Despertei com o sol entrando pela pequena janela do banheiro e esquentando meu rosto, temendo estar atrasada para a escola de novo, me levantei notando que não estava mais no banheiro, mas sim em minha cama.
Dorothea... Pensei indo em direção ao banheiro, e esticando o braço para consultar o rélogio, senti uma dor aguda no braço logo me deparei com cortes ainda abertos, que latejavam e ardiam. 6:00, ótimo, ainda teria tempo de sobra para se arrumar. Andando até o banheiro peguei minha toalha de uma poltrona e entrei no box.

A água gelada me ajudou a acordar um pouco, ainda sim, quando terminei sai arrastando os pés em busca de alguma roupa confortavel, e com manga compridas, de preferência.
Acabei com uma regata simples, uma calça jeans preta e colada, all star's surrados, e um cardigã preto e cinza jogado por cima. Parei em frente ao espelho, e começei fazer a mágica em meus cabelos, um pouco de creme para cachos, mousse, e pronto. Meu cabelo castanho, ( quase ruivo, como uns preferiam dizer) estavam razoavelmente bons. Soltei um suspiro e puxei minha mochila da escrivaninha, descendo as escadas. Á essa hora minha mãe já teria ido embora e estaria bem longe daqui, e eu seguiria minha vida normalmente, nem que seja só por 6 dias. Dorothea estava na cozinha jogando cascas de laranja no lixo, cheguei por trás e dei um beijo na bochecha da governanta.

– Obrigada... - Comecei mas ela me interrompeu, me empurrando um copo de suco de laranja.

– Desde que você não faça mais aquilo... agora tome, você vai se atrasar para a aula.

Tomei meu suco apressada e engoli, praticamente inteira, uma torrada com um pouco de manteiga por cima, me despedi de Dorothea e sai pela porta da sala já com as chaves de meu carro, velho e sujo, em mãos.

A neblina tomava conta do quintal, e o ar era frio, entrei em meu carro e começei a dirigir até um pouco rápido demais, tentando não olhar para as sombras das árvores que agora se pareciam um pouco com vultos ao lado do carro. No estacionamento, pulei pra fora do carro com minha mochila, e Vee minha melhor amiga, me esperava ao lado da escada. Sem casaco nenhum, ela esbanjava sua melhor calça jeans, que eu achava justa demais para ela, uma blusa fina e justa com umas manguinhas, é claro, e sandálias de salto. Me aproximei dela, que me puxou para um abraço apertado, chamando a atenção de uns garotos idiotas que passaram.

– Tsc, tsc... quantas vezes vou ter que te dizer que você fica bem melhor de salto alto?

– Vee... vai começar com isso de novo? - Perguntei entrando na sala de biologia e segurando a porta para ela entrar, os alunos já haviam tomado conta de todos os lugares da frente.

Ah, muito bom... Primeira aula de biologia do ano, e eu sou obrigada a me sentar no fundo da sala. Pensei, eu odiava biologia, mas já que não conseguia gostar, era bom que eu me sentasse na frente para pelo menos conseguir me concentrar melhor. Minhas amigas já estavam no fundo da sala, Eduarda, que sempre andava com uma toca na cabeça e fone de ouvido, e Nayara, " a rockeira" como ela mesma se definia, tinha cabelos pretos e curtos, com olhos sempre marcados pelo deleniador. Me sentei atrás das duas e Vee, após às abraçar alegremente veio se sentar ao meu lado na carteira dupla.

– O que será que vai ter de bom esse ano? - Estavámos em Abril, e as aulas de biologia só estavam começando agora por falta de um professor, finalmente tinham convencido o técnico do time de futebol, McConaughy à dar aulas, ele se referia à isso como um bico, mas vai saber...

O técnico entrou na sala e escreveu seu nome na lousa (como se ninguém soubesse) e logo à baixo:

SEXO, E REPRODUÇÃO

A maior parte dos alunos riu, e fizeram comentários como: Como se eu precisasse de aula! Mas após uma olhada feia do técinico eles se concentraram a escrever em seus cadernos o que ele ia passando na lousa, após metade do quadro estar preenchido ele se virou para a turma afim de começar a explicar, no momento em que ele abriu a boca alguém bateu a porta, e todos se voltaram para ela. A monitora, Wal, vadia e repugnante, como Vee a chamava, abriu a porta e cochichou no ouvido do professor. Logo a mulher se virou para o lado e corou falando alguma coisa que eu não entendi. O técnico olhou para os alunos (que estavam com uma cara de curiosidade) e anunciou:

– Novo aluno, e pelas minhas contas, agora estamos em números pares, na proxima aula farei um sortei para ver quem vai ficar com quem. - Dito isso, ele olhou para porta e fez sinal com a cabeça para que o novato entrasse. Nayara estava virada, totalmente voltada para minha mesa, e rabiscando meu caderno, ela cochichava:

– Tomare que ele seja bonito, pelo menos alguém decente tem que entrar nessa turma... - Ela se calou quando o garoto entrou, e com a boca aberta, finguiu secar uma gota de baba no canto da boca. Um garoto, alto, moreno, corpo marcado nas roupas e com cabelos e olhos incrivelmente negros entrou pela porta, me encarando no mesmo momento, nossos olhos se fixaram por um instante e logo Vee, falou numa voz exageradamente alta:

– Amen, Jesus! Até que enfim alguém bonito!