Born To Be Together escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 7
Jodelle e Gale




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{15 de setembro de 2000}

Eu estava fraca. Minhas pernas tremiam, assim como todo o corpo. Eu estava magra, muito magra. Podia contar todas as minhas costelas, observar meus ossos como eram realmente. Eu me sentia magra. Podia sentir as gramas se perdendo, o estômago roncando.

Tudo aquilo ainda me assustava. Como aquele homem perfeitamente simpático e bondoso me surpreendeu depois de me adotar. Ficamos meses em paz, três meses em paz completa. Foi quando eu o vi, sem querer, na sala com um outro cara, falando sobre seu movimento no tráfico. O homem falhou, disse apenas algo errado, uma informação negativa. Ele se irritou. Ele pegou a arma. Ele o matou. Novamente uma pessoa morria diante de meus olhos. Meu “novo pai” percebeu minha presença e me seguiu, prendendo-me no quarto e me batendo, mais do que alguém jamais havia me batido. Na primeira chance eu fugi, assim como fugi dos assassinos de minha mãe. Porém desta vez jurei a mim mesma que jamais alguém iria me encontrar, me levar para qualquer lugar que diziam ser melhor.

Agora, meses depois, eu estava mais parecida com um esqueleto de estudos científicos do que com uma menina de 5 anos. A chuva caía sobre mim, me deixando pior ainda. A fome praticamente me matava, mas eu não reclamaria se acabasse mesmo morrendo. Não tinha mais ninguém nessa vida, pra que continuar insistindo?

Continuei simplesmente andando. A chuva caindo sobre mim. Meus ossos e membros tremendo. Eu não iria aguentar mais, não dessa vez…

{15 de setembro de 2000}

O movimento se tornou grande de repente. Saí de dentro do meu chalé logo atrás de Jodie. Iam todos em direção à entrada do acampamento. Troquei olhares com minha irmã e ficou óbvio nosso pensamento, e claro que concordávamos um com o outro. A curiosidade era grande demais para nos segurar ali.

Seguimos todos tomando cuidado para não sermos atropelados, afinal, éramos pequenos, e era bem provável que não nos vissem ali até nos sentirem sob seus pés ou esbarrando em suas pernas.

Chegando lá, pude ver um aglomerado de pessoas. Maravilha. Com minha irmã ao meu lado, fui abrindo caminho por entre as pernas das pessoas até que enfim, chegamos ao centro de tudo. Bem, não exatamente ao centro, pois ainda havia uma perna a minha frente mas pude mesmo assim ver o que chamava tanto a atenção das pessoas.

Era uma menina. Deveria ter a minha idade ou apenas um ano a mais. Magra, mortalmente magra. Os cabelos eram negros e começavam a ser longos. Bagunçados, despenteados. Podia sentir seu cheiro, e sabia que fazia um bom tempo que não tomava banho. Sua pele era tão clara que até me assustei um pouco. Mas mesmo assim, era bonita, deveria admitir, mesmo naquela idade.

Ela estava caída sobre um monte de folhas secas, do lado de fora dos limites do acampamento, onde a chuva caía. Todos a olhavam, com expectativa de que se levantasse e caminhasse para nós, ou que simplesmente desse sinal de vida. Mesmo nunca a tendo visto, nós apenas esperávamos pela sua vida.

Um campista mais velho enfim tomou frente e a trouxe para dentro. Ela passou sem problemas. Era uma de nós. Novamente caiu no chão, com folhas espalhadas pelo seu cabelo e suas roupas. Todos puxaram o ar e um silêncio mortal se fez.

E então ela abriu os olhos. Os olhos mais chocantes que já havia visto. Acho que jamais veria olhos daquele tom de azul novamente, olhos que apesar de toda a fraqueza do corpo, mantinham-se e mostravam-se vivos. Ela olhou em volta, assustada com a quantidade de pessoas e com o lugar.

E seus olhos enfim pararam em mim. Ela virou a cabeça para o lado completamente, olhando-me sem ser discreta. Fui um pouco para trás da perna do campista, mas não tirei os olhos dela.

Quíron enfim apareceu. Os campistas pareceram acordar de um transe e ajudaram a deixá-la de pé. Ela pareceu querer chorar, se soltar de nós. Ele apenas disse:

– Acalme-se, pequena. Acalme-se. Não vamos te machucar, eu prometo. Não vamos te machucar.

Ela tentou engolir as lágrimas, mas elas caíram sobre seu rosto e ela começou a soluçar. Colocaram-na sobre a parte animal de Quíron e a levaram para que tratassem dos ferimentos, e da fraqueza.

E aos poucos, cada um foi voltando a sua atividade matinal, exceto eu, que continuei parado, olhando para a direção que seguiram, com Jodie ao meu lado.


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