Born To Be Together escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 12
Jodelle




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{20 de abril de 2006}

Nesses últimos dias, uma pessoa estava me chamando atenção. Duas na verdade, mas uma em especial. Eram as duas novas campistas, Amber e Sorciére, alojadas no chalé 11 assim como eu, Jodie e Gale. Ainda não sabíamos de quem eram filhas, e o resto de nós, bem, nossos pais não tinham um chalé em homenagem à eles. Mas havia a parte boa. Ficávamos juntos desde a hora de acordar até a hora de dormir. E uma das maiores brincadeiras entre mim e Jodie, era a típica guerra de travesseiro antes de dormir, e pegarmos uma coisa da outra e escondermos até que a outra ficasse louca de tanto procurar.

Nesses dias, durante as brincadeiras, eu sempre prestava atenção nas duas irmãs. Alguns diriam que era Amber que me chamava atenção, afinal, tínhamos quase a mesma idade, pois havia descoberto ser apenas um ano mais velha que eu, e os assuntos seriam praticamente os mesmos. Mas não era ela que me intrigava. Era a pequena Sorciére, calada em seu canto, na sombra da irmã, cujo até eu sentia a ameaça que transmitia.

Agora, ela estava em um canto, olhando em qualquer lugar perdida em seus profundos pensamentos. Era diferente de qualquer criança de sete anos que eu havia visto. Bem, pelo menos não diferente de mim. Eu estava assim ainda naquela época. E era por isso mesmo que ela me chamara atenção, pois era assim como eu. Ela havia visto algo que a chocou, podia perceber isso no seu olhar, e até agora estava assustada.

Como hoje Amber não estava por perto, como sempre, decidi me aproximar. O modo que ela ficava próxima de Sorciére não era como se ela se preocupasse com a pequena, era como se a vigiasse como um lince vigia a presa.

- Oi - falei, chamando sua atenção para a vida.

Ela virou o olhar para mim, séria, olhando-me com firmeza, tanta que deixaria os outros surpresos por ter menos de dez anos.

- E quem é você?

- Sou Jodelle. Fico nesse chalé também.

- É, eu sei. Eu já te vi, com uma loirinha e um outro, parecido com ela.

Assenti, com um pequeno sorriso.

- São meus amigos. Se quiser… Pode ser minha amiga também. Percebi que é bem sozinha por aqui.

Sorciére pareceu hesitar, e me olhava desconfiada, mas eu percebia que estava disfarçando o que realmente sentia: Pensava na irmã, em como agiria com isso.

- Não preciso de amigos.

Fiquei em silêncio por uns momentos, com um simples sorriso em meu rosto. Olhei para baixo, para onde estavam suas mãos e coloquei a minha por cima da dela, logo depois olhando em seus olhos.

- Eu pensava a mesma coisa que você quando cheguei aqui. Eu era mais nova do que você, tinha cinco anos. Fiquei um tempo sozinha. Então, como você disse, “aqueles loirinhos” se aproximaram de mim e quiseram ser meus amigos. Eu achava a mesma coisa que você… Mas eles me mostraram como é bom ter alguém com você, alguém do seu lado. Alguém pra confiar, alguém pra te ajudar quando precisar.

Ela ficou apenas me olhando, em silêncio, suas íris negras focadas em meus olhos. Eu sabia a tinha “atingido” com o que dissera, que a deixara questionando-se se era uma boa ideia realmente, e que ela queria, mas estava em dúvidas.

Um som ecoou no chalé. A porta se abrindo. Lá estava Jodie, que parou logo os olhos em nós, curiosa.

- Jodie! Estava conversando com ela, em ser nossa nova amiga. Ela é um tanto sozinha, não acha?

Jodie veio assentindo. Colocou alguma coisa por cima do colchão onde dormia, no chão, e veio até perto. Olhei-a, como se dissesse algo, e ela pareceu ler meus pensamentos. Discretamente passou a mão pela cama vizinha e ficou abraçada no travesseiro, como se quisesse apenas isso.

- É uma boa ideia, Jodelle. É bom ter amigos - disse ela olhando para Sorciére, atraindo seu olhar. Isso me deu a brecha de abraçar uma almofada e apenas ficar alisando-a. - Bom para conversar, para ajudar… E para atacar!

Seu travesseiro voou na direção de Sorciére, que arregalou os olhos e tentou desviar, mas acabou sendo atingida, pelo menos não no rosto. Jodie começou a rir. Até que foi atingida em cheio em retorno. Ela ficou boquiaberta e nós olhamos para Sorciére. Aos poucos foi deixando o sorriso dominar a face e começou a rir.

Agora nós três ríamos.

- Eu vou te pegar, menininha! - falou Jodie pegando outro travesseiro e usando-o como arma.

Joguei o meu em qualquer direção, acertando alguém e sendo atingida por alguma das duas. Os travesseiros e almofadas de todos voavam para lá e para cá, pois usávamos até dois ou três de uma vez.

A porta se abriu, e Jodie, dentre a brincadeira, jogou o travesseiro naquela direção. Foi quando ouvimos a voz forte, ameaçadora e irritada.

- O que pensa que está fazendo?!

Todas paramos e olhamos. Amber. Fora atingida bem na face e nos olhava como se fosse nos matar. Encarou Sorciére e depois focou os olhos em Jodie e se aproximou rapidamente, pisando duro.

- O que tem na cabeça, menina? - pegou na gola da roupa de Jodie.

- Ei! Era só uma brincadeira! - ela disse. - Me solta!

- Está brincando com a pessoa errada.

- Ei! - falei enfim.

Os olhos dela vieram até mim cheios de fúria, cheios de ódio. Mas não me deixei atingir. Continuei encarando-a firme. Levantei-me, ficando de pé como ela, ambas olhando na mesma altura. Cruzei os braços.

Só então algo nela me chamou atenção. Ela usava uma jaqueta, e como em um bolso interno dela, havia um punhal, e eu podia ver a lâmina com manchas avermelhadas, manchas de sangue. Amber percebeu que eu vi e puxou a jaqueta de modo a tampar a arma.

Ficamos caladas, uma encarando a outra. Ela sabia que eu havia visto algo que não deveria ser visto, e estava ainda irritada com Jodie por tê-la atingido, mas o pior era eu. Além daquilo, eu a estava encarando, sem hesitar, sem ter medo.

- Como eu disse, cuidado… Estão brincando com a pessoa errada - e então se virou e saiu do chalé, batendo a porta com força atrás de si.

- Estou morrendo de medo - sussurrei com ironia.


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