Senti os lábios de Beck deslizarem pelos meus braços e sorri.

– Bom dia anjo - sussurrou. - Queria ficar aqui o dia todo, mas eu tenho que sair. Quer ir pra algum lugar hoje?

– Você que sabe - bocejei. - Qualquer lugar pra mim está bom.

Beck me beijou.

– Que tal ir jantar?

Sentei na cama e encarei Beck.

– Mas nós não saímos em publico.

Beck acariciou meu rosto.

– Você é minha, anjo. Não tem porque eu esconder você.

Puxei Beck e o beijei.

– Obrigada de verdade.

– Anjo, preciso da minha camisa.

– Ah não… - Ri e me espreguicei. Fiquei de costas para Beck e estiquei os braços, senti suas mãos subirem pela minha cintura, levando o tecido junto, tirando sua camisa de meu corpo. Depois puxei o lençol e o abracei, deixando apenas minhas costas despidas. Beck acariciou meu pescoço e beijou minha orelha.

– Se cuide anjo.

– Pode deixar. - Voltei a dormir enquanto Beck ia embora.

– Provocante demais pra quem antes era uma santa.

Acordei ao ouvir a voz e não a reconheci de imediato.

– Beck?

Ouvi uma risada forçada.

– Que ofensa. Belle? Sou eu, Taylor - riu. - Aliás, bela comissão de frente.

Depois de segundos fui perceber o que ele estava dizendo: eu havia devolvido a camisa de Beck, estava vestindo apenas uma calcinha. Usei o cobertor para me cobrir e xinguei alto.

– O que você está fazendo aqui? Que droga!

– Preciso falar com o seu namorado.

Respirei fundo.

– Caso você não saiba, essa casa é minha e não dele.

Taylor riu.

– Mas ele passou a noite aqui, eu vi vocês dois pela janela do teu quarto.

– Janela do meu quarto? Eu moro no 13º andar! - Minha voz já estava alterada, mostrando um pouco de irritação.

– Vantagem de ser um nefilim. - Taylor sorriu.

Me enrolei no cobertor e saí da cama.

– De qualquer jeito, Beck não está aqui - fiz uma pausa, pensei melhor no que ia dizer. - E eu quero que você deixe-o em paz. Esqueça esse acordo de vocês.

A risada de Taylor soou incrivelmente irônica.

– Você não sabe de nada, Isabelle. E não peça para eu quebrar um acordo onde sua vida está em jogo.

Foi minha vez de rir.

– Claro Taylor, como se você se importasse com a minha vida! Saia daqui, eu não quero mais ver você falando com o meu namorado. Estava aliviada porque pensei que tinha me livrado de você de uma vez, mas você continua aqui, a desgraça continua.

– Cuidado com o que diz, Isabelle - a voz de Taylor ficou sombria. - Suas palavras podem se tornar a sua própria maldição. Você não sabe o que pode te acontecer. E guarde bem o que eu estou te dizendo: se eu te quiser de volta, eu vou ter, não importa quem tente impedir.

– Vá embora.

Me virei para entrar no closet quando percebi que Taylor havia saído. Eu estava sozinha novamente.

Resisti ao impulso de pegar o celular e ligar para Beck, decidi não contar nada à ele, eu conseguiria cuidar dos meus próprios problemas sozinha. Entrei no banheiro e tomei um banho gelado, precisava limpar minha alma e acordar para a realidade. Vesti um vestido curto amarelo que conseguia me deixar ainda mais branca e comecei a pentear meus cabelos. Passei os dedos por entre os fios ruivos e lembrei do quanto Beck adorava essa cor. Sorri ao lembrar dele. A cada dia que passava, a minha necessidade por Beck aumentava. Eu não conseguia ficar muito tempo sem sentir seu abraço, sem sentir seu cheiro, sem beijar seus lábios. Estremeci. Precisar tanto de Beck era algo ruim. Eu não deveria ser tão dependente de alguém que um dia pode me deixar.

Peguei o celular e disquei o numero de Beck, estava prestes a ligar quando a campainha tocou.

– Já vou!

Quando abri a porta senti todo o meu sangue gelar, minha garganta secou.

– Kevin?

Kevin estava totalmente diferente da ultima vez que eu o vi: não estava mais pálido e não estava com olheiras. Na verdade, parecia extremamente bem.

– Oi Bells - sorriu, veio na minha direção e me abraçou. - Senti sua falta, pequena.

Abracei Kevin o mais forte que pude e logo senti meus olhos se encherem de lagrimas.

– Kev, o que aconteceu com você?

– Eu não sei, não me lembro de quase nada.

Beijei o rosto de Kevin e o puxei para dentro de casa.

– Me conta o que você lembra.

Kevin pensou um pouco.

– Eu estava em casa e ouvi alguém me chamar. Fui na direção da voz e logo as luzes se apagaram do nada. Então foi muito estranho, eu sentia como se eu não pudesse controlar meus próprios pensamentos. Depois eu desmaiei. Lembro de estar no hospital também, mas o estranho é que essas lembranças são escassas. Eu passei todos esses dias lá e não consigo lembrar de nenhum momento. Quando acordei hoje, estava vestindo roupas que não eram minhas, estava num lugar estranho, mas eu me sentia aliviado, como se tivessem tirado um peso da minha mente.

Abracei Kevin novamente.

– Sinto muito Kev, de verdade.

Kev sorriu, mostrando suas covinhas. Fiquei encantada ao ver o quanto eu sentia falta daquele sorriso.

– E então Bells, o que eu perdi em todo esse tempo?

– Bom, - suspirei - Fernanda está namorando, Taylor voltou para a cidade e nós provavelmente ficaremos desempregados, já que destruíram o museu. Acho que só isso.

Kevin riu.

– Que vida animada. Ei Bells, o que tem pra comer? - Kevin foi em direção à cozinha, abriu a geladeira. - Qual é Belle! Decidiu fazer dieta agora? Cadê as coisas gostosas que você comprava antes?

Ri ao lembrar que Beck havia me ajudado nas compras.

– Digamos que alguém me incentivou a me alimentar melhor.

– Esqueça essa pessoa! Você está ótima desse jeito, não precisa se alimentar melhor não. - Kevin bagunçou meu cabelo. - Devíamos chamar a Fernanda e ir ao shopping.

– Pra comemorar a sua volta! - Sorri. - Vou ligar pra ela agora mesmo.

Liguei para Fernanda e caiu na caixa postal, então deixei uma mensagem.

“Shopping agora com o Kevin, topa?”

Alguns segundos depois recebi a resposta.

“Desculpa gata, agora é minha hora de namorar”

Fiz careta ao imaginar a cena. Me virei para Kevin.

– Somos só nós dois hoje.

O barulho de chuva me acalmava, mas ao mesmo tempo me deixava aflita. Tomei um banho longo e lavei meu cabelo, observando como os fios ruivos ficavam belos quando molhados. Eu havia combinado com Kevin que o encontraria no shopping às 19 hrs, e teríamos apenas uma hora juntos.

Kevin ainda gostava de mim, isso era algo fácil de perceber.

Confesso que, de certos modos, seria maravilhoso namorar Kev. Ele não é um anjo-caído. Não precisa sair cedo todas as manhãs. Não precisa ficar o dia todo sem me dar notícias. Não precisa desligar o celular e ignorar totalmente todas as 28 ligações da namorada (ou seriam 29?).

Respirei fundo enquanto pensava nisso. No banho seus pensamentos são lavados, a água passa pelo seu corpo e leva também tudo de ruim que tem na sua mente. Deixei que a idéia de ter outro namorado fosse levada pela água. Beck tinha alguns defeitos, claro. Tinha preguiça crônica de fazer a barba e cortar os cabelos, tinha mal gosto para comida, era péssimo em dar respostas objetivas. Mas, apesar de tudo, ele era meu por completo. Eu nunca esqueceria todas as vezes que me fez rir, chorar ou sentir uma vontade enorme de quebrar a sua cara.

Saí do banho com uma preguiça enorme de me arrumar, me enrolei na toalha e comecei a pentear meus cabelos. Escolhi uma roupa que dizia “não estou esperando meu namorado me ligar”, ou pelo menos eu esperava que desse essa impressão. Vesti uma camiseta de seda branca, um short cinza claro com rebites prata e sapatilhas tipo bailarina. Passei delineador no estilo Amy Winehouse e fiz cachos nos cabelos. Podia realmente dizer que estava bonita, se eu não estivesse me sentindo um lixo por dentro. Peguei o celular e liguei para Beck novamente.

– Hey, você ligou para Beck, deixe seu recado e eu retorno depois.

– Beck, só… - suspirei. - Me ligue depois.

Passei meu melhor perfume e liguei para um táxi. Faltavam dez minutos para as sete.

Kevin estava na entrada do shopping, me esperando. Quando fui ao seu encontro ele assobiou.

– Você está incrível!

Sorri timidamente.

– É, você também está incrível, Kev.

Entramos no shopping e fomos direto para a livraria. Kevin comprou Assassins Creed - Irmandade (que era o unico livro que não faria ele dormir) e eu comprei 50 tons de cinza. Ri ao imaginar a cara que Beck faria quando encontrasse esse livro por engano na cabiceira da minha cama.

– Que atrevida você, Bells.

Logo depois fomos comer batata recheada e, pra variar, Kev conseguiu sujar sua camiseta azul de molho vermelho. Fomos até a loja de roupa mais próxima e ele deixou que e escolhesse sua nova camiseta. Joguei nele uma camiseta preta com o DeathBat estampado e para minha surpresa, Kevin trocou de camiseta na minha frente, me mostrando que todas aquelas horas na academia realmente tinham funcionado. Kevin se aproximou e beijou minha testa. Ele simplesmente estava perto demais… Me afastei. Depois disso fomos embora.

Estava no taxi quando senti meu celular vibrar. A foto de Beck apareceu na tela.

– Beck? Onde você está? Eu fiquei feito louca te procurando.

O silêncio do outro lado da linha era torturante.

– Olá Isabelle - a voz de Taylor soou, firme e áspera. - Estou com seu namorado. Hoje alguns mistérios serão resolvidos - riu. - Vocês não deveriam mexer com algo que não podem suportar. Agora preste bastante atenção. Está vendo o motorista do taxi onde você está? - Olhei para frente, o motorista me espiava pelo retrovisor e me mandava um belíssimo sorriso, exibindo dois dentes estragados e dois caninos de ouro. - Ele é um de meus capangas, irá trazer você para cá. Pois é meu amor, os jogos começaram! Que vença o melhor.