Quarter Quell escrita por BruxoBrunao


Capítulo 2
Katniss


Notas iniciais do capítulo

(Contém spoilers, e trechos de Catching Fire)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/230549/chapter/2

Levanto os olhos instintivamente e ergo meu arco armado em direção ao barulho de folhas pisoteadas do lado de fora. Por um momento imagino que Gale teria voltado, mas quando vejo os fios loiros do cabelo de Peeta percebo que Gale nunca volta atrás. Remexo-me no banco e me desarmo.

- O que você faz aqui? Como chegou aqui? – Ataco-o, desta vez, com meu tom de voz exaurido, enquanto escondo lagrimas fujonas com as pontas dos dedos e fico de pé.

- Eu te segui. – Ele diz, com um sorrisinho de canto, observando o quarto.

- Você não deveria estar aqui! Eu não te permiti vir até aqui! – Rosno. Aquele era o meu refugio, o maximo que eu permitia era que Gale viesse até aqui comigo.

- Você não permitiu? – Ele ergue as sobrancelhas e solta um risinho. – Isso aqui por acaso é seu? A Capital te deu? Porque eu posso jurar que se eu voltar agora e contar aos Pacificadores, eles vão me dizer que não estão informados sobre nada disso. – ele retruca, com um olhar estreito e desafiador.

- Pertence sim! A mim e ao meu pai! Era nosso refugio! Além do mais, você não conseguiria nem sair daqui, quanto mais contar a algum Pacificador. Eles te colocariam como cúmplice. – Acho que meu tom estava tão elevado que todos os animais fugiram com meus gritos num raio de cinco metros.

Peeta se afasta, pé por pé, como um animal retraído e assustado.

- Certo. – Ele murmura e me dá as costas.

Fico reparando nele, enquanto ele se afasta consideravelmente da casa e então grito seu nome.

- Peeta! – Chamo-o de novo. – Para onde você vai?

Ele se aproxima do lago e analisa as flores que brotam do seu centro. Katniss!

- Por que você veio até aqui? – Eu questiono-o, bem mais calma.

- Eu te vi deixando pistas e depois Gale apareceu também. – Ele esta agachado, remexendo na água do lago e não me olha para responder. – Tive ciúmes, acho.

- E o que você esperava encontrar? Sabia que eu estaria com ele.

Seu silencio me perturba e eu toco em seu ombro. Só então percebo que ele está soluçando. Droga!, penso. Ele se volta para o lago, cata duas ou três Katniss na margem e os coloca numa bolsa de ombro.

- Diga-me, como saio daqui? – Peeta pergunta, levantando-se e olhando para a floresta, como se buscasse algo pequeno que se espreita na mata.

- Eu te levo de volta. – digo.

Sinto pena dele, e raiva de mim, pois sei que ele  gosta de mim e eu também... Mas, e Gale? Acho que gosto mais de Gale, pelo menos neste momento. Pelo menos depois de todos estes fatos, como fugir, rebeliões, e o açoite. Não consigo mais machucar Gale, mas ao mesmo tempo não quero fazer isso com Peeta. Porém, parece-me impossível tomar alguma atitude que não magoe um dos dois. Permaneço com esse aperto no coração, uma angustia dominante, que acabo passando mais tempo pensando neles do que jamais aconteceu em toda minha vida. Acabo por me importar com os garotos tão de repente e fatalmente que é assustador. Nunca havia me apaixonado, nunca havia sequer ligado para paixão. O que me importava era manter Prim bem e saudável, minha mãe viva, todas nós com comida diária e uma vida digna, dentro do possível. Homens? Que me ajudassem a caçar, como Gale fazia. Não havia necessidade de beijos. Não havia necessidade de contatos físicos, além dos mantidos em uma amizade. No entanto, agora tudo é diferente e me manter perto de um deles é uma obrigação habitual, pois sem isso sinto que morreria a qualquer momento. Noto que fiquei mais fraca.

- Não. – ele foca os olhos em um ponto na floresta e agarra uma pedra enorme, balançando a no ar – Eu darei meu jeito, então.

- Não seja cabeça dura, eu posso... – ele lança a pedra a toda velocidade em direção à floresta e eu fico perplexa ao vê-la atingir em cheio um cervo que acaba de por os pés no gramado descampado.

Ele se vira e sorri, e por um momento imagino se ele fez isso para se mostrar ou me provocar. Bom, agora sei como ele sobreviveu nos jogos quando estava sem os carreiristas. Peeta corre ate o cervo, saca uma faca na bolsa e enterra no animal, certificando-se da sua morte. Ele põe o bicho nos ombros e caminha em meu sentido.

- Está com fome? – e sorri. Não preciso nem comentar sobre as oscilações de humor recentes.

Sorrio levemente e confirmo.

Voltamos para a casinha, a fogueira ainda com as chamas altas, retorcendo-se como bestas. Eu corto o cervo e tiro a pele, colocando num balde de ferro, junto com as flores e água. Boto os alimentos no fogo e os deixo cozinhar. Sento-me a mesa junto com Peeta. Nós nos encaramos e involuntariamente toco seu rosto. Ele se retrai, mas depois fecha os olhos e relaxa. Sinto seu maxilar quadrado, a pele sedosa e as curvas finas dos seus lábios. Só então percebo o desejo que começa a me consumir: Eu quero muito beijá-lo! Agora! Essa era a primeira vez, desde que voltamos da arena, mas logo Gale vem aos meus pensamentos e faço menção de soltá-lo. Antes que eu o faça, Peeta pega minha mão, dá um delicado beijo nela e levanta-se.  Ele agarra a alça do recipiente com a barra da camiseta e a põe sobre a mesa. O aroma que da refeição exala é delicioso e as sensações explodem em minha boca, fazendo-me salivar em demasia. Não seria de se estranhar também, já que não havia jantado na noite anterior.

Enquanto o vejo finalizar nosso almoço, fico me lembrando da minha conversa com Gale...

- Bom, você fez mesmo uma bagunça danada. – Diz.

- Ainda não terminei.

- Já ouvi o suficiente por hoje. Vamos pular logo para esse seu plano. – Diz.

Respiro fundo.

- A gente foge.

- Hey, Katniss! – Peeta me chama, encarando-me com seus olhos azuis, petrificados como gelo.

- Desculpe-me. Estava distraída... – Digo, abaixando os olhos.

- Estava pensando nele, não é? Seu primo? – Ele posiciona a tabua com o cervo a minha frente e depois dois pratos de metal. Ignoro sua ironia e não respondo, não é preciso e nem é necessário mentir. – Acho que já está pronto, não concorda?

Arranco um pouco da carne e pele com os dedos e mastigo.

- Huuuuuuum... – eu saboreio. – Está ótimo. Havia me esquecido do seu dom com a cozinha.

- Obrigado. – agradece.

Mas eu já não lhe dou mais atenção, pois estou faminta. Agarro uma perna, depois outra e outra. Quase não sinto a comida atravessando minha garganta e está óbvio que vou passar mal depois, de qualquer maneira, não adianta parar agora.

Só após abocanhar metade do cervo sozinha, o que é bem minha cara, noto Peeta olhando-me fixamente e mascando um longo pedaço de pele do bicho, completamente entretido com o ato de me analisar agindo como um ser irracional.

- Ahn... – Paro imediatamente e limpo a boca com a manga. – E agora?

- Nós voltamos.

- Nós? – Arqueio as sobrancelhas, com um leve sorriso.

- Eu. – Se corrige e enrubesce.

- Venha. – Posto-me de pé e seguro sua mão entrelaçando os dedos nos dele.

Um sorriso instantâneo surge em seus lábios.

- Desculpe-me pela grossura e pela bipolaridade. – diz, assim que pomos os pés fora da casa.

- Desculpe-me eu pela maneira que venho te tratando desde... – eu focalizo seus olhos.

- Desde sempre? – sorri, sem graça.

Sorrio também, completamente envergonhada e lhe solto as mãos, abraçando-me. Peeta toca meus ombros e abre os braços, receptivo, e eu, sem pensar outra vez, corro para me esconder neles, como um bicho assustado.

Após muitos minutos, ele se desprende do abraço e nós nos damos às mãos novamente, partindo em silêncio.

Neste momento, são três ou quatro da tarde, e a temperatura está bem mais agradável. Chegamos à cerca em poucos minutos e ele me permite cruzar a passagem antes dele.

- Primeiro as damas. – brinca.

Estou quase agarrando o arame para me apoiar, quando um som, alto e claro como uma árvore cheia de ninhos de teleguiadas, me obriga a afastar-me, indicando que a cerca está ligada e em altíssima tensão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sei, sei... Pois é, este é o capitulo mais longo, eu acho. Mas veremos. rs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quarter Quell" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.