Catastrophe escrita por sakurako


Capítulo 1
Capítulo 1




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Senti o sangue ferver e fechei os punhos como se fosse virar um soco naquele rostinho magro. Estava ficando tão nervosa e apertando tanto minhas unhas contra a palma da mão que por um instante achei que sangraria. Meu coração batia mais rápido e eu simplesmente não conseguia distinguir qual era o sentimento predominante naquele mini-ataque rondando meu corpo; só sabia que estava nervosa. Das duas maneiras que você pode entender isso: estava ansiosa e estava odiando alguém. Respirei fundo e soltei minhas mãos, tentando controlar os batimentos cardíacos e fazendo o maior esforço para não vomitar. Era muita coisa para uma pessoa só.

Desviei meu olhar de Frankie e Dougie e procurei por alguém segurando uma placa com 'Alice' escrito nela, acabei encontrando. E onde eu não queria. A placa estava abaixada, e meio virada, o que me impediu de vê-la na primeira vez que olhei naquela direção. Respirei fundo novamente e me esforcei para dar os primeiros passos até eles. Frankie me notou caminhando em sua direção e sorriu, presumindo que eu era Alice.

Eu era uma adolescente bem normal que morava em um bairro da classe média alta nova-iorquina com a mãe, o irmão e o padrasto. Eu não tinha notícias do meu pai e não estava interessada em ter, para mim, John, o marido da minha mãe, era quem devia ser chamado de pai - mesmo que eu nunca o tenha chamado assim. Ele me ensinou a andar de bicicleta, me levou para o primeiro show e, como advogado, me ensinou que eu posso processar qualquer um por danos morais. Menos Deus e eu mesma.

Eram dez anos de convivência. Ele livrou a barra quando meus cigarros foram confiscados na oitava série, me ajudou a fazer minha primeira jarra de glitter e assustou meu primeiro namorado como um bom pai faria. Bom pai! Coisa que esse tal de Kevin nunca foi para mim. Dezoito anos e é a primeira vez que eu vou olhar na cara dele. E eu já criei uma certa antipatia por ele ter colocado no mundo, além de mim, a mulher que eu venho odiando com todas as minhas forças pelos últimos oito meses. O tempo que ela estava namorando com ele, meu homem. Não que eu tivesse algum certificado de propriedade sobre ele assinado por um juiz, eu não tinha, mas algo me fazia sentir em posse daqueles olhos azuis e aquele sorriso lindo há, sei lá, cinco anos? Eu daria tudo para ficar perto daquele mocinho. Mas de repente, eu queria sumir. Queria voltar para Nova York, colocar um moletom dos Ramones e me encolher debaixo de algumas cobertas enquanto assisto pela milionésima vez Sweeney Todd.

– Eu sou Frankie e esse é Dougie, meu namorado.

– E-eu sou Alice. - Gaguejei. Puta que pariu, que olhos são esses? Estava meio perdida olhando para Dougie e nem percebi que um cara alto e musculoso estava pegando minhas malas e levando para sabe-se lá onde. Dougie sorriu, meio constrangido, e eu achei que naquela hora teria um ataque cardíaco.

Estava tão confusa que a as únicas palavras que eu conseguia distinguir entre todos os meus pensamentos eram 'mind jar'. Tateei minha bolsa tendo certeza de que ela ainda estava ali e abri o zíper sob os olhares curiosos de Frankie e Dougie; a bolsa era grande o suficiente para minha jarra. E era por isso que era minha favorita. Tirei o pote cheio de glitter azul de lá de dentro e chacoalhei, observando os floquinhos cairem. - O que é isso? - Dougie perguntou, curioso. - Minha jarra de glitter, - Sorri, corando. - é para organizar os pensamentos, amenizar os sentimentos etc.

– Isso é muito legal. - Estendi para ele, entendendo que não era uma boa hora para ver os floquinhos caindo. Pelo menos estava tremendo menos.

Fomos para o carro com Frankie puxando assunto e eu observando enquanto Dougie brincava. O cara alto e musculoso era um segurança que tinha levado minhas malas enquanto nós tinhamos uma conversa estranha no aeroporto.

– Mãe, nós chegamos. - Frankie anunciou, tirando o casaco assim que entramos na grande casa branca. Uma mulher que aparentava ter uns quarenta e sete anos apareceu no hall de entrada, com um sorriso amigavel. Seus olhos se dirigiram direto a mim, que corei e desviei o olhar.

- Você deve ser Alice, certo? - Sorri e a fiz que sim com a cabeça. - Eu sou Viv! KEVIN, ALICE CHEGOU! - Gritou enquanto nos dizia para entrar. Viv era simpática, tinha estatura mediana e era magrinha, de pele bem branca, olhos castanhos e cabelos loiros na altura dos ombros. Nos guiou para a sala e voltou para a cozinha, para terminar o almoço, que já cheirava muito bem alias.

Kevin desceu as escadas e meu coração, que estava quase acostumado com a presença de Dougie Poynter, voltou a bater mais rápido. Eu podia não gostar da idéia de te-lo como pai, assim, de repente, mas sempre quis conhecer o homem que inseminou minha mãe e me colocou no mundo. - Alice? - Eu me virei, pronta para ver seu rosto. Kevin era alto, moreno, de cabelos escuros e olhos também. Com certeza Frankie se parecia mais com ele que com Viv. Sorri. - Oi.

– Meu Deus, como você está crescida! - Me abraçou de surpresa, fiquei sem reação mas depois retribuí o abraço. Dougie sorriu atrás dele e eu não tive reação senão sorrir com ele. Me sentia tão boba perto dele. Não que seja normal para uma fã de McFly encontrar seu mcguy favorito no aeroporto com a namorada dele; esperando por você, a nova cunhadinha. Não que seja normal ter um mcguy sorrindo ao ver você abraçar, pela primeira vez na vida inteira, seu pai biológico. Nós almoçamos, conversamos e Victoria, a outra irmã, chegou. Conversamos mais e então eu decidi subir para o que seria meu novo quarto. Estava confusa, muito confusa.

Frankie podia até ser simpática, mas tinha algo sobre ela que me deixava profundamente irritada. Mesmo quando ela estava a kilometros de distância de Dougie. E ele? Ele era... do jeitinho que eu passei anos imaginando que fosse. E eu, é claro, ficava meio sem-jeito e nervosa todas as vezes em que ele estava por perto. Ou todas as vezes que ele estava longe e eu lembrava que tinha o conhecido, finalmente. Aqueles sorrisos bobos não paravam de brotar em meus lábios sem a devida permissão. Em certa altura do almoço, acabei admitindo que era fã de McFly, galaxy defender, e, ainda por cima, Poynter e acabaram rindo das conhecidências.

Tomei banho e tirei o notebook da mala, contando as novidades para as amigas e expressando toda minha confusão com reblogs multíplos e variados no Tumblr.


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