O Coração de um Caçador escrita por Joanna


Capítulo 33
POV Madge


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, foi um pouco mais difícil porque não tem muita coisa sobre a Madge nos livros. Mas sinceramente, eu gostei mais do ponto de vista dela do que do Gale durante o beijo :3



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POV Madge

- Não é. É como se eu e você nos beijássemos. A Katniss nem ia se importar. 

Gale ignora meu último comentário. Ele sai por ai, como trinta meninas em cada lado e se acha no direito de sentir ciúmes de alguém. Por que ele vem sentar ao meu lado se nem ao menos puxa um assunto decente?

Continuo comendo calmamente, como se continuasse sozinha. Puxo o cabelo para o lado e vejo meu reflexo na porta de vidro, perto da televisão. Prendo de novo os cabelos em um rabo de cavalo e o sinal toca.

Passa tempo suficiente até que as aulas terminem e até que eu me arrependa de não falar direito com Gale. Olho de relance e o vejo olhando por cima dos ombros, até correr para os fundos da escola – onde já descobri existir uma passagem na cerca até a floresta. – Algumas vezes, pensei em ir até lá e apenas sentir como é uma floresta, ao menos uma vez. Mas então meu juízo voltou e achei melhor deixar a floresta para aqueles que a conhecem. Por ser a filha do prefeito, minha casa fica muito perto da escola, portanto, em menos de vinte minutos estou em casa. Abro a porta silenciosamente, assim como a casa está. Subo as escadas pé ante pé para ter certeza de que minha mãe não está com uma de suas dores de cabeça. Ao abrir a porta do quarto, encontro-a deitada, com os olhos fechados, e a caixa de morfina aberta no criado-mudo. Então, o cuidado que tenho para não fazer barulho se vai e corro até meu quarto e jogo a mochila em cima da cama. Desço novamente as escadas e passo pela sala até encontrar minha paixão – o piano – que fica de frente para a janela. Meu pai que escolheu onde o piano deveria ficar, mas tenho de admitir, fora um ótimo lugar, com vista para a floresta. Passo os dedos por cada nota do piano, limpando a poeira que vem da janela, quando me vem a cabeça a música de Rue. Quatro notas. Ao tocar no piano, toda uma melodia passa pela minha cabeça e passo a brincar no piano. Arriscando notas, até que um tordo pousa na janela. Estou fazendo certo.

Passo quase toda a tarde assim, até que uma empregada chama minha atenção.

- Sua mãe tomou o remédio de manhã, menina. Logo ela vai acordar.

Mesmo estando acostumada, deixar de tocar por causa das dores de minha mãe é uma tortura. O que faria no tempo livre? Segundo meu relógio, ainda faltam horas para que meu pai chegue, ou qualquer coisa aconteça em casa. Assim que levanto, a cerejeira do meu jardim fica ainda mais visível e o balanço ligeiramente enferrujado parece tentador.

Abro a porta do jardim e olho em volta. Tudo tão sem vida. Apenas a árvore fina que tenho em casa dá cor a tudo isso. E mesmo dela não posso me aproximar quando a cerca elétrica está ligada. Quantas vezes, quando criança, o zumbido da cerca invadia meus ouvidos enquanto me balançava?

Sento no balanço e arrisco um pouco. Um rangido vem da parte em que me seguro, mas eu não me importo. Impulsiono o balanço com meus pés e meus cabelos batem no meu rosto assim que começo a balançar. Eu paro apenas quando o rangido fica tão alto que a impressão que tenho é que o balanço vai quebrar a qualquer instante. Giro para os lados e depois solto durante um tempo. O céu ficara alaranjado, e daqui a pouco, nem mesmo isso poderei fazer.

Sentada no balanço, lembro novamente de Gale, involuntariamente o gosto de morangos me vem á boca. E se eu gostar mesmo do caçador, como seria? A mimada filha do prefeito com o homem mais rebelde de toda a Costura? Não é algo que parece certo para mim. Aliás, nem para ele, já que mesmo estando com tantas meninas, nunca nem ao mesmo me dirigia a palavra para algo que não fosse vender morangos antes de Katniss ir para os Jogos. Agora nos falamos porque somos amigos em comum de Katniss. Pelo menos eu acho que nós somos amigas. Quer dizer, ela não tentou me expulsar quanto a visitei no Edifício da Justiça. Somos amigas.

Nem percebi o que estava fazendo. Estava parada no balanço, com a cabeça recostada em uma das correntes quando escuto uma voz.

- Mad?

- Oi, Gale.

- Trouxe para você. – Do outro lado de um pequeno cercado, ele estende a cesta cheia de morangos.

- Entra ai.

Assim que passa por cima da cerca e se aproxima, o sol fica mais forte. Ele cobre o rosto com uma mão, mas não antes de fazer uma careta. Não seguro uma risada. Gale também sorri ligeiramente e senta na pequena sombra da árvore. Depois de um silêncio interminável, ele fala:

- A Katniss ia ligar sim, se eu te beijasse. Ela sempre ligava. Não era porque ela gostava de mim, mas ela morria de ciúme.

- Como ela sentia ciúmes se não gostava de você? – Pensei que ele não ouviu, ou ignorou meu comentário. E não que ele se lembrasse até agora.

- Não sei. Faz sentido?

- Não. – Dou de ombros – Mas eu não sou igual as outras meninas. Você nunca olhou pra mim.

- Eu sempre reparei em você. Mais ou menos. Sei lá, o seu perfume é bom.

Sinto o rubor se formando em meu rosto e rio, torcendo para que Gale pense que é o calor do sol. – Obrigada. Sabia que ele me lembra você?

- Você lembra de mim quando sente o próprio perfume? Faz sentido isso?

- Não. Mas toda vez que você vinha pra cá, o seu cheiro era de morangos. Ai eu lembro de você. Quando eu passo perfume, quando como morangos e quando olho pra floresta. Até quando toco piano, ás vezes. Ou seja, o tempo todo.

- Legal. – Me senti uma completa idiota. Acabei de confessar que penso nele o tempo todo, o que nunca reparei, mas caso pare para pensar, é verdade. Eu penso no caçador todos os dias. Um silêncio se forma novamente. – Sabe, se a gente se beijasse, eu ia me importar sim. Muito. Você é especial. Faz sentido?

- Faz. Você também é. – Pego a sua mãe e passo os dedos lentamente por ela. A terra fica na ponta de seus dedos e admiro as pequenas cicatrizes nas mãos. Quando percebo o que estou fazendo e noto o olhar de Gale, arranjo alguma desculpa para estar fazendo carinho na sua mão. - Cavando o chão de novo?

- É. Mas não tem flores pra você, dessa vez. – Gale aperta suavemente minha mão e não seguro um sorriso. Estamos tão perto, lado a lado, e sinto vontade de fazer o mesmo que fiz durante as entrevistas, não soltar sua mão por nada. – Se a gente se beijasse, a Katniss ia se importar. Você também ia?

- Sim. – Sorrio. – Faz sentido?

- Faz.

Assim que responde, Gale puxa meu queixo suavemente para perto de si e seus lábios pressionam os meus. Sinto um calor percorrer meu corpo inteiro. Passo minha outra mão em torno de seu pescoço e passo a mão pelos seus cabelos. Esse foi o meu primeiro beijo de verdade. Sabe, quando não sabem quem é você, o beijo não conta. Esse foi ainda melhor que o primeiro. Porque ele sabe que sou eu, Gale tomou a iniciativa. Estou tão confusa que não consigo pensar em mais nada. Assim que nos soltamos, levanto abruptamente. Gale é tão rápido quanto eu e me prende novamente em seu abraço. Passando o nariz no meu, como se pedisse permissão para fazer o que já fez. Por mais que queira, não posso deixar isso acontecer de novo. Ele está comigo pensando em Katniss, com certeza. Eu o abraço e sinto novamente seu cheiro – que não era de morangos, na verdade, e sim de madeira. - Guardo essa lembrança comigo. Não é algo que eu quero esquecer. Assim que me solto, viro as costas e entro em casa. Mas ainda assim, eu o observo ir embora pela janela, torcendo para que o piano esconda meu sorriso de felicidade.


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Notas finais do capítulo

Gostaram mais de qual narração? A do Gale ou da Madge? Deixem reviews e recomendações, que me farão escrever mais rápido :3