A chuva caia pela janela, o ambiente trazia lembranças que Elena não queria em sua mente. Não naquele momento. Um rápido flash diante de seus olhos, a imagem de seu irmão a fazia reviver um momento muito infeliz. Como ela poderia imaginar que, no exato momento em que Klaus, com toda a sua fúria, iria tentar matá-la? E mais, como ela poderia saber que Jeremy iria se colocar à sua frente para impedir que algo ruim acontecesse com sua irmã?

  Por mais que Caroline, Bonnie e Matt tentassem acalmá-la, dizendo que não era sua culpa e que o único culpado era Klaus, havia um peso em sua consciência que não a deixara repousar naquela noite. Seus amigos se ofereceram para ficar em sua casa e fazer companhia, mas ela preferiu ficar sozinha. Uma péssima ideia.

  Desceu as escadas e foi até o balcão da cozinha, pegou uma caneca e a encheu de café. Olhou ao redor e tentou imaginar como seria se seu irmão ainda estivesse lá, dizendo que tudo ficaria bem. "Tudo já foi tão mais fácil...", pensava consigo mesma. Não demorou muito para desabar em lágrimas. Estava farta de ver todos ao seu redor sofrerem para tentar protegê-la. Elena Gilbert, a menina que sobreviveu ao acidente que matou seus pais, viu inúmeras pessoas queridas morrerem e mesmo assim estava tentando se manter forte.

  Subiu novamente, entrou em seu quarto e foi até o banheiro. Parada diante do espelho observava a garota refletida ali. As longas madeixas jogadas sobre o ombro, os olhos vermelhos de tanto chorar, mas a mesma firmeza desde o dia em que fora para a escola depois de tudo o que aconteceu.

  Lavou o rosto e trocou-se. Colocou seu pijama habitual e foi para a cama, embora não fosse conseguir dormir. Pegou o celular e, numa tentativa frustrada, pensou em ligar para Stefan. Estava tão atordoada que resolveu não fazer isso, até porque não queria mais dar tantas esperanças para ele, nem para Damon. Sua vida havia virado de cabeça para baixo e a única coisa que ela precisava era de um momento só. Talvez fosse o melhor.

  Passou a noite toda rolando na cama, de um lado para o outro, sem conseguir tirar sequer um cochilo. Algo mais que óbvio, afinal de contas sua mente estava uma bagunça total. Seria melhor chamar Caroline? Ou Bonnie? Não, não. Elas já tiveram sua cota por um dia. Não queria mais causar problemas e preocupações para as pessoas. E ainda não conseguia entender o que havia de perigoso com o desaparecimento repentino de Klaus, já que depois de matar o irmão de Elena, ele não teria muitas barreiras para enfrentar ao tentar levá-la embora com ele. Estava tudo muito estranho, muito preocupante, e o vazio apenas tomava conta de seu ser. Era a hora de fazer alguma coisa.

  Havia uma cabana nas montanhas, na região florestal de Klamath, sudoeste do estado de Oregon, um lugar muito agradável e desconhecido pela maioria das pessoas, principalmente seus amigos. Uma opção para a família viajar, se eles ainda estivessem vivos. Ela não tinha mais o que pensar. Ir embora, mesmo que por pouco tempo, era a melhor ideia que tivera entre as poucas horas sem dormir.

  Não pensou muito, pois poderia mudar de ideia, e arrumou uma mala com boa parte de suas roupas, acessórios e uma boa quantia em dinheiro que vinha juntando durante um tempo. Correu para o banheiro e trocou-se, colocando uma calça jeans, um all star, uma blusa de mangas compridas cor caramelo e uma jaqueta escura. Prendeu seu cabelo em um coque meio desajeitado e arrastou a mala, já pesada, para a sala de estar.

  Elena parecia extremamente desesperada. Seu coração estava acelerado e a ideia de ficar longe de Mystic Falls e das pessoas que ali habitavam parecia gerar uma dor maior. Antes de sair, deu uma boa olhada na sala, nos retratos de família pendurado na parede... Todas as suas lembranças estavam ficando lá. Ela precisava fazer aquilo e esperava que os outros pudessem entender.

  A imagem dos irmãos Salvatore estava pairando sobre sua mente, deixá-los seria difícil, mas poderia ajudar Elena a encontrar-se com seus sentimentos. Deixar ambos na dúvida foi uma atitude errada, e ela sabia disso, mas precisaria de mais um tempo até organizar sua vida.

  Abriu a porta lentamente e respirou fundo. A rua estava vazia e a chuva continuava firme. O momento era aquele e nada mais a impedia de deixar a cidade, já que até a presença sombria de Klaus resolvera desaparecer. Poderia ser uma questão de tempo até ele dar as caras novamente, mas agora ela poderia ir sem arrependimento. Estaria pronta para voltar na hora certa, talvez.

  Correu até o carro e, rapidamente, jogou a mala no banco de trás. Olhou para a entrada de sua casa e sentiu uma pontada de tristeza em seu coração. Estava deixando o seu refúgio para trás, na tentativa de superar a vida que estava levando. Deu a partida e saiu, sem olhar para trás.

  Do outro lado da rua, Damon a observava preocupado.