– Você percebeu, Vick? – Madison perguntou à Victoria assim que as duas garotas entraram no apartamento.

– O que exatamente?

– Uns certos olhares que rolaram lá na praça. – Madison deu um sorrisinho.

– Olhares? Só você para perceber isso mesmo! – Victoria riu. – Mas de quem?

– Lembra aquilo que você me disse de manhã? Sobre o Yuri gostar de um garoto e tudo? – Madison perguntou.

– Lembro.

– Exatamente isso. O Yuri e o Tom. Quando eles foram se cumprimentar, ficaram se olhando por um tempinho. Dava para ver o brilho nos olhos daqueles dois, e aqueles sorrisinhos envergonhados também. De verdade, Vick, se aquilo não for paixão, não sei mais o que é.

Nesse momento Victoria riu, lembrando-se do dia em que cortara o cabelo. Quando ela foi com Yuri até o seu quarto, guardar os livros que comprara, ele havia ficado por um bom tempo encarando uma foto. E naquele mesmo dia, momentos depois, ele caíra e errara manobras fáceis de skate, apenas por estar distraído.

– É, verdade, Maddy. – Victoria riu novamente. – Não sei como não percebi antes.

...

Depois de duas semanas, a vida em Fort Lauderdale era quase como antes. Quase por que agora o grupo de Victoria contava com mais dois integrantes.

Qualquer um podia perceber a aproximação espontânea entre Tom e Yuri. A cada dia os dois estavam cada vez mais unidos, como se fossem amigos de tempos.

Já Sienna era diariamente irritada por Kori, seu sorriso irreverente e os inúmeros convites cheios de humor para sair. E estes convites eram sempre recusados com sorrisos e uma grande vontade de dizer “sim”.

– Tá na hora de ir, Maddy! – Victoria, que estava bem abaixo do mezanino, chamou a namorada.

– Já estou indo! – Esta respondeu, descendo com passos rápidos as escadas.

– Mesmo depois de uma semana eu ainda estou comemorando por não ter que usar aquele uniforme. – Victoria comentou quanto as duas estavam saindo do apartamento.

Madison riu.

– Aposto que nem era tão ruim assim. – Ela disse.

– Para você que é acostumada a usar saia não, mas sabe quantos anos fazia que eu não vestia uma saia? – Victoria perguntou, para depois responder ela mesma. – Uns quatro, cinco anos! – Ela exclamou, fazendo Madison rir mais.

– Aposto que fica sexy. – Ela disse.

– É. Sexy para mais de quatrocentos garotos. – Victoria revirou os olhos e deu um sorrisinho de canto.

– Tem razão. Foi muito melhor você deixar de usar aquele uniforme. – Madison disse e Victoria riu.

– Sei disso.

As duas garotas desceram pelo elevador até aportaria, e, depois de cumprimentar o porteiro, saíram caminhando.

Depois de não mais que quinze minutos, Victoria e Madison chegaram ao gramado do colégio. Amber e Louie estavam sentados sobre a mureta do jardim. Ao lado do casal, Yuri e Tom conversavam animadamente sobre algum assunto qualquer.

Perto dali, era possível ver Kori ajoelhado, esticando os braços de forma teatral para Sienna, que se esforçava absurdamente para não rir.

– Como vão, pessoas do meu coração? – Victoria deu um sorriso largo, desviando-se da cena de Kori e aproximando-se da mureta.

– Hey, meninas! – Yuri e Tom exclamaram exatamente ao mesmo tempo e, ao fazerem isso, os dois garotos trocaram um olhar e começaram a rir.

Logo Victoria, Madison, Kori, Sienna, Amber e Louie também estavam rindo, e continuaram assim até o sinal tocar. E mesmo quando todos começaram a caminhar para dentro do pátio ainda era possível ouvir algumas risadas.

Ao atravessar o pátio, o grupo teve de se separar. Yuri, Tom, Victoria e Madison foram até um dos corredores, onde se localizavam seus armários. Os outros quatro se dividiram para os outros corredores.

Yuri conseguira um armário logo ao lado do de Tom. Os de Madison e Victoria ficavam um pouco mais distantes, mas mesmo assim a garota morena de cabelos curtos pôde observar pelo canto do olho o jeito com o qual Yuri e Tom conversavam e se olhavam.

Era engraçado e, ao mesmo tempo, meio aflitivo.

Victoria sabia que aqueles dois garotos se gostavam. Aquilo era perfeitamente óbvio e ilustrado pelos gestos e olhares que os dois trocavam, pela força daquela amizade surgida em tão pouco tempo e também por diversos outros pequenos detalhes, observados ao longo dos dias.

– Bom, eu vou para a minha aula agora. – Madison disse à Victoria, tirando-a dos seus pensamentos.

– Eu também tenho que ir. – Victoria respondeu. – Não queria, mas tenho.

As duas riram.

– Até mais tarde, Vick.

– Até, pequena. – As duas garotas trocaram um beijo rápido e Madison foi se afastando.

Victoria observava com um sorrisinho de canto o andar ritmado e delicado da namorada pelo corredor. Ao se virar novamente, viu que Tom também já havia saído.

– Yuri! – Ela chamou, correndo até o garoto que ainda estava ali.

– Ei, Tori. O que há? – Ele sorriu.

– Qual é a sua aula agora? – Ela perguntou.

– História.

– A minha também. – Ela sorriu. – Me acompanha?

Ele riu.

– Mais ou menos como em HA.

Victoria concordou e os dois começaram a caminhar até o outro lado do prédio, onde se encontrava a sala de história.

– Yuri... – Victoria começou em um momento.

– Sim?

– Posso te fazer uma pergunta? – Ela pediu. – Além dessa, obviamente.

Ele riu.

– Claro.

– Yuri... me diz a verdade. Você gosta do Tom, não é? Eu digo... no sentido de... “mais que amigos”. – Ela fez aspas no ar com os dedos e ele engasgou. – Não é, Yuri? – Insistiu.

– É... – Ele hesitou. Eu.... acho que sim. – Admitiu.

Victoria deu um sorriso.

– Já sabia!

– E por que perguntou, então?

– Eu queria uma confirmação. – Ela deu de ombros. – E queria saber por que você está escondendo isso.

– Ora, Tori! Não sei se você notou, mas Tom é um garoto! – Yuri exclamou, enfatizando a letra “o” na última palavra.

– Um garoto que gosta de garotos. – Ela disse. – E de você.

– É sério? – Ele perguntou, arqueando as sobrancelhas em tom incrédulo.

– Seríssimo, Yuri. Tá duvidando de mim é? Eu o conheço há muito mais tempo que você.

Os dois riram.

– Isso é incrível, Tori. Mas também tem a minha mãe. Você não acha que ela... sei lá... surtaria?

Victoria riu.

– Isso eu não sei. – Ela deu de ombros. – Quando eu e Madison começamos a namorar, eu só tive de contar para uma pessoa. E o Robert é muito compreensivo. – Ela brincou. – Mas, falando sério, eu acho que você não precisa se preocupar com isso. Lara é compreensiva também. – Completou.

Yuri olhou-a. Em seus olhos de ônix, pairava uma leve dúvida.

– Tem certeza?

– Ora, Yuri. Nós estamos falando da sua mãe. – Victoria exclamou e os dois riram. – Mas sim, tenho certeza. E qualquer coisa, eu estou aqui, certo?

Ele sorriu.

– E Tom? O que eu deveria fazer? – Yuri perguntou.

– Fala com ele depois da aula. Você vai saber o que fazer. – Victoria piscou para ele.

– Obrigado, Tori.

A aula de História não se demorou muito. Victoria e Yuri conversavam enquanto anotavam a matéria, e a garota podia perceber o quanto as meninas lançavam olhares para ele.

Em algum momento ela pensou, rindo, em como seria quando ele surgisse lá ao lado de Tom. Talvez uma decepção geral?

O sinal tocou e os dois saíram da sala. Naquele dia, Yuri não tinha nenhuma aula com Tom.

Os três primeiros horários passaram, e logo o sinal do intervalo bateu. Em uma mesa no canto do refeitório, Victoria e Madison dividiam batatas fritas em uma bandeja. Amber e Louie, logo ao lado, faziam o mesmo, mas “daquele jeito meloso de casal apaixonado”, como Kori descrevera, fazendo todos rirem.

Yuri e Tom também estavam lado a lado, mas conversavam normalmente. De vez enquanto o garoto moreno trocava olhares significativos com Victoria.

O intervalo acabou e as pessoas encaminharam-se para suas aulas.

Para Tom, os três últimos horários passaram rápido. Para Yuri, eles se arrastaram.

Mas, finalmente, o último sinal tocou. E o grupo se reuniu do lado de fora. Ou parte dele.

Tom estava terminando de guardar algumas coisas em seu armário, e Yuri o aguardava.

– Preciso falar com você. – Ele disse.

Tom se sobressaltou. Ele estava nervoso. Esperançoso mas, ao mesmo tempo, meio assustado.

– Certo. – Disse. – Fale.

Yuri respirou fundo. Era agora. A sua chance. E ela não podia ser desperdiçada.

– Na verdade, eu não sei bem como te dizer isso, Tom. – Ele falou, mordendo o lábio inferior e desviando o olhar para o chão.

Em sua cabeça, milhares de palavras e frases desconectadas giravam. Ele queria dizer o que sentia, o que estava dentro de si desde que vira a foto colada na parede do quarto de Victoria. As dúvidas se tornavam certezas, mas a coragem de verbalizar aquilo não aparecia de jeito nenhum.

Tom deu um passo á frente, cortando quase toda a distância que se estendia entre os dois. Uma de suas mãos soltou a alça da bolsa e esticou-se, tocando a de Yuri. Ele cedeu e os dedos foram entrelaçados, ao mesmo tempo em que os olhares se cruzavam.

O céu durante um crepúsculo, uma aurora boreal, o Oceano Pacífico, gemas de topázio ou lápis-lazúli. Não. Nada disso se comparava à cor daqueles olhos. Talvez nem ao menos houvesse comparação. Talvez aquele tom de azul fosse único, e feito para os olhos de Tom. Ou talvez fosse apenas a visão de um apaixonado.

– Eu... – Yuri disse, hesitando. – E-eu...

– Você...? – Tom o olhava fixamente, como se já esperasse pelo momento, e soubesse o que vinha em seguida. E era o que dava a Yuri dava forças para continuar.

– Eu amo você. – O garoto moreno disse rapidamente, sustentando o olhar do outro. Todos os membros de seu corpo bambearam, e por um momento, oscilaram. Ele sentia-se leve, aliviado por finalmente ter falado o que tanto lhe afligia. Mas, ao mesmo tempo, havia uma ansiedade ali. Ele estava ávido por uma resposta. E não importava se ela seria boa ou ruim.