Lara chegou a seu apartamento irritada e preocupada. Zip apareceu em uma das portas segurando uma garrafa de Coca-Cola.

            -Lara? Encontrou o que você queria?

            - Sim! E até mais coisas! – Lara sentou-se no sofá e chamou Zip para se juntar a ela. – Zip o que eu vou te falar agora pode parecer estranho, mas... Até eu estou chocada, ainda não acredito que isso esteja acontecendo comigo de novo... não agora.

            - Fala logo!

            - Lembra do portal no Egito?

            - Lembro, como poderia esquecer essa história! – Zip arregalou os olhos, se lembrando de como reagiu quando Lara lhe contou que havia sido possuída por um poderoso demônio e que tudo isso aconteceu em uma realidade paralela. Sua primeira reação foi achar que ela tinha batido a cabeça quando ficou presa na pirâmide.

            - Eu achei outro.

            - Outro? Você tá de brincadeira comigo?!

            - Não estou – Lara disse séria ainda encarando Zip – Além de encontrar o portal, encontrei dois demônios que falaram que existem mais de um portal e que precisavam voltar e avisar alguém sobre isso!

            - Espere um instante! – Zip levantou-se – Você quer dizer que vai existir uma colonização de demônios no nosso planeta! Isso é coisa de filme de E.T! Não pode ser possível!

            - É... Eu também achei estranho, mas de fato era um portal e ele está funcionando. Eu preciso...

            - Voltar? Você enlouqueceu?

            - Eu preciso avisar alguém sobre isso.

            - Você quer dizer o seu amigo meio-demônio.

            - Que seja! Pense nas conseqüências Zip.

            - Pra mim isso é desculpa pra você voltar pra lá. – Zip falou enquanto caminhava para a cozinha.

            - O que você disse?

            - Claro! Como você pode ter tanta certeza que isso vai ter grandes conseqüências? Ou você acha que me engana... Eu vejo que às vezes você fica meio distante, pensando em alguém ou algo.

            - Zip, isso é sério.

            Zip ignorou a frase de Lara e sentou-se em uma das cadeiras da cozinha.

            - Olhe Lara, você faz o que achar melhor, só acredito que talvez você possa se dar mal. Pense bem ,depois de tudo o que aconteceu... Você deveria se afastar de problemas por um tempo.

            Lara encarou Zip e disse friamente:

            - Eu estou cansada de ficar aqui remoendo o passado Zip.

            Dizendo isso Lara saiu da cozinha. Deixando Zip sozinho. Ele sabia que ela iria e ela iria sem dizer nada a ninguém, como sempre fazia.

            Lara caminhava pelo quarto impaciente. O banho não havia refrescado nada sua cabeça e, além disso, ela tinha perdido o sono. Caminhou até seu armário e de lá tirou uma pequena caixa. Fazia séculos que ela não abria aquela caixa, mas os acontecimentos do presente trouxeram à tona as memórias de um passado distante. De dentro da caixa ela tirou um pingente de prata com uma bela pedra vermelha.

            - Está na hora de voltar. – disse encarando a jóia.

            Lara partiu com sua moto ainda de madrugada. Deixou um bilhete para Zip e Winston, dizendo para não se preocuparem. Zip sabia aonde ela tinha ido.

            O sol já clareava a planície da ilha quando Lara chegou ao templo.

            Ela observou atentamente pela segunda vez o altar e sem pensar duas vezes acionou um dispositivo muito parecido com o da Grande Pirâmide.

            - Só espero que não haja demônios me possuindo dessa vez.

            Atravessou o portal que havia surgido acima do altar.

            Lara acordou em uma área rural. Ao longe notou uma casa velha. Não havia sinal de portal algum. Levantou-se e sorriu aliviada ao perceber que não sentia nenhuma dor ou tontura inesperada. Do seu lado esquerdo havia uma floresta, talvez em seu interior estivesse a chave para a sua saída. Caminhou para a casa velha, mas infelizmente não havia ninguém. Seguiu o caminhou de terra por alguns quilômetros até avistar um homem que brincava com um cão.

            - Com licença. O senhor poderia me informar se estou muito longe de alguma cidade?

            - Cidade? – o homem a encarou – Se você seguir essa trilha não vai demorar em encontrar uma placa indicando o caminho que deve seguir para chegar à cidade mais próxima.

            Lara continuou o caminho por mais alguns minutos até encontrar a placa indicada pelo homem. A cidade mais próxima estava perto. Era só seguir a direita por alguns quilômetros. Nada muito preocupante para uma exploradora acostumada a longas caminhadas. Depois de uma hora caminhando Lara avistou ao longe grande edifícios.

            A cidade era bem parecida com a de seu mundo. Depois de caminhar por um longo tempo Lara chegou aonde deveria ser a zona industrial da cidade, muito barulho e pessoas andando apressadamente com uniforme das mais diversas cores. Pela correria Lara deduziu que fosse o horário de saída das fábricas. Essa parte da cidade era bem cinza e mal cuidada. Lara parou em uma esquina movimentada pensando em como chegar até a loja de Dante, a resposta veio mais rápido que ela pudesse imaginar. Olhando para o muro ao seu lado, percebeu inúmeros cartazes que continham o nome da loja Devil May Cry, um telefone e um endereço.

            - Te achei! – Lara arrancou um dos anúncios e entrou no primeiro estabelecimento que encontrou aberto.

            - Você sabe como chegar a essa loja? – Lara perguntou a uma das atendentes de uma loja de roupas.

            - Você não é daqui?

            - Não.

            - Hum... A pé que não vai ser.

            - Eu não posso pagar. – Lara imaginava se aquele lugar aceitaria cartão de crédito. Era um pensamento estranho, mas válido, ela imaginou.

            A mulher chamou uma moça loura muito bonita que examinou Lara de cima a baixo.

            - Ela quer chegar até a loja Devil May Cry. Será que o seu pai vai fazer a entrega por aqueles cantos? Ela não tem dinheiro para pagar.

            - Eu posso ver.

            A moça desapareceu por alguns segundos e ao voltar falou para Lara a seguir.

            - Eu não costumo fazer isso, mas meu pai não vai pra lá hoje e se alguém não te levar de carro você vai se perder, não é tão perto assim.

            As duas entraram em um carro estacionado na frente da loja.

            - Eu não vou te deixar na porta porque nesse horário tenho que passar por um congestionamento infernal, além do mais prometi para mim mesmo que nunca iria ver a cara daquele safado.

            Lara olhou para moça imaginando o que o senhor Dante deve ter feito para irritá-la tanto.

            O caminho para a loja foi silencioso. A jovem perguntou apenas da onde ela tinha vindo e depois que Lara respondeu seriamente que tinha vindo do campo a moça não fez mais perguntas. Como prometido a mulher parou o carro em uma rua movimentada explicando para Lara como deveria chegar até a loja.

            - Boa sorte com o Dante! Como se chama?

            - Lara.

            - Summer. Adeus.

            O carro virou a esquina. Lara caminhou por pouco tempo até chegar a frente da loja de Dante. Não tinha mudado muita coisa.

            Lara inspirou profundamente e caminhou até a porta.

            O local era escuro ou era assim que seus olhos viam, sem nenhuma claridade. Percebeu que estava em uma maca fria. Tentou se mover, mas todo seu corpo doía com o esforço.

A última coisa de que lembrava era ele caminhando na total escuridão. O local em que estava clareou-se repentinamente o cegando. Seus olhos não se acostumaram com a luz forte e mesmo depois de minutos não conseguira abrir totalmente seus olhos. O som de uma porta de metal pesada abrindo-se despertou o homem de suas tentativas de tentar se levantar.

            - Quem é você? – perguntou com uma voz rouca e fraca enquanto tentava levantar o pescoço para enxergar melhor o desconhecido.

            - Sou aquele que te salvou – um homem de terno e com uma voz grave aproximou-se da maca.