Born To Be Together escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 13
Gale e Jodie




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{30 de junho de 2007}

Coisas estavam acontecendo por aqui, coisas nada boas. Sátiros, ninfas e até alguns semideuses estavam aparecendo mortos aqui e ali. Não só mortos, mas os sinais de tortura eram claros. Alguns eram despedaçados, outros ficavam com os órgãos à vista, alguns com milhares de cortes pelo corpo. Sátiros não ficavam com os corpos ali, mas viravam uma planta, e o número de plantas em um local cheio de sangue estava grande. Já as ninfas, bem, uma quantidade considerável de árvores estavam morrendo. Todos estavam em alerta. Já haviam percebido que a maioria dos ataques acontecia pela noite, portanto, ninguém mais estava autorizado a andar pelo acampamento de noite, pelo menos não sozinho. Deveríamos estar todos no mínimo em um trio ou quarteto.

Eu estava preocupada com meu irmão e meus amigos claramente. Gale estava começando a treinar até ao anoitecer, e sempre que eu via o pôr-do-sol e ele ainda não voltava, começava a me dar um aperto no coração. Mas eu sabia que quase sempre os amigos dele estavam por perto, e nessas horas de aflição era quando Jodelle e Sorciére passavam por perto de mim. E então ele voltava e toda a preocupação e o aperto por dentro sumiam, e mesmo parecendo emocional demais, eu corria até ele e o abraçava forte.

Gale já estava ficando rápido nos movimentos e forte, pois treinava todo dia e por um bom tempo. Acordava, dava um aquecimento básico dando uma corrida por aí ou jogando vôlei com alguns, almoçava e ficava treinando até a hora do jantar.

Eu estava no chalé, olhando pela janela, observando o princípio do pôr-do-sol. Gale ainda não havia voltado, e comecei a sentir um frio na barriga. Respirei fundo. Eu não podia mais ficar até a hora que ele voltasse sofrendo assim, então, decidi ir até onde ele estava. Levantei-me, arrumando um pouco o cabelo e as roupas, e saí do chalé em trote, tentando ir rápido mas não me cansar demais.

E então cheguei ao local do treino. Lá estava ele com mais dois campistas mais velhos. Ele conseguia atacar e defender com facilidade, sem ser desarmado ou atingido no corpo, apenas alguns arranhões. Todo o seu corpo estava encharcado de suor, o rosto vermelho e a respiração ofegante. Um sorriso surgiu em meu rosto. Ele estava bem, e como.

Decidi me sentar ali e apenas observar o treino. Uma leve brisa passou e meus cabelos se mexeram de leve. Fechei os olhos, respirei fundo e os abri novamente. Ouvi alguns passos perto de mim mas não olhei, continuei com a atenção no treino. Mas então a pessoa pareceu tropeçar em mim, mas foi um tropeço muito bem feito, muito bem calculado, e acabei levando na verdade um chute na costela e caí de lado no chão. Levantei os olhos, para encontra os de Amber, me olhando como se ela fosse um lobo e eu, um pedaço de carne fresco e suculento. Um pequeno sorriso sombrio estava em seu rosto.

- Opa - ela falou em deboche. - Não te vi.

Ela passou as mãos pela jaqueta, e eu jurava ter visto algo brilhante em um bolso interno, como uma lâmina, e entendi a ameaça.

- Só não fique mais no caminho. Entendeu? E talvez… Eu até não seja tão má com você - ela sorriu. - Até logo.

Fechei a cara e continuei encarando-a até que fosse embora e sumisse de vista. Bufei e levantei a blusa para ver como estava onde levei o chute. Estava vermelho e dolorido, e mais tarde, eu saberia que ficaria um enorme roxo. Cerrei os dentes e olhei na direção que ela foi.

- Maldita! - murmurei.

Tentei prestar atenção no treino novamente e ignorar a dor, mas pude ver que Gale tentava me olhar quando tinha uma brecha. Ele havia visto e estava preocupado. Fiz um simples sinal de “não foi nada” e esperei que voltasse a atenção para os golpes.

- Ele treina bem - disse uma voz.

Virei-me assustada em um salto e pude ver Jodelle parada de pé atrás de mim, de braços cruzados. Sorciére estava ao lado dela. Ela havia crescido bastante nesse ano conosco, até mais rápido do que eu e Jodelle. Já meu irmão estava entrando na fase em que os meninos crescem mais rápido do que mágica.

- Não chegue assim de repente! - disse dando um tapa em sua perna e ela apenas riu. - Quase morri de susto! - olhei para a pequena. - Oi, Sorci.

- Oi - respondeu se sentando.

Jodelle se sentou ao meu lado e cruzou as pernas, observando o treino como se fosse um jogo de basquete ou de beisebol.

- Eu vi o que aconteceu - disse de repente, chamando minha atenção. - Ela é uma vaca, mas não a deixe te tratar assim. Você não é um lixo pra isso.

Suspirei.

- Ela age assim desde o ano passado, quando por acidente joguei um travesseiro na cara dela… Admito, foi engraçado - ri.

- Eu repetiria mil vezes - disse ela rindo.

Então paramos e nos ajeitamos, olhando para lá novamente. Jodelle arrumou uma mecha atrás da orelha e fez aquele olhar observando o treino. O mesmo de anos atrás, quando a pequena garota esquelética apareceu, entrou e encontrou meu irmão em meio à multidão. E assim como na primeira vez, esse olhar chamou o dele, que não esperou brecha para olhar, mas o fez em um momento qualquer e não voltou mais à luta. Seu rosto parecia ficar ainda mais vermelho e ele estava sem jeito, dava para ver.

Foi quando foi atingido e caiu no chão, e os outros dois mandaram sua espada para longe.

- Finalmente desarmamos! - gritou um deles com os braços abertos para o alto. - Obrigado, deuses!

- Eu me distraí! Não valeu! - revidou Gale.

Os outros dois começaram a rir e negar, comemorando a vitória. Gale voltou seu olhar para a nossa direção, encontrando os olhos dela novamente. Ela apenas deu um sorriso enigmático e se levantou, com a pequena fazendo o mesmo e foi embora acenando para mim.

{30 de junho de 2007}

- Admita - dizia Jodie.

- Admitir o que? - perguntei perdendo a paciência.

- Você sabe muito bem o que, espertinho, não se faça de desentendido.

Revirei os olhos e continuei arrumando algumas das minhas coisas. Jodie se sentou de frente para mim e ficou me encarando.

- O que é que você quer?! - perguntei quase gritando.

Ela deu um pequeno sorriso.

- Você gosta dela. Admita de uma vez. Está claro para todo mundo. Sempre esteve. Desde aquela primeira vez que ela te olhou.

Fiquei um tempo em silêncio, tentando ignorá-la, mas seria difícil. Também porque não tinha uma resposta pronta e não queria que ela me olhasse diretamente e tinha um porque, mas ela percebeu.

- Você está ficando vermelho - disse em meio de risos.

- Se você tem tanta certeza, por que preciso dizer isso?

- Porque quero ouvir sua voz nesse chamado pro seu amor que está gritando dentro de você! Quero sentir o gostinho de ter vencido, é claro. E quero ouvir isso saindo dos seus lábios.

Fiquei olhando-a e apenas ri.

- Vá arrumar o que fazer.

Ela franziu o cenho e bufou. Pegou uma de minhas roupas no chão, fez uma bola e jogou em mim antes de sair do chalé, dizendo:

- Não adianta negar! Eu sei que gosta dela! Você a quer para ficar abraçando e beijando e perto de você pra te consolar do jeito que chora feito menininha quando tem pesadelo.

Não, ela não disse isso, não pode ser. Assim que terminou a frase, peguei um sapato e joguei na direção da porta. Jodie foi mais rápida e fechou a tempo, já do lado de fora.

- Idiota! - gritei.

[…]

Todos estavam dormindo no chalé. Só eu era quem estava acordado, sentado na cama. Uma pequena corda estava em minhas mãos, enquanto me distraía fazendo nós. Direita, esquerda, direita, esquerda, repetia em minha mente.

O que Jodie disse para mim no fim da tarde estava em minha cabeça. Dei uma pausa nos nós e levantei a cabeça, olhando em uma das camas que haviam do outro lado do chalé. Lá era onde Jodelle dormia profundamente. A luz da lua passava pela janela bem na cama dela e iluminava palidamente seu corpo. Os cabelos presos em duas tranças, mas ainda assim um pouco bagunçados sobre o rosto.

Suspirei. Era estranho admitir isso depois de como o assunto entrou em discussão, mas… Jodie estava certa. Jamais esteve tão certa na vida. Desde aquele dia, naquela troca de olhares… Eu senti uma ligação desde aquele momento, mesmo sendo tão pequeno. Naquela idade eu já sabia, que eu precisava daqueles olhos focados em mim daquele modo, daquela sensação. Eu precisava da garota magra e fraca que estava na chuva, nas últimas, a garota que me encontrou na multidão.

Respirei fundo e abaixei a cabeça, olhando para onde eu fazia os nós e depois de momentos, voltei minha atenção neles. Direita, esquerda, direita, esquerda…


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