O barulho havia vindo de um lugar mais próximo do que eu pensava. Após correr alguns metros, eu vejo um aerodeslizador. Ele se aproxima de um penhasco, e eu caminho em sua direção com dúvida do que vou encontrar. Há uma bela cachoeira e embaixo caído em cima de algumas pedras consigo ver um corpo. Daquela distância não consigo identificar quem é. Será Tulip ou Cammis? De longe só vejo uma grande mancha de sangue e nada que identifique a pessoa.

O aerodeslizador solta um gancho, que vai em direção ao corpo e eu penso que verei Tulip. È triste imaginar isso, eu torcia para que ela sobrevivesse a esses primeiros minutos. Queria que ela pegasse aquela mochila e sumisse, acredito que conseguiria viver bem naquela mata. Quando o corpo passa perto de mim, eu vejo que estava enganado. Cabelos ruivos e pele branca. É Cammis. De alguma forma, Tulip conseguira abatê-la. Mas como? Como aquela baixinha conseguira? Cammis era muito maior e mais forte do que ela. Será que Tulip não teve envolvimento com isso? Cammis tropeçara e caíra no penhasco? Não, Cammis era bem preparada e não aconteceria isso a ela. Mas então como Tulip conseguiu aquilo?

Vejo algo se mexendo na mata em volta e consigo ver de relance Tulip se aprofundando na floresta. Isso, fuja, vá para longe, fique distante da gente! De mim! Não quero fazer nada mal a você. È estranho mas uma alívio se passa em mim. Cammis era minha aliada e isso não deveria acontecer. Mas lembro de Kinsey e penso em Tulip, pelo menos ela sobrevivera. A garota baixinha do 11 fora responsável pela morte de uma carreirista.

Podia ser eu no lugar de Cammis, será que isso não seria melhor? Eu não estaria sentindo essa culpa. Essa vontade de chorar, gritar, ficar parado e não fazer nada. Eu não estaria melhor morto? Olho para o abismo e penso. Eu poderia pular e acabar com tudo agora. Não, não, lembro do meu pai, a minha vontade de viver teria que imperar. Aquilo era só uma fase, iria passar. Pelo menos eu esperava isso.

Resolvo voltar para a cornucópia. Meus aliados deviam estar lá. Vejo o aerodeslizador ainda terminando de recolher os corpos. A primeira coisa que me chama a atenção é ver um Cruiser cheio de escoriações e Juno cuidando dele com um kit de primeiros socorros. Alexander me conta que ele e Marshall tiveram um briga feia, que Cruiser conseguiu ferí-lo, mas que ele escapou pela floresta.

Conto a todos sobre Cammis. Uns parecem um pouco mais sentidos que os outros, mas logo o assunto muda. Falam sobre o banho de sangue, como mataram, como foram atacados. Elogiam o meu desempenho. E aquilo só aumenta a minha culpa.

A seguir eles armam o nosso plano. A verdade é que eu não estou muito animado para opinar. E Cruiser e Star é quem tomam a maioria das decisões. Primeiro deveríamos verificar os suprimimentos e as armas. Ficar na região da Cornucópia parecia a coisa mais acertada a fazer, era perto da água, com os suprimentos e tinha até uma tenda como abrigo. E depois veio a parte que me deu mais medo, quando anoitecesse formaríamos 2 duplas e procuraríamos os outros tributos, outra dupla deveria ficar para tomar conta das coisas. Eles achavam que na primeira noite quando começasse a fazer frio seria a nossa melhor chance de achar os tributos que ainda não tinham entrado na floresta definitivamente. Algumas crianças poderiam ficar com medo do desconhecido e permanecer por perto. Eu torci para ficar guardando os suprimentos, mas fui selecionado para junto à Juno procurar as crianças na floresta. Cruiser e Star formariam a outra dupla e Alexander e Jurgen cuidariam dos suprimentos.

Estava anoitecendo e imagens dos mortos dos dia começaram a aparecer no céu. Começou por Synesthesia do distrito 3 que fora morta por Cruiser, depois nossa aliada Cammis do 4, era uma provável vítima de Tulip, Coraline do 5, morta por Alexander, Tristan do 7, uma das minhas vítimas, seguida de Ruby do 10, outra vítima minha. Argos do 10 que fora morto por Star. E por fim, o que mais doía em mim, Kinsey, o garotinho assustado do 12. Foi muito difícil ver a imagem dele novamente.

Entramos na floresta para a caça noturna de crianças assustadas. Eu torcia para eu e Juno não depararmos com nenhuma. Entretanto estava bem preparado, portava minha lança, uma mochila cheia de facas, além de duas frutas e uma garrafa de água. Juno também levava uma mochila, um arco e várias flechas.

Andamos bastante na vegetação, eu não era muito habituado a árvores no distrito 1. Entretanto, sei que aquelas árvores eram estranhas, bem diferentes das que existiam em Panem. A área era úmida e a temperatura quente. O solo estava cheio de folhas e outras coisas estanhas, as árvores eram bem próximas uma das outras, dificultando um pouco a nossa caminhada. Elas também eram altas e pude perceber que havia bastante animais em nossa volta. Pensei que como o clima era agradável, ia ser difícil encontrar alguém ali, afinal ninguém precisaria acender uma fogueira para aliviar o frio.

Mas depois de um tempo nos deparamos com um outro tipo de vegetação, essa já não me era tão estranha. O ar era mais frio e menos úmido. As árvores ainda eram altas, mas nem todas as suas folhas era verdes como as da anterior e elas estavam mais afastadas uma das outras. Também percebi que havia menos animais. Droga! Era mais provável que alguém acendesse uma fogueira ali!

Entretanto, eu e Juno ainda caminhamos bastante, antes de eu perceber qualquer coisa que me chamasse a atenção. Já estava de madrugada, quando eu notei um movimento em cima de uma árvore, lá no alto eu vi Cairo e meu sangue gelou. Juno não podia vê-lo e não devia reparar que eu o havia notado. Mas ela notou a minha mudança e disse:

O que foi? Viu algo estranho?

Não, nada – eu tentei disfarçar

Tem certeza ?– ela olhou tudo em volta

Eu torcia para ela não avistar Cairo, quando ouvimos um barulho ao longe.