Born To Be Together escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 1
Jodelle




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Agora havia acabado. Meus sentimentos se foram junto com a última noite. Eu queria tanto que as lembranças também fossem embora, porém, como muitas coisas na minha vida, aconteceu o oposto do que eu queria.

Gale estava me olhando de seu lugar na mesa do chalé de Niké. Bem, ali, ele também estava sozinho. Seu olhar era o típico de quando ele se punia pelo o que acontecia.

Não queria presenciar aquele olhar. Não queria vê-lo. Queria distância de tudo aquilo, distância.

Virei-me e vi a mesa do chalé 10, onde ela ficava.

Não aguentava ficar ali, não conseguiria por mais tempo. Levantei-me e saí do pavilhão, para longe, simplesmente para longe. Queria me esquecer, esquecer de tudo.

{5 de fevereiro de 1999}

Jodelle respirou fundo. Conhecia aquele cheiro e o adorava. Vinha diretamente da cozinha, de onde sua mãe, Claire, terminava seus brownies de chocolate. O cheiro preenchia a casa toda, e a menina de quatro anos não resistiu a ficar no quarto e saiu, descendo as escadas e indo até a cozinha.

Quando a pequena ali chegou, a mulher sorriu. Claire era linda. Com seus quase quarenta anos, corpo magro porém belo. O rosto possuía marcas de expressão, mas não a deixavam feia, pelo contrário. Os cabelos negros ondulados lhe caíam sobre os ombros, e os olhos azuis eram o contraste de tudo. Seu sorriso era marcado por covinhas e seus olhos se fechavam levemente, dando-lhe uma linda aparência quando sorria, e ela quase sempre sorria.

A garota se parecia muito com a mãe, mais do que se espera. Também seguia o exemplo da mãe com o temperamento, os sorrisos.

Piiiiiiii. Claire voltou-se para o forno e o abriu, retirando dali os brownies. Jodelle queria se esticar para pegá-los, mas Claire levantou a assadeira fora do alcance da pequena.

– Está quente, meu bem. Muito quente. Não pode encostar no ferro ou vai se machucar. Entendeu?

– Sim.

Ela colocou a assadeira sobre a mesa e começou a partir os pedaços de brownie. Esperou que esfriassem um pouco e colocou-os todos em um prato, levando tudo até a sala, onde colocaram uma fita de episódios de Tom & Jerry para passar. As duas brincaram, riram, comeram cada pedaço de brownie que havia ali. Era uma das mais felizes tardes… Infelizmente, a última.

[…]

Jodelle acordou quando tocou o chão. O quarto estava escuro e Claire a colocava as pressas embaixo da cama do quarto de hóspedes. Estava aflita, agitada. Ela queria perguntar o que acontecia, mas sua mãe colocou a mão sobre seus lábios.

– Fiquei aqui. Prometa a mamãe que vai ficar aqui, quietinha? Por favor, Jodelle, por mim. Não faça nenhum ruído, não se mexa até que vão embora. Finja que nem está aí. Não faça nada.

Ela finalizou dando um beijo na testa da filha e saiu do quarto. Iria fechar a porta mas era tarde, e deixou-a apenas entreaberta. Claire parou e olhou adiante. Quatro homens se aproximaram, terminando de subir as escadas. Estes a olharam de cima a baixo e a empurraram para o quarto mais próximo, de frente para onde Jodelle estava e era o mesmo quarto onde a menina dormia.

O que ocorreu a seguir parecia não acabar nunca, e foi a coisa mais traumatizante para uma criança de quatro anos presenciar. Os quatro roubaram tudo. Cada bijuteria no corpo de Claire não fora tirada, mas arrancada. Brincos rasgaram-lhe as orelhas. Qualquer anel que não saísse, ia-se embora junto com o dedo. Apanhou dos homens, fora abusada por eles.

Jodelle estava aterrorizada, e tentava ao máximo segurar qualquer som e qualquer movimento. Temia pela mãe. Mas então, em certo momento de descontrole, um grito escapou de sua boca. Os quatro viraram-se rapidamente e depois de procurar no escuro, a encontraram. O homem que segurava Claire sorriu. Sacou o canivete que guardava e puxou a cabeça da mulher para cima.

Claire olhou para a filha e mexeu os lábios dizendo: “Eu te amo”. Fora este seu último movimento antes que a garganta fosse cortada.

Um outro grito escapou de Jodelle, e então, os homens entraram no quarto para pegá-la. Levantaram a menina e com sua agitação, conseguiu morder com força um deles e chutar o outro. Soltaram-na por um breve momento, mas fora o bastante para que ela saísse correndo escadaria abaixo até o lado de fora da casa.

Ela correu, correu e correu como jamais pensou em correr em sua vida. Depois de quase dez minutos, ela parou e não segurou as lágrimas de dor.



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