O Coração de um Caçador escrita por Joanna


Capítulo 31
O beijo.


Notas iniciais do capítulo

O capítulo mais esperado de toda a fic *emoção*



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O dia no Distrito é diferente. Risadinhas a cada vez que passos tornam-se mais constantes, tão constantes quanto antes da colheita. No refeitório revejo as entrevistas com os parentes dos tributos e olho de relance para Prim, com os olhos presos na tela. Talvez ela mesma se identifique com Rue. Talvez desde que Catnip se voluntariou, ela se sinta culpada. A irmãzinha frágil da garota em chamas. A menininha que precisou de piedade para sobreviver.

Passo pela cerca elétrica do distrito e caminho até um arbusto de amoras conhecidas, onde recolho algumas e guardo. Pego meu arco e flecha dentro de um buraco que fiz em uma árvore e corro atrás da caça. Uma lebre e um esquilo. Depois de guardar a carne na bolsa percebo que faz tempo que não vou até a padaria. Nem na casa do prefeito. Pego dois coelhos nas armadilhas e pesco cinco peixes no lago.

Voltando ao distrito, passo pela cerca e ando até o Prego. Com Darius tomando um prato de sopa – não sei porque, já que deveria estar registrando patrocínio – e sento ao lado dele. O dia está realmente frio.

- Hey, priminho. Eu vi a sua entrevista.

- Tava muito lindo nas câmeras, né? Todo mundo gostou.

- É. Uma pena que a sua prima não viu a entrevista. Eu avisei pra você ser legal e você faz isso, realmente você não tem jeito – ri.

Tomo um prato de sopa quente e vou até a padaria. O pai de Peeta continua com as faces rosadas, apesar dos dias continuarem esfriando. Ele me dá apenas dinheiro – coisa que agradeço mentalmente, os grãos das tésseras desse mês estão ficando velhos e os ratos podem atacar a qualquer momento – que levo até o Edifício. Um pacificador loiro e gordo registra patrocínio e ando chutando a poeira no distrito até bater no pequeno e velho tapete  da porta de Prim. Entrego metade do que consegui no dia a ela, e volto para casa.

Com a ajuda de minha mãe, me vem uma ideia na cabeça. Thresh provavelmente também era acostumado aos grãos das tésseras. Pego um punhado deles e amasso com água até formar uma pasta. Provo e o gosto me dá enjoo, como ele consegue comer isso todos os dias? Deve ser para fazer crianças famintas ganharem peso, ou algo assim. Quando alguém está tão fraco que não consegue nem comer, essa deve ser uma receita usada para ajudar a recuperar essas pessoas. Ou talvez Thresh goste mesmo dessa papa nojenta.

Ligo a televisão, Vick e Rory sentam ao meu lado calados, como se soubessem de algo que não sei. Entre olhares, todos voltam-se para Claudius e Caesar em uma bancada, com vídeos da arena mostradas atrás deles. Como deve ser apresentar um programa, sabendo que a atenção do público não está em você, e sim no tributo que decapita o outro com uma espada?

Depois de passar um tempo na margem do lago, Clove e Cato procuram por rastros de sangue de Peeta, no começo da noite. Porém, procurar por pistas durante a noite é inútil, então ambos voltam para a Cornucópia e adormecem.

Depois de cobrir o chão com agulhas de pinheiro, e colocar Peeta seguro em um saco de dormir, Katniss prepara uma camuflagem. Inútil. Os galhos de vinha são inúteis para cobrir a entrada da caverna.

- Katniss - Peeta sussurra. – Obrigado por me encontrar.

- Você teria me encontrado se pudesse.

- Teria, sim. Mas... Olha, - Ele gagueja – Se eu não voltar...

- Não fale assim. Não drenei todo aquele pus á toa.

- Eu sei... mas caso eu não...

- Não, Peeta. Não quero discutir essa hipótese. – Diz ela, pressionando delicadamente os dedos contra sua boca. A respiração dos dois é cada vez mais ofegante, torço para que seja apenas falta de ar de Peeta.

- Mas eu...

Em um impulso, Katniss pressiona sua boca contra a de Peeta. Durante um tempo é assim, até que o beijo passe a ser apaixonado e longo. As mãos da minha menina estão pressionadas contra o seu peito, mas os lábios não se desgrudam. Peeta se encosta na parede da caverna – não sei como, já que supostamente ele está a beira da morte – e puxa Catnip pela cintura até os dois não conseguirem mais se soltar.

Não tenho reação no primeiro momento. Passa pela minha mente ser apenas uma armadilha dos Jogos, alguma alteração nas imagens que quase sempre acontece, mas nunca perder a minha Catnip. Que nunca foi minha. E esse maldito padeiro, que chega no começo dos Jogos e já tenta ficar com ela? Essa imagem de apaixonados me enojava antes mesmo de ser real, agora que existe, o que farei? E se os Jogos unirem os dois mais do que qualquer um possa separar? E se eles, mesmo aqui, ficarem juntos?

Abaixo a cabeça enquanto rola a cena. Não quero presenciar isso, não quero! Mas a imagem do beijo se reconstitui perfeitamente em mim, quando fecho os olhos posso ver o abraço e quase sentir o que os dois sentem. O perfume de Katniss. A trança sempre perfeita, mesmo depois de um dia todo caçando. Os olhos cinzas da Costura. É assim que Peeta se sente agora, e pela primeira vez, me arrependo de verdade de não ter feito isso. Me voluntariado. Seriam tempos difíceis para minha família, mas eu poderia ganhar, não poderia? Assim como Katniss vai. E Peeta agora é nada mais do que uma ferramenta para ganhar patrocínio, e um peso nas costas de Catnip. A vigilância deverá ser sempre maior em um lugar como uma caverna, fora que surpresas de Idealizadores - como desabamentos - podem vir a acontecer. E caso Peeta não consiga salvar-se sozinho, o que Katniss faria? Não é típico dela apenas deixá-lo morrer.

Um peso. É tudo isso que Peeta representa agora. Como eles se defenderiam, caso Cato e Clove aparecessem? Ou mesmo Thresh? A raiva toma conta de mim, por Peeta beijar a minha garota e por colocar a sua vida em risco. Katniss está se saindo uma atriz melhor do que sempre pensei. Ou será que isso já não acontecia, e eu não sabia de nada? Peeta e Katniss se abraçam como se a arena fosse possível de esquecer.

Quando Katniss sai da caverna para tomar um ar, com Peeta tremendo no colchão. Olha um pouco para o chão – procurando por rastros para apagar ou, arrependida de ter beijado Peeta apenas por este estar á beira da morte. – e depois escuta, com o ouvido bom, o apitar de um paraquedas. Com rapidez, ela desata os nós com agilidade – talvez esperando por algo para Peeta ou um remédio para curar seu ouvido – e encontra um pote de... sopa! O que Haymitch está pensando para mandar sopa para o padeiro dodói? A arena é coisa séria e Katniss não deixa faltar comida! Os patrocinadores devem estar sobrando para que isso aconteça. Só espero que ele não tenha gastado meu dinheiro.

Parada por alguns segundos e pensativa, Katniss sobressalta como se acordasse de uma lembrança; corre até um padeiro adormecido e beija-o para acordá-lo. Com a voz suave, que só usa com Primrose, chama seu nome:

- Peeta, olha só o que o Haymitch mandou pra você!

Leva uma hora até que Peeta – com intervenções calorosas de Katniss – tomasse todo o caldo. Após Peeta cair no sono Katniss come e esconde os rastros deixados, com os óculos de visão noturna. Preparando as armas e assistindo a contagem de mortos no céu, desligo a televisão. É muita coisa para a minha cabeça. Deitado na cama, o beijo se repete como uma gravação na minha mente. Mais uma vez. De novo e de novo. Em certa altura, eu já me imagino no lugar de Peeta, provavelmente em um devaneio causado pelo sono. Mas eu não quero que seja mentira. Para mim, Catnip é minha e isso é real.


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Notas finais do capítulo

Não sei se ficou como todos esperavam, mas eu tenho uma surpresa pro capítulo que vem... uma ótima surpresa para quem shippa Gadge... Deixem reviews com sugestões, críticas e o que acharam melhor. E umas recomendações se eu merecer :3
xoxo
District 7