PDV - Edward

“–A Bella é adotada.” A voz da minha mãe ainda ecoava em minha cabeça, mesmo estando ta longe, mesmo já tendo passado várias horas desde que ela me contou não consegui parar de pensar nisso um minuto sequer. Suspirei pela terceira ou quarta vez em menos de um minuto, meu carro que sempre foi meu grande amigo hoje se tornou meu companheiro de lágrimas. Já não me importo mais de chorar – principalmente pela Bella – mas devo admitir que parte de mim ainda acha isso um pouco constrangedor, chorar por causa de uma descoberta? Que coisa mais patética! Mas para falar a verdade tinha muita coisa por trás de minhas lágrimas e uma pergunta inquietante em minha mente: Por que ela não me contou?

Depois de um mês juntos – até um pouco mais, não tenho certeza – esperava que ela confiasse em mim, esperava que toda aquela história de “casal sem segredos e verdade acima de tudo” fosse de fato acontecer conosco, mas esconder um segredo desse foi a pior coisa que ela podia ter feito. Esconder isso é o mesmo que dizer eu não confio em você, não é? Ou até mesmo “eu queria te contar, mas você não demonstrou que entenderia” ou sei lá o que se passou na cabeça dela quando resolveu esconder. Esconder é o termo certo ou mentir seria melhor? Não sei... Realmente não sei mais de nada.

Agora entendo o porque dela querer tanto trabalhar em um orfanato. Entendo toda aquela alegria nos olhos dela quando alguma das crianças era adotada ou quando ela via a Carlie... Carlie até para ela a Bella mentiu. Bati minha mão com força no volante. A cada dia que passa eu conheço um lado novo da Bella e esse foi o pior de todos. Suspirei mais uma vez, passei a mão por meu rosto limpando as lagrimas. Chega, não adianta ficar aqui parado sem fazer nada, mas ir para onde? Olhei para o relógio 17:25. Ela com certeza já chegou em casa.

Sem nem pensar direito me ajeitei no banco, liguei o carro e comecei a fazer o caminho que me levaria a casa da Bella. Parte de mim gritava em protesto tentando me fazer parar, mas já não ouvia mais essa parte. Sim, eu poderia me arrepender depois de qualquer coisa que fizesse por impulso, mas irei me deixar levar só dessa vez já que não estou nem em condições de pensar direito a raiva e o ódio estão me cegando completamente. Continuei a dirigir com a voz da minha mãe ainda ecoando na minha mente “Ela é adotada”.

Encostei o carro na porta da casa da Bella. Respirei fundo algumas vezes antes de descer, precisava me acalmar pelo menos um pouco. Suspirei e finalmente desliguei o carro. Olhei para a janela do quarto dela e pude ver uma movimentação por ela... Sim, Bella estava em casa. Não sei se isso melhorou ou piorou as coisas, mas pelo menos me deu coragem para ir até a sua porta e tocar a campainha. Alguns minutos depois pude ouvir o barulho de Bella descendo as escadas e logo a porta foi aberta.

A primeira imagem que tive quando ela abriu a porta foi a de uma Bella sorridente. Sua felicidade chegava aos seus olhos e ela parecia bem. Como estragar tudo isso? Suspirei novamente. Não, não posso estragar a felicidade da pessoa que mais amo. Mas também não posso deixar essa história para trás como se não soubesse de nada, não agora que quero saber de toda a verdade. Sobre o que mais ela estava escondendo? Sobre o que mais ela não quer que eu saiba? Meu monologo mental durou tempo demais para que Bella percebesse que tinha algo errado, sua expressão mudou de feliz para preocupada e aos poucos seu sorriso foi sumindo de seu rosto.

- Oi... – Sua voz falhou. – Entra.

- Tudo bem? – Perguntei entrando na casa. – Eu estou atrapalhando? Porque se eu tiver posso ir embora... – Suspirei. “Por favor diga que eu tenho que ir embora” Gritei mentalmente.

- Não que isso Ed, você sabe que nunca atrapalha. – Um sorriso fraco surgiu nos lábios dela. – Tudo bem?

- Para falar a verdade... Não. – Suspirei e sentei no sofá. Como começar o assunto de uma forma delicada e que não fosse magoar ela?

- Você não apareceu hoje lá no orfanato... A Carlie até chorou. – Ela revirou os olhos enquanto se sentava do meu lado. Fechei os olhos para ver se sem vê-la teria mais coragem. – O que foi? – Senti seus dedos entre os fios do meu cabelo e aquilo ao invés de me acalmar fez com que eu ficasse ainda mais apreensivo com a sua reação.

- Bella... Por que você quis trabalhar no orfanato? – Perguntei abrindo os olhos. A expressão confusa tomou conta de sua expressão preocupada.

- Porque... Edward não estou te entendendo eu já expliquei mil vezes que...

- Bella você é adotada? – Perguntei olhando diretamente me seus olhos.

Ela não respondeu nada, nem eu quis falar. O silêncio predominou na sala por alguns minutos. Ela não sabia o que responder e eu não sabia o que esperar como resposta. Suspirei e esse foi o único som que tivemos na sala além de nossas respiração. Por que Bella? Por que você não me contou? Me fala, me conta tudo agora! Queria gritar, mas não achava voz para isso. O que fazer nas situações em que por mais que você não queria terá que magoar a pessoa que você mais ama? A pessoa que você já magoou um dia e prometeu nunca mais magoar.

Bella não se mexeu ou demonstrou nenhuma reação e isso só me deixou mais preocupado. Por que estou fazendo isso mesmo? Me perguntava a cada segundo que passava, isso machucaria a Bella não é? Eu quebraria a promessa por uma besteira dessas? Besteira essa palavra fez com que todas as outras fossem descartadas dos meus pensamentos. Não, não era besteira e nem chegava perto de ser.

- Quem te contou? – Perguntou Bella secamente após tempo demais em silêncio. – Quem te contou, Edward? – Insistiu quando viu que eu não falaria nada.

- Minha mãe, mas isso não importa! O que eu quero saber Bella é porque foi a minha mãe que teve que me contar e não você? Eu disse várias e várias vezes que você poderia confiar em mim e é assim que você retribui?  Bella depois de tudo o que passamos juntos você ainda não confia em mim, é isso? – Minha voz foi ficando cada vez mais alta e quando dei por mim já estava em pé gritando com ela. Não Edward não é assim que tem que ser.

- Para com isso Edward você sabe muito bem que eu confio em você! – Não pude deixar de perceber as lagrimas que se formavam no rosto dela, aquilo partiu meu coração, mas mesmo assim que queria ir até o fim com aquela conversa. – Eu só não contei porque... porque...

- Por que? Anda Bella, fala. – Já não estava mais tão nervoso e conseguiu acalmar minha voz. Agora estava mais angustiado do que qualquer outra coisa.

- Edward eu não sei... Eu não achei necessário te contar, eu...

- Ah você não achou necessário contar? – Interrompi ela. – E toda aquela história de “vamos ser sempre verdadeiros um com o outro” agora não vale de nada não é? – Acusei ela sem nem pensar nas conseqüências disso.

- Mas que droga, Edward! Eu nunca deveria ter nem contado para a sua mãe se soubesse que isso iria acontecer. – Ela gritou se levantando também. – Quer saber da verdade? Bom então ta aqui a verdade: eu sou realmente adotada. Satisfeito? Era isso que você queria saber não é?

- Não Bella, não é isso que eu quero saber! O que eu quero saber é por que você não me contou isso? Por que você nunca se preocupou em ao menos se perguntar se eu deveria saber disso?

- Como você sabe que eu não me perguntei? Edward eu passava noites e noites acordada pensando nisso! Eu iria te contar na hora certa e não assim, não desse jeito pelo menos. Devo admitir no começo realmente não queria te contar porque... – Ela parou de falar e começou a encarar o chão. – Eu tenho os meus motivos, mas acredite não é por não confiar em você. Edward... – Ela suspirou e colocou as suas mãos no meu rosto. – Eu te amo e confio em você acredita em mim, por favor! Na hora certa e no lugar certo irei te contar a minha história, mas não agora... Não hoje por favor.

Olhei para Bella o medo estava visível em seus olhos, mas um duvida brotou na minha mente o medo dela era de que eu descobrisse ou que eu a deixasse? Voltamos para aquele silencio incomodo enquanto nós dois procurávamos uma resposta. Novamente fiquei dividido entre duas partes uma queria abraçar ela e dizer que poderíamos deixar tudo isso para trás, mas a outra é egoísta demais para aceitar isso e gritava “Ela escondeu que era adotada sobre mais o que você acha que ela poderia esconder”.

Inconscientemente eu já sabia o que viria a seguir, já sabia qual seria a minha escolha mesmo não querendo ela totalmente eu já tinha decidido isso quando entrei por aquela porta ou até mesmo muito antes disso quando sai de casa chorando querendo fugir de tudo com a raiva estampada no meu rosto.

- Desculpa Bella, mas não dá... – Minha voz saiu mais fria do que eu esperava. - Isso foi longe demais! Eu queria muito acreditar em você, mas não posso... Outra hora a gente conversa.

Não olhei para trás enquanto saia pela porta nem mesmo quando ela gritou o meu nome, reprimi a vontade de chorar – já tinha feito muito isso para um dia só – e entrei no meu carro. Coloquei uma música alto o suficiente para não escutar nada ao meu redor e liguei o carro. Minha atenção foi voltada completamente a estrada, mas apesar disso não tenho idéia de como cheguei em casa. Olhei para a rua inteira mas quase bati com o carro duas vezes, a musica as vezes me distraia, mas era a única forma de evitar que eu pensasse em Bella, pelo menos agora.

Estacionei o carro na garagem e pude ouvir algo quebrando na cozinha. Esme. Suspirei e entrei em casa, como o esperado ela estava na sala com um pano de prato na mão e os olhos cheios de lágrimas.

- Edward, meu filho. – Ela correu até onde eu estava e jogou seus braços em minha volta. – Você saiu correndo a horas atrás, não atendeu o celular não disse para onde ia... Eu fiquei preocupada. – Sua voz chorosa só me deu mais certeza de que ela estava realmente preocupada e isso fez com que eu me sentisse pior ainda. – Onde você estava?

- Com a Bella. – Suspirei.

Minha mãe me soltou e foi até o sofá segurando a minha mão. Nos sentamos e eu encostei minha cabeça no ombro dela que começou a brincar com o meu cabelo, me senti como uma criança novamente e pela primeira vez senti que precisava daquilo.

- O que você fez Edward? – Ela não parecia estar me repreendendo apenas preocupada.

- Eu acho que acabou mãe... Acabou tudo. – Suspirei.

- O que ela te contou?

- Nada e foi esse o problema. Ela não confia em mim para mais nada, ela não confiou em mim para dizer que era adotada e não confiou em mim para contar toda a verdade! Ela não...

- Não precisa falar mais nada, meu amor. Eu to aqui.

Fechei os olhos antes das lágrimas caíram. Eu me odeio, repeti isso várias vezes mentalmente. Minha mãe continuava a brincar com o meu cabelo e falar palavras que me confortassem. Me senti como um bebe mas não me importei, sabia que no final o que eu iria precisar era isso uma pessoa que ficasse ao meu lado, que me amasse por inteiro e por mais que errasse essa pessoa continuaria comigo. Um dia cheguei a pensar que essa pessoa era a Bella, mas hoje vejo que não. Ela não é quem eu pensei que ela fosse.