Born To Be Together - Parte 2 escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 3
Jodelle




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A praia dos fogos era um perfeito lugar de se ficar, ainda mais agora, bem mais vazio, sem tantas regras ou fiscalizações. E também me ajudava a relaxar, o que era difícil nesses dias que ficava pensando nos outros que estavam do lado de fora, cada um em um grupo, nessa guerra. Recebia algumas mensagens de Íris de Sorciére e Jodie às vezes, mas havia uma pessoa que nunca dava notícias…

Não, eu não pensaria nisso agora… Mas era impossível controlar esses pensamentos, porque eu não tinha como negar minha preocupação, pelo menos não para mim. Afinal, pelos novos campistas, eu era vista como uma pessoa serena, sempre relaxada e de bom humor. Mal sabiam eles…

O sol em minha pele me fez lembrar de meu aniversário de dezoito anos em 2013…

Era assim que eu estava naquela tarde. Deitada na praia, o sol batendo em minha pele e esquentando-a. Naquele dia, foi realmente uma comemoração. Afinal, eu estava no acampamento há tanto tempo que todos me conheciam e queriam comemorar, e fui pega de surpresa.

Simplesmente deitada, relaxando, quando comecei a sentir uma coisa sendo colocada embaixo de mim. Franzi o cenho e abri os olhos, encarando Gale que tinha em seu rosto um sorriso travesso.

- Mas o que…

Não tive tempo de terminar a frase, pois só senti meu corpo sendo levantado do chão. Gale e mais algumas pessoas estavam segurando uma espécie de rede que colocaram embaixo de mim, não que precisasse de muitas pessoas para me levantar.

Logo algumas pessoas surgiram, alguns tinham até cornetas e apitos, e ficaram fazendo estardalhaço. Entre essas pessoas estavam Jodie e Sorciére, que vinham pulando até os garotos que me carregavam e usando as cornetas bem nos meus ouvidos.

Foi então que começaram em coro…

- Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida!

- E o parabéns! - gritou alguém batendo palmas.

- Parabéns pra você…

“Não posso acreditar”, pensei. “Não estão fazendo isso”. Foi quando começaram a verdadeira surpresa. Começaram a levantar a rede e abaixar, levantar a abaixar, até que realmente estavam me fazendo pular ali. Comecei a gritar cada vez que ia para o alto. Olhei para Gale à minha esquerda e peguei em seu ombro com força, esforçando-me para não dar nada pelos pulos.

- Gale! Pelos deuses, pare! Fale para pararem! Eu vou cair! GALE!

Ele apenas aumentou o seu sorriso, e continuou cantando.

- GALE!

O filho de Niké não conseguiu segurar o riso e olhou para mim de canto de olho. Por fim virou-se, e cantou olhando para mim, a partir da frase:

- Muitas felicidades! Muitos anos de vida!

E então ele lançou-me uma piscadela e voltou a olhar para frente. Algo me veio em mente. “Como eu deveria interpretar isso?”.

Andaram comigo daquele modo por todo o acampamento duas vezes. Eu já estava morrendo de vergonha e sem ter onde enfiar a cara. Quando terminaram de dar a volta, começaram uma cantoria em volta da fogueira. Levaram marshmallows, balas, docinhos azedos e no fim, já de noite, chegaram com um bolo enorme.

Tudo estava ótimo até eu ver uma garota pedindo para assar o marshmallow junto com Gale e quase se esfregando em cima dele. A partir dali fiquei com a cara fechada, calada, no meu canto. Foi quando ele se aproximou. Tentei olhar para o lado, para dar um gelo, mas ele não se importou. Agachou à minha frente (eu estava sentada) e automaticamente puxou meus olhos para ele.

- O que acha de escaparmos um pouco disso aqui?

Franzi o cenho para ele.

- O que?

- Ah, qual é! Qualquer um sabe que você não gosta de tanta atenção e festa em cima de você. Lá no fundo está querendo sair daqui por um tempo.

Abaixei os olhos para o meu marshmallow na ponta de um graveto. Estava quentinho ainda, apesar de ter tirado do fogo há um tempo. Gale pegou-o, e colocou à minha frente. Suspirei e peguei-o, olhei-o um pouco até que enfim, mordi. Ele sorriu. Olhei para seu pulso quando algo metálico me chamou atenção. A pulseira que dei dois anos antes com uma caveira como pingente ainda estava ali, do jeito que coloquei. Aquilo fez um sorriso pequeno surgir em mim e não pude controlá-lo.

- Okay - falei olhando em seus olhos. - Vamos de fininho em algum canto.

Nos levantamos e saímos sorrateiros até estarmos longe da vista de todos. Olhamos para trás e começamos a rir, ainda caminhando.

- Então! Dezoito anos, moça. Como é a sensação?

Dei de ombros.

- Nada diferente de ontem.

Começamos a rir novamente. O resto do trajeto continuamos em silêncio, mas não era nada incomodante. Quando percebi, estávamos de volta à praia. Um sorriso surgiu em meu rosto. Uma brisa gelada nos atingiu e estremeci de leve.

- Esse é meu lugar predileto aqui - falei.

Gale me olhou e depois olhou para o mar. Uma ruga surgiu em sua testa e depois de um tempo em silêncio, ele começou a rir. Olhei-o com as sobrancelhas arqueadas.

- O que foi?

- Nada, é só que… - riu mais um pouco. - É estranho. Os Três Grandes se odeiam. E você, de Hades, tem como simplesmente o lugar predileto, uma praia.

Dei um pequeno sorriso. É, era estranho, afinal.

Dei um salto quando algo gelado tocou minhas pernas. Só então percebi que ainda estávamos andando e que a água já estava no meio das canelas dele, já em mim, estava no fim das canelas.

- A água está fria… - murmurei.

Gale suspirou e me olhou, com aquele olhar e sorriso travessos. Logo entendi o que faria e arregalei os olhos.

- Não ouse! - Mas era tarde e ele me jogou para a água e começou a rir. Olhei-o. - Ah, é?

Peguei-o então pelas pernas e o puxei, fazendo-o cair também, me molhando ainda mais. Estávamos rindo e jogando água um no outro agora, em uma guerra. Rolamos um em cima do outro, lançando água para todos os cantos. Quando saíamos da água, a brisa parecia mais um vento ártico que nos fazia arrepiar por completo. Rolando fomos até mais fundo um pouco, em um tanto que de pé já estaria na cintura dele.

E paramos então por um momento, ainda rindo. Quando fomos parando, percebi que  ele estava virado de barriga para cima e eu sobre ele. Nossas roupas estavam coladas em nossos corpos, sendo que eu só estava de biquíni e uma blusinha por cima desde a tarde, pois afinal, nem me deixaram trocar de roupa. Nossos corpos também estavam colados, e podia sentir a respiração dele, até mesmo os batimentos do coração, e me perguntei se ele sentia os meus. Nossos olhos se encontraram, e senti meu rosto esquentar. Sua mão pousou em meu braço, apesar de tudo, ainda quente e forte. Seu rosto se aproximou e tive certeza de que deveria estar mais vermelha do que jamais fiquei.

- J-Jodelle… Eu…

- Jodelle! - gritou alguém ao longe, se aproximando. Automaticamente nos afastamos, até eu me sentar apenas ao seu lado.

Logo Jodie surgiu ao longe na praia com uma lanterna em mãos, que mirou diretamente em nossos rostos, forçando-nos a fazer uma careta.

- Ah! Achei vocês! Acharam que não percebemos que saíram? Vamos, lá. - Ela se virou para alguém que se aproximava e gritou: - Tragam toalhas!

Gale se levantou e estendeu a mão para mim. Fiquei olhando primeiro, engoli em seco e enfim, aceitei a ajuda para me levantar. Fomos chegando até a areia, e nós dois já estávamos batendo os dentes. Eu simplesmente continuei andando, mas pude ouvir e ver Jodie se aproximando do irmão.

- O que estavam fazendo? - ele continuou calado, andando. - Hein? Gale…

- Eu te odeio - ele falou naturalmente.

- Hã? Como assim, o que foi?

- Fica quieta, vai. Fica quieta…

Dei uma risada silenciosa, mas não podia dizer que não concordava com ele. Ela apareceu no momento mais errado que podia aparecer.

Abri os olhos e respirei fundo. O sol ainda batia em minha pele e já estava ardendo. Olhei para o mar, lembrando-me novamente de todo aquele dia e desejei que naquele momento, uma rede passasse por baixo de mim e me levantasse, mas infelizmente, nenhum deles mais estava aqui.


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