Alice

Saio correndo pra o mesmo lugar que o Harry me levou pra fugirmos do professor. Lembro que ele disse que ninguém ia ali. Então seria um ótimo lugar pra pensar. Certo, eu detesto cemitério, mas do jeito que eu estava, chorar em um cemitério não ia me abalar em nada. Paro de correr e começo a andar lentamente, sem pressa. Caminho pela grama amarelada e paro com a mão no bolso do moletom. Olho para o cemitério que estava um pouco a frente. Hoje estava frio, porém estava ensolarado, o que não deixava o cemitério tão macabro. Cerro os olhos e sinto um arrepio no braço só de pensar em ir pra lá. Dou de ombros. Não vai fazer mal se eu ficar só na grama amarelada, não é? Suspiro. Realmente não tinha entendido ainda porque fiquei tão mal com as palavras dele. A verdadeira Alice não deveria se importar nem um pouco. Principalmente porque é o Harry. Eu não o suporto. Certo? Não. Não está certo. A verdade é que eu sinto falta. Pouco tempo que brigamos e eu sinto falta. Coisa que pensei que nunca sentiria dele. E se eu já estivesse acostumada com ele me abusando ou fazendo piadinhas e dando em cima de mim? Péssimo. Péssimo porque eu sinto realmente falta disso. Sério Alice? Você está mesmo sentindo falta disso? Penso. Tenho provas, pois se não eu não ficaria tão mal e principalmente não sentiria um vazio no peito. Será que ele sente a mesma coisa? Não. Harry é... Não sei. Ele não me parece sentir falta. Mas o pior? É que ele me viu chorando. Certo, todo mundo chora, mas o meu medo é justamente esse, dele não sentir nada. Porque se não eu sou a única otária que está assim.

Respiro fundo. Quando eu decido sentar na pedra, escuto barulhos de alguém andando. Barulho de calça passando pela grama. A grama mal cortada e amarelada. Engulo em seco. Confesso que o medo me dominou, aliás, estou em frente a um cemitério. Viro devagar com a cabeça baixa e percebo que estou nervosa, minhas mãos tremiam. Nossa Alice, como você é medrosa. Penso comigo mesma. Ouço a grama passar pela calça da tal pessoa ou sei lá o que. Decido olhar e lentamente levanto a cabeça. Ele. Ele estava andando em minha direção com a mão no bolso. Meu coração, por algum motivo, dispara. Sua expressão estava triste e ele não parecia muito bem. Continuo nervosa. A ideia de pensar em me desculpar, me assustava um pouco. Ter orgulho em excesso é uma grande bosta.

– Pensei que havia dito que não gostava de cemitérios. - Harry fala quando para em minha frente, poucos centímetros de mim. Não falo nada, apenas fico olhando em seus olhos. Procuro por respostas. Ele me seguiu? Ele veio aqui pra pensar? Ele estava mesmo triste como parecia?

– Brigamos faz 2 dias, mas parece uma eternidade. - ele fala chegando mais perto. Percebo que deixei de ficar um pouco nervosa. Consigo controlar minha respiração, minhas mãos não tremiam mais, porém meu coração ainda estava acelerado. Meu nariz ardia por prender o choro desde que cheguei aqui. Mas assim que Harry me viu daquele jeito, tentei prometer a mim mesma que não ia chorar.

– Eu... Sinto sua falta. Sinto muito sua falta, principalmente de você me xingando e me batendo e eu não sei porque eu tô assim, eu... - ele para de falar quando eu o abraço forte. Deixo uma lágrima cair ignorando minha promessa ridícula. Que ser humano aguentaria em minha situação? Ele disse que sentiu minha falta! Primeiro ele fica surpreso, mas depois me abraça. Me abraça como se eu fosse algo que ele jamais poderia soltar. Jamais poderia deixar cair. Levo minha mão direita a sua nuca, aperto a mesma pra que ele saiba que esta tudo bem. Tudo bem entre nós.

Me afasto só um pouco dele. Ele fica parado com a boca entreaberta olhando somente pra meu rosto. Eu coro. Sinto aquela mesma lágrima escorregar pelas maçãs do meu rosto que provavelmente estariam avermelhadas. Franzo o cenho. Porque ele estava me olhando assim?

– O que foi? - pergunto confusa.

– V-ocê... Voc-cê ta chorando... - ele fala gaguejando

– Hã... Só foi uma lágrima e, aliás, você nunca viu ninguém chorar não Harold? - ele passa o polegar na maçã do meu rosto limpando a lágrima, ignorando minha pergunta.

– Eu...

– Você?

– Eu nunca me senti assim. - ele fala se aproximando ainda mais, deixando o seu corpo quase colado no meu. Permaneço parada, nem ao menos tento me afastar. O que antes eu faria, mas é reconfortante ele perto de mim. Me sinto segura como se... Como se ele não fosse me abandonar.

Espera, porque eu pensei desse jeito? Eu ando ficando meio estranha.

– Assim como? - pergunto quase sussurrando, por estarmos tão perto um do outro.

– Mal. Mal por vê-la chorando, quer dizer, não só agora, mas antes. Quando eu a vi chorando eu fiquei meio em choque. Pensei comigo mesmo: sou o motivo das suas lágrimas? Eu provoquei isso? Foram minhas palavras? Eu... Eu só não deveria me sentir mal, o antigo Harry não se importaria, mas com você... Com você é diferente. Tudo com você é diferente. Ainda procuro respostas pra essa reação minha, mas eu só sei que eu jamais quero vê-la chorando novamente, muito menos se eu for o motivo das lágrimas. Eu não acredito que vou falar isso agora, mas... Me... Me desculpa. - ele fala soltando o ar pesadamente e na mesma hora eu sorrio. Isso foi tão, lindo.

– Me desculpa você, eu nem deveria ter falado aquilo da... - tento falar, mas ele põe o dedo indicador em meus lábios.

– Não. Eu sou o estúpido aqui, me desculpa mesmo eu só sei que não quero mais ficar nessa situação com você.

– Promete então que não vai mais brigar comigo? - pergunto fazendo bico e ele sorri.

– Prometo amor.

– Amor não.

– Tá bom amor. - nós rimos e eu o abraço novamente.

– Tem coisas que quero te contar. - ele fala depois que nos abraçamos.

– Conta então.

Ele começa a me contar tudo, desde a parte em que fica bêbado, a dificuldade de achar a garrafa de vodka e quando a Larissa entra no quarto pra fazer certas coisas que ele adoraria, mas por algum motivo que não quis me contar, ele a botou pra fora do quarto. Dou risada no final, bem feito pra essa vadia. O que ela pensa indo no quarto do Harold?

– Ela é uma vadia mesmo hein, entrou no seu quarto pra fazer essas putarias que só as profissionais fazem. E alias, porque você beijou ela, posso saber? – pergunto com a mão na cintura e ele sorri com maldade.

– Ta com ciúmes é Alice? Liga não. Botei ela pra fora, porque naquele quarto agora só quem vai entrar pra dormir comigo vai ser você. – ele pisca, eu finjo me sentir ofendida e dou um tapa em seu braço. Ele passa a mão por cima e da risada. – Tudo bem, eu senti falta disso. Mas agora sério... preciso te contar outra coisa.

– Que coisa?

– É que... hum... Desde um tempo eu venho percebendo coisas diferentes... Coisas que eu já havia sentindo, mas só.. só uma vez é...

– Para de enrolar Harold fala logo!

– Não! Isso exigi concentração, então por favor. – ele faz bico e eu reviro os olhos – Eu conversei com o Zayn e ele me disse uma coisa que eu deveria ter me tocado a um bom tempo, e acho que não devo errar novamente, então é melhor falar logo...

– Fala o que? – pergunto confusa

– Eu... Eu tô...

– AH! VOCÊS ESTÃO AI NÉ! DIREÇÃO, AGORA! – uma funcionária rabugenta chega gritando atrapalhando o que Harry ia falar, logo agora que fiquei muito curiosa. Respiro fundo me controlando pra não responder essa velhota. Olho pra o Harry e ele revira os olhos demonstrando que ficou com raiva dela também. Bom, mais tarde ele me conta. Agora teríamos que dar um desculpa por faltar aula.