Comecei a trabalhar no museu em fevereiro, e estava surpresa por ter durado tanto tempo nesse emprego. Estacionei o carro na vaga especial para funcionários, coloquei a bolsa no ombro e sai do carro. Eu era uma espécie de "guia turística da antiguidade", tinha que decorar vários textos e mudar totalmente meu visual. Eu que sempre usava all star, calça jeans skinny e blusas de bandas, tinha que usar um colete preto, calça preta, blusa branca e scarpin de salto baixo. Meu cabelo vermelho, ondulado e sempre tão rebelde tinha que ficar preso e completamente comportado. Eu não podia reclamar, gostava de estudar e ensinar história, além de achar magnifico as esculturas e registros antigos. Após mudar de roupa fui diretamente ao salão principal. Me encostei no balcão e enrolei o cabelo no dedo, olhei para Kevin e dei um sorriso.

- Ei Kev, vai fazer alguma coisa mais tarde?

- Não Belle, estava pensando em te chamar para ver um filme... Ei, o que é isso no seu pescoço? Fez uma tatuagem?

- Não... Isso apareceu aqui essa manhã.

Kevin me olhou desconfiado, eu sabia que não acreditara. Vi o primeiro grupo de estudantes entrando no museu, logo soube que era minha hora de trabalhar. Já sabia de cor as frases que deveria dizer, arrumei minha roupa, passei a mão nos cabelos e fui na direção do grupo.

- Olá, meu nome é Isabelle e eu irei acompanhar vocês nessa excursão. Não temos muitas regras aqui, apenas exigimos que não toquem nas esculturas e evitem gritar. Caso obedeçam essas duas regras nosso passeio será agradável. Sigam-me.

Eu me cansava de sempre falar a mesma frase. Mostrei para os alunos a parte de pré-história, história medieval, e atualidades. No fim da excursão, sentei do lado de Kevin e respirei fundo.

- Sabe Kev, as vezes eu penso em voltar para casa e ter minha antiga vida de volta.

- Belle, você tem 19 anos, sempre quis ser livre e agora que conseguiu quer voltar para a prisão?

Deitei a cabeça em seu ombro, não me lembro de ter me sentido tão bem até aquela hora. Kevin era apenas meu amigo, sempre me ajudava e me escutava, mas sempre me senti ligada a ele de um jeito diferente. Levantei a cabeça e encontrei seu rosto virado na direção do meu, nossas bocas tão próximas...

- Isabelle! Tem um novo grupo chegando! - Era a Fernanda, minha melhor amiga, minha confidente e cúmplice para qualquer crime. Ela me olhou com a cara mais maliciosa que tem e logo se afastou, rindo. Me levantei e fui em direção ao grupo. O dia estava apenas começando.

Às 17 hrs, terminei meu horário de trabalho. Fui correndo para o carro e buzinei ao ver o Kevin no estacionamento. Fui para o curso e passei duas tediosas horas na sala. Após o curso, liguei para o Kevin e combinamos de passar algumas horas juntos antes de irmos para a faculdade. Eu não me sentia obrigada a me "super produzir" para ver-lo, mas por algum motivo, eu quis ficar bonita para ele. Tomei um banho quente e longo, escolhi uma roupa "leve" e deixei meus cabelos soltos. Combinei de encontrar o Kevin no shopping, que ficava no mesmo caminho do museu. Ao passar na avenida, novamente tive que parar no sinal. Respirei fundo e senti minhas mãos suando, o sol já estava desaparecendo. Um vento frio passou pelo meu rosto e de repente senti que não estava mais sozinha. O sinal abriu e acelerei o carro sem pensar duas vezes, virei a rua e entrei no estacionamento do shopping. Passei pela entrada e logo vi Kevin correndo em minha direção.

- Ei Bells, viu um fantasma? - Ele sorriu e me abraçou forte.

- Não Kev, eu estou bem.

Sentir o corpo de Kevin tão próximo ao meu me causou sensações estranhas. Parte de mim queria tê-lo cada vez mais perto, mas a outra parte se sentia incompleta, como se Kevin não suprisse as necessidades de minha alma. Kevin segurou meu rosto e encostou os seus lábios nos meus, mas alguma força me fez recuar. Olhei para ele desnorteada e vi que ele estava na mesma situação que eu. Me sentei no banco mais próximo de mim e realmente desabei. Kevin sentou do meu lado e novamente me beijou, dessa vez com mais intensidade. Correspondi ao beijo, enlacei meus dedos nos seus e o abracei, queria mantê-lo cada vez mais protegido nos meus braços. Terminamos o beijo com vários selinhos, Kevin olhou dentro dos meus olhos e deu o seu sorriso mais amistoso, abracei-o novamente e em questão de segundos meu olhar foi direcionado a uma pessoa diferente. O rapaz estava em pé, de braços cruzados, olhando para mim e para o Kev, não parecia estar gostando do que via e vê-lo me fez sentir uma enorme vontade de conhecê-lo. Kevin disse algo sobre pegar um sorvete e foi se afastando aos poucos. Quem era o garoto? Por que me encarava tanto? Comecei a prestar atenção na sua aparência... olhos verdes, cabelos pretos, rosto perfeitamente desenhado. Eu diria que era a definição de pessoa perfeita. Deu um passo em minha direção, sorriu. Um sorriso frio e sarcástico. Estava se aproximando muito rápido, eu não sentia mais minhas pernas, meu coração estava totalmente acelerado. Parou na minha frente e se inclinou na minha direção. Tocou meu pescoço e sussurrou:

- Bela tatuagem, Isabelle.