- Você sabe o que deve fazer.

- Eu sei - respondi, séria, a expressão dura como uma pedra. - Eu sei, mãe.

Uma brisa fria percorreu minha pele e a fez se arrepiar totalmente. A noite estava escura, mais do que as outras. Bem, acho que a presença dela aqui, talvez. Ao olhar rapidamente para o céu, porém, uma coisa me veio em mente e me fez questionar tudo aquilo que estava acontecendo.

Eu não precisava seguir o que Nix me mandava fazer, o que os primordiais me mandavam fazer. Eu já tenho dezessete anos, já posso fazer minhas próprias escolhas. “Mas ela é sua mãe, Sorciére”, disse minha consciência. “É sua família”.

Família… Quem realmente seria minha família? Ela era minha mãe, a pessoa… O ser que em colocou no mundo, que me deu a vida. Mas nunca se fez presente pelo menos não até Amber ser expulsa do Acampamento Meio-Sangue. Primeiro sonhos, depois as habilidades aumentando como se fosse ela me dando poder. E eu sabia que não seria de graça. Depois de uns anos, ela começou a aparecer pessoalmente. Quanto mais a guerra se aproximava, mais ela se mostrava, mais tentava me conquistar.

- Tenho que ir - disse indiferente.

- Certo. Vá.

[…]

O isolamento era quase impossível nesse local, porém era este o único disponível. Era perigoso, afinal, não era eu, ou outro, mas dez semideuses juntos em um galpão abandonado em alguma cidade do interior de Ohio. Dentre os dez estávamos eu, Jodie, gêmeos de Afrodite, um garoto de Deméter, três filhos de Hécate e mais um de Niké e uma de Hermes.

Eu queria ficar sozinha, não queria ter encará-los. O que eu estava fazendo? Estava traindo-os. Os que me acolheram, que cuidaram de mim, que me ofereceram amizade. Eu estava servindo para ambos os lados e isso me fazia sentir-me uma imprestável, uma má agradecida. Mas era a minha família, e eu não podia simplesmente virar as costas para ela.

Felizmente porém, todos estavam conversando, mas longe de mim onde haviam colocado um frango assado. Com certeza a garota de Hermes havia roubado em algum lugar.

- Sorciére - alguém chamou ao meu lado.

Revirei os olhos. Não queria conversar, com nenhum deles… Mas estavam todos lá… Virei-me para o lado a tempo de ver uma projeção em arco-íris e do outro lado, a imagem de uma pessoa.

- Jodelle! - exclamei.

- Oi - ela disse. - Tem duas novas campistas aqui… Queria saber como estão as coisas.

Olhei para baixo, e suspirei.

- Terríveis… Terríveis.