Frank POV

Passou-se dois meses desde que eu havia dado uma segunda chance a amizade de Jared. E Ray, com o tempo, foi cedendo, e então ele e Leto ficaram amigos novamente. Não que eles fossem muito amigos antes. Mikey foi muito simpático e querido quanto ao Jared, que retribuiu da mesma forma. Já seu irmão mais velho...

Gerard continuava não gostando do Leto, dizendo que ele não prestava e que não confiava nele. Era sempre ácido nas respostas e falava coisas com duplo sentido. Na verdade, até comigo ele agia dessa maneira. A simpatia que antes me incomodava, já fazia falta, e ele está cada vez mais grudado na Lyn que, se antigamente andava pouco com a gente, agora está sempre a nossa volta.

Era sexta-feira, e estávamos voltando da escola. Como os pais de Ray haviam viajado durando o final de semana, haviamos combinado de passar em sua casa para dormirmos todos por lá.

– Mano, eu vou sair hoje, okay? – Mikey disse a Gerard. – Tenho um encontro. E também não sei se durmo em casa.

– Depois pega AIDS né... – Gerard falou emburrado, chutando uma pedrinha.

– Credo Gerard, hoje você está pior que o normal. – Falei e ele me olhou bravo.

– Ah, vocês dois não vão começar né? – Ray falou. – O Jared e a Lyn também vão lá em casa, e vocês têm que parar com essas briguinhas e discussões.

– Você convidou o Jared?! – Gerard parou de caminhar e me olhou. Ray e Mikey suspiraram e continuaram o trajeto. – Era pra ser uma noite de amigos!

– Mas Jared é nosso amigo! – Falei parando em sua frente.

– Não, ele não é. A Lyn é nossa amiga, mas o Jared não é. – Cruzou os braços.

– Ele é meu amigo, do Ray e do Mikey, se estiver incomodado, não vá.

– Ótimo!

– Ah, então você não vai? – Cruzei os braços.

– Vocês preferem a mim ou a ele? – Se aproximou.

– Não seja infantil, não vou escolher entre vocês, Gerard, ninguém vai escolher. – Revirei os olhos.

– Então é ele?!

Suspirei pesado, ignorando o ser teimoso, e voltei a caminhar. Logo eu já atravessava a rua e procurava pelas chaves de casa. Entrei na mesma, encontrando meu pai sentado no chão, olhando para o nada, e sem camisa. Eu nunca havia reparado no quão magro ele estava.

– Pai, você está bem? – Me aproximei.

– Frank? Ah, eu estou fraco. – Riu pelo nariz. – Eu sentei aqui, e não consigo me levantar.

– Venha, eu te ajudo. – Joguei a mochila no sofá e coloquei um de seus braços em volta do meu pescoço, o ajudando a levantar.

– Me coloca no quarto, no quarto! – Apontou para a escada.

– Pai eu não...

– No quarto Frank! – Se balançou.

A opressão do seu corpo contra o meu fazia com que minhas pernas cambaleassem. Com um pouco de dificuldade e esforço consegui subir as escadas. O coloquei na cama e sentei nos pés da mesma, o fitando vagamente.

– Você está horrível. – Falei cabisbaixo. – Olhe suas mãos, elas estão... Amareladas e horríveis. – O encarei.

– Não queria que me visse dessa maneira. – Passou a mão pelo abdômen, virando o rosto.

– Eu queria que você não estivesse desse jeito. – Senti meus olhos marejarem.

– Filho... Eu... Eu sinto muito por te fazer passar por isso. – Fechou os olhos, apoiando a cabeça na cabeceira da cama. – Eu sou um nada... – Suspirou. – Tenho orgulho não ser como eu. Um velho acabado.

– Nunca vou ser como você, pai. – Levantei. – Qualquer coisa, me chame. Eu vou comer alguma coisa.

Desci as escadas e me sentei no sofá. Olhei ao meu redor e acabei suspirando pesado, a tranquilidade e o vazio tomavam conta do lugar. Abracei meu corpo enterrando o rosto entre os joelhos. Quando preciso de alguém, sempre estou sozinho.

X.X

– O Gerard não vai vir porque eu vim? – Jared falou se sentando.

Lyn já tinha chegado, e estava sentada no sofá me olhando feio. Assim como Ray, que estava no telefone com Way.

– Esse menino é um fresco. – Ray disse, desligando o telefone. – Ele falou que só vem se o Frank ligar e convidar.

– Okay, vamos ser só nós pelo jeito. – Lyn bufou pela vigésima vez.

– Ai que merda, me dá esse telefone. – Peguei o aparelho da mão de Ray e fui para a cozinha.

Peguei o número de Gerard, disquei, e esperei que ele atendesse.

– Alô?

– Gerard, é o Frank. Vem pra cá agora. – Sentei numa cadeira.

– Mas porque eu iria? O Jared não tá ai? Porque eu deveria ir? – Me encheu de perguntas.

– Porque o pessoal te quer aqui! Não faz drama, Gee, vem pra cá. – Suspirei.

– Gee? – Deu uma risadinha. – Okay, daqui a pouco eu chego aí.

– Okay, até. – Desliguei o telefone.

Não deu dois minutos e alguém apertava a campainha incessantemente. Como eu estava mais perto da porta, Ray pediu para que eu a abrisse. Revirei os olhos e assim o fiz.

– Oi Frankie. – Gerard sorriu.

– Mas o quê? Você não mora no centro da cidade?

– Eu já estava no táxi quando você me ligou. – Sorriu mais, entrando em casa. – Pessei que você não fosse me ligar, mas eu ia vir do mesmo jeito.

– Você não presta. – Abaixei a cabeça, sorrindo de canto. Que cara babaca.

– Eu sei. – Sorriu mais, indo para a sala.

Revirei os olhos e o segui, sentando ao lado do Leto. Gerard sentou-se perto da Lyn, eles se entreolharam e sorriram cumplices.

– Então, o Mikey já saiu? – Perguntou Ray.

– Yeah, ele saiu faz uma hora. – Gerard respondeu.

– Então, eu comprei várias bebidas, vamos começar? – O cabeludo falou sorrindo.

– Ah cara, por quê? – Perguntei. – Eu não bebo daí fico avulso aqui. – Fiz bico.

– Mas porque você não bebe? Só um pouquinho não vai fazer mal. – Lyn disse.

– Porque eu não gosto, e sei lá, tenho medo das consequências. – Abaixei a cabeça.

– Frank, você nunca vai ser como seu pai. – Jared disse. – Mas se você não quiser beleza, ninguém vai te forçar. – Olhou sério para Lyn e Gerard.

– Você quem sabe, Frank. – Ray disse, chegando com algumas cervejas e entregando uma para cada um. – Eu trouxe pra você, quer? – Estendeu a garrafa. Suspirei.

– Foda-se. – Abri a Heineken.

X.X

– Eu não aguento mais. – Fiz cara de nojo, jogando o líquido da garrafa ralo abaixo. – Esse gosto de cerveja não sai da minha boca. Só tem a gente aqui ainda?

– Mas porque você tomou se não gosta animal? – Jared entrou na cozinha se escorando na parede. – E sim, porque o resto já entrou em coma alcoólico, estão lá no quarto do Ray.

– Porque eu não queria ficar sóbrio vendo vocês rindo e se divertindo. – Sentei no balcão da cozinha, balançando meus pés. – Eu acho que fico deprimido bêbado. – Suspirei.

– Ah, seu idiota, fazendo o que não gosta só pra se encaixar. Que ridículo. – Mexeu a cabeça negativamente.

– Olha quem tá falando, se juntou ao Kyle só pra pegar umas menininhas. – Ri.

– Seu ridículo. – Riu também. – Mas agora que você falou em meninas, me lembrou de um assunto importante, Frank.

– Ah Jay, nem vem! – Tapei meu rosto.

– Frank, meu amor, em dois meses eu te apresentei pra umas quinze garotas, e você não gostou de nenhuma! E, por favor, eram todas muito gostosas. – Riu.

– Eram, muito, mas... Argh, sei lá. – Fiz cara de nojo. – Eu gostava da Jamia...

– Okay, okay, você não sentiu atração por nenhuma delas, e nem sentia pela Jamia. – Se aproximou. – Vou te apresentar uns meninos. – Riu.

– Como se você tivesse algum amigo gay... – Falei. – Não que eu fosse beijar um cara. – Parei e olhei para o nada. – Eu nem sei o que eu tô falando.

– Verdade... O único amigo gay que tenho é você... – Olhou para cima, pensando.

– Eu não sou gay, Jared. – Revirei os olhos. – Só não gostei de nenhuma dessas menininhas.

– Você não pode ser assexuado né Frank? – Falou pegando um pedaço de chocolate que estava em cima da mesa e o comendo.

– Não sei... Talvez... – Me olhou com cara de tédio. – Eu só não encontrei a garota certa. – Dei os ombros.

– Beija a sua mãe então. – Gargalhou.

– Credo Jared! – Fiz cara de nojo. – Sai daqui! – O empurrei com os pés.

– Hey, hey, tô brincando! – Segurou minhas pernas, chegando mais perto. – Então vamos fazer um teste?

– Cara, deixa a minha mãe fora disso. – Apontei pra ele.

– Não é isso ô babaca! – Riu mais, se aproximando. – Fecha os olhos.

– Não! Você vai aprontar alguma coisa! – Gargalhei me mexendo freneticamente, para que ele saísse.

– Não! – Riu. – Para quieto! – começou a se aproximar demais para o meu gosto, posicionando-se entre as minhas pernas.

– O que está fazendo? – Ri, o empurrando para que se afastasse. – Sai daqui!

– Xii... Você disse que o gosto da cerveja era ruim né? – Perguntou.

– É. – Fiz cara de nojo. – O gosto não sai. É horrível.

– Vai sair. – Sorriu maligno.

– O que você...?

MEU DEUS!

Jared apoiou sua mão em minha nuca me puxando e selando nossos lábios em seguida. Meus olhos instantaneamente se mantiveram arregalados. Não movi um milímetro dos meus músculos. Pegou minhas mãos que estavam paradas em cima de minhas pernas e a colocou sobre suas costas, fazendo com que eu o segurasse ali. Sua língua passou a pedir passagem, enquanto seus dedos afagavam meus cabelos.

Cerrei os olhos e entreabri os lábios, permitindo a passagem e iniciando um beijo calmo. Minha mão que uma hora somente sustentava nossos corpos passou a puxá-lo para cada vez mais perto.

O beijo ficava cada vez mais intenso, até que o senti morder meu lábio inferior e logo depois encostar sua testa na minha, me olhando sério.

– Saiu o gosto da cerveja? – Perguntou.

– Aham, agora é chocolate... – Suspirei.

– Foi bom? – Sorriu sapeca.

– Melhor que aquelas garotinhas.

– Sabia. – Continuava com o sorriso. Desencostei a testa, indo para trás.

– Por que você fez isso? – Perguntei.

– Era só uma duvida que eu tinha. – Sorriu. – Não se preocupe, não vai mais acontecer. – Sorriu, saindo da cozinha. – Eu acho...

Fiquei sentado encarando o nada. Levei os dedos até a minha boca, ainda chocado.

Eu beijei... Um garoto?

Levantei meio tonto e fui para a sala, encontrando Jay deitado de qualquer jeito no sofá e já dormindo. Subi as escadas e entrei no quarto de Ray.

Lyn e Gerard estavam deitados juntos no colchão do chão, e Ray estava na cama dele. Me escorei na porta do quarto e observei aquela cena. Cambaleei até o colchão e me joguei entre os pombinhos.

Me virei de bruços jogando meu braço sobre o Gerard.

Boa noite.