Eu tinha dormido bem aquela noite, mesmo com os fatos esquisitos que tinham acontecido noite passada. No outro dia, tomei um banho rápido e puxei meus cachos para um rabo de cavalo frouxo, coloquei uma sapatilha preta e um short preto e curto. Estava calor, então optei por uma blusa frouxa e um pouco larga, sem ligar para os ferimentos em meu braço. Tomei café com Dorothea e fui direto para a escola, onde encontrei Vee na entrada me esperando, como sempre.

         - Como foi sua noite?

         - Tranqüila, e sua?

         - Agitada, minha mãe resolveu dar uma festa para parentes, e tem cada primo que eu posso te apresentar... – Vee e sua mania de me arrumar um namorado, entramos em nossa sala, e fomos aos nossos lugares. As janelas estavam todas abertas, fazendo a sala ficar bem iluminada e ventilada, já que o dia estava ensolarado. Abri meu caderno para ver os horários das aulas, ótimo, Biologia era a primeira aula. Quase todos os alunos já estavam na sala, quando o técnico entrou e ia fechando a porta, uma mão o parou no meio do caminho e empurrou a porta. Patch entrou com suas roupas pretas, e sua bota ao estilo cow-boy, a expressão indiferente e se sentou no mesmo lugar de ontem, ao lado de Lúcia, que sorriu timidamente com o rosto corado. O professor/técnico que já tinha fechado a porta, se dirigiu á frente da sala e começou:

            - Bom, ontem eu disse que ia fazer um sorteio, para decidir os pares, mas hoje achei melhor eu mesmo decidir isso. – A sala ficou quieta, uns olhando para a cara dos outros, o professor olhou para mim e depois para o resto da turma, seu olhar parou em Patch que fitava o chão distraidamente.

            - Patch, quero que você vá se sentar ao lado de Nora. Vee você vai sentar com Lúcia.

   Vee abriu a boca para reclamar e depois a fechou, se levantou com uma cara de “eu quero te matar” e passou encarando o professor. Patch andou com calma até “nossa” mesa e se sentou me olhando dos pés a cabeça e depois encarando a lousa.

           - Oi... Sou Nora. – Eu disse com a intenção de ser gentil e dei um sorriso.

         - E ai. – Ele respondeu e deu um mínimo sorriso de canto de boca, ainda olhando para frente. O técnico continuou a escolher o pares e ao terminar, se sentou na mesa do professor.

         - Já que estão todos com seus pares, que vão acompanhá-los até o final do ano. – Ele fez questão de dar ênfase á essa parte. – E agora, como sexo, é um assunto constrangedor para muitos, vou pedir para que cada um conheça seu parceiro.

 Risadas maliciosas tomaram conta da sala, e o professor fez um gesto para que se calassem.

          - Conhecer um ao outro formalmente, façam um resumo sobre seu parceiro, a vida e dê ênfase na vida sexual dele. Podem começar. – Ele deu a volta na mesa e se sentou na carteira abrindo seu caderno de estratégias para o time de futebol. 

    Virei-me para Patch e ele para mim, erguendo uma sobrancelha.

          - Eu começo. – Ele disse e puxou sua cadeira um pouco mais para perto, já pegando uma caneta da mochila e arrancando uma folha de meu caderno.

          - Ei... – Eu protestei mas logo um cheiro tomou conta de tudo, um cheiro forte de tabaco e cigarro, encostei-me nas costas da cadeira e funguei discretamente, vinha de Patch. Ótimo, já parecia um delinqüente e ainda fumava.

          - Começando... Seu nome é Nora Grey, 16 anos, mora com a mãe, ouve rock, seu tipo de comida favorita é mexicana... Acertei? - Ele fez uma cara séria ao dizer, como diabos ele sabia tudo isso? Fitei seus olhos negros e me lembrei da noite passada, ele estaria me seguindo? Não, de jeito nenhum. Não havia motivos para aquilo.

    Engoli em seco e recuperei a fala.

           - Belo chute. O que? Andou me perseguindo? – Perguntei num tom de brincadeira, mas por dentro estava com medo da resposta dele.

             - Quer mesmo saber? – Patch perguntou com uma voz rouca e sombria. Soltei um suspiro alto, e desviei o olhar para o meu caderno, apanhei uma caneta e escrevi na folha.

                                                Sobre Patch:

 Sem olhar para ele comecei:

             - OK, tem namorada?

             - Por que? Está interessada? – Ele amassou a própria folha de papel e a jogou no lixo. Dei uma risada nervosa, e cruzei as pernas.

             - Não, nem um pouco. Então, tem namorada ou não?

             - Não, estou disponível. – Patch fez um olhar de garanhão, e cruzou os braços. Jogado na cadeira, ele fitava o chão. Parecia ter muitos pensamentos passando por sua cabeça.

     Abri a boca para fazer mais uma pergunta, mas o sinal tocou e todos se levantaram de suas cadeiras rumando para a sala de História e outros para a sala de Química, onde todos tinham duplas diferentes. Patch tinha aula de Química então dei um tchauzinho me despedindo, depois me toquei que não tinha terminado meu resumo.

              - PATCH! – Gritei no meio do corredor, mas ele nem se virou, corri atrás dele e o puxei pela mão. Um choque elétrico tomou conta de mim naquele toque e eu logo o soltei. Patch se virou para mim.

               - Não terminamos nosso trabalho, não podemos nos encontrar depois da escola? – Não podia nem pensar em tirar notas ruins, principalmente nessa matéria.

               - Não, vou estar ocupado, mas pode me ligar. Talvez eu te arrume um horário. – Ele puxou minha mão e escreveu um número de celular nele, fitei minha mão e quando levantei a cabeça ele já estava quase na porta da sala de História