Entre a Luz e a Escuridão escrita por zariesk


Capítulo 17
Capítulo 14 - Monstro Interior.


Notas iniciais do capítulo

não tenho muito o que dizer nessa sinopse, só posso sugerir que leiam e descubram!



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O reino do deus Thyates parece o inferno, cordilheiras montanhosas de vulcões ativos expelindo colunas de chamas que tocam as nuvens mais altas ofuscando o próprio sol, rios e lagos de magma que geram um brilho caustico e absolutamente nenhuma vegetação comum, os habitantes em sua maioria moravam em casebres feitos de pedra vulcânica, quase toda a vida animal do reino era composta de animais ligados ao elemento fogo, as plantas tem composição cristalina (mesmo assim servem normalmente como alimento).

O motivo desse reino ser assim é que o deus Thyates acredita que o fogo é o símbolo maximo da renovação, quando um incêndio destrói uma floresta as próximas arvores que crescem se tornam mais fortes, o fogo purifica aquilo que está contaminado, o fogo evapora a água que sobe aos céus e renasce na forma de chuva, o fogo transforma o metal bruto em algo novo e trabalhado.

Nesse mundo em chamas apenas seres resistentes ou imunes ao fogo sobrevivem, mas a morte é algo tão banal nesse mundo que não passa de um mero contratempo, nesse mundo qualquer criatura não importando como tenha morrido volta a vida em poucas horas.

De todos os deuses o único que não se incomodava com o ambiente hostil desse reino era Azgher, afinal nenhuma chama poderia ser pior que o próprio sol, mas ainda assim era desconfortável percorrer esse reino com um ar tão cheio de fumaça.

Azgher atravessou a longa ponte que separa o castelo de Thyates do resto do mundo, no fundo do poço um mar de magma tão extenso quanto um oceano e provavelmente tão profundo quanto um, na superfície do mar de lava dava pra ver as enguias das chamas nadando livremente cada uma com um quilometro de extensão e bocarras capazes de devorar navios, no céu uma revoada de fênix nobres como o próprio deus que lhes deu forma protegiam o castelo contra intrusos, porem elas sabiam antecipadamente que o deus do sol visitaria seu mestre, quase tudo nesse reino já foi previsto e antecipado.

Já dentro do castelo Azgher encontrou Thyates, na forma de uma fênix gigantesca com penas vermelhas e douradas, o deus flamejante olhou aquele que veio lhe visitar, sabia que ele viria, sabia disso a uma semana quando em suas visões visualizou essa visita.

 

- Seja bem vindo senhor do deserto – cumprimentou o outro deus – sirva-se de licor e não faça cerimônia, já sei que sentirá sede em breve.

- Continua desagradável como sempre Thyates – afirmou Azgher aceitando o licor oferecido por uma serva – seu habito de prever o futuro irrita tanto quanto é útil.

- Principalmente quando eu responder sua ultima pergunta feita nessa visita – comentou Thyates mesclando passado e futuro na sua afirmação.

 

Azgher ficou mais irritado ainda, não sabia se Thyates fazia isso de propósito ou se era inevitável, as vezes durante as conversas Thyates se adianta um pouco e comenta coisas que ainda serão ditas, e inevitavelmente a conversa se encaminha pro assunto comentado.

 

- Você já deve ter notado que recuperei meu arco – comentou Azgher – estava com Marah esse tempo todo.

- De fato foi o que eu imaginei, afinal eu avisei que você encontraria seu arco com a única pessoa que jamais o usaria.

- Você também me avisou que assim que eu pusesse minhas mãos nele novamente eu me arrependeria ao no final do dia.

- Isso é obvio, você aceitou uma trégua pra recuperar seu arco, com certeza você se arrependeria assim que Tenebra se vangloriasse do seu plano ter dado certo.

 

Uma arma criada por um deus é mais que um simples objeto, é uma parte dele mesmo, e como a maior pintura feita por um artista, o melhor bolo preparado por um cozinheiro, o mais belo vestido feito por uma costureira, deuses são capazes de mover continentes pra reaver uma arma pessoal perdida, nesse caso Azgher tinha perdido seu arco na ultima batalha contra Tenebra e ninguém sabe como isso foi parar na mão da deusa da paz, a questão é que do ponto de vista de Azgher valeu a pena pagar tão caro pra recuperá-lo, mas o arrependimento o atormenta até agora.

 

- Se você sabia que isso aconteceria por que não me avisou? Por que permitiu que Tenebra que também é sua inimiga obtivesse uma vantagem?

 

A grande ave apenas abriu suas asas, o fogo que saia do poço em frente a ele se agitou e uma imagem nítida surgiu em seu interior, uma imagem mostrando um pequeno povoado cortado por um rio, era noite e uma forte tempestade derramava um dilúvio sobre os habitantes.

 

- Daqui a 8 anos a maior tempestade já registrada nos ultimo 3 séculos cairá sobre eles – avisou Thyates – o rio que corta o povoado transbordará e destruirá tudo e logo em seguida virão bestas selvagens atraídas pela morte e destruição, o que você acha que eles farão se souberem disso antecipadamente?

- Isso é obvio, sem meios para impedir isso eles deixarão a região e procurarão outro lugar pra morar.

- E isso gerará uma corrente de eventos totalmente inesperada tal como o deus do caos gosta, talvez eles não consigam encontrar um novo lar, talvez eles tomem o lar de outras pessoas, talvez eles encontrem um meio de impedir o rio de transbordar, talvez procurem a ajuda em lugares errados.

- E você acha que todas essas opções são piores do que saber que inevitavelmente você perderá tudo?

- Você irá obter a resposta dessa pergunta daqui a 8 anos quando acontecer.

- E por que você acha que não farei algo a respeito disso? Eu poderia simplesmente contar tudo a eles depois que eu sair daqui.

 

Thyates não falou nada sobre isso, significa que é algo que não vale a pena ser comentado, então Azgher retornou ao verdadeiro propósito de sua visita.

 

- Você que pode prever tantos anos a frente pode me dizer o resultado dessa guerra? Aquela menina vencerá ou meus servos vencerão?

 

O deus fênix concentrou-se para obter a resposta, dessa vez ele não compartilhou a visão mas respondeu mesmo assim.

 

- Vejo a sombra negra de Tenebra cobrindo o brilho do sol, vejo aqueles que lhe idolatram marchando em nome dela, vejo você se curvando diante daquela que você persegue e vejo as lagrimas de sua mais leal serva chorando pelo destino sombrio, e no final disso tudo seus servos estarão mais poderosos do que nunca e o culto ao deus sol crescerá e no final a deusa negra sorrirá satisfeita e vitoriosa.

- QUE TIPO DE RESPOSTA É ESSA??? – a fúria de Azgher foi tamanha que fez um vulcão entrar em erupção nesse reino.

 

Quando o vulcão entrou em erupção uma cidade aos seus pés foi destruída pela lava, os habitantes pegos de surpresa apenas foram incinerados até virarem carvão.

 

- Não se preocupe com os habitantes, eles voltarão a viver ainda hoje – avisou Thyates – mas creio que ficarão chateados por terem seus lares destruídos.

 

Mas azgher não se importava com a explosão que causou no reino do deus anfitrião, estava muito mais preocupado com a resposta pra sua pergunta, segundo Thyates Tenebra sorriria vitoriosa no final.

 

- Me explique essa sua visão ensandecida! Me explique como ela vencerá essa guerra!

- Eu não disse que ela venceria a guerra – lembrou Thyates.

- Então como eu posso perder se ela não vai vencer? Isawa sairá vitoriosa ou não daqui a um ano? Afinal você disse que eu me curvaria diante dela!

- Eu não tenho motivos pra lhe explicar minhas visões Azgher – Thyates parecia aborrecido – apenas aceite os fatos e faça o melhor que puder.

- Você está me enrolando não é?

- Lembra que eu disse que você se enfureceria ainda mais com a resposta da ultima pergunta?

 

O castelo inteiro começou a tremer e logo depois uma explosão comparável a uma bomba atômica devastou toda a moradia do deus da ressurreição, a única coisa que permaneceu intacta foi o próprio Thyates, Azgher já havia partido depois do seu surto de raiva, Thyates usou seu poder pra restaurar seu poço de fogo e logo teve outra visão.

Na visão a mesma vila que seria arrastada pelo rio caudaloso daqui a 8 anos estava sendo reconstruída e seus habitantes pareciam felizes, vários canais estavam sendo construído pra evitar que uma nova enchente destruísse a vila e o povo aprendeu a domesticar as feras selvagens que os atacara antes e agora tinham os animais perfeitos para trabalho e proteção, olhando alguns anos a mais no futuro Thyates viu que o povoado se tornou uma grande metrópoles e crianças brincavam nas ruas com seus monstrinhos de estimação.

E enquanto Thyates usava seu poder pra reconstruir seu castelo ele se vangloriava de que nem a morte era capaz de impedir a vontade de viver daqueles que se esforçam pelo futuro, e ele sendo um deus presenciaria pessoalmente tais mudanças, seus servos também que tinham o poder de vencer a morte.

 

*********************************************************

 

O clima de tensão das cidades grandes afastava Isawa durante sua viagem, por isso ela só fazia paradas em cidades pequenas que não davam muita importância ao que acontece fora dos seus pequenos muros, só fazia essas paradas pra descansar durante o dia e comprar mantimentos.

A população dessa cidade quase nada sabia sobre o grande evento que ocorreria daqui a quase um ano, pessoas comuns habitando povoados afastados se imaginam livres de grandes problemas.

- Obrigada pelos pães tia! – agradeceu Isawa tomando seu lanche da tarde.

- Não tem de quê minha jovem – a velha senhora nem fazia idéia de quem comprava pão em sua padaria.

 

Isawa voltou correndo pra hospedaria com a sacola cheia de pães doces pra dividir com seus amigos, nessa cidade ela não era temida, caçada e odiada, se sentia bem com isso.

 

- Voltei pessoal! – gritou ela ao entrar no quarto.

 

Eles tiveram poucos problemas pra alugar o quarto por um dia, Isawa apresentou Karin como sua irmã, Vulthar como a mascote do grupo e Daneth e Turok como uma dupla de heróis viajantes, nesse caso Isawa e Karin seriam ajudantes dos dois, com o adicional de pagarem o dobro pelo quarto conseguiram se instalar sem problemas.

 

- Aquela padaria tem pães deliciosos – comentou ela.

 

Karin agradeceu sorridente o pão oferecido, estava feliz por ver que Isawa havia superado o problema de dois dias atrás, e não parecia tão preocupada com seu futuro treinamento.

 

- Essa cidade é mesmo pacifica, nem mesmo tem muitos guardas – disse Daneth também pegando um pão.

- Essa cidade é afastada dos grandes centros, mas fica numa rota importante – respondeu Turok – muitas pessoas transitam por aqui e por isso não precisam de muita coisa.

- Mas não deveria ser o contrario? – perguntou Isawa – se muitas pessoas transitam por aqui eles deveriam ter mais cuidado.

- Não necessariamente, nesse mundo o maior problema são monstros – explicou Vulthar – se existe uma rota segura por aqui e muitas pessoas circulam então os monstros pouco aparecem, e por aqui não há muitos lugares que sirvam de esconderijo pra criminosos e criaturas monstruosas.

- Digamos que essa cidade fica no meio do nada e tem sorte por isso – brincou Daneth.

 

Isawa relaxou um pouco olhando a movimentação das pessoas pela janela, a um tempo atrás compraram um mapa do país, nele mostrava essa cidade e a rota que leva pro deserto, uma vasta cordilheira de montanhas separava esse continente do deserto sendo que um único vale sem montanhas fazia a ligação entre os dois continentes.

 

- Estamos relativamente próximos do deserto não é?

- Quer fazer uma visitinha pra sua amiga? – perguntou Vulthar maldosamente.

- Não, não pretendo ver a cara da Akiko antes desse ano terminar – disse ela.

- Nosso objetivo são as montanhas que separam os dois continentes – continuou Turok – já confirmamos que existem historias de que um dragão azul poderoso habita o pico mais alto de todos.

- Tem alguma chance de ser o dragão errado? – perguntou Karin – todos os dragões azuis moram em montanhas.

- Dragões são extremamente territoriais, não permitem outros em seu território – respondeu Daneth – por isso não devem existir muitos naquela cordilheira.

- E aquele dragão disse que se mudaria pra lá na ultima visita que fez ao lorde Zariesk – explicou Turok – algo sobre permanecer por perto pra tirar sarro dele.

Isawa olhou pra sua espada que estava pendurada na cabeceira da cama, desde que mencionaram que iriam visitar o tal de Shinmon ela parecia mais fria que o normal, Isawa supôs que era por que o espírito da espada estava frustrado.

 

- Nunca vou conseguir entender como os dragões pensam! – reclamou ela.

- Pela velocidade que voamos vamos levar uma noite inteira pra chegar nas cordilheiras – explicou Daneth – pelo jeito vamos ter que acampar na base da montanha pra esperar anoitecer novamente e subir voando.

- Desde que minhas asas não congelem com o frio! – reclamou Vulthar.

- Não se preocupem, eu conheço um bom lugar pra ficarmos durante o dia – avisou Turok.

- Então está decidido! – afirmou Isawa confiante – vamos partir essa noite!

- Melhor comprarmos alguma comida pra viagem só por garantia – sugeriu Daneth.

 

E assim o grupo se preparou pra partir, cada um cuidando de uma tarefa especifica, faltavam duas horas pro anoitecer e eles queriam partir o mais cedo possível.

 

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O anoitecer também chegaria em breve ao deserto, o por do sol refletia um vermelho intenso nas dunas de areia, algumas dunas com mais de 100 metros de altura, barreiras mágicas que mudavam a direção do vento impediam que a cidade fosse soterrada por toneladas de areia que eram carregadas pelo vento, o oásis que abastecia a cidade com água límpida também era mágico e renovava suas águas a cada amanhecer, com tudo isso Menefer se orgulhava de viver no que ela chamava de paraíso.

Mas ultimamente ela tinha poucos motivos pra ficar bem, seu pai se distanciara dela completamente e ela só o via nas reuniões da corte e durante as missas do templo, sem poder caçar Isawa ela se resignou a trabalhos menores e a cuidar da burocracia, como guerreira estava insatisfeita pela falta de ação, como princesa lamentava o rumo do seu povo e como filha odiava o que seu pai fazia com ela.

 

- Minha princesa parece abatida – disse Dalap ao pousar no ombro de sua mestra – posso fazer algo pra ajudá-la?

 

Menefer apenas balançou a cabeça negativamente, estava com os braços e a cabeça apoiados no parapeito da janela do seu quarto, nunca se sentiu tão sozinha como se sentia agora.

 

- O que Isawa estará fazendo agora? – perguntou-se saudosa.

- Sente muito a falta dela não é? – perguntou Dalap.

- Por que eu sentiria? – Menefer tentava fingir algo que não podia.

- Não pode me enganar mestra, como sua fada pessoal sei o que seu coração sente e o que ele sente é solidão, não precisa mentir pra mim.

- Ela disse que eu era sua única amiga na terra – comentou Menefer – é irônico por que ela também era minha única amiga.

- Parece brincadeira que uma meio-celestial de Azgher e uma filha das trevas pudessem fazer amizade e se gostarem de verdade – brincou Dalap.

- Ela sabia que eu tinha medo de lugares escuros, me fazia companhia sempre que podia e muitas vezes ela ia à minha casa a noite pra estudamos juntas, ela me ajudava muito mesmo sendo mais burra do que eu!

Lembrando de uma coisa dessas ela começou a rir, Dalap sentia o coração dela ficando mais leve, realmente Menefer precisava desabafar.

 

- Isawa só nasceu na família errada – continuou Menefer – se ela tivesse nascido aqui ela seria minha melhor amiga, talvez uma irmã.

- Você poderia fugir daqui mestra, poderia fugir e se juntar a ela, tenho certeza que Isawa te receberia de braços abertos.

- Com certeza ela me receberia, voltaríamos a ser amigas e aquela idiota esqueceria que já tentei mata-la, viajaríamos juntas e aprontaríamos muito por ai.

 

Então Menefer deixou uma lagrima cair, limpando o rosto ela continuou.

 

- Mas meu povo depende de mim, não posso abandoná-los só pra recuperar uma amizade, se Isawa vencer essa guerra todos pagarão caro mas se ela perder eu serei a única a lamentar a morte dela.

- Pois se eu estivesse no seu lugar eu esqueceria esse povo idiota e pensaria só em mim, seria egoísta e tentaria ser feliz com minha melhor e única amiga.

 

Menefer achava as idéias da fada muito absurdas ao mesmo tempo que engraçadas, tratou de afastar esses pensamentos da cabeça e notou uma estranha movimentação na cidade, uma grande grupo de soldados estava deixando a cidade montados em corcéis que emitiam chamas de suas patas, eram as montarias mais rápidas do reino e são reservados só para a guarda pessoal do faraó.

Sentindo que algo muito errado estava acontecendo ela tratou de fazer suas asas aparecerem e vôo direto pra sala do trono da pirâmide, foi ao encontro do seu pai e o encontrou junto com 3 capitães.

 

- o que aconteceu meu pai? Eu vi vários soldados saindo da cidade com nossos corcéis de fogo!

- 100 soldados e um capitão roubaram os corcéis e fugiram da cidade – respondeu um dos capitães – aparentemente se revoltaram com algo.

- Meu Oreades é a única criatura aqui tão rápido quanto os corcéis, vou atrás deles imediatamente!

 

Ela mal teve tempo de dar as costas pra todos quando ouviu seu pai bater o cetro no chão, significava que ele exigia a atenção dela.

 

- Preciso falar com você Menefer, os outros saiam e organizem uma equipe de perseguição, quero meus corcéis de volta.

 

Os três capitães fizeram reverencia e saíram, Menefer se ajoelhou diante do pai que mais uma vez sentou em seu trono.

 

- Aqueles soldados abriram mão dos seus postos e por iniciativa própria foram caçar aquela criatura sombria – explicou o faraó.

- Mas eles não podem fazer isso! Khalmyr deixou explicitamente proibido que...

- Qualquer autoridade ou aqueles que servem essas autoridades levantem a mão contra ela – continuou ele – mas eu não dei nenhuma ordem a eles, e agora eles são cidadãos comuns.

- Então eles estão se aproveitando de uma brecha pra infligir a regra! Vão manchar nossa honra!

- Eles vão é salvar nossa honra! – gritou o faraó – eles estão dispostos a se sacrificarem por nós, sabem que serão executados quando voltarem e pretendem cumprir sua missão mesmo assim!

- Mas meu pai, é assim que agem os covardes e traiçoeiros, se escondem e atacam de surpresa, permitir que eles façam o que querem é uma desonra sem tamanho.

- O que você pretende fazer? – perguntou ele ao notar que ela parecia revoltada.

- Vou trazê-los de volta antes que façam uma besteira.

- Você tem outras coisas com que se preocupar – avisou ele – recebemos a noticia que o grupo enviado pra caçar o dragão do deserto foi quase completamente dizimado, quero que vá resgatá-los pessoalmente, leve quem achar necessário.

 

Essa noticia abalou Menefer profundamente, nesse grupo Naziah era um dos oficiais enviados, se o grupo não conseguia retornar é por que tinham muitos feridos e estavam incapacitados, o dragão do deserto só atacava de dia e provavelmente barrava o retorno deles.

 

- Eu vou resgatá-los pai, voltarei o mais rápido possível.

 

Ela saiu rapidamente, não pretendia levar ninguém mais com ela pra poupar tempo e quando estava no corredor chamou Dalap.

 

- Quero que você acompanhe o grupo que vai perseguir os soldados rebeldes – pediu Menefer.

- Mas por que isso?

- Quero saber o mais rápido possível sobre qualquer coisa que aconteça, não posso mais confiar no meu pai.

- Então os vigiarei de perto! – informou a fada – se algo acontecer voltarei o mais rápido possível.

 

A fada desapareceu dentro das chamas, viajar através das chamas era um dom dela que lhe custava caro, porem Dalap cumpriria as ordens de sua mestra de qualquer forma.

Na sala do trono o faraó parecia irritado com algo, sua frustração era não poder enviar reforços pro soldados que bravamente abriram mão de sua gloria pra cumprir uma tarefa que sua filha deveria ter cumprido a muito tempo.

 

- A princesa Menefer parece muito envolvida nesse assunto – comentou um homem saindo de um canto.

- Foi um erro permitir que Menefer tivesse contato com um ser das trevas, ela foi envenenada por aquela monstro.

- Tivemos muita sorte que aqueles soldados decidiram fazer isso, com certeza eles conseguirão matar a desgraçada!

- Só é lamentável que tenhamos que executa-los depois disso – comentou o faraó pro seu conselheiro – mas eles estavam cientes das conseqüências.

- Se possível espero que o grupo de busca consiga trazer o cadáver dela – disse o conselheiro antes de deixar o salão.

 

Enquanto percorria os corredores o conselheiro sorria satisfeito, a cada passo que ele dava sua aparência mudava gradativamente e no final ele estava com sua verdadeira forma: um homem serpente que rastejava sobre sua cauda, em meio a sua face de serpente naja um sorriso maldoso se formou por ter cumprido a ordem dada por seu glorioso deus Sszzas.

 

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Isawa e seus amigos já deixavam a cidade que lhes acolheu bem, se dependesse dela ficaria por ali mesmo levando uma vida pacifica, e imaginando se quando voltasse a ser uma princesa ela poderia fazer algo por eles ela notou que o sol finalmente se pôs.

 

- Pronto, podemos parar de andar e finalmente viajar de forma decente – disse Daneth.

- Você fala isso por que sou eu que carrega todos vocês! – reclamou Vulthar.

- Quando arranjarmos outra montaria voadora eu deixo você descansar – avisou Isawa – agora pare de enrolar e trate de crescer!

 

Mesmo a contragosto Vulthar já ia fazer sua parte quando todos escutaram uma movimentação da mata, logo em seguida vários homens apareceram e encaravam o grupo com deboche e risos maléficos.

 

- Olha só! Que grupinho curioso – comentou um dos homens do bando.

- Nossas primeiras vitimas dessa região – disse outro.

- Quem são esses idiotas? – perguntou Isawa irritada com a intromissão deles.

- Pelo jeito mau encarado deles eu diria que são bandidos viajantes – explicou Daneth – e do tipo que não toma banho com muita freqüência.

 

Os homens pensaram em avançar sobre o grupo, mas do meio deles saiu uma pessoa completamente diferente, uma pessoa com pele vermelha, chifres, asas e seus braços e pernas eram escamosos e possuía garras afiadas, parecia um demônio.

 

- Hei chefe! – disse um dos que estavam na frente – encontramos umas presas interessantes.

- Eu estou vendo – respondeu aquele chamado de chefe – dinheiro, comida e diversão tudo num lugar só – ele tinha um sorriso diabólico no rosto.

 

Logo ficou evidente que o bando pretendia atacar a cidade próxima, Isawa se sentiu enojada pelas atitudes deles mas aquele de pele vermelha lhe chamava a atenção, por algum motivo o cheiro dele a agradava.

 

- Matem os outros, mas deixem a graçinha do meio inteira, vou me divertir com ela essa noite.

- Fala serio! Por que eu só encontro idiotas que querem me levar pra cama? – reclamou Isawa sabendo que era dela que ele falava.

- Talvez por que você tem essa bundinha gostosa e ta usando uma calça de couro apertadinha – analisou Vulthar adorando a situação.

- E de quem é a culpa por esquecerem de botar minhas roupas na nova mochila? – reclamou ela alheia a situação – sai de Daí-lung só com a roupa do corpo!

- Será que dá pra prestar atenção aqui? – reclamou o chefe do bando – estamos prestes a matar vocês sabiam?

- Vá pra puta que pariu seu desgraçado! – gritou Isawa – e vá tirando o cavalinho da chuva se pensa que vou deixar você estragar aquela cidade logo ali!

- Minha princesa deseja acabar com eles? – perguntou Turok já segurando o cabo do grande machado.

- Por mim eles podem ir direto pro inferno, aquele ali já parece o capeta! – isso foi um “sim” na língua de Isawa.

- O que diabos ela ta pensando?!! – reclamou um do bando – o chefe Fou nem precisa fazer nada! Nós cuidamos deles!

 

O bando investiu todo de uma vez sobre o grupo de Isawa que se preparou imediatamente pra contra-atacar, o primeiro foi Turok que com um golpe horizontal estilo “arrastão” matou os 5 primeiros e feriu gravemente outro, Daneth tratou de afastar Karin da batalha colocando-a ao lado de Vulthar e depois voltou pra ajudar Isawa que já sacava sua espada e se defendia do golpe de um dos bandidos.

 

- hei Turok-san, da próxima vez tente evitar espalhar as tripas deles pelo chão – pediu Isawa meio enjoada com a cena – eu ainda não estou familiarizada com carnificinas.

- Como desejar minha princesa – respondeu ele enquanto se livrava de dois bandidos que literalmente se jogaram em cima dele.

- A próxima coisa que vamos ensinar a ele é o significado do sarcasmo – comentou Daneth ajudando Isawa a derrubar mais um bandido.

 

A essa altura 8 bandidos estavam mortos e mais 8 estavam feridos, isso significava quase a metade do bando que planejava investir contra uma cidade quase indefesa e agora lidavam com uma perda grande demais, os restantes recuaram quando mais um deles caiu, dessa vez vitima da lamina acida de Isawa que corroia o ferimento e mostrava as entranha do falecido criminoso.

 

- Essa espada é muito interessante – comentou o líder dando um passo a frente – parece que ela é feita com ossos ou dentes de um dragão.

- Quer vim aqui da uma olhada de perto? – convidou Isawa brandindo a arma na direção dele – se quiser vai ter que tirar de mim.

- Eu já tenho uma – respondeu ele exibindo a arma que estava amarrada nas costas – matei meu pai e fiz uma espada com o dente dele, ela queima que é uma beleza!

 

Quando ele mostrou a espada curva a lamina começou a pegar fogo como se fosse um maçarico, isso preocupou um pouco Isawa.

 

- Ele é um meio-dragão senhorita – avisou Daneth – um meio-dragão vermelho ligado ao elemento fogo.

- Mas por que ele é tão diferente de mim? – perguntou ela.

- Nem todos os meio-dragões nascem como você, a maioria deles nascem mais parecidos com seus pais dragões do que com humanos.

- Então você é como eu? – perguntou Fou irritado – bem que eu estava sentindo seu fedor, mas achei que vinha da espada e da armadura, pelo jeito você é um meio-dragão das trevas não é?

 

Ele parecia mais irritado ainda, descontou sua raiva numa arvore próxima cortando-a com a espada, logo em seguida o lugar queimado pegou fogo.

 

- Você é uma daquelas sortudas que nascem parecendo gente não é? – reclamou ele – fica escondendo sua verdadeira cara com essa mascara de humana!

Isawa sentiu uma magoa profunda vindo dele, as acusações dele por algum motivo doíam nela.

 

- Não me culpe pelos seus problemas! – reclamou ela – se não está satisfeito com sua aparência então não aja como um bicho raivoso, pelo menos tente parecer gente!

 

Fou não se segurou mais a atacou rapidamente, Isawa quase não consegue bloquear o ataque.

 

- Fique longe da minha princesa! – exigiu Turok.

- Fique fora disso! – pediu Isawa desferindo um golpe contar Fou – eu vou cuidar disso sozinha!

 

Mesmo achando que não era uma boa idéia Turok acatou a ordem, limitou-se a vigiar os bandidos restantes para que não interferissem, embora eles pareciam ter medo de sequer chegar perto da luta.

E a luta entre os dois dracônicos estava violenta, Isawa estava tendo trabalho pra conter os golpes do oponente e agradecia internamente que sua armadura de escamas era resistente por que ele já havia acertado vários golpes cortando apenas as escamas, por outro lado Isawa se acostumava pouco a pouco com a luta e sua força e velocidade aumentava gradativamente, aparentemente seus instintos de dragão se aprimorava a medida que ela lutava.

 

- “Se eu não puder derrotá-lo com minha própria força eu não poderei fazer nada mais pra frente” – pensava ela enquanto lutava – “tenho que pelo menos proteger aquela cidade!”.

 

Isawa acertava um ou dois golpes no oponente que recuava cada vez que era cortado, pra sorte dele o acido não era tão eficaz em sua pele resistente e o ferimento não crescia muito, mas mesmo assim ele estava espantado, imaginou que ela era fraca por ser mais humana do que dragão e pensou que não teria problemas nessa luta, mas quando um golpe passou próximo ao seu pescoço percebeu que de fraca ela não tinha nada.

 

- Eu ouvir dizer que os do seu tipo se transformam quando estão em perigo – comentou ele – significa que é mentira ou eu não sou uma ameaça grande o suficiente?

- Significa que vou quebrar sua cara sendo humana mesmo! – respondeu ela altiva – eu prefiro mil vezes ser humana do que ser um monstro como você!

- Acha que escolhi nascer assim? – gritou ele – se eu pudesse teria nascido como você! Mas ao contrario eu nasci como uma aberração e fui rejeitado tanto pela minha mãe como pelo meu pai!

- E por causa disso decidiu descontar nos outros essa raiva! Você só está agindo como um monstro de verdade! Você é um dragão tanto por dentro como por fora!

 

Cansado de ouvir sermão ele atacou Isawa novamente, ela revidou da mesma forma e ambos se atacaram simultaneamente, a espada de Fou acertou Isawa na lateral do corpo e só não a feriu gravemente por causa da armadura, Fou no entanto não teve muita sorte: a espada de Isawa se cravou profundamente em seu ombro direito e o acido começou a corroer seus músculos, ambos caíram no chão sangrando.

 

- Vamos pegar essa desgraçada! – gritou um homem do bando.

Quando eles avançaram não viram que Vulthar já se transformara e abocanhava um deles enquanto esmagava outro com a cauda, aterrorizados pela aparição de um monstro gigante e sem seu chefe pra salva-los todos os outros fugiram.

 

- Não faça isso de novo Vulthar – pediu Daneth – olha só como a pequena Karin ficou.

 

A menina que estava protegida por algumas arvores vomitava ao ver a cena de um homem sendo engolido inteiro pela cobra, o bardo tentava evitar que a menina visse os restos dos bandidos mortos que estavam num péssimo estado.

 

- Essa armadura é feita com as escamas do meu pai – disse Isawa se levantando devagar – ele se transformou numa arma e armadura pra me proteger mesmo depois de morto, agradeço a ele sempre mas não quero ser como ele, quero ser humana, se não for possível fisicamente pelo menos na alma.

- Você tem sorte – disse ele atordoado pela dor – quando nasci só tinha a minha mãe, ela tentou me criar mas no final desistiu de ter um filho monstruoso e me deixou na entrada do covil do meu pai, ele só me deixou viver por que achou que seria bom ter um escravo, quando encontrei uma chance matei o desgraçado e fiz uma espada com seu dente, desde então vivo por conta própria.

- Você escolheu ser um monstro por que sua mãe lhe tratou como um, mas eu também tenho muitos motivos pra pirar e dar uma de monstro furioso.

- Eu não to interessado em saber disso, acabe logo comigo e me deixe em paz.

- Que tal se eu te deixar viver e você me ajudar em troca? Eu to precisando de alguém que me ensine sobre esses poderes e você é uma boa opção.

- Mas justamente ele minha princesa? – Turok parecia indignado – o Shinmon pode lhe ensinar isso também.

- E se ele não puder? E se ele não quiser? Eu preciso da ajuda dele por que qualquer ajuda é bem vinda nessa guerra, mas eu preferiria ter como professor alguém que possa me entender.

- Mas afinal quem diabos é você? – questionou Fou curioso.

- Eu ainda nem me apresentei né? Meu nome é Isawa, sou filha da rainha Kyara e do dragão Zariesk e dona desse país.

 

Ao ouvir isso Fou começou a gargalhar sem parar, ninguém entendeu o motivo e se perguntavam qual era a piada.

 

- Isso significa que aceita o convite? – perguntou ela.

- O meu pai lutou com o seu a mais de 20 anos atrás! – explicou ele – ele sobreviveu mas ficou todo arrombado, graças a isso eu conseguir matar o bastardo enquanto se recuperava!

- 20 anos? Quantos anos você tem? – perguntou ela sem entender.

- Eu tenho 50 anos – respondeu ele – fui abandonado pela minha mãe com 10 e fique o resto desse tempo sendo escravo do meu pai, os últimos 20 anos foram os mais felizes que tive graças ao Zariesk.

- Mas você parece um adolescente! Assim como eu!

- Meio-dragões envelhecem 3 vezes mais devagar que um humano – explicou Vulthar – e normalmente vivem 5 vezes mais que um humano.

- E quando pretendia me contar sobre isso? Alias por que eu cresci normalmente?

- Por que seu sangue de dragão estava tão adormecido que você não manifestou nenhum poder até aquele dia, e só não contei por que achei que você gostaria da surpresa de comemorar 60 anos com corpinho de 20.

 

Imaginem a cena de Isawa tentando esganar uma cobra ao mesmo tempo em que essa cobra se enrolava em seu pescoço pra fazer a mesma coisa, a essa altura Karin já ajudava Fou a se levantar, tratando-o como um amigo.

 

- Vocês são bem esquisitos – comentou ele.

- Bem vindo ao time – cumprimentou Daneth.

- Vou ficar de olho em você bandidinho, se fizer uma graçinha corto sua cabeça fora! – ameaçou Turok.

- Quer brigar é? Cai dentro! – Fou estava tão ousado quanto antes.

 

Isawa usou o cabo da espada pra acertar a barriga dos dois que se curvaram de dor, Fou muito mais que Turok, logo ela encarava os dois.

 

- Turok-san, se ele vai viajar conosco não precisa tratá-lo dessa maneira.

- Como quiser minha princesa – disse ele se levantando.

- E você seu delinqüente! Se voltar a insinuar que vai me fuder eu corto fora seu pau e ficarei assistindo sua bolas derreterem!

 

Enquanto ela ajudava Karin a guardar as coisa pra viajarem Fou encarava ela de longe, com uma cara de quem não entendia nada ele se voltou pra Turok.

 

- Ela é sempre assim? – perguntou Fou totalmente assustado.

- Ela está “naqueles dias” – respondeu Turok enquanto pegava sua própria mochila.

 

Fazendo uma expressão de “agora eu entendi” Fou se juntou ao grupo, ninguém sabia bem como isso aconteceu e nem davam muita importância a esse detalhe.

 

 

Continua.


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Notas finais do capítulo

creio que esse cap tenha sido agradavel né?
eu postarei hoje no orkut a imagem desse novo personagem e tambem da fada Dalap, confiram aqui:

http://www.orkut.com.br/Main#Album.aspx?uid=642106685910403565&aid=1237541489