Ainda estou com as palavras de Cinna ecoando em minha mente quando Prim e sua mãe voltam para casa e vou me deitar.

O dia seguinte é como sempre, quase todo na floresta. As armadilhas que eu preparei no dia anterior guardam um esquilo, e dois coelhos. Ontem Prim tinha me dito algumas das ervas que precisavam, e me emprestou o livro do pai dela para facilitar.

Colho as ervas e me pergunto se colher morangos é ou não uma boa ideia. Eu os colhi ainda ontem e geralmente o prefeito os compra a cada dois ou três dias no período de colheita. E eu ainda não pensei muito naquele evento de ontem com Madge.

Ela é bonita, penso. Mas é filha do prefeito. Deve estar brincando com você.

Eu me volto para a colheita de amoras que Darius pediu. Ainda não me lembro do nome da menina, mas lembro bem da cara dele ao mencioná-la. Talvez Katniss não fosse o objetivo principal dele, penso. Me permito um sorriso. Colho uma espécie diferente de amoras, essa é um pouco mais escura e é usada para fazer licor. As folhas são comestíveis, então colho algumas também. Minha mãe gosta do chá delas.

Passando pelo riacho encontro um pé de framboesas, e mesmo não sabendo quais são, eu as como. Framboesas dessa floresta são sempre confiáveis, lembro da voz do meu pai. Amoras nem tanto, tenha cuidado.

Meu pai me deu dicas básicas sobre plantas. Evite plantas com espinhos, com a exceção de amoras e framboesas. Flores brancas e amarelas, frutos com veneno. Essas dicas descartam algumas frutas comestíveis, mas descartam quase todas as venenosas também, então procuro segui-las sempre que estou sozinho.

Eu me banho no lago e ao retirar a jaqueta, vejo o ramo de Catnip, que agora está seca e tenho cuidado para não quebrá-la.

Olho para o Sol e ele me diz que está na metade da tarde e então eu lanço uma rede e pego oito peixes. Os embrulho e decido que há carne o bastante. As ervas estão murchando e eu vou ao Prego com amoras, peixes e os coelhos, já que o esquilo e as ervas possuem donos.

Troco um dos peixes por sabão para minha mãe, vendo três e guardo o resto. O dinheiro dos coelhos eu guardo para o patrocínio de Katniss. Não encontro Darius ali, então acho que meus irmãos terão sobremesa.

Ando até a parte rica do distrito e bato na porta do padeiro. A mulher dele está atendendo alguns clientes então ele abre a porta.

- Gale.

- Boa tarde. Trouxe um esquilo, sei que o senhor costuma comprar. Talvez o senhor queira.

- Quero sim. Eu sinto muito por Katniss, Gale. Caso meu filho não ganhe, eu adoraria que ela ganhasse.

- Sabe que ele gosta dela, não é?

- Sei que você também gosta. Bom, só um volta para casa, então caso ela volte meu filho não irá atrapalhar. Como está Prim?

- Bem.

- Você está ajudando as duas?

- Sim.

- Ok. Leve isso para elas.

Ele entra e volta com dois pães grandes e um pacotinho nas mãos.

- Os pães são pelo esquilo, e o pacote é para elas. E por favor, diga a Prim que sinto falta dos queijos dela.

- Ok. Adeus.

- Adeus.

Eu estou voltando para a Costura quando passo pela casa do prefeito, que fica entre as duas partes do Distrito 12 e escuto uma linda música. Olho na janela e Madge está tocando piano. Eu me escondo atrás da janela e escuto até ela parar de tocar. Ai um tordo repete a canção. Ouço seus passos vindo até a janela e ao dar a volta, encontro Darius.

- Hey, Gale.

- Hey, Darius.

- Ela também? Não basta Katniss?

- Ela e a sua amiga loirinha. Como ela está?

O sorriso de Darius dá lugar a uma cara enciumada e eu sorrio.

- Bem. Trouxe as amoras que eu pedi?

-Trouxe. Você só compra por causa dela?

Darius vai ficando cada vez mais corado e eu já não consigo mais diferenciar seu cabelo do seu rosto.

- Eu gosto de amoras. Vai me dar ou não?

Dou a ele as amoras e ele me dá o dinheiro um tanto emburrado. Aproveito a oportunidade para alfinetá-lo mais uma vez.

- Quem é a loirinha?

- É a Delly.

- Diga a Delly que caso ela queira amoras pode vir até mim que eu a levo até a floresta.

E assim que termino dou as costas e vou embora, sentindo os olhos de Darius me acompanhando. E dou risada.

Bato na porta de Catnip e desta vez, a mãe de Prim atende:

- Olá, Gale.

- Olá. Trouxe um presente do padeiro, dinheiro, as ervas que Prim pediu e dois peixes. – Entrego a elas o pacote, o pão, as ervas, dois peixes e um pouco de dinheiro.

- Tenho algo para você. Espere aqui.

Ela diz e entra pela cozinha. Alguns segundos depois ela volta com um queijo de cabra em mãos.

- Isto aqui é para agradecer a tudo que você está fazendo, Gale. Está sendo muito difícil para nós e você torna a coisa mais leve.

- Obrigado. Aqui está o livro de ervas, Prim me emprestou já que não as conheço muito bem. Diga a ela que o padeiro gostaria de um queijo de cabra também.

- Eu direi. Adeus.

- Tchau.