Por Uma Boa Causa escrita por Samyy


Capítulo 4
Capítulo Três - Os Incomodados Que Se Retirem


Notas iniciais do capítulo

Opa, venho desculpar-me pela demora, o capítulo já estava pronto há séculos, mas estava pensando em escrever um outro capítulo antes deste: agora já era... Vou apontar para o fato de eu ter sido trouxa e, ao invés de ter apagado a história e postado outra, eu apaguei os capítulos e continuei postando na mesma história, mas tudo bem...
Eba, mais um capítulo e essa tá enorme de grande, muita coisa nova, altas tretas kkk



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— Aquela megera! – Rose disse entre dentes. – Asquerosa, nojenta!

Rose nunca pensou que usaria essas palavras para se referir a alguém, sempre tentava contornar a situação e achar algo de bom aproveitável. Mas, nesse caso, não conseguia enxergar nenhum aspecto bom.

— Vou acabar enlouquecendo. – Ela se atirou aos pés da árvore em que Scorpius estava sentado.

— Acho que não é para tanto...

A noite já caíra e os dois aproveitavam a hora do jantar para ficar longe dos holofotes. Além da pausa para o banheiro e quando ia dormir, aquele era um dos únicos momentos em que Rose se sentia normal. As pessoas a encaravam como se ela tivesse um terceiro olho no meio da testa, ou até mesmo um chifre.

— Até que ela é legal. – Completou.

Rose lhe lançou um olhar que com toda certeza faria estrago:

— Eu estava brincando! – Levantou os braços em rendição. – Você tinha que ver a sua cara..., mas agora sério, precisamos fazer alguma coisa sobre.

— Tipo o que?

— Sei lá... vamos pensar. – Scorpius colocou sua mão no queixo. – Mas seja como for, não podemos deixá-la como diretora.

Rose gargalhou ironicamente sem nenhum pingo de humor ou felicidade.

— Ha ha ha. Sinceramente Scorpius. O que nós, dois adolescentes de quinze e dezesseis anos, podemos fazer?

— Ok, talvez você tenha um pouco de razão. – Ele não queria dar o braço a torcer.

— Não teríamos a mínima chance contra a diretora Umbridge...

— Posso ajudar em alguma coisa? – Sua voz era aguda, soprada e um tanto infantil.

— Diretora! – Os dois disseram em uníssono ao se sobressaltarem.

Rose e Scorpius trataram de levantar-se do gramado.

— Aposto como estão se divertindo, hum? – Umbridge carregava uma expressão amigável, o que era extremamente diferente de suas intenções.

A verdade é que ela era uma ditadora, o tipo de pessoa que você não quer como amigo e muito menos como inimigo. Umbridge era baixa e gorda, além da sua cara de sapo pálido. Quem não a conhecia, e consequentemente nunca a ouvira falar, esperaria que ela reproduzisse o som dos anfíbios. O cabelo curto, castanho-acinzentado, estava preso por uma faixa cor-de-rosa ridícula. Estava bem explícito que rosa era a sua cor preferida, mas ela não simpatizava nem um pouco com Rose.

— Os senhores têm consciência de que estão atrasados para o jantar? – Disse amigavelmente, como se realmente alertasse amigos de seus erros. – É uma falta grave, se atrasar.

— Me desculpe senhora. – Rose se adiantou, antes que Scorpius pudesse dizer qualquer coisa. – A culpa é toda minha. Eu precisava conversar com Scorpius e simplesmente não vi o tempo passar. De certa forma ainda estou habituada com o diretor Dumbledore e ele não se importaria com esse pequeno atraso. Isso não tornará a se repetir.

— Senhorita Rosalie, eu lamento lhe informar, mas – E não era possível distinguir um tom de lamentação em sua voz. – Dumbledore não é mais o diretor deste internato. – Rose desviou o olhar comedida. – E eu tenho certeza de que este incidente não tornará a se repetir. – Ela voltou-se para o prédio e começou a ir embora.

Algumas semanas haviam se passado desde o grande comunicado da professora Minerva. Qual não fora a sua surpresa ao serem apresentados à nova diretora Dolores Umbridge.

“ – É uma honra para mim [...]. Estamos entrando em uma nova era em Hogwarts. Algumas mudanças precisam ser feitas e eu fico feliz em poder realizá-las. ”

— Ah, quase ia me esquecendo! – Umbridge se voltou novamente para os dois. – Sua detenção: às dezessete horas na quarta-feira.

— Como assim? – Perguntou confusa.

— Pontualidade Rosalie, não se atrase. – A mulher fingiu não escutar a ruiva.

— Está nos dando detenção por nos atrasarmos?

— Não, eu estou te dando detenção. Algumas pessoas só aprendem assim. – Voltou a andar.

Scorpius esperou Umbridge sumir, para ter certeza de que ela não escutaria, para perguntar:

— Por que falou aquilo? – Ele estava incrédulo.

— Aquilo o quê? – Apesar de tudo, tinha um tom divertido no rosto.

— Por que mentiu?

— Ah... bom... – Ela estava desconcertada. Havia mentido sobre o verdadeiro motivo de estarem do lado de fora àquela hora. – É isso que os amigos fazem, não é? – Deu de ombros e começou a ir em direção à escola.

Umbridge conseguira transformar o internato em um inferno em menos de duas semanas que assumira o comando. Um inferno cheio de gatos. Gatos para todos os lados. Gatos de todos os tipos, brancos, cinzas, marrons, malhados, negros, de todos os tipos. Aquilo parecia mais um abrigo de animais que uma escola. 

O primeiro encontro entre Rose e a nova diretora aconteceu por acaso. A ruiva andava distraidamente, esbarrou na cara de sapo, garantindo sua primeira punição, por mais que tenha se desculpado uma centena de vezes.

Fora um dia cansativo limpando a biblioteca. Rose amava a biblioteca, mas limpar os livros velhos e empoeirados lhe assegurou um acesso de alergia.

[...]

— Assim... uma informação muito importante, que você necessita saber é: futebol não é muito a minha praia! – Rose exclamou enquanto seguia o garoto pelo campo.

— Por favor, Rose. – Scorpius estava cogitando a ideia de se ajoelhar na grama e implorar. – Você não precisa assistir. – Ele apontou para o livro a tira colo da amiga. – Mas fica na arquibancada!

— Está bem! – Ela acabou por ceder, embora já tivesse admitido para si mesma que iria. – Mas saiba que está me devendo uma, e eu vou cobrar. – Ia andando ao acesso para as arquibancadas quando se lembrou de algo essencial. – Boa sorte Scorpius. – Gritou, pois ele já estava longe.

Rose abriu seu livro e começou a ler. Era mais um empréstimo da biblioteca.

Capítulo 1 – Um número infinito de dias até meu inevitável reencontro com Nikki

Scorpius havia sido convidado para uma partida de futebol com alguns colegas de classe. O rapaz estava, afinal, conquistando um espaço na escola. As pessoas não pareciam se importar mais que ele andasse com Rose e Rose começava a aceitar que Scorpius realmente gostava de sua presença. Tanto é que ele ficou em cima do muro sobre aceitar o convite. Achou o meio termo ao fazer Rose o acompanhar, mas futebol nunca a atraiu.

Ela havia perdido a noção de tempo quando sua leitura foi interrompida por uma voz feminina:

— Com licença... – Uma moça muito bem vestida se aproximou de Rose. Ela parecia um tanto constrangida em interromper a leitura da garota. – Será que você poderia me ajudar? – Rose lhe olhou dos pés à cabeça. Quando a encarou, uma sensação de familiaridade lhe percorreu a espinha.

— Claro! – Sorriu de lado, sendo impulsionada por uma força sobrenatural. Era a primeira vez que sorria em semanas o que a fez se sentir bem.  – Que tipo de ajuda?

— Estou procurando pelo diretor Dumbledore. – Ela também sorriu, talvez contagiada pelo riso da ruiva que, por mais tímido que fosse, era lindo.

Mas então o sorriso de Rose amarelou e a moça pode perceber:

— Ah, eu sinto informar que ele não está.

— Não tem problema. Eu posso voltar outro dia.

— Não será possível. – Ainda era complicado constatar aquele fato. – Ele faleceu mês passado. – Completou tristemente.

— Ah, ok, entendi. Olha, me desculpe, eu não fazia ideia! – A moça disse com pesar e se sentou ao lado de Rose na arquibancada. – Isso foi um tanto insensível da minha parte.

— Não se preocupe com isso. Não tinha como você saber. – Rose queria muito voltar a leitura de seu livro, mas tinha consciência de que seria falta de educação.

E a sensação de familiaridade não ia embora.

— Você ficou triste. Desculpe a pergunta, mas vocês eram próximos de alguma forma? – Ela estava receosa em perguntar.

— De certa forma sim. – Ela contemplava a capa do livro. – Ele foi como um pai.

— Entendo. A propósito, meu nome é Hermione. – Ela lhe estendeu a mão. 

— Eu sou...

Um sinal tocou, fazendo Rose saltar do banco. Ela olhou seu relógio de pulso: dezesseis horas e cinquenta e cinco minutos. Era uma quarta-feira e Rose tinha um encontro com Dolores Umbridge dentro de cinco minutos.

— Ah, me desculpe! – A ruiva pegou sua mochila apressada. – Eu tenho que ir, não devo me atrasar de jeito nenhum!

— Tudo bem. – Hermione sorriu. Rose, que já se preparava para correr se lembrou de algo:

— Prazer em conhecê-la.

— Igualmente. 

Hermione Granger era uma publicitária. Casada com Ronald Weasley e mãe de Hugo Weasley, atualmente com treze anos. Quando ela contara a Rony que tinha deixado sua filha, de apenas dois meses, em um internato, tiveram uma discussão que quase levou ao fim do casamento. Rony ficou fora de casa por duas semanas pensando em tudo que ela disse, nas razões que a levaram a tal ato. Não a perdoara totalmente, talvez nunca perdoasse, mas conseguiam viver juntos. O ruivo ainda guardava mágoas, afinal, Rose era a princesinha do papai, era a filha primogênita, era tudo para Rony... Hermione fez uma promessa, quando pudesse consertaria a estupidez que cometera.

Os Weasleys acabaram se tornando uma família bem-sucedida logo após Rony realizar sua primeira cirurgia plástica com sucesso. Assim, ficou famoso por sua competência, seu profissionalismo e habilidade no trabalho, rendendo elogios, fama e dinheiro. Viajaram por vários países, permanecendo aproximadamente um ano em cada. Por essas circunstâncias Hermione não pode ir imediatamente atrás da filha. Não podia deixar o marido sozinho e ainda tinha Hugo. Rony não poderia ficar longe do filho e muito menos da esposa, – apesar de tudo ainda a amava - então Hermione o acompanhou nas viagens, aproveitando para promover o seu negócio, retornando meses atrás para morarem definitivamente em Londres.

Algo dentro de Hermione tinha despertado uma sensação de familiaridade, como se ela já conhecesse aquela garota.

Scorpius tinha deixado sua mochila com a amiga, mas ela fizera o favor de deixá-la largada na arquibancada. O loiro tentou ignorar a mulher de cabelo castanho, que, na verdade ele achara muito bonita, e voltar para as suas atividades normais.

— Rapaz! - Hermione chamou Scorpius. - Por acaso você é amigo daquela garota ruiva?

— Sim, eu sou. – Ele respondeu, achando esquisito.

— Será que poderia me dizer o nome dela?

— O nome dela é Rose. – Não sabia o que era, mas de repente um calor invadiu o seu peito ao falar da amiga. – Na verdade é Rosalie, mas nós a chamamos de Rose.

— E há quanto tempo ela estuda aqui? – Talvez estivesse fazendo perguntas demais, sendo invasiva.

— Bom, pelo o que ela me contou ela sempre esteve aqui. – Respondeu pensativo. – Parece que os pais a abandonaram, algo do tipo... Sinceramente, Rose é uma garota tão bela, inteligente, amiga e leal. Me parece quase impossível que alguém não a quisesse...

Hermione se sentiu desconfortável.

— Falando assim parece até que você gosta dela. – Tentou contornar a situação.

— Bom... – As bochechas do rapaz ficaram coradas. – Desculpe, eu preciso ir. Já estou atrasado para a próxima aula.

Rosalie.

E se...?

Não. Isso era impossível... ou não..., mas e se fosse? Será que aquela Rosalie era a Rosalie de Hermione? Não era impossível, mas quantas Rosalies ruivas e com sardas poderiam existir em Londres? E quantas Rosalies poderiam ter sido deixadas em Hogwarts? Tinha que investigar isso. 

[...]

— O doutor Weasley irá recebê-la. - A secretária, de voz esganiçada, anunciou. 

Ela precisava conversar com ele.

Por mais que estivesse magoado com a esposa, Rony se preocupava com seu bem-estar e felicidade, era inevitável, ele ainda a amava. 

Hermione não queria dar falsas esperanças ao marido, mas precisava contar a ele suas descobertas.

— Aconteceu alguma coisa? - Rony perguntou preocupado quando ela entrou. Não costumava visita-lo no local de trabalho. Eles se sentaram em um sofá no canto do consultório.

— Sim e não. É que... – Hermione tentava encontrar as palavras certas. – Ronald, você ainda está magoado comigo, não é?

Rony hesitou. Não precisavam dizer com todas as palavras para saberem de qual assunto se referia.

— Quer a verdade? 

— Mas é claro. – Ela pegou as mãos do marido entre as suas. – Sinceridade apesar de tudo. Nossos votos.

Ele suspirou. 

— Eu te amo Hermione Granger. – Ele tomou o rosto da castanha entre as mãos e a beijou. Ela podia sentir os lábios do marido quentes e seu beijo era apaixonado. – Eu te amo, mas ainda há aquela parte de mim que anseia desesperadamente não te amar.

A despeito de tudo, eles conversavam bastante sobre a filha. Como ela estaria hoje em dia? Com quem ela se parecia mais? Era tão inteligente quanto a mãe? Era tão preguiçosa quanto o pai? Ainda conversavam sobre a filha sim, mas aquela fora a primeira vez que Rony se expressava daquela forma. Hermione sentiu um aperto no peito por ser a culpada daquela confusão e ao mesmo tempo sentia a aceitação de merecer a culpa.

— Você sabe que eu estou tentando consertar as coisas. Teria começando bem antes se não fossem as viagens.

— Aonde quer chegar com isso? – Ele perguntou estranhando.

— Bom – Ela começou. – Eu finalmente encontrei Hogwarts hoje! – Na hora do desespero, Hermione tinha simplesmente escolhido uma escola a esmo. Não recordava o nome, nem onde estava situada, apenas que o diretor chamava-se Dumbledore. – E lá encontrei essa garota... – Ela passou uma mecha do cabelo atrás da orelha, em sinal de nervosismo. – Ela é ruiva, tem sardas no rosto. É bem bonita na verdade. Deve ter quinze anos. – Disse pensativa, tentando resgatar todos os momentos da rápida conversa que tiveram.

— Uma garota?

— Não quero criar falsas esperanças, mas e se... 

— Se ela for Rose? - Hermione assentiu. - Eu preciso ver essa garota, mas estou com a agenda lotada.

— Nós daremos um jeito. - Rony a olhou com ternura. 

— Não volte lá sem mim, por favor. 

— Não vou. Se for ela o que faremos? 

— Nós daremos um jeito. - Repetiu as palavras da esposa. 

[...]-

— Está oficialmente declarado que Rosalie detesta gatos! – Rose esbravejou enquanto sentava-se, toda descabelada, ao lado de Scorpius no salão em que realizavam as refeições.

— Então eu já estou indo, não quero que cometa uma loucura com o gato aqui. - O loiro disse rindo. 

— Era para rir? - Ela estava mais séria que nunca. 

— Depende. Bom, era uma piada. Aprendi com o meu pai... – Justificou-se, constrangido pela indiferença da amiga. - Então - Pigarreou. - O que você teve que fazer desta vez?

Durante o jantar, Rose lhe contou de sua desastrosa detenção com as centenas de gatos espalhados pela escola.

— Você teve que dar banho nos gatos?

— Isso não foi o pior de tudo. Gatos, definitivamente, não gostam de água. Estou toda arranhada! – Ela mostrou alguns dos arranhões que recebera nos braços. – Semana que vem vou precisar continuar, não terminei com todos.

            Rose engoliu um pedaço de frango.

            Continuaram a jantar em silêncio, sendo envolvidos pelas várias conversas do salão. Quando terminaram, foram para os jardins. O céu estava realmente bonito aquela noite. As estrelas gostavam de dançar sobre suas cabeças.

— Eu queria poder te ajudar. – Ele disse sinceramente.

— Não precisa. Apesar de tudo, eu consigo me virar bem. – Rose tocou o braço dele e deixou um sorriso escapar.

            Scorpius se surpreendeu com aquele gesto. Rose vivia enclausurada em seu mundo, raramente dando aberturas como aquela. No início, se aproximara da garota por considerá-la uma companhia verdadeira e agora sentia algo a mais. Não conseguia imaginar sua estadia naquela escola sem Rose ao seu lado. Não tinham todas as aulas juntos, então ele contava os minutos até poder vê-la novamente.

Desde que chegara no colégio, era a primeira vez que captara um sorriso seu. E ele sorriu de volta, encantado com toda a sua beleza.

Será que estava se apaixonando?

— Algum problema Scorpius? Você está parecendo um idiota... mais do que o normal, é claro.

— Não é nada. – Desviou o olhar rapidamente. O céu. – Esta noite está bastante estrelada, não acha?

            Ela seguiu o olhar do amigo.

— Sim... E estão tão belas hoje.

— Só não são mais lindas que você. – Antes que pudesse perceber, as palavras simplesmente pularam de sua boca.

Rose se descobriu sem palavras.

— Obrigada, eu acho... – Suas bochechas coraram e ela abaixou o rosto tentando não demonstrar seu leve desconforto com o elogio. Além de Dumbledore, e é claro os seus professores, não recebia elogios. Era a coisa mais legal que alguém tinha lhe dito. – Eu acho que vou dormir. Boa noite. – Voltou correndo para a escola.

— O que eu fiz? - Scorpius se repreendeu. 

Pela primeira vez Scorpius admitiu: sim, estava apaixonado. Rose era incrível, às vezes apenas com a sua presença era capaz de espantar o desanimo do garoto. Sempre o ajudava com os exercícios, principalmente matemática, tendo paciência exata para auxiliá-lo. E, além de tudo, ela era linda.

Era um garoto apaixonado sem saber o que fazer. 

[...]

O mês seguiu normalmente, sem nenhum acontecimento extraordinário.

Rose fazia o caminho da biblioteca com alguns livros na mão. Tinha atrasado na devolução, já que não teve tempo para terminar a leitura. Mas não tinha problemas realmente, era a leitora mais assídua e a sócia mais antiga. A madame Pince gostava dela.

Estava nervosa, Scorpius dissera que queria conversar seriamente com ela. Não deveria ser nada de muito importante, mas a maneira que ele a chamou foi um tanto suspeita.

Quase chegando à biblioteca lembrou-se de ter deixado um marca-páginas dentro de um dos livros, mas não se recordava em qual. Enquanto andava folheava as páginas e não prestava atenção a sua frente.

Naturalmente trombou com alguém:

— Ai minha testa! – Exclamou Rose. Levou sua mão livre até a testa e massageou a região atingida. – Perdão, que desastre eu sou!

— Não faz mal. Não tem problema. – O garoto, que era da sua altura, também massageou sua própria testa. – Eu que peço desculpas, estava distraído. Hugo Weasley. – Ele lhe estendeu a mão.

— Rosalie. – Disse simplesmente.

— Você por acaso não viu os meus pais, viu? – Perguntou como se, de repente, lembrasse-se de algo realmente importante.

— Quem seriam eles? – Até porque, com toda a certeza, ela sabia quem eram os pais daquele completo estranho.

— Hermione e Ronald Weasley. Meu pai é ruivo como eu. – Falou apontando para a própria cabeça. – E minha mãe tem o cabelo castanho.

— Hermione? Sim, se for quem eu estou pensando, eu a conheço. Mas não a vi hoje. Se eu ver dois adultos perambulando pela escola, pode deixar que eu digo que o filho deles está os procurando!

— Essa escola é impressionante. – Seu olhar não parava em um único lugar, ele parecia disposto a gravar cada detalhe do chão à parede. Rose sentiu vontade de sorrir com a admiração do garoto. – Estava observando a decoração e quando dei por mim PUFF, meus pais tinham desaparecido.

— Bom Hugo – Falou lembrando-se do nome do garoto. – Eu adoraria te ajudar a encontrar os seus pais e, quem sabe, bater um papo, mas eu realmente preciso ir. – Indicou os livros que carregava.

— Imagina. Prazer em conhecê-la.

— Igualmente.

[...]

— Rose? – Rony e Hermione assentiram. – Sim, ela é uma das melhores alunas que temos, se não a melhor.

— E os pais dela?

— Não sabemos nada sobre eles... aliás, o ex-diretor Dumbledore tinha conhecimento sobre o assunto, mas nunca compartilhou nenhuma informação comigo.

O casal, finalmente, conseguira uma oportunidade para visitar o internato e a professora McGonagall os atendera de bom grado.

— Eu tenho uma última pergunta...

— Claro. 

— A senhora consideraria Rose como uma garota rancorosa?

— Bom... não acredito que ela tenha motivos para guardar rancor, mas é notável o quão fechado para o mundo ela é. Todos nesta escola, conhecem o nome de Rose, mas ela não é nem um pouco popular. Até semanas atrás era uma garota solitária, andando sempre sozinha, mas bastante dedicada aos estudos. Então esse novo aluno chegou e eles se tornaram amigos. Felizmente Rose continua sendo a menina estudiosa de sempre, mas ela se tornou mais aberta e conversa mais também. – Rony e Hermione escutavam atentamente a todas as palavras da professora, vidrados. Em anos, aquela era a primeira vez em que escutavam tanto sobre a filha. - Desculpem, mas por que o interesse na garota? 

— Bem... – Hermione começou receosa, procurando a mão do marido por baixo da mesa como uma forma de apoio. – É complicado na verdade, mas... nós somos os pais dela... somos os pais de Rose!

Minerva assentiu, entendendo o motivo de tantas perguntas. Mas no fundo, desde o momento em que ela pusera os olhos nos dois e eles começaram a perguntar sobre a garota, sabia que havia alguma ligação entre os três. Rose era uma cópia fiel da mãe, a não ser pelo cabelo ruivo e pelos olhos azuis do pai.

— Eu quero a minha filha de volta. – A voz de Hermione era determinada. – Logo que a deixei aqui, com o professor Dumbledore, eu a quis de volta. Mas eu não podia fazer isso. Na época mal podíamos nos sustentar: como sustentar uma criança? Mas então nossa situação foi melhorando com o passar dos anos. Eu só queria o melhor para ela...

Um calor incomum invadiu o peito de Hermione. Antes de ter a confirmação, o seu coração de mãe já se conformara em aceitar que aquela Rose era a sua Rose.

A professora McGonagall os confortou, afirmando que faria o possível para reaproximá-los. Mas não seria uma tarefa fácil: não faziam ideia de como ela reagiria.

 [...]

Rose já esperava por Scorpius na árvore mais do que conhecida dos dois. Tinha pego um novo livro na biblioteca e, enquanto o garoto não chegava, começou a lê-lo:

Capítulo um

O único lugar em que me sinto segura é embaixo d’água.

 No instante em que terminava o primeiro capítulo, Scorpius chegou, fazendo-a se sobressaltar. Estava tão absorta na leitura.

O loiro percebeu que a assustara. Ele mesmo estava concentrado em seus pensamentos, tentando encontrar a melhor forma de contar sobre o seu plano louco para a garota.

Os incomodados que se retirem, é o que dizem.

— Tudo bem Bookaholic? – Scorpius sentou-se ao lado da amiga, tomando o livro de suas mãos para olhar a capa.

— Do que me chamou? – Ela não sabia se ficava ofendida, era a primeira que escutava aquela palavra.

— Bookaholic. Viciada em livros.

— Me poupe Scorpius Malfoy! – Ela tentava recuperar o livro das mãos do garoto.

Scorpius levantou-se, dificultando para ela, e ergue o braço onde segurava o livro.

Rose não era do tipo baixinha, tinha quase um metro e oitenta, o que também não significava que ela fosse alta. Apenas não era páreo para Scorpius. Ela também se levantou de seu lugar, ergue o braço e ficou na ponta dos pés: tudo para resgatar o livro.

Scorpius riu de seu esforço, e riu mais ainda quando ela se apoiou nele e começou a dar pulinhos.

— Para com isso! – Ela exclamou.

Então Scorpius desatou a correr pelo jardim.

Não estava exatamente tarde, ainda havia vários estudantes espalhados pelo gramado. Normalmente, Rose hesitaria em se expor daquela forma na frente dos colegas de escola, mas com Scorpius aquela espécie de filtro desaparecia. E, bem no fundo, ela gostava.

A garota o perseguiu, mostrando suas habilidades de corredora. Rose alcançou Scorpius e ao tentar pará-lo, quase o fez tropeçar. Ele se agarrou nela para evitar a queda.

Quando o alvoroço da situação passou, Rose notou o quão perto os dois estavam, tão perto que, se o barulho ao seu redor fosse suspenso, ela podia jurar que conseguia escutar o coração de Scorpius bater descompassado. Ela não sabia o que fazer, não tinha certeza de seus sentimentos, mas assistira a filmes de romance o bastante para saber o que acontecia depois. A não ser que o garoto fosse lento demais para tanto, Scorpius deveria inclinar-se para beijá-la. Por um momento ela desejou que ele o fizesse, e logo após seu corpo voltou a sensatez normal:

Ele N-Ã-O podia beijá-la!

O tropeço de Scorpius fora proposital e ele não imaginava que as coisas fossem tomar essas proporções. Estava tão próximo à Rose que podia contar a quantidade de sardas em seu rosto. Ela estava tensa, ele mesmo estava. O seu coração batia descompassado por conta da corrida. Gostava de Rose, sim. Ele gostava mais que como uma companhia agradável. Será que deveria aproveitar a oportunidade para beijá-la?

Então Scorpius lembrou-se do motivo que o fizera marcar aquela conversa. Se ele a beijasse, não seria capaz de retomar o assunto de cunho importante.

— E esse talento sendo ocultado do mundo? – Ele continuou a atiçá-la ao devolver o livro. – Nunca imaginei que Rosalie fosse tão boa corredora!

— Corta essa! – Ela o atingiu levemente com o livro e, quase imperceptivelmente, podia-se notar um tom de decepção em sua voz. Por que ele não a beijara? Rose estava confusa. – Então, sobre o que queria conversar mesmo?

            Eles andaram de volta à árvore.

— Preste bem atenção. – O assunto parecia importante. – Hoje eu conversei com alguns amigos, eles não estudam aqui, sobre como a política de Hogwarts está mudando. Eu já estava pensando bastante sobre esse assunto. Comentei contigo que – Ele olhou sobre os ombros, certificando-se de que ninguém os escutava. – Precisamos dar um jeito em Umbridge. Você praticamente riu da minha cara. Mas sabe aquele ditado? Os incomodados que se retirem? – Rose assentiu. – Então, como estamos incomodados precisamos nos retirar.

— Nos retirar? Do que está falando?

— Rosalie. – Ele tomou as mãos da garota entre as suas. Não era a primeira vez que as tocava, e sempre que o fazia uma corrente elétrica perpassava o seu corpo. – Nós vamos fugir da escola!

— Como é que é? Você perdeu a noção de perigo? – Ela disse exasperada, sorte não ter muitas pessoas ao redor para escutar.

— Essa é a única saída. E sim, talvez eu tenha mesmo perdido a noção de perigo, mas Rose, eu não posso continuar nesta escola sendo dirigida pela insana da Umbridge. – Ele ainda segurava as mãos dela e fazia questão de olhar em seus olhos azuis. – Se eu que entrei há pouco tempo não posso imaginar um diretor melhor que Dumbledore, imagine você que viveu aqui durante toda a sua vida. Olha as coisas horríveis que essa mulher anda fazendo. Eu vou e não posso deixar você aqui.

— Bom... – Ela desviou o olhar do garoto. Ainda era nova nessas de manter contato visual por tanto tempo. – Digamos que hipoteticamente eu aceite ir. Para onde iríamos?

— Para a minha casa é claro. A não ser que tenha outro lugar para onde ir. – Ele brincou, tentando arrancar um sorriso da garota.

— Você não está sabendo? – Entrou na onda dele. – Eu comprei um apartamento novo semana passada.

— Como que você não me conta esse tipo de coisa? – Os dois sorriram. Scorpius era sempre pego de surpresa. Eram raros os momentos em que ela se abria daquela forma. – Então, o que me diz?

Ela ponderou. Scorpius tinha razão: não havia diretor melhor para aquela instituição, a não ser é claro, a vice-diretora Minerva McGonagall. Umbridge transformara o lugar em um hospício. Mudara a grade horária dos alunos, trocara os livros didáticos, diminuíra a qualidade do lugar. O que perderia aceitando a oferta dele?

— Tudo bem. Eu vou. – Respondeu, ainda hesitante e Scorpius mal acreditou, mesmo considerando apenas a parte em que ela dizia sim para tudo.

— Isso vai ser ótimo! – Ele abraçou a ruiva. – Essa escola precisa de um agito!

Rose riu da animação dele e Scorpius quase a beijou novamente. Por que ela tinha que ser tão encantadora assim?

— Mas eu tenho uma dúvida: por que diabos você está disposto a fazer isso por mim?

— É isso que os amigos fazem, não é?

Agora era ela quem estava animada. Tinha dito aquela mesma frase, semanas atrás, ao assumir a culpa de se atrasarem para o jantar.

— Você está me citando!

— Rosalie grande pensadora contemporânea. Certo, agora há algumas coisas que você precisa saber para que o plano dê certo...

— Hum... que tipo de coisas?

Ele a contemplou por um momento e assentiu, em sinal de aprovação.

— Como o fato de que você vai ficar linda loira...

 


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Notas finais do capítulo

Gente, eu amei escrever essa cena final, seríssimo. Vocês podem achar que tem muita coisa acontecendo e acontecendo rápido demais, mas ainda tem bastante coisa pra rolar!! Mas então, me contem o que estão achando...
Recadinho pros meus leitores que ainda estão no Ensino Médio: aproveitem enquanto puderem, porque a faculdade não é brincadeira! Sdds terceiro ano...
14/03/2016