Não tinham dito uma única palavra desde que seus olhares tinham se cruzado. Não se mexiam, não faziam qualquer minúsculo som; a conversa acontecia por debaixo dos panos, por dentro das almas. Ela queria fazer perguntas, ele não queria respondê-las. Ela queria estar ao lado dele... e ele precisava dela.

Precisava muito.

Quanto mais tempo se passava, mais estranha ela se sentia.

Alguns segundos, que mais pareciam dias inteiros para aqueles dois, tinham ido embora. Ela sentia já ter ouvido tudo o que queria, sem ele ter dito uma única mísera palavra. Aquilo estava pesado, porém ela sabia que estava fazendo ele se sentir mais leve. Porque estava ajudando-o de uma maneira que ninguém mais sabia como fazer... ela estava consolando-o. Sem saber pelo o quê, sem uma palavra. Apenas... estava ali. Tentando mostrá-lo que ele não estava sozinho, que ela não o deixaria sozinho. Que estaria ali, sempre. E não pediria explicações para agir da forma que julgasse certa.

Ela apenas faria. Assim como naquele instante.

E isso bastava para ele. Para ela. Para os dois.

A loira decidiu por interromper aquele diálogo mudo, sentando-se ao lado do mago do fogo. Puxou a cadeira da direita dele, que a acompanhou com o olhar.

-         Lucy idiota... – Ele falou baixinho, com a voz rouca. – O que está fazendo?

-         Estou me sentando perto de ti, oras. – e ela sorriu aquele sorriso bobo,
que o irritava. Mas, ao mesmo tempo, ele achava... lindo. – Por quê? Não posso, por acaso?

-         Hunf. – ela sabia como irritá-lo. Aquele jeito estúpido dela ainda o deixaria louco. Ela ainda o deixaria louco. Mais do que já era.

-         Tem alguma coisa errada contigo, e todos os outros parecem achar que te deixar quieto é o mais sensato a ser feito, mas eu não me assusto tão facilmente. – ela desviou os olhos por alguns instantes, para escapar, nem que fosse por uma fração de segundo, daquele olhar. – vai precisar fazer melhor do que isso para que eu te ignore, Natsu.

-         Lucy, você é estranha. Como sempre. – ele sorriu. Era um sorriso puro e sincero em meio aqueles sentimentos ruins que estavam envolvendo-o.

-         Posso até ser, mas quem está muito estranho agora, não sou eu. – calou-se por alguns instantes, ficou apenas olhando para ele, analisando suas reações. – vai, Natsu. Me fala sobre o que está te deixando assim... me deixa te ajudar, nem que seja só um pouquinho. – Parou novamente. Dessa vez por mais tempo. Tocou de leve na mão dele que estava sobre a mesa. - Me deixa fazer por ti um pouco de tudo o que tu já fez por mim, por favor.

Ela fez com que ele perdesse a fala. Estava incomodado, isso era
verdade. E estava se sentindo vulnerável, odiava se sentir assim. Porém, com ela ali, era como se nada disso estivesse acontecendo... como se estivesse leve, como se pudesse colocar para fora tudo o que estava preso dentro de si. Era como se ele não tivesse mais motivos para estar daquele jeito... afinal, não estava sozinho.

Era como se ela bastasse para aquele problema se resolver.

Mas, não era bem assim. Ele sabia. Porque, por mais quente que seu peito estivesse com ela por perto, a dor ainda estava lá. O motivo de seus olhos estarem vermelhos ainda estava perambulando por dentro de suas entranhas.

Entretanto, estava mais forte do que a algumas horas atrás. Estava pronto para colocar tudo aquilo para fora de si... estava pronto para contar tudo a ela, se ainda quisesse ouvi-lo.