POV KATNISS

Todos do Distrito 12 se calam ao ouvir o tiro de canhão. Fico parada até que realmente percebo o que aconteceu e aos poucos vou recuperando os sentidos e os movimentos.

Observo na tela a garota qual saí sorridente a procura de seu machado, com uma pedra na mão, enquanto um aerodeslizador aparece e recolhe o corpo de uma menina de cabelos loiros e olhos cinzentos.

Prim morreu. Diante de meus olhos. As duas: Primrose e Primrue. E não posso fazer nada nesse caso. Nem me manifestar.

Desabo no chão, com as mãos no rosto já vermelho de dois sentimentos possíveis: Perda e Raiva. Peeta se ajoelha ao meu lado e me abraça. Finn está quieto, imóvel, de pé. Me sinto mal por ver meu único filho sofrer tão cedo.

Espero Effie e Haymitch me dizerem palavras de conforto, mas eles não estão aqui conosco. Na verdade, eles estão na Capital. Não haviam voltado dês que mandaram o paraquedas.

Levanto a cabeça e vejo que todas as inúmeras pessoas estão voltadas para nós. Mas um homem de cabelos negros e olhos cinzentos, poderia até ser meu primo, alto, é o que mais se destaca no meio do público. Logo ele corre em minha direção e me dá um longo abraço, me levantando nos ares, um abraço cheio de choros, dores e soluços.

“Calma...” ele repetia, entrelaçando seus dedos em meu cabelo.

“Ela... Ela se-se foi...!” eu soluçava.

“Não... Ela não foi embora. Olha –“ ele levanta meu queixo “- ela está bem aqui –“ ele aponta para meu coração. “E nunca vai deixar de estar...” ele limpa uma lágrima que logo escorre de meu rosto, dando a volta em minhas bochechas.

Gale percebe o olhar de Peeta sobre nós e me solta de seu aperto, dando um sorriso torto. Peeta dá um aperto de mão nele e este dá tapas de conforto em suas costas.

“Vamos... Não temos mais nada para ver aqui.” Diz Peeta, puxando-me para a Aldeia dos Vitoriosas, em nossa casa.

Nesse momento devem estar enviando o corpo de minha filha num caixão velho de madeira. Você não merece isso, Prim...

“Tlim... Tlin-tlin...” toca o telefone em minha cozinha.

“Alô...?” digo, forçando a voz séria, mas ainda digo entre lágrimas.

“Oi filha...” diz minha mãe com a voz chorosa “Sinto muito pela sua perda”

“Pela NOSSA perda... Ela era sua neta...” eu corrijo-a, nervosa, mas mantendo a voz estável.

“Pela nossa...” ela repete. “Tenho de desligar, minha flor, tenho pacientes... Mande um beijo para todos... Se cuida, Katniss”

“Se cuida mãe...” digo, chorando.

Ao colocar o telefone no gancho, ele automaticamente toca novamente e atendo-o:

“Precisamos da assinatura dos responsáveis para receber o corpo de sua filha recém chegada no Edifício da Justiça, cujo o nome é Primru...-“

“Eu sei qual é o nome dela!” corto-o, irritada.

“Claro, mas venha logo.”

“Quem era, mãe?” pergunta Finn.

“Venha, vamos ver sua irmã...” digo-o.

~*~

Chegamos no Edifício da Justiça, e logo pergunto na recepção:

“Cadê ela...?”

O moço aponta para um caixão largado no canto de um corredor e pede para assinarmos os papéis. Obedientemente assino e vou até aquele caixão, de mãos dadas com Peeta, temendo em ver minha filha pálida, ou roxa... Nunca fui fã disso.

Abro o caixão de madeira, cuidadosamente.

Não há nada.