O Quarto Massacre Quaternário escrita por Izzy Figueiredo


Capítulo 7
O primeiro Dia de Treinamento




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Escuto um barulho irritante, o despertador está tocando. O relógio marca 8:30. Cedo ainda, mais paro o despertador, levanto da cama e vou tomar um banho.

Graças a Deus não tive sonhos hoje, não sei por que, mas meus sonhos não estão tendo mais tanta frequência.

Vou rápido no banho, quero sair do quarto e ir falar com Flinn. Escolho uma água fria, com cheiro de pinheiro.

Ponho uma calça preta e uma blusa azul larga, traje casual; e saio do quarto.

Vou direto para a sala onde comemos, e o único que está sentado à mesa é Billiam.

_Não conseguiu dormir? - perguntou ele depois de morder um pedaço do seu misto quente.

_Consegui, mas o despertador tocou. E você? - disse e sentei-me ao seu lado.

_Não... alguma coisa me deixou acordado à noite, não sei o quê.

_Acho que só está ansioso. Tente limpar sua mente, pensar nas coisas do nosso Distrito, faz eu me sentir melhor.

_Eu tento, mas aí que eu não consigo dormir mesmo. - ele responde e se concentra no misto.

Ficamos em silêncio por uns minutos, como meu misto também; até que Lutt chega e chama Bill para um canto afastado da sala, onde não possa escutá-los. Flinn chega praticamente junto com Lutt, e ele senta do meu lado.

_Bom dia. - diz, com seu tom de voz normal, mas agora ele me olhou nos olhos. Já é um começo.

_Oi. Flinn, sobre ontem... - começo, mas ele me interrompe.

_Jessie, melhor deixarmos esse assunto para lá.

_Não! Você disse que iria conversar comigo sobre isso hoje, e eu só tenho uma pergunta.

Ele respira fundo, morde um pedaço de sua torrada e diz:

_Ok, pergunte então.

_Quando você falou que não queria... me perder. Sua voz estava trêmula, demais. E como conheço você desde que nasci, eu sei que quando você mente sua voz treme. Estava mentindo sobre não querer me perder, então?

Acho que a pergunta o intimidou um pouco, por que ele demora a responder:

_Jess, eu não menti. Bom, mais ou menos. - reviro um pouco os olhos, ele percebe e então começa a falar mais rápido. - Você vai entender um dia. É uma longa história, na verdade, nem tanto; mas eu não posso te contar. Simplismente não posso.

_E por que não? - estou com raiva dele de novo. Então ele mentira? Flinn nunca havia mentindo dessa maneira pra mim.

_Nyt, - já falei que cada vez que ele fala comigo ele inventa um apelido diferente? - eu só não posso. Isso acabaria com nossa amizade. Acho que algumas horas antes de ir para a Arena eu poderia te contar. Mas entenda, como melhor amiga; entenda.

Seu tom de voz era suplicante. Percebi que ele realmente não queria me contar; então deixei a raiva um pouco de lado e entendi. Como melhor amiga. Pelo menos ele me deu uma explicação, eu acho.

_Tá. - falei, meio ranzinza.

_Tá? - ele põe o dedo indicador no meu queixo e olha nos meus olhos. - Tá mesmo?

_Tá. - respondo, com o mesmo tom de voz. Mesmo com sua explicação, ainda preciso pensar no assunto.

_Ai... vamos ao Treinamento. São 9:00, o treino começa às 10:30. Eu não poderei ficar lá com você, então quero que faça o seguinte: não mostre o que é capaz. Foque em coisas como: ajuda para sobreviver, camuflagem, esse tipo de coisa. Se você mostrar as coisas que já sabe, eles irão saber, então, seus pontos fracos. Então, me entendera? Só em coisas que não sabe. Amanhã e depois de amanhã os tributos poderão treinar com os mentores, eu reservei o horário das 9:30 pra gente. Amanhã, verei no que você precisa de ajuda. Então hoje, pode até tentar jogar umas facas ou essas coisas, mas não toque nas lanças ou nos machados ok? - concordo, pois parece a coisa certa a fazer.

Volto para meu quarto às 10:00 e me arrumo para ir ao Centro de Treinamento. Deixaram uma roupa para mim vestir, uma blusa e calça azul e vermelho, com o número 4 nas costas. Escovo os dentes e faço um rabo de cavalo. Então saio do quarto e me encontro com Bill e Irmand, que estão indo para a limosine que nos levará ao Centro.

Chegamos lá em cerca de 10 minutos, e o lugar era bem grande. Fomos diretamente levados para dentro. O lugar era bem bonito; as paredes eram azuis bem escuras, meio cinzas, e em cada parte da enorme sala havia um tipo de coisa: arcos e flechas, facas, vários tipo de espadas, machados e lanças... também havia a "ala" de camuflagem, sobrevivência, e algumas outras. Bem no meio da sala havia um enorme círculo, e depois fomos levados para lá.

Todos os outros tributos foram para o círculo também. Uns minutos depois, uma mulher de cabelos pretos e meio grisalhos aparece, acho que é nossa mentora geral:

_Bom dia tributos. Tenho 3 coisas para falar para vocês: 1. Não briguem entre si; deixem sua raiva para arena; 2. Aqui temos, como já puderam perceber, várias áreas onde vocês podem treinar, escolham-a e foquem-se nela; 3. Sabia que muitos tributos morrem de causas naturais? Desitratação e esse tipo de coisa? Então é melhor vocês treinarem nesses últimos 4 dias e meio, antes dos Idealizadores analisarem vocês. Boa sorte. - ela sai do círculo e os tributos começam a se mexer.

Percebo que dois garotos estão me observando, os mesmo que estavam me olhando com uma cara estranha depois do Desfile. Quem eram eles? Não tinha reparado em ninguém ainda, nem sei quem é de qual distrito. Mas eu fiz algo para eles?

Ignoro e reparo nas coisas em volta. Passo pelas armas, e de repente minha raiva (não mais de Flinn) começa a aumentar. Quero mostrar aos outros o que sou capaz, mais me tento e vou para a área de camuflagem.

Fico trabalhando lá com um dos nossos ajudantes, ele me ensinou a fazer com plantas e barro uma camuflagem muito eficaz. Não fica muito boa na primeira vez, mas depois começo a ficar ótima nisso.

Me canso de camuflagem e vou para a área de sobrevivência, onde por coicidência Bill estava (e uma garota também, acho que seu nome era Bárbare, do Distrito 2. Comecei a prestar atenção nela).

_O que está fazendo? - pergunto à ele e me abaixo a seu lado.

_Uma fogueira baixa. É complicada de fazer, uma ajudante me ensinou, vou tentar te explicar, que ver? - concordo e ele começa a me ajudar a fazer a mesma coisa que ele.

A fogueira pode ser bem útil, pois quando é noite, ela passa quase despercebida na floresta. Faço fogueiras rápido, pois de vez em quando eu e Flinn saímos escondidos à noite e assávamos uns peixes no lago.

Quando Billiam quase se queima com sua fogueira, começo a rir dele. Ele também ri, até que outro tributo, acho que do Distrito 11 chega e tenta escalar uma árvore.

Na área de sobrevivência: descobri como achar água, escalar uma árvore e diferenciar comidas venenosas de não venenosas, dentre várias outras coisas.

Depois prestei atenção em Bárbare, ainda concentrada nas comidas venenosas. Ela tinha cabelos pretos, bem pretos, tinha uma pele clara e olhos bem azuis. Era muito boa em diferenciar os alimentos, acho que ela poderia ser uma boa aliada.

O treino demora 4 horas, faltando duas horas, vamos almoçar. Me sento com Bill, mas quando termino de comer vou falar com Bárbare, que está comendo sozinha.

_Oi.

_Oi.

_Então... você é muito boa com as comidas lá.

_Obrigada! Eu também sem mexer em lanças, mas só um pouco...

Pensei sobre isso: ela não era tão boa com armas, mas seu talento com as comidas venenosas ou não era extraordinário.

_Quer ser minha aliada? - sou direta.

Ela pensa um pouco e depois aceita, e começamos a conversar sobre possíveis táticas.

O almoço termina e arrisco mexer nas facas. Foi aí que eu vi: os dois tributos que não paravam de me fitar eram Carreiristas. Ele e outra menina faziam parte do grupo, os três do Distrito 1. Agora a menina também me olhava com um olhar estranho.

Pego umas facas e começo a jogar nos alvos. Admito que até eu fiquei admirada com minha habilidade: uma das facas acerta um pouco perto do centro do alvo, a outra mais perto ainda e a última acerta o meio, certinho. Ergo as sobrancelhas, e olho ao redor; algumas pessoas estão chocadas, os Carreiristas agora me olharam de um jeito diferente: um jeito meio doce.

Então a menina Carreirista, uma ruiva bem bonita (ela me lembrava Olívia) avançou para os Arcos e Flechas. Dá uma olhada para mim antes e depois começa a atirar flechas sem parar. Todas acertam o centro do centro do centro, de tão perfeito.

Fico muito chocada, mas não demonstro; simplismente reviro os olhos e me concentro novamente nas facas. Fico a meia hora restante ali, focada nas facas, até que um tipo de sirene toca e todos os tributos saem.

Entro na limosine e fico conversando com Bill. Quando chego no prédio novamente, nem vou falar com Flinn, pois ainda estava um pouco brava com ele, e tomo um banho.

Estou suada, mas enquanto me molho penso: será que intimidei um pouco os Carreiristas? Depois que eu joguei as facas eles pareceram até gostar um pouco de mim. Mas caso eles não gostassem de mim, isso não era boa coisa. Afinal, se eu os irritasse, eles iriam querer me matar primeiro, não acha? - tiro esse pensamento da cabeça e saio do banho.

Alguém bate na porta, escuto meu nome. Era Flinn. Ponho uma roupa e abro a porta com uma cara meio fria.

_O que foi? - pergunto, tentando manter o tom de voz normal.

_E aí, como foi? - ele pergunta e entra no meio quarto. Age como se nada tivesse acontecido ontem e hoje.

_Normal. Me concentrei nas áreas de sobrevivência, como você falou, e atirei umas facas.

_E aí, acertou algumas?

_Uma boa parte. Flinn, saiba que ainda estou pensando sobre o que aconteceu. Você nunca fez isso comigo...

Ele tenta ignorar o assunto, mas percebo que isso o incomoda.

_Amanhã tente se concentrar em alguma outra arma, ou em mais modos de sobreviver, deixarei você escolher. Nos outros dois dias treinaremos eu e você. Sobre isso conversaremos depois. - ele levanta do sofá e tenta me dar um beijo na testa, mas eu vou para trás. Por que minha raiva dele aumentara tanto?

Ele abaixa os olhos, e sai de meu quarto, me deixando sozinha.

Deito na cama, de cara no travesseiro. Começo a chorar, não sei por quê.

Deveria perdoá-lo? Fico pensando nisso nas próximas horas, que passam muito devagares.


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