Makarov não sabia o que ele havia feito ou falado de errado para despertar aquela inusitada reação em Lucy, um doloroso choro silencioso.

Sem saber o que dizer, o mais velho ficou quieto, mesmo que a curiosidade martelasse em sua cabeça.

Depois de poucos segundos, a loira passou as costas das mãos na face, enxugando as lágrimas e depois disse:

—Eu não posso ficar, não agora. Tenho muita coisa para resolver ainda...

—Mas, Lucy...—Insistiu o grisalho, segurando a mão da Heartfilia com carinho e determinação.

A garota fechou os olhos, e novas lágrimas cristalinas brotaram de seus olhos, fazendo com que o Dreyar ficasse ainda mais confuso e preocupado.

—Minha mãe não está morta, nunca esteve.—Desabafou a maga, de uma vez só, e como se aquilo fosse doloroso demais ao ser dito, ela se envergou para frente, chorando mais ainda, soltando alguns soluços.

O homem ficou surpreso demais para dizer alguma coisa de imediato, e disse, realmente achando que a sanidade de sua filha estava seriamente danificada:

—Querida, eu sei que é difícil aceitar mesmo depois de tanto tempo, sua infância também não foi...

—Eu não estou louca!—Exclamou Lucy, ofendida com aquela insinuação vinda dele.—Eu vi...—Sussurrou, dessa vez mais calma.—Mesmo sendo confuso no inicio, ele fez tudo ter sentido, tudo!

—Quem?—Perguntou o mestre, se esforçando para entende os enigmas que a loira dizia.

—Cacius.—A palavra pareceu ecoar pelo quarto, e a fúria que Makarov sentiu ao ouvir aquele nome não foi camuflada ou escondida.

Makarov abriu a boca para dizer algo, mas Lucy o silenciou falando:

—Eu sei o que você e o que todo mundo pensa sobre ele... Ele é um homem estranho e depois de reencontrar o... Natsu.—O nome saiu um pouco sufocado, como se fosse um pouco complicado dizer aquele nome casualmente, como se tivesse perdido o costume de fazê-lo.— Eu estou um pouco receosa sobre ele, mas... Ao mesmo tempo, Cacius é o único que pode me ajudar.

—Lucy, ele é perigoso!—Disse o grisalho, beirando ao desespero.

—Mas é poderoso, e sábio, é o único que vai poder me ajudar, o único que consegue explorar o meu poder, e por mais que eu não goste de tê-lo, eu preciso aprender a controlá-lo.—Disse a loira, olhando para as próprias mãos, como se conseguisse enxergar o Atherion em suas veias.— Além de que, eu não vou conseguir viver o resto da minha vida, ignorando o fato de que minha mãe, minha avó e todas as minhas antepassadas estão vivas, presas na verdade.

—Lucy, eu ainda não entendi...—Admitiu Makarov, angustiado por não conseguir entender aquilo que parecia ser tão importante para Lucy.— Mas acredito que você não deveria...

A garota negou com a cabeça, fazendo com que mais algumas lágrimas caíssem de seus olhos castanhos.

—Eu preciso, eu preciso libertá-las, eu preciso me libertar dessa maldição. Já começou a me afetar, o portal está começando a me desejar, a desejar o Atherion... Minha memória já foi afetada, isso é só o começo. Se eu simplesmente parar e fingir que nada aconteceu como o senhor está me propondo, e terei que assumir o fato de que irei definhar aos poucos, miseravelmente, até que o portal tenha seu desejo realizado.

O grisalho não escondeu a sua surpresa e o seu susto ao ouvir aquilo e mesmo que a Heartfilia parecesse estar louca, o mais velho realmente sentiu como se fosse real, o fazendo se arrepiar.

O homem sentou na cama, ao lado dela e disse:

—Lucy, me de detalhes.

—Não vai dar tempo.—Disse Lucy balançando a cabeça de um lado para o outro.

De súbito, a loira levantou a cabeça, como um animal que pressentia a presença de outro.

—Cacius veio me buscar.—Sussurrou a garota, com o olhar perdido.

Makarov não teve tempo de fazer e nem falar nada porque o um som estrondoso irrompeu o ar, fazendo com que toda a estrutura do prédio tremesse.

O grisalho e ela saíram do quarto, praticamente correndo para verem o que acontecera.

O mais velho não conteve a tosse devido a nuvem de poeira que levantara devido a entrada ruidosa e rude de desconhecidos.

Todos os magos da Fairy Tail estavam ali, tentando enxergar algo além daquela cortina de poeira da porta arrombada.

Gajeel já tinha o braço de ferro, pronto para entrar em combate a qualquer momento, ao seu lado, Natsu tinha os punhos em chamas, tão atento quanto o amigo.

Gray olhava para todos os lados, tendo as mãos na típica posição de magia, e Lucy jurou ter visto aquela “fumaçinha” gélida típica de congelados, sair das mãos do moreno, como se estivesse se preparando.

A nuvem baixou e todos encararam com um misto de ódio e surpresa, seus mais novos inimigos.

Rei olhava para todos os lados com uma empolgação gritante, como um cachorro ansioso, quando seus olhos encontraram Lissana, um sorriso maldoso e cruel se formou em seus lábios, fazendo com que a albina estremecesse.

Percebendo isso, Bickslow fez a melhor carranca que podia endereçada a inimiga e abraçou a companheira, dando-lhe um misto de sensação de segurança e vergonha.

Levy não tirava os olhos dos gêmeos, que estavam tão adoráveis e fatais como sempre.

Usavam uma bela roupinha de marinheiro azul, mas ambos tinham um olhar profundo e sombrio, como se não hesitassem em lutar novamente.

A azulada ficou feliz ao ver que eles estavam bem, sem nenhuma ferida depois da última batalha, mas também não deixou de ficar um pouco angustiada por que isso significava que uma nova batalha poderia ser recomeçada facilmente.

Gajeel tinha seu olhar intercalando entre a Mcgarden e as crianças, o moreno não gostaria de lutar contra crianças que deveriam estar brincando, não lutando, mas o Redfox também não podia ser tão ingênuo de ignorar o perigo que aqueles dois representavam, principalmente para a maga da escrita, que incrivelmente, se afeiçoara a eles, o que tornava tudo ainda mais complicado.

Mas fora esses quatro magos, todos encaravam Cacius. Ao contrário da primeira vez em que o encontraram, o loiro estava limpo e altivo, com a pompa de um rei e o poder de um deus, o rapaz encarava a todos com a usual superioridade de sempre, como se fossem insetos ou crianças irritantes.

Cacius usava uma longa capa vermelha e dourada, e uma camisa branca de algodão cobria seu peitoral másculo, em suma, ele parecia um espanhol ou algo latino assim.

Seus olhos claros varreram o lugar e o loiro sorriu ao ver Lucy no topo da escada, mas não era um sorriso tão amigável e caloroso e sim com um pouco de malícia, assim como toda e qualquer ação vinda dele.

Pela segunda vez em sua vida, a loira sentiu um certo receio do rapaz, um receio que beirava a medo, em um misto de frustração, como quando os pais de uma criança vão buscá-la da casa de um amiguinho do qual a brincadeira parecia não ter fim.

Ignorando todos os presentes, Cacius levantou a mão e acenou para que a Heartfilia se aproximasse.

A garota sentiu o frio percorrer sua espinha e demorou alguns instantes para sair do lugar, e tal hesitação fora notada por todos os magos, menos pelo loiro que estava prepotente e cego demais pelo poder, pelo poder inexplicável e fatal do Atherion que estava tão próximo de suas mãos ambiciosas.

Os passos dela eram pesados, como se não quisesse ir, e Makarov se segurou para não impedi-la de ir, mas sabia de tudo e não tinha o direito de ser tão egoísta até esse ponto. Mas, havia uma pessoa que não sabia de nada e que ao ver Cacius, sentiu uma fúria indomável tomar conta de seu corpo.

Gajeel teve que se afastar de Natsu quando ele pegou fogo por completo, enquanto urrava como um animal feroz. Lucy parou no meio da escadaria e fitou o rosado, talvez para ganhar tempo ou apenas por curiosidade, já o loiro voltou seu olhar para o Dragneel e seu rosto se tornou impaciente e irritado.

—A Lucy... Não vai voltar para você!—Gritou em um tom animalesco e rouco, como a voz de um dragão deveria ser, fazendo com que a loira se assustasse um pouco, mas que também ficasse feliz com a possessividade do DragonSlayer.

Cacius riu alto, e olhou para a garota, como se quisesse que ela andasse logo com aquilo.

—Vamos deixá-la escolher então...—Murmurou o loiro, sorrindo porque já sabia da resposta.

Ela mordeu a língua, e o amaldiçoou por ser tão malandro. Pois a resposta era clara, não era questão de escolha, e sim de necessidade. Lucy precisava de Cacius, querendo ou não.

Com o coração pesado e sentindo o olhar de todos sobre si, a loira caminhou de modo fúnebre até o loiro que a puxou para perto, num abraço provocante, só para irritar ainda mais o mago, com sucesso.

E então, antes que Natsu pudesse desferir um poderoso soco na face dele, a imagem dos seis tremulara como se fosse água ou fumaça e foram clareando, até desaparecerem.

O rosado se aproximou da imagem tremulada da Heartfilia e tocou seu rosto, mesmo não sentindo o calor de suas bochechas. Enquanto seu corpo se tornada incorpóreo, ela continuou o fitando, e antes de sumir, soltou uma frase sem som, que teve que ser decodificada por leitura labial.

E quando entendeu, o que era para causar alegria, foi dito com pesar, como num enterro ou despedida. E o Dragneel repetiu a frase num sussurro vazio, só para si mesmo:

—Eu te amo, Natsu.