Leah escrita por Jane Viesseli


Capítulo 14
Uma Fera Apaixonada




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Ele está olhando pra você, Leah — comenta Seth, como se a loba ainda não soubesse.

Estou vendo, Seth, mas isso é bom ou ruim? pergunta temerosa.

― Acho que vou tentar entrar em sua mente – revela Edward.

― Não, filho, por favor – implora Esme. – Você sabe o que aconteceu da última vez.

― Este não é o Lucian, é somente a fera, talvez eu consiga entrar em sua cabeça – explica determinado, encarando o lobisomem e se alegrando com o sucesso de sua missão. – É incrível e, ao mesmo tempo, assustador.

O que você viu? Desembuche logo pede Jacob.

― Sua mente animal está oscilando. Seus instintos gritam para nos atacar e nos fazer em pedaços, imagens de vampiros sendo mortos e destroçados não param de saltar em sua memória, mas alguma coisa dentro dele grita "minha" a todo instante, acho que se refere à Leah.

Leah se surpreende com a novidade, inconscientemente dando um passo à frente, fazendo com que o lobisomem levantasse as orelhas em sinal de alerta e também desse um passo à frente, ainda a olhando fixamente.

Para trás, Leah, para trás! pede Jacob, fazendo a loba obedecer prontamente.

― Algo em sua cabeça não para de gritar: minha, minha, minha – narra Edward incrédulo. – Este pensamento está prevalecendo sobre a sede de matança. Se eu não estivesse acompanhando de perto, não conseguiria acreditar!

As lobisomens rosnam simultaneamente para o leitor de mentes, pois sua empolgação ao falar as estava irritando. Com o rosnado de ambas, o alfa se lembra o porquê estavam ali e sua atenção se divide entre o seu bando e o seu imprinting. A fera negra olha para as fêmeas e volta seus olhares para Leah, e depois de uma breve pausa, retorna para as lobisomens, dispensando-as com um rosnado.

Em seguida, ele caminha pela margem do rio até ficar frente a frente com Leah, e com suas garras afiadas escala uma grande árvore, aconchegando-se em um de seus galhos e mantendo seu olhar intenso sobre ela.

― Desistiu do ataque? – pergunta Rose.

― Ele parece querer ficar ali, para cuidar daquilo que lhe pertence.

Eu disse, Jake, eu disse que o imprinting era real grita Leah afoita.

Qual a sua teoria Edward? pergunta Jacob.

― É estranho, um pouco difícil de compreender. Sua mente irracional está somente seguindo seus instintos, mas... – Pausa. – Me parece que ele está interessado nela. A fera assassina está apaixonada, inteiramente amansada pelo amor. Em seus olhos esta sua veneração por Leah, profunda, intensa, protetora, capaz de fazer dele um cãozinho de estimação!

― Se ele não me desse arrepios, diria até que esta é uma linda cena – comenta Nessie.

Mas como? Eu pensei que... recomeça Jacob, observando o lobisomem silencioso na árvore. – Me perdoe, Leah, eu errei. Sam disse aquelas coisas e eu acreditei, agora vejo que estava errado. Perdoe-me por não ouvi-la pede com sincero arrependimento.

Jake, não me diga que está acreditando nesse papo? retruca Sam.

Não tenho motivos para não acreditar, Sam responde, irritado pelo tom de voz do amigo. – Edward entrou na cabeça da fera e viu o que se passa lá dentro, e eu acredito no que ele relatou. Volta-se para a loba. – Leah, eu revogo minha ordem a respeito de Lucian, mesmo sabendo que você não me obedeceria. Um líder deve reconhecer quando erra, por isso, peço mais uma vez que me perdoe.

Tudo bem, Jake, tudo bem...

Aquela era, com certeza, uma cena inédita: Leah sendo educada? Não querendo jogar nada em sua cara? Jacob nunca pensou que viveria para ver aquilo... A loba ouvia a tudo o que ele pensava, mas não se incomodava, aquele era apenas o reflexo de seu espanto e ela não queria levar nada daquilo a sério, assim como não queria brigar por bobagens naquele momento.

Isso é realmente incrível, Leah admite Seth, aproximando-se da irmã.

Um rosnado ecoa da garganta do lobisomem sobre a árvore, que já se curvava por entre os galhos com a pretensão de saltar sobre o rapaz. Ele, obviamente, não estava se agradando com aquela aproximação.

― Não se aproxime, Seth, lembre-se que ele não é o Lucian – alerta Edward, fazendo-o recuar. – Ele não te reconhece, não sabe que são irmãos, para ele você é apenas um macho querendo roubar a fêmea dele.

"Fêmea dele". Nossa! Estas palavras fizeram o corpo de Leah se arrepiar, seu coração acelerado parecia querer sair tórax afora. O amor de Lucian era maior e mais intenso do que poderia imaginar, capaz até de influenciar o mais temido ser mítico que já tinham visto... Ela se sentia, de certa forma, honrada por ser amada por ele com aquela intensidade!

As horas correm noite adentro e o lobisomem não fazia menção de descer da árvore. Contudo, nem por isso o bando pôde relaxar, afinal, ainda tinham duas feras soltas pela floresta, que poderiam atacá-los a qualquer momento.

A fera negra olhava fixamente para o que julgava ser dele e levantava as orelhas em sinal de alerta todas as vezes que a loba se movimentava. Fosse para sentar, deitar ou apenas se levantar, ele estava sempre a observando com olhos zelosos e protetores.

Acho que ele gosta mesmo dela— afirma Quil após muito observá-lo.

Pare de falar besteiras, ele é um monstro— rebate Sam.

Eu concordo com ele, Sam. Olhe bem pra cara dele— emenda Embry, rindo –, aquela expressão não é nem de longe o de um matador, parece mais àqueles cãezinhos de desenhos animados que possuem olhinhos pidões.

Calados! — explode Sam subitamente.

O lobo estava irritado, mas o bando não sabia o motivo, afinal, que culpa tinham se o tão temível lobisomem caía de amores por Leah? De uma coisa os lobos quileutes tinham certeza, eles o julgaram mal e precisavam se retratar.

Depois de algum tempo, a primeira noite de transformação chega ao fim e os primeiros raios de Sol começam a surgir no horizonte. O lobisomem salta da árvore ao ouvir os uivos de seu bando, porém, ainda parecia indeciso entre atender ao chamado e permanecer ali, com Leah. E quando ele finalmente pareceu tomar uma decisão, era tarde demais, seu corpo se arca para trás e um ganido alto sai de sua garganta, assustando os presentes.

― O que há com ele? – pergunta Emmet.

― Não sei. A mente dele está uma bagunça – relata Edward, vendo o lobisomem levar uma das garras à cabeça e arranhar o tronco da árvore com a outra. Seu focinho se ergue em direção ao céu e solta um longo uivo.

― Lucian deve estar tentando retornar, deve estar lutando para retomar o controle – diz Carlisle.

― Sim, é isso mesmo, posso ouvir seus pensamentos – concorda o leitor de mentes –, e está sentindo muita dor. Colocar o monstro de volta ao seu lugar lhe causa uma dor imensa!

Todos estavam atentos ao acontecimento, observando o lobisomem e o seu comportamento como se estudassem uma nova espécie. Leah podia sentir em seus próprios pelos, o quanto o cherokee sofria para assumir o controle, e aguardava apreensiva o desfecho daquela cena.

Outro uivo rasgou a garganta do lobisomem, que já segurava a cabeça com as duas mãos, como se tentasse impedir seu lado racional de voltar. O uivo gradativamente deu lugar a um grito grave e forte, as garras voltaram ao seu tamanho de origem e os pelos começaram a se desfazer, sumindo em forma de poeira e caindo desde a cabeça como se nunca tivessem existido, desfazendo a forma lupina até que só restasse o corpo exausto do cherokee no lugar.

Lucian, que cambaleia até a árvore arranhada para amparar o peso de seu corpo, estava exausto e mal conseguia se aguentar em pé. Colocar o monstro de volta, no profundo de sua mente, era sempre um desafio e, mesmo sabendo que venceria, ele não conseguia deixar de sofrer com o processo.

― Pode sair da minha cabeça agora, leitor de mentes – pede num sussurro.

Edward educadamente se retira de sua mente, sabia que Lucian estava cansado demais para atacá-lo telepaticamente, mas não seria descuidado a ponto de incitar sua ira.

O cherokee sentia o corpo arder como se algo o tivesse dilacerado, sua mente doía, o suor escorria pelo seu rosto e seus pulmões ofegavam, como se saído de uma luta corpo a corpo com a fera. Ele olha para o grupo de lobos e vampiros, mas nenhum sinal de raiva ou instintos assassinos surgiram em seu corpo, pois estava tão exausto, que o seu lado mítico não respondia mais à presença de vampiros.

― Seth, vá ajudar Hana – sussurra Lucian.

O Clearwater lança um rápido olhar para Jacob – que rapidamente autoriza sua saída –, salta o rio e corre em direção à floresta. Lucian torna-se o próximo a desaparecer da vista de todos, adentrando à floresta com passos lentos e arrastados.

― Finalmente acabou! – diz Esme aliviada.

― Não foi tão terrível como imaginei – zomba Emmet.

A família Cullen segue para casa em segurança, enquanto alguns lobos se espreguiçavam e tomavam coragem para retornar às suas casas. Estavam todos exaustos e com sono, e necessitavam desesperadamente recuperar as energias para a próxima noite.

Leah procura o alfa em sua mente, mas Jake já não estava conectado a ela, o que significava que já não estava mais em sua forma de lobo. Entretanto, o que isso queria dizer para ela? Será que estava dispensada? A única resposta que lhe ocorreu era "sim", e, sem pensar muito, a quileute salta o riacho e corre para a floresta, sendo cautelosamente observada por Sam, que ainda estava muito irritado.

O cheiro de Lucian ainda estava recente na trilha, não demorando muito para que Leah farejasse o seu perfume amadeirado e o encontrasse sentado aos pés de uma árvore qualquer. Ele não ofegava mais, mas também não tinha conseguido ir muito longe devido ao cansaço. Seus olhos pareciam querer se entregar ao sono ali mesmo.

A loba corre para trás de uma das árvores e retorna para perto de Lucian em sua forma humana, não deixando de notar seu estado deplorável, mas, ao mesmo tempo, sexy. Os cabelos estavam soltos e úmidos pelo suor, o tronco estava despido e parte de suas coxas estavam expostas devido às calças com pernas rasgadas. Há muito tempo que Leah não admirava um homem daquela forma, tão minuciosamente e com certas "segundas intenções", o cherokee era um homem de corpo atlético e perfeito, e tal exercício fez com que o coração da quileute falhasse algumas batidas.

― Oi – começa ela.

― Oi, Leah – responde Lucian, lutando contra o sono e o cansaço. – Você tinha razão, deu tudo certo!

― Eu te disse. – Sorri presunçosa. – Eu sempre tenho razão.

Ele sorri fracamente, fazendo o coração da loba acelerar, porque, mesmo exausto, Lucian continuava tendo o seu sorriso da felicidade. Leah senta-se ao seu lado despretensiosamente, e surpreende-se quando ele tomba a cabeça em seu ombro, ansiando dormir o quanto antes.

― Qual a probabilidade de você conseguir caminhar até a sua cama?

― Nenhuma – resmunga ele, quase entregue ao mundo dos sonhos.

― Então ficarei aqui, com você. Assim poderei ajudá-lo a manter a temperatura corporal estável e você não ficará doente.

― Excelente ideia – responde ele já num fio de voz.

O porquê de fazer aquilo, Leah não sabia, porém, parecia não se arrepender de sua escolha. Lucian logo adormece, recostado em seu ombro, e um silêncio intenso se instala na floresta da reserva. Tudo o que ela podia ouvir dali, era o vento entre as árvores e a respiração tranquila de seu companheiro, que dormia como uma criança inocente e desprotegida.

Ela aproxima o rosto de sua cabeça, sentindo o gostoso cheiro de sua pele, e fica a observar seu corpo subir e descer enquanto respirava. De repente, um barulho de galhos e folhas se fez ouvir, indicando que alguém se aproximava, arrancando Leah de seu devaneio. Era Kiary quem se aproximava, com passos firmes para que sua chegada fosse notada, segurando o agasalho do alfa.

― Pode ir agora, eu assumo a partir daqui – fala rispidamente.

― Não, eu vou ficar! – Encara a garota. – Pode deixar que eu assumo daqui. – Estende a mão, com a palma voltada para cima, num claro sinal de que estava pedindo o agasalho.

― Pra que dar este showzinho agora? – explode a cherokee. – Você não sabe como é difícil passar pela Lua Cheia, eu sei e por isso sou a mais capacitada para cuidar dele.

― Não é questão de ser a mais capacitada – responde irritada –, é questão de quem ele quer por perto!

Kiary trinca os dentes, sabendo que entre elas o alfa escolheria Leah com 100% de certeza. Seu corpo começa a tremer consideravelmente, estava evidentemente irritada e parecia não querer se controlar. Ela realmente parecia querer se transformar, mas, como Leah também era uma loba, não temeu e a encarou com semblante sério e queixo erguido.

― Vá embora – rosna Kiary.

― Me obrigue! – responde rispidamente, com os olhos se estreitando para enfatizar o seu desafio.

― Kiary, vá embora – resmunga Lucian, que acordara em meio à briga. – Me deixe dormir em paz.

― Venha Lucian! – Agacha-se a frente do alfa e segura uma de suas mãos, amenizando o tom de voz para tentar demonstrar o seu interesse por ele. – Vou levá-lo até a hospedaria.

― Não – resmunga novamente, como uma criança birrenta. – Vou ficar aqui com a Leah!

Kiary trinca os dentes novamente, jogando o casaco para Leah de forma agressiva e se retirando com passos duros e irados. Leah podia sentir a raiva exalado de seu corpo, não imaginando que a cherokee não pensava em deixar as coisas daquela forma, ela poderia ter perdido a batalha, mas não a guerra. Ela não deixaria a petulância da quileute passar batido..


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Próximo capítulo: Intimidação!
Kiary não é lobisomem de levar desaforo para casa e resolve ter um "conversinha" com a nossa loba preferida. O que será que pode sair deste arriscado encontro?