Eu estava agitada, não conseguia parar de dar voltas pelo meu quarto. Tinha acabado de ligar para minha faculdade, eles quase não me transferiram para a extensão em Miami. Já tinha até arrumado minhas malas, estava certa do que ia fazer. Mas e se ele aparecesse? E se lesse a a minha carta e fosse até mim? Sabia que seria difícil, mas tinha uma boa chance disse acontecer. Mandei a seguinte mensagem para Lee:

"Preciso de um favor seu, corra aqui em casa"

Tinha quase certeza de que ele me faria o favor. Era só entregar a carta, só isso. Não saberia como ele reagiria, mas tinha que tentar. Não demorou muito, Lee respondeu:

"Chego em 10 min"

Um problema a menos. Transferência: ok; malas: ok; carta do Percy: pode se dizer que também está ok; contar para minha mãe: ainda não completada. Ela ficaria uma onça comigo, mas no final teria que aceitar minha decisão. Escutei alguns barulhos na cozinha e deduzi: dona Atena já tinha chegado.

Desci as escadas correndo e me deparo com a cena mais traumatizante que já vi. Meus pais estavam se agarrando no sofá! Fiquei parada perto deles, os olhando de boca aberta. Quase não acreditei no que estava vendo.

Quando minha mãe me viu, virou um pimentão e parou de beijar meu pai. Ela se levantou num salto e tentou arrumar o cabelo e as roupas. Sua boca estava muito vermelha, e a de meu também. Ambos me olhavam constrangidos.

– Mas o que significa isso? - eu disse.

– Filha, nós podemos explicar... - minha mãe tentou falar, mas não chegou nem a completar a frase.

Já meu pai, parecia estar se divertindo com aquela cena.

– Bom, acho que é melhor eu ir... - ele disse saindo da sala.

– Ah, você não vai, não! Não antes de me explicar o que acabo de presenciar! - digo autoritária.

Ficamos nos olhando por um tempo, ninguém dizia nada. Acho estávamos desconfortáveis demais com o flagrante. Principalmente eu! Ver seus pais se agarrando no sofá da sala não é legal.

– Annabeth, você não entenderia, isso é coisa de adulto. - meu pai tentou se defender.

– Pai, eu tenho 17 anos, não me trate como criança! - contra-ataquei.

Minha mãe me encarava furiosa. Tive que segurar o riso.

– Olha, se vocês estão saindo, ou fazendo sei lá o que, eu não me importo, na verdade, estou gostando dessa ideia. - eu disse, o que fez com que meu pai sorrisse um pouco.

O divórcio fora uma ideia que partira da minha mãe. Eu sempre soube que meu pai ainda era louco por ela. Acho que estavam tentando se reconciliar.

– Sua mãe e eu já estamos... saindo, a um tempo. - ele disse, fazendo com que minha minha mãe o fuzilasse. Parece que ela não queria que eu soubesse disso.

– Mas... e Dominique? - perguntei.

– Está em casa, enquanto eu estou em uma reunião de trabalho. - dizendo isso, meu pai lança um olhar malicioso para minha mãe, o que fez com que ele ganhasse um soco no braço.

Era muita informação para um dia só. Pego Percy com outra, beijo Lee, decido ir para Miami, e agora meus pais viraram amantes. O que mais falta acontecer?

– Espera, deixa eu ver se entendi bem, meu pai e minha mãe estão se encontrando as escondidas, sendo que, quando eram casados, não conseguiam ficar 20 minutos sem brigar. É isso mesmo? - digo arqueando a sobrancelha.

Minha mãe deu risada.

– Não é bem assim, Annabeth. Não estamos nos encontrando as escondidas, é só... Ah! está bem. Sim, estamos nos encontrando sem que ninguém saiba, principalmente Dominique.

Notei a voz de nojo que minha mãe fazia ao pronunciar o nome dela. Ri também.

Perguntei a eles desde quando isto estava acontecendo, e me surpreendi com a resposta. Naquele dia, no funeral de Zeus, não fora a 1ª vez, fora a 3ª. A primeira foi no meu aniversário. Depois que eu fui para meu quarto, meus pais aproveitaram. Senti um arrepio ao imaginar o que eles poderiam estar fazendo. Não demorou muito até o horário da "reunião" de meu pai acabar e ele ter que ir embora.

E eu ainda tinha que contar para minha mãe sobre a minha decisão. Não sabia ao certo por onde começar.

– Mãe... tenho que te contar uma coisa. - eu disse. Ela me olhou de forma estranha, como se já soubesse que algo ruim tinha acontecido.

– Por Deus, Annabeth, não me diga que está grávida!

Arregalei meus olhos. Por que ela sempre acha que é isso? Depois diz que não quer ter netos cedo.

– Não, mãe. Percy e eu... terminamos e... vou para Miami amanhã. - senti o peso de minhas palavras quando lhe disse isso.

– O que? Miami? E vai fazer o que lá? E a faculdade? Como assim, o que aconteceu para você e Percy terem terminado? Ah Annabeth, me explique isso melhor!

Minha mãe sempre será minha mãe. Ela ama me bombardear de perguntas.

– Pedi para a faculdade me transferir, eles têm uma unidade lá e... bem, eu já me decidi. As malas estão prontas, ligo para o apartamento amanhã. Tenho um dinheiro que venho juntando desde o ano passado guardado, será o suficiênte até que eu consiga arranjar um emprego. E quanto ao Percy... não quero vê-lo nunca mais. - eu disse, sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos.

Agora os belos olhos acinzentados de dona Atena também estavam cheios de lágrimas. Ela veio até mim e me abraçou.

– Espero que tenha feito a escolha certa. - foi só o que ela conseguiu dizer.

Fiquei pensando em como sentiria sua falta, afinal ela me criara praticamente sozinha. Ficamos um tempo chorando abraçadas, até que escuto a campainha tocar. Sabia quem era provavelmente. Me soltei dos braços de minha mãe e corri até a porta enquanto limpava meu rosto. Abri a porta e dei de cara com quem eu esperava ver.

– Lee?

POV Lee

– Lee? - Annabeth disse tentando manter um sorriso. Provavelmente, ela tinha contado para sua mãe.

– Olá, Annie. Qual favor você quer que eu faça? - perguntei ainda do lado de fora.

– Ah... entre, tenho que te entregar uma coisa. - ela disse dando espaço para que eu passasse.

Annabeth estava com uma aparência bem melhor do que antes. Agora ela já não chorava e seus olhos não estavam tão vermelhos. Mas de qualquer jeito, ela era linda.

Entrei em sua casa e me sentei no sofá. As almofadas estavam todas no chão, me perguntei o que tinha acontecido ali. Não demorou muito até que Annie voltasse de seu quarto com um envelope nas mãos, elas tremiam um pouco. Ela se sentou ao meu lado e me entregou o envelope, que notei ter uma carta dentro.

– Preciso que entregue isso para o Percy. - Annie disse corando um pouco.

Fiquei com raiva. Até depois de o ver com outra, ela ainda pensa nele. Talvez essa temporada em Miami faça bem para ela.

– Claro, eu entrego. - digo guardando a carta no bolso de minha blusa - Animada para amanhã?

– Sim. - Annie disse tentando parecer feliz. Eu sabia que ela não estava, mas ela era forte, e não demostraria fraqueza numa hora daquela.

Lhe dei um sorriso e decidi ir. Ainda tinha que terminar de aprontar minhas coisas. Apesar de partirmos só de noite, eu não tinha muito tempo para arrumar tudo. Dei um tapinha em sua mão que estava em cima do sofá perto de mim e disse:

– Acho que já vou, nos vemos amanhã então.

Não resisti. Ia beijar seu rosto, mas acabei roubando um meio selinho dela. Seu lábios, como eu sentira falta de seus lábios. Sorri e me levantei, indo em direção até a porta. Annabeth me seguiu e quando eu estava passando pela porta me disse:

– Nos vemos amanhã. Até mais, Lee.

Acenei para ela e entrei no meu carro. Peguei sua carta do bolso de minha blusa e a abri. Não tinha como não ficar curioso, eu queria saber o que ela havia escrito para o Jackson. Comecei a ler. Annabeth sempre escrevera muito bem, mas não gostei do que estava contido ali dentro. "Queria que soubesse que eu sempre se amei. Sempre. E ainda amo", como ela poderia amar alguém como ele? FIquei furioso, porém, quando li "Se, por alguma travessura do destino, você resolver ir se despedir, e me disser três palavras, eu fico, volto para você" foi a gota d'água. Amassei aquele maldito papel e o guardei de volta no meu bolso.

Eu ia fazer com que Annabeth esquecesse aquele idiota. Eu a amava, mais do que tudo, e não deixaria mais aquele imbecíl arruinar sua vida.

POV Annabeth

Já estava tudo certo. Lee passaria em casa as 6h para irmos até o aeroporto. Meu estômago estava revirando, não sabia como Percy tinha reagido ao ler minha carta. No fundo, eu queria que ele fosse até lá, só para me buscar, e dizer que ama. Estava na sala vendo o tempo passar até que escutei a campainha tocar. Corri para ver quem era, e era Thalia.

Ela tinha algumas lágrimas nos olhos. Era seu aniversário, e sua melhor amiga estava indo embora. Foi bom ela ter vindo, eu ainda tinha que entregar seu presente. A abracei o mais forte que pude e não segurei minhas lágrimas.

– Tem noção de como vou sentir saudades de você? - eu disse.

Ficamos um tempo abraçadas, até que me soltei e fui para a sala, onde estava o embrulho roxo com uma fita de cetim preta. Entreguei para Thalia, que começou a chorar mais ainda.

– Annie... nem todos os presentes do mundo poderiam me alegrar hoje. Tem certeza que quer ir? - ela me disse enquanto abria o pacote.

E quando abriu, ficou surpresa. Era um edredom, que parecia mais ser uma carta enorme. Ele poderia ser aberto, e dentro estava escrito "I Love You".

– Obrigada. - Thalia disse colocando sua colcha nova em cima do sofá.

Ela notou que eu estava usando a pulseira que ela e Jason me deram de aniversário. E o colar de coruja. Não quis me desfazer dele, apesar de ser uma má lembrança.

– Annie, já podemos... olá, Thalia. - Lee disse entrando do nada na sala. Não tinha reparado que havia deixado a porta aberta.

– Olá. - Thalia disse meio desanimada.

Peguei minhas malas e comecei a levá-las para seu carro. Minha mãe estava trabalhando, mas já havia me dado um longo discurso de despedida, assim como meu pai, que, provavelmente tinha dormido aqui. Porque, quando desci para tomar café, ele já estava aqui.

Colocamos as malas no porta-malas. Fui até Thalia e lhe dei um último e longo abraço. Minha amiga iria fazer muita falta. Nós duas estávamos aos prantos. Estava ficando tarde. Lee ficava me apressando, dizendo que se continuássemos deste ritmo, perderíamos o voo. Mas a verdade, era que eu estava esperando por ele.

Me despedi de Thalia e entrei no carro. Chequei meu celular pela 500ª vez naquele dia, não havia mensagem alguma e nem ligações perdidas. Fiquei imaginando se ele realmente viria atrás de mim.

O trânsito estava bom, então não demorou muito até chegarmos no aeroporto. Meu coração estava batendo forte e meu estômago parecia mais um ninho cheio de borboletas. Lee e eu fizemos tudo o que tinha que ser feito com relação aos passaportes e passagens, depois, nos sentamos e esperamos até dar o horário do voo.

Lee estava tagarelando algo sobre como o sol é bom para os ossos, mas eu não estava ligando. Meus olhos estavam ocupados demais prestando atenção em cada pessoa que entrava. Diversas vezes pensei ter visto Percy, mas depois vi que eram apensar pessoas estranhas. Naquele momento, parecia que todos eram ele. Poderia jurar tê-lo visto pelo menos umas cinco vezes. Mas nenhuma delas era realmente ele.

– Annie, é o nosso voo, vamos. - a voz de Lee interrompeu meus pensamentos.

"Ele não vem" pensei comigo mesma. Provavelmente estava ocupado demais fazendo amor com qualquer vadia.

Limpei a lágrima solitária que escorreu em meu rosto e acompanhei Lee. Era a última vez que eu iria chorar por ele, aquela era a última lágrima. Respirei fundo. Eu estava indo para Miami. E o ano estava só começando. "Ano novo, vida nova" lembrei-me dessa frase, que eu já tinha escutado em algum lugar. Coloquei um sorriso no rosto e caminhei confiante para o avião. Algo me dizia que aquela viagem seria ótima para mim.