Caminhou lentamente até as escadas e as subiu, deixando a marca de seus passos contra a grossa camada de poeira que cobria o chão da casa. O lugar era cheio de cômodos, e o garoto tentava abri as portas, algumas estavam emperradas, outras totalmente escancaradas, revelando mais e mais cômodos vazios e solitários. O mago ainda estava tentando entender o porquê de querer estar ali dentro, mas no fundo o Dragneel sabia... Em seu coração, ele ainda tinha esperanças de encontrar Lucy ali, talvez a loira pudesse ter voltado para casa e estivesse ali, encolhida atrás de alguma porta, chorando e aguardando o abraço dele.

                Natsu parou em frente a uma porta e tentou abri-la, mas a mesma rangeu, mas não saiu do lugar, o rosado se impulsionou contra a porta e quase caiu para dentro do cômodo quando a mesma se abriu com violência. De súbito, um cheiro agridoce invadiu suas narinas de modo viciante, aquele odor... Era tudo o que ele queria sentir...  Empolgado, o DragonSlayer abriu os olhos e tentou localizar a única pessoa que possuía aquele cheiro maravilhoso.

                —Lucy...?—Sussurrou o garoto, fitando o belo quarto feminino que pertencera á Heartfilia no passado.

                O mago mordeu o lábio inferior com força, frustrado, mais uma vez o Dragneel não havia encontrado a maga. Logo, Natsu se levantou e caminhou pelo cômodo que apesar de empoeirado, permanecia decorado, um dos poucos naquela casa, permanecia do mesmo jeito que a dona deixara da ultima vez. O rosado abriu as portas do guarda-roupa, encarando a grande quantidade de vestidos guardados com cuidado ali, sem cerimônia, pegou um que era azul claro, um belo vestido e certamente ficava bem em Lucy.

                Sem hesitar, Natsu o colocou contra a face, se embriagando daquela fragrância viciante e fantástica e só parou quando seus pulmões precisavam soltar o ar. O rosado olhou para o quarto e caminhou até a cama que um dia pertencera a Lucy, onde se deitou em seguida. Apesar de macia, aquela cama parecia ser feita de concreto para o DragonSlayer, faltava uma loira dorminhoca ali ao seu lado para que tudo voltasse a ficar bom. O garoto fechou os olhos com força e desejou que ela estivesse bem, mesmo que estivesse longe dele.   Antigamente brigou com o destino e chegou a amaldiçoar seu passado, parecia que alguém lá em cima guardava um ódio mortal dele, afinal primeiro lhe arrancara seu pai, Igneel e agora Lucy, quanto mais o destino iria mutilá-lo?! Um barulho chamou a atenção do mago que se levantou silenciosamente da cama, em estado de alerta. Caminhou para a escada, de onde havia ouvido o som de passos, mas tudo permanecia a mesma coisa no saguão lá embaixo e por alguns instantes, ele achou que havia imaginado coisas devido ao estresse e tal, mas foi então que viu...

                Uma figura mediana vestida com uma grande capa escura, as mãos delicadas e pequenas denunciavam que era uma mulher, e tal constatação fez com que o coração de Natsu batesse descompassado. Será?... Guiado pela curiosidade e esperança, o rosado abriu a boca para chamar o nome da Heartfilia que não saia de sua cabeça, mas então ele ouviu a mulher lá embaixo bufar alto, irritada.

                —Argh! Tudo tem que ser eu!Aquela desgraçada folgada... —Reclamou fazendo movimentos exagerados com as mãos. —“Ela não pode ir, Rei vai você!”—Falou afinando a voz, imitando alguém de um modo quase que cômico. —Cacius maldito, aquela magricela virou a sua preferidinha? Ahhh, você vai ver Lucy, eu vou chutar aquela tua bunda magra quando chegar em casa...

                O corpo de o Dragneel ficou rígido, quem era aquela mulher que falara de Lucy? Antes que pudesse elaborar algum plano, a desconhecida começou a andar a passos largos para um dos corredores lá embaixo, sumindo do campo de visão do garoto, que rápido e silenciosamente desceu até o saguão a tempo de ver a garota sumir, apôs fazer uma curva. O mago a seguiu e ficou aliviado ao vê-la entrar em uma sala. Contou até dez para ter certeza de que ela não sairia do cômodo e então cautelosamente ele entrou e se manteve oculto na escuridão, ou pelo menos era o que ele pensava.

                —Quem é você?—Perguntou a voz pausadamente após fechar a porta em que o rapaz entrara com violência.

                Natsu estava surpreso, mas tratou de não demonstrar sua surpresa, o rosado tinha certeza de que havia sido o mais discreto possível, como ela conseguiu perceber sua presença? O Dragneel permaneceu em silencio, encarando a mulher que permanecia com a identidade ocultada pela capa, e o silencio do garoto a irritou profundamente.

                —Escute aqui seu idiota, eu recebi ordens de não matar ninguém, então eu vou boazinha, então vá embora enquanto eu ainda permito.

                O mago a desafiou com o olhar e retrucou:

                —Pelo que eu estou vendo, você não passa de uma ladrazinha medíocre que invade casas abandonadas. Eu não tenho medo de você, sou eu quem diz: não se meta comigo e não terá problemas.

A risada debochada da mulher ecoou pelo recinto, deixando o DragonSlayer levemente curioso, quem seria realmente aquela mulher?

                —Se quer guerra, é o que terá, cabelo de algodão doce... —Anunciou Rei retirando a capa de si e jogando em algum canto.

                Na hora Natsu ficou surpreso com a garota, ela parecia uma princesa, mas o sorriso em sua face era de deboche e seus olhos fitavam o rosado com maldade, como se em sua mente passassem várias ideias de como matar o DragonSlayer.

                —Ok, eu quero um pouco de diversão essa noite. —Falou Rei sorrindo sombriamente.

Logo as mãos do garoto entraram em combustão, o que fez a morena levantar um das sobrancelhas, levemente surpresa.

                —O que você sabe sobre Lucy Heartfilia? —Rosnou o mago, ameaçador.

                —Ora, ora, você a conhece?—Retrucou ela, irônica. —Que legal, eu também a conheço! Na verdade, quem não conhece a cria magrela dos Heartfilia?

                —Não brinque comigo, garota!Onde ela está?

                —Não está no meu bolso. —Retrucou mexendo no bolso da blusa que usava.

                Raivoso Natsu correu ao encontro da jovem e tentou desferir um soco na oponente, mas essa se esquivou com um salto quase sobrenatural para cima.

                —Sinto o cheiro da sua raiva... —Sussurrou maleficamente. —Você está furioso, isso realmente vai ser divertido!—Falou e mais rápida que um leopardo, ela correu para dois metros de distancia do rosado.

                De repente os olhos de Rei deixaram de ser castanhos e ficaram dourados, como os olhos de um gato e correndo, ela investiu contra o mago que não conseguiu resistir a força sobre humana que ela havia conseguido e foi lançado contra uma parede que com o impacto se quebrou, levantando uma nuvem de poeira.

                —Que raios de magia é essa?—Indagou o Dragneel lentamente, se levantando com dificuldade.

                —Nunca viu isso antes não é? —Murmurou se aproximando do rapaz que mesmo um pouco atordoado, manteve em alerta.

                Em um piscar de olhos, Rei sumiu da frente dele e surgiu atrás do mesmo com sua rapidez impressionante.

                —Eu... Sou única. —Rei falou com orgulho de si mesma, e a morena encostou o dedo indicador na nuca do oponente que recebeu uma alta descarga elétrica que o fez tremer dos pés a cabeça e jogar a cabeça para trás, soltando alguns gemidos de dor.

Devido ao ataque, Natsu caiu novamente no chão, estremecendo de vez em quando e divertida com a situação, ela puxou o rosado pelo cabelo e sussurrou em seu ouvido:

                —Sabe qual é a minha magia? Eu posso tomar a habilidade de qualquer animal que existir.

                —Take Over. —Balbuciou o Dragneel.

                —Claro que não seu idiota!Você ainda não entendeu, mas eu sou a evolução do Take Over, posso ter o choque de um peixe-elétrico, a velocidade de um leopardo e a força de um búfalo, tudo isso junto, entendeu, cabelo de algodão doce? Sou a única no mundo que possui tal magia.

                Com a mão livre Natsu segurou a mão de Rei com força e deslocou o pulso da mesma, que urrou de dor e se afastou cambaleante do rosado, arrancando um sorriso vitorioso de um Dragneel que já estava de pé novamente, pronto para luta. Rei ergueu o pulso quebrado e com a outra mão, colocou o pulso no lugar e o mesmo pareceu perfeito, como se nada tivesse acontecido.

                —Você sabia que a esponja do mar tem uma regeneração quase que milagrosa? Consegue voltar a se formar até se for triturada em um liquidificador... Legal, né?— Falou Rei sorridente e movimentando o pulso que há poucos segundos estava quebrado, deixando o garoto mais irritado e perplexo.