguntou Steven.

Eu ia responder que não, mas a garota respondeu antes:

– SIM! Claro, eu gosto muito! Os discos deles são como... Obras de arte!

– Já gostei de sua amiga, Demi!

Lancei um olhar desentendido à Mandy, "Como assim?"

– Você deve ser Steven - A garota apontou para Steven e em seguida para Saul - E você só pode ser Saul.

– Isso - Slash disse sorrindo.

Nesse momento Steven e Mandy começaram a tagarelar, coisa em que os dois eram bons. Eu ainda não havia dirigido nenhuma palavra a Saul. Ele me lançou um olhar bem compreensível e irritado, com certeza ele queria me dizer algo como: "Por que você a trouxe? Eu queria falar com você!". E como resposta, olhei para ele tentando transmitir a seguinte mensagem: "É, mas eu não quero falar com você!". Cruzei os braços e me virei de costas. Fiquei olhando para o outro lado da rua.

Arrependi-me quando virei de costas, pois vi alguém que não desejava, e por azar não era Lindsay... Era aquele homem de novo. Quando o vi, meus braços amoleceram, levei um grande susto e tremi. "De novo? Ah não!" Pensei quase chorando de medo. Nesse momento, Saul colocou sua mão em meu ombro e chegou bem perto de meu ouvido, falando bem baixinho:

– É minha impressão, ou aquele homem está te seguindo?

– É só sua impressão - respondi no mesmo tom de voz - Já falei para você me deixar em paz.

Saul aproximou mais seus lábios de meu ouvido, senti sua respiração. Me arrepiei.

– Quem é ele, Demi?

Tirei sua mão de meu ombro e me virei para ele olhando em seus olhos:

– Você é surdo ou o que? - sussurrei - Me deixe em paz.

– Aquele homem está te seguindo, ele estava te segurando pelo braço naquele bar, e agora quer que ele te pegue de novo?

– Eu sei me virar!

–Não. - Saul chegou mais perto falando bem baixinho - Não sabe.

Slash não parava de se aproximar. Eu queria recuar, mas também queria ficar ali, perto daquele menino. Não conseguia tirar meus olhos dos dele, meu coração estava acelerado, não sabia o que fazer. De repente Saul desviou o olhar para frente, acima de mim, e disse:

– Ele foi embora.

– Ótimo - saí de perto dele - Mandy, vamos, você tem de arrumar suas coisas na sua casa.

– Mas eu est...

– Vamos, Mandy - interrompi.

– Aah, está bom! Tchau meninos!

– Tchau. - disseram os dois em uníssono.

– Toma cuidado! - Slash disse.

Olhei para ele e mandei um olhar de "Cala a boca". Esperei Mandy dar as costas e imitei um telefone com a mão colocando a mesma perto do ouvido, apontei para Steven e ele entendeu. Saul olhou desentendido para o loiro. Virei as costas e fui embora com Mandy.