Capítulo 9 - Sem você eu com certeza afundaria.

Me deparei com a porta do apartamento do Kou entre aberta, ele não vai aprender até que seja roubado, entrei sem chamar por ninguém e vi a Clara vindo do corredor.

- Ah não, eu tenho que bater de frente logo com quem? – e não havia entendido, mas deu pra perceber que ela não estava nada contente com minha presença.

- O que foi Clara?

- O que foi? É que eu estou tentando processar o que eu acabo de ouvir... É isso mesmo, você gosta do meu namorado?

- O que?

- Não seja sínico Kai! – disse um pouco alterada. – Eu não sei quanto tempo faz, na verdade eu nunca cogitei a ideia de que você quisesse roubar o meu namorado.

- Qual é o seu problema?

- Meu problema é pensar que meu namorado ficava quase o tempo todo ao ledo de alguém que quer tira-lo de mim.

- Você é problemática.

- Eu sou problemática? – agora ela praticamente gritava comigo.

- O que está acontecendo aqui? – Perguntou Kou vindo do quarto junto com o Aki e com Yuu.

- Olha ai, outro sínico.

- Clara o que é isso? – perguntou Aki.

- Essa garota é surtada!

- Limpa a sua boca pra falar de mim, seu nojento! – gritou se voltando pra mim – Estava demorando não é? Essa sua carinha nunca me enganou, você foi ridículo em pensar que o meu namorado ia se apaixonar por alguém como você.

- Cala a boca Clara. – Aki a puxou pelo braço.

- Qual é Akira, vai defender esse nojento agora?

- Você não tem o direito de ofender o Kai, para com isso.

- Eu não paro! Você é nojento, e me causa repulsa, deveria ter vergonha de existir, de ser o que é de desejar algo que nunca vai ser seu...

- Clara! – gritou Akira.

A minha vontade era de pular no pescoço daquela vaca, mas virei às costas e sai de lá antes que eu fizesse o pior.

- Kai!  - ouvi o Reita me chamar, mas ignorei.

Como ela ficou sabendo?

Quem ela pensa que é pra falar comigo daquela forma?

Garota surtada! Ela acha que é dona do Aki só por que namora com ele, se ela aparecesse agora na minha frente... Eu não quero nem pensar.

Entrei em casa jogando a chave em cima da mesinha na sala, fui pro meu quarto e só então permiti que as lágrimas caíssem.

Como se já não estivesse doendo saber que o Aki não queria mais olhar pra minha cara, agora eu estava destruído depois das palavras que a Clara me disse, e saber que ela tem razão, ele nunca vai ser meu... Nunca.

Burro! Burro!

[...]

Não sei quanto tempo faz que eu sai do chuveiro e estou aqui em frente ao espelho me encarando, meus olhos ainda estão vermelhos e inchados, a minha maior vontade no momento é sumir e poder esquecer tudo que acabou de acontecer e o que sinto pelo Akira.

Mas não estão em minhas mãos minhas vontades, meus sentimentos.

Parar a minha vida por isso também não vai me ajudar em nada, por mais que o que eu sinto pelo Aki seja mais forte do que eu, não quero passar a vida esperando por algo que nunca vai acontecer, eu já estava partindo de qualquer forma, eu já ia fugir de tudo mesmo...

Resolvi sair de uma vez do banheiro, meu corpo todo gelou assim que eu abri a porta e me deparei com Akira sentado na minha cama.

- O que... O que está fazendo aqui Akira?

- Eu sei que eu deveria respeitar sua privacidade, Kai... – disse se levantando e vindo até mim mostrando estar sem jeito.

- Você não deveria ter vindo, é melhor que saia.

- Está fugindo por que Kai?

- Você não quis me escutar antes, então já não faz diferença não é? E você mesmo disse que não queria mais me escutar o que quer aqui?

- Eu me preocupo com você.

- Agora você se preocupa? Não precisa se preocupar com um nojento como eu!

- Para com isso Kai!

- Parar por quê? A Clara tem razão, não disse nenhuma mentira!

- Kai me escuta! – disse num tom alterado.

- Escutar o que? Que você não quer acabar com nossa amizade? Não eu não quero escutar isso, eu cansei disso Aki, cansei de sentir algo que nunca vai ser correspondido, em partes a culpa é minha por ter confundido nossa “amizade”, só que não é fácil pra mim te amar não mesmo, pois eu virei um pai e...

- Droga Uke cala a boca! – disse me puxando pela cintura e me dando um beijo.

- Aki...

- Cala a boca Kai! – disse baixo me olhando nos olhos. – Você fala de mais e não me deixa falar...

- É que...

- Me escuta. – pediu me puxando mais pra si. – Se eu estou aqui é por que nada do que a Clara disse é verdade, eu... Eu amo você Kai. – sem reação, Aki me deixou totalmente sem reação e com um coração querendo sair pela boca. – Não vai falar nada?

- Eu...  – levei minha mão até os fios loiros. – Eu sou um fraco Aki...

- Não é, a culpa é minha por ter esperado algo de você mesmo sabendo que você tinha medo.

- Esperando algo de mim?

- Sim, a verdade é que quando descobri que também gostava de você eu fiquei esperando que viesse até mim, eu não queria correr atrás, queria ouvir tudo de você.

- E por que não quis me escutar da ultima vez?

- Fiquei com raiva quando você me disse que ia embora, na verdade eu soube quando você estava conversando com o Kou... Esperei de mais não é? – não respondi, abaixei minha cabeça e fiquei fitando um canto qualquer do quarto. – Kai... Me perdoa.

E eu poderia dizer não?

- Sempre. – Aki foi aproximando seu rosto ao meu, deu uma leve mordida em meu lábio inferior, selamos nossos lábios de forma lenta, mas a vontade de aprofundar o ósculo foi maior logo nossas línguas estavam brigando por espaço, acabei cedendo deixando com que sua língua explorasse minha boca.

Separamos nossos lábios pela falta de ar aos poucos ele foi demonstrando estar envergonhado e evitava olhar me olhar nos olhos.

- Eu... Eu nunca mais vou permitir que você sofra Kai. – disse por fim me olhando nos olhos.

- Eu não gosto de saber que se sente culpado, você é alguém apaixonante Aki, qualquer um se apaixonaria...

- Você não é qualquer um, eu te amo e quero te proteger.

- Esse papel é meu! – disse recebendo um sorriso dele.

- Que mal faz a gente trocar um pouco de papel?

- E prefiro continuar sendo o protetor.

- Chato! – brincou.

- Já disse que te amo?

- Eu estou esperando sabe... – ri com seu tom de voz, parecia sarcástico.

- Eu te amo muito. – recebi um meio sorriso seguido de outro beijo, mais calmo e rápido dessa vez. – Vou colocar um short. – disse notando que ainda estava de toalha e boxer.

- Pra que por short? – riu me soltando.

- Pra não ser bolinado por um certo Akira!

- Prometo não fazer nada. – disse com cara de cachorro abandonado.

- Deixa de ser tarado Aki! – rimos.

- É mais perigoso você me bolinar do que eu bolinar você. – ri novamente.

Feliz, é como eu me descrevo no momento, Aki é muito mais do que parece ser, sempre soube disso e saber que ele me ama de alguma forma deixou meu ego nas alturas.

Coloquei um short, fomos pra cozinha eu como sempre enchi ele de besteiras, brincamos como duas crianças, corremos o apartamento todo sem se importar com barulho ou coisa do tipo.

[...]

- A Clara não para de me ligar. – disse subindo na cama e se encaixando no meio das minhas pernas.

- Atende ela!  - disse simplista, mas a minha vontade era de falar pra ele manda-la pro inferno!

- Eu não quero...

- O que você disse pra ela antes de vir pra cá?

- Não disse nada, ela que falou que se eu passasse da porta estaria tudo acabado entre nós.

- E você levou isso a sério?

- Kai tudo que eu precisava era um motivo pra acabar com esse namoro idiota, eu não quero ficar com uma pessoa por pena, ainda mais sabendo que a pessoa que eu amo está sofrendo. – abracei-o pela cintura e dei um beijo em seu ombro.

- Ela não vai desistir de você tão fácil.

- Ela vai ter que intender. – disse se virando para mim. – Agora esquece um pouco a Clara, to precisando de atenção. - não contive o riso ao ver seu bico enorme.

- Meu bebe quer atenção?

- Quero toda a sua atenção, só pra mim.

- Meu bebe parece ser um pouco safadinho. – sussurrei em seu ouvido.

- Você não viu nada ainda! – retrucou mordendo meu queixo logo me beijando, é engraçado o fato de eu me render tão fácil a ele, Aki consegue me dominar é como se ele quisesse mostrar que eu sou dele.

- Depois dessa e não sei se passo a ter medo o se fico empolgado até descobrir mais sobre você.

- Acho bom que fique empolgado.

- E se eu ficar com medo?

- Faço você ficar empolgado. – disse sentando no meu colo.

- É bom não me deixar muito empolgado.

- Eu não quero te deixar empolgado, não hoje. – ri do comentário.

[...]

- Kai! Kai! – acordei assustado com Aki praticamente gritando pra eu acordar.

- O que... O que aconteceu?

- A Clara... – ele parecia muito assustado.

- O que tem a Clara?

- Ela foi atropelada. – ele começou a chorar e se sentou na cama.

- Como, mas... Aki. – o puxei pra mim e o abracei.

- A culpa é minha Kai. – disse entre os soluços, negativei com a cabeça e puxei-o mais para mim. – O Yuu me disse que ela estava me ligando e ficou furiosa depois que eu desliguei o celular, então ela resolveu vir atrás de mim e foi atropelada perto do apartamento do Kou.

- Ei fica calmo, você sabe ao menos como ela está?

- Não na hora eu nem pensei em perguntar e desliguei.

- Então se acalma, sabe pra qual hospital a levaram? – disse me desvencilhando do abraço.

- Sei sim.

- Ta ok, eu vou colocar uma roupa e te levo. – me levantei indo até o guarda-roupa.

[...]

Chegamos ao hospital, e fomos orientados por uma enfermeira até o quarto onde a Clara estava.

- Aki, eu não vou entrar. – disse soltando minha mão da dele.

- Ah, é desculpa, já foi muito ter te arrastado até aqui não é?

- Claro que não Aki, mas depois de ontem não tem fundamento eu entrar ai.

- Pode me esperar aqui?

- Espero sim. – me sentei numa das cadeiras que ficavam no corredor e fiquei fitando a porta do quarto, logo uma senhora até bonita e bem parecida com a Clara saiu do quarto acompanhada por um homem, talvez fossem os pais dela.

- Bom dia! – cumprimentou-me a senhora.

- Bom dia! É... Vocês sãos os pais da Clara?

- Sim, somos. – dessa vez foi o pai dela que respondeu.

- E como ela está?

- Tirando a perna quebrada está perfeitamente bem. – disse o homem se sentando ao meu lado. – Você veio com o Akira certo?

- Sim.

- Bom pensei que ele viria com o irmão, o Takanori, me disseram que Akira estava com ele.

- É... Na verdade estava, mas... Mas o Taka, ele teve que resolver uns problemas, então o Aki me ligou e eu trouxe ele até aqui. – por que eu gaguejo tanto quando vou mentir?

- Entendi... Bom Sonia eu vou voltar pro trabalho, fala pra Clara que mais tarde eu volto.

- Tudo bem amor. – ele deu um beijo no rosto da mulher e saiu, ficamos em total silencio e eu já estava ficando irritado com a situação.

- Ontem o Akira e a Clara brigaram você sabe por quê? – perguntou.

- Brigaram? – me fingi de desentendido.

- Sim, eles tiveram uma discussão ele saiu bravo então a Clara foi atrás, por isso se acidentou.

- Ah... Eu não sabia disso. – ouvi o barulho da porta se abrir, Aki não estava com uma cara muito boa.

- Já vai Akira? – perguntou a mãe da Clara se levantando. – Pensei que fosse ficar mais.

- Sim, vou, volto mais tarde.

- Mas ela precisa de você, do seu apoio!

- Dona Sonia não me leve a mal, mas chantagem emocional não ta colando.

- Não é chantagem emocional Akira, não é por que vocês tiveram uma briguinha atoa que vão se separar.

Já deu pra perceber por que a Clara é do jeito que é...

Aki me olhou como quem queria mandar ela pro inferno.

- Bom e vou pra casa, talvez mais tarde eu volte.

- Talvez mais tarde? – perguntou incrédula.

- Sim, talvez mais tarde. – dessa vez Aki deu ênfase ao “talvez”. – Passar bem. – disse por fim deixando a mãe da Clara com cara de paisagem.

Aki parecia nervoso, e eu não estava gostando disso.

- O que aconteceu? – perguntei assim que entramos no carro.

- Aconteceu que eu estou descobrindo um lado da Clara que me faz querer esgana-la.

- O que ela te disse?

- Fez chantagem, disse que se eu não ficar com ela vai infernizar a minha vida e vai contar que ela foi atropelada por nossa culpa!

- Como ela... Que desgraçada! Ela sabe sobre a gente?

- Não, mas mesmo que fique sabendo não estou nem ai, eu não vou me afastar de você, independente do que ela faça.

É claro que não seria mil maravilhas pra sempre, eu só não esperava que fosse tão rápido.

Clara não vai desistir tão rápido, mas agora que eu finalmente tenho o Aki não vou abrir mão dele, mesmo que eu esteja caminhando com a incerteza do amanhã, ele é a certeza de que eu posso ser feliz.