POV RONNIE

  A turnê havia sido espetacular. O disco foi um sucesso, tanto meus fãs quanto os fãs dela gostaram e ganhamos fãs que antes nem sabiam da nossa existência. E é claro, tinha a Taylor. A minha namorada. A mulher por quem eu tive que enfrentar toda a mídia caindo em cima de mim. Chegou um determinado dia que eu evitava sequer olhar em direção a uma banca de revistas para não levar mais um choque achando que havia virado papai. Porque sim, eu levei vários sustos e muitas vezes fiz ela fazer todos os exames só para ter certeza. Mas todos deram negativo, para o nosso alívio.

  Dizer que a Taylor estava grávida havia se tornado a fórmula pra vender revistas. E eu realmente não sabia como as pessoas ainda não tinham cansado de acreditar que fosse verdade. Assim como eu não entendia porque as pessoas sempre compravam as revistas mesmo que as fofocas infundadas fossem as mesmas.

  E, sabe aquela semana onde tudo começou que eu não sabia praticamente nada sobre ela? Bom, agora devia haver pouquíssimas coisas sobre ela que eu não sabia. Não que ela tenha me contado tudo, mas eu sou um observador nato. Quer dizer, não é só porque minha namorada é sexy e irresistível que eu só vou prestar atenção nessas coisas. Eu reparo, muito, mas suas expressões me cativam também. E, convenhamos, ela sabe seduzir alguém só com um olhar ou um movimento com a boca. Às vezes até sem nem ter a intenção, como quando ela sorri pro entregador de pizza e ele quase precisa de um babador. Posso dizer que já me incomodei com muitos, e digo muitos entregadores de pizza de todos os lugares. Olhar não tira pedaço, mas na minha frente e por mais tempo do que o necessário é pedir pra morrer. Não que eu já tenha matado algum, mas já quebrei o braço de um uma vez. Mas eu só havia dito pra ele cair fora, foi ele quem teve a audácia de tentar me agredir. Eu só tentei me defender.

   E assim, divagando sobre o último ano, eu desço do carro e agradeço a carona. E é então que eu olho para cima e Taylor está na janela. Merda, eu estava em um carro com uma mulher, e ela viu. Merda, merda, merda. Ela devia achar que eu estava a traindo. E ela teria razão em sentir tanta raiva de mim, se isso fosse realmente verdade. Subo com certa pressa os degraus para chegar no 3º andar, porque eu não tinha tempo para esperar por elevadores. Entro no apartamento combinado e já começo a me explicar quando ouço aquela voz tão conhecida por mim gritar exigindo uma explicação.

  Meus olhos praticamente imploravam para que ela me entendesse. Os dela transbordavam fúria. Não era a primeira vez que ela usava esse tom, mas dessa vez eu realmente não tinha culpa. Bom, nem das outras, mas essa seria mais difícil de explicar. Não por ser um caso delicado, mas sim por ser tão simples que eu tinha medo dela não acreditar.

 - Taylor, amor. O agente do DEUCE me pediu pra passar no estúdio dele assim que acabasse o show, porque ele tinha uma proposta pra mim. Conversamos por um bom tempo sobre os detalhes de tudo e levou mais tempo do que eu achei que levaria. E então, como eu estava sem carro e o pessoal tinha combinado de ir para um bar qualquer, eu pedi pra Rebecca me dar uma carona.

 - E porque você não me ligou? Não, melhor, PORQUE NÃO ATENDEU NENHUMA DAS MINHAS LIGAÇÕES? – Ela ainda estava com raiva.

- Porque eu disse ontem que haviam descoberto o meu último número e que eu ia comprar um novo hoje à tarde. Lembra disso?

- Achei que ia me avisar quando o comprasse. – Ela cerra os olhos.

- E eu ia, mas eu estava tão sem tempo que pedi para o Jacky comprar pra mim e ainda não o tirei da caixinha.

Levanto a mão com a sacola e ela a analisa, chegando à conclusão de que era verdade. Mas ela ainda não tinha desistido. Suspirei, me recostando na porta agora fechada.

- Ok, você ainda não abriu, tudo bem. Mas e essa Rebecca. QUEM É ELA? Achei que seu agente sempre te desse carona. E VOCÊ FOI NEGOCIAR ALGO SEM O SEU AGENTE, RONALD?

- Bob tirou férias por alguns meses, ela é a sua filha e está substituindo ele. Negociamos isso hoje à tarde e eu não tive tempo de contar a você. – Ela cerra ainda mais os olhos e cruza os braços, como se estivesse analisando a veracidade do que eu havia dito. Levanto as mãos com as palmas para frente, em sinal de rendição. – Eu juro. É só isso. Não era a minha intenção irritar a senhora, vossa excelência. – Faço uma pequena reverência tosca e ela revira os olhos, agora aparentemente com pouca raiva presente neles. Sorrio.

- Porra Ronnie! Você estava em um carro com uma mulher que não era eu e que eu nem ao menos sabia que era da sua equipe! Argh, só prometa que não vai mais fazer algo do tipo porque eu realmente não sei o que eu faria!

  Ela suspira e passa as mãos pelos cabelos loiros em claro sinal de cansaço. E eu sei que a briga acabou. E eu não queria que ela continuasse com aquele olhar chateado, muito menos sabendo que a culpa era minha. A vontade de voltar a ver um sorriso em seus lábios me faz caminhar rapidamente em sua direção. Ela acompanha meus movimentos com o olhar e não se afasta. Seguro sua cintura com as duas mãos e encosto minha testa na dela que, a propósito,  está alguns centímetros mais alta do que a minha pelo salto extremamente mais alto do que o normal.

- Eu prometo. Agora esqueça isso. O dia foi cheio, eu estou cansado e só queria matar a saudade da namorada mais linda, gostosa e ciumenta do universo.

  Seu olhar sobe para me encarar e ela sorri.

- Como se eu fosse a pessoa mais ciumenta dessa relação, Ronnie.

  Seus braços circulam meu pescoço e meu sorriso se torna malicioso.

- Talvez, só talvez, você tenha razão. 

   Seu sorriso aumenta e eu, com uma calma que eu de fato não possuía encosto meus lábios nos seus. Ela suspira e, impaciente, sua língua pede passagem por meus lábios. Sorrio minimamente enquanto a concedia com todo o prazer.

POV TAYLOR

  Não vou dizer que foi fácil engolir toda aquela história, porque definitivamente não foi. Mas a única vez que de fato ele havia mentido foi quando tinham planejado uma festa surpresa de aniversário pra mim. Então eu confiava nele, o suficiente pra acreditar na explicação que ele havia dado. E eu estava cansada demais pra prolongar uma briga sem motivos.

  A noite foi maravilhosa, devo dizer. Como toda a noite em que eu passava ao lado dele. Claro que qualquer coisa que agente fizesse ou qualquer coisa que agente tentasse experimentar, ele já sabia e realizava com certa maestria. E isso por causa da experiência assustadora que ele tinha por causa das muitas mulheres que ele já teve na sua cama em todos esses anos. Mas eu procurava não pensar muito a respeito porque isso fazia parte de um passado distante e eu preferia deixar ele onde estava: muito longe do presente.

  ***

  O despertador toca. Não é a maravilhosa música Enter Sandman do Metallica, então percebo que não é o meu despertador. Ainda sem abrir os olhos, chego à conclusão de que não sou eu quem tem um compromisso tão cedo da manhã. Quer dizer, só pode ser cedo porque eu não tenho a mínima vontade de abrir os olhos. Porra, é meu dia de folga e eu estou com sono! É tão difícil me deixar dormir?

  Algo se mexe do meu lado. Ronnie acordou. Óbvio, era ele quem tinha a porra de um compromisso!

  - Bom dia! – Ganho um selinho rápido nos lábios. –Ei, não adianta fazer essa cara, eu sei que você já acordou.

  Percebo que fiz uma careta e, a muito contragosto, abro meus olhos para encarar aqueles olhos negros, ainda sem lápis de olho, e um cabelo completamente desgrenhado. Ele está me encarando, sorrindo pela minha praticamente inexistente vontade de levantar. Passo a ponta dos dedos pela lágrima perfeita desenhada artificialmente abaixo do seu olho esquerdo. Ele fecha os olhos sob meu toque. Aproveito para roubar seus lábios em um beijo mais intenso, aprofundando-o assim que tenho a chance e fazendo-o agarrar minha cintura e deitar em cima de mim. Só separamos nossos lábios quando o ar se faz necessário e ele descansa o rosto na curva do meu pescoço, aspirando. Ele adora fazer isso. Diz que meu cheiro é bom. Bem, o dele também é. Muito. Mais do que eu achava ser possível alguém ter.

  Passo as mãos pelos seus cabelos. Tão lisinhos e sedosos. Cabelos estes que eu adorava agarrar. Que na noite anterior eu havia segurado tanto...

  E então como eu sei que se continuarmos com isso não iremos sair da cama tão cedo, e como ele aparentemente tem um compromisso, tento mudar de assunto. Tática essa mais conhecida como quebrar o clima. O que ia completamente contra a minha vontade naquele momento.

- Fez meu café da manhã com panquecas?

  Ele ri, ainda no meu pescoço, me fazendo cócegas. Deposita um beijo ali antes de se levantar para me encarar.

- Como se alguma vez eu já tivesse feito. – Seu sorriso aumenta.

- Mas você sempre faz café. E o seu é melhor que o meu. – Meus lábios se juntam em um bico emburrado. Ele sorri e encosta seus lábios rapidamente nos meus.

- Não tem café aqui Taylor, nenhum de nós comprou. Agente vai ter que comprar no caminho. Agora vamos, se arrume porque nós vamos sair.

  Eu pisco, surpresa.

- Nós? Pensei que fosse você que tivesse um compromisso tão cedo.

- E eu tenho, mas você vai junto porque lá vai estar alguém que quer te conhecer. E eu acho que 11 horas da manhã já não é mais tão cedo, amor.

- 11 HORAS? Tem certeza? – Ok, meu cérebro ainda não tinha acordado completamente. Sou um pouco lenta pela manhã. Mais ainda quando sinto que não dormi direito.

- Sim, absoluta.

- Então porque eu ainda tenho a maldita sensação de que não dormi mais do que trinta minutos? – Seu sorriso se torna malicioso.

- Oh, deve ser porque de madrugada ao invés de dormir você estava seduzindo a pobre criatura que é o seu namorado, tentando convencê-lo de que dormir não era tão importante quanto iniciar uma terceira roda-

  Coloco minha mão sobre sua boca impedindo-o de começar a listar todos os detalhes da noite anterior. Não que eu fique constrangida, de forma alguma. Mas se ele começasse a detalhar, meu pouco alto controle ia pra puta que o pariu e aí nós não sairíamos de casa a tempo de chegar ao tal lugar. E eu não vou negar que estava curiosa para saber quem era a pessoa e o que queria comigo. Suspiro em sinal de derrota.

- OK, já entendi. Vamos logo. -  Reviro os olhos e ele começa a rir da minha falta de animação enquanto se levanta em direção ao banheiro. Respiro fundo e esfrego os olhos antes de finalmente ir escolher alguma roupa para colocar.