Perdido numa maré de fatos azuis, cartolas, risos e agitação, encontrava-me, eu, John Brendan. Era o dia da formatura e estavam todos excitados e alegres. Estavam já todos no seu devido lugar, tarefa que demorara horas. Os meus pais e a minha família, com quem eu passara o almoço, numa festa de " parabéns " que a minha mãe, Ally Brendan, preparara, tinham-me dado um forte abraço e deixado dirigir-me ao meu lugar, onde me encontrava desesperado pelo início da celebração.Tinha agora 24 anos e ia finalmente ser reconhecido como um psicólogo formado. Sentia um aperto no coração e um sentimento de orgulho. Aquela melodia de piano que tocava incansávelmente relembrava-me de que a minha vida começava agora. Vivia num apartamento, sozinho e bem que me desenrascava... sempre fora muito independente e senhor de mim próprio. Tencionava arranjar um emprego como psicólogo, encontrar o primeiro e verdadeiro amor, que ainda não tinha encontrado e viver a vida que sempre sonhara em viver.Era Junho de 2012 e o sol que antes brilhava intensamente, começava agora a descer para oeste do horizonte, sobre aquele belo jardim, na Universidade da Califórnia.Foi então que o Director da Universidade, finalmente entrou. Passando entre os dois conjuntos de cadeiras, sobre uma passadeira comprida, subiu ao palco, agradecendo os aplausos.Quando todos se sentaram novamente, o Mr. Harrison começou o seu discurso - uma longa história desde o seu sonho de se tornar professor até ao orgulho de nos ver a todos ali, a finalizar a nossa viagem de estudos. Após alguns discursos, começou a entrega dos diplomas às turmas de ciências, medicina, tecnologia, música...

– John Brendan, na formação de psicologia.

Levantei-me com um sorriso nos lábios, e ouvi os gritos dos meus familiares e amigos, e subindo ao palco, avistei a minha irmã, erguida nas costas do meu pai. Depois de receber o diploma, voltei a dirigir-me para o meu lugar, recebendo os parabéns dos meus colegas de turma.Eram agora 8 horas da tarde, e sabia que já não faltava muito para a celebração terminar. Deixei-me sentado e alheio aos acontecimentos, apenas escutando os nomes.

– Brooke Green.

Não chamaram mais nomes, pelo que, pensei, seria o discurso de uma aluna.Senti-me agradecido por não ter que realizar um. O mais provável seria engasgar-me mal me aproximasse do pequeno microfone. Nem saber o que dizer, mesmo depois de semanas para o preparar. Direccionei o meu olhar para o palco, para ver se a reconhecia.Vi-a subir o pequeno degrau, de cabeça baixa e a ajeitar o microfone à sua altura.Quando finalmente levantou o rosto, não reconheci a sua figura frágil e simples. Era de uma beleza incomum, o seu comprido e louro cabelo saía da cartola e caía-lhe sobre o ombro direito, e não estava demasiado longe, para perceber que não usava qualquer maquilhagem sobre os seus pequenos e finos lábios, enquanto que os seus olhos se encontravam fora da minha vista, tapados pela sua cartola baixa, que lhe cobria a parte superior do rosto.O tempo parecia ter parado e tinha-me completamente concentrado na sua figura tímida e encolhida, nervosa e reciosa, esquecendo qualquer ruído que me rodeava, quando me apercebi que os seus lábios já se moviam lentamente, e começei a escutar:

– ... agradecida aos professores da Universidade da Califórnia, onde passei os meus últimos anos e estou muito... grata... por finalizar o meu curso. Hum... - colocou o cabelo por detrás da sua orelha e desviou o olhar para trás, como procurando por ajuda.

Reparara agora que o jardim se encontrava num perfeito silêncio, todos tinham parado para ouvir Brooke Green. O sol já se tinha posto por completo e o jardim da Universidade estava agora iluminado pelas candeeiros altos, que tinha visto tantas vezes, nas minhas aulas nocturnas.

– Obrigada. - concluiu.

E, de repente, todos se levantaram em abraços e saltos, atirando as suas cartolas aos ares e eu deixei de ver Brooke. Os meus olhos procuraram aquela figura angelical por cima do palco, mas não avistaram nada.Levei então as minhas mãos à cabeça e atirei também a minha cartola.

Era isso... eu podia começar a minha vida, agora.