Mestre e Comandante escrita por americangods


Capítulo 4
Capítulo 3 - Os Reapers estão vindo




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Os reapers estão vindo


– Ok, deixe-me ver se entendi. Quer dizer que vocês não são só do futuro, mas são do futuro e de outra realidade?


Eram quase quinze pessoas na sala de briefing. Muitos curiosos para ver o estranho de armadura verde, e tantos outros da tripulação que ficaram do lado de fora também. Mas Shepard decidiu que aquela reunião seria privativa entre ela, o seu esquadrão e os dois novos convidados de aparentemente outro mundo. Depois dessa conversa reportaria devidamente ao Almirante Hackett e à Aliança.


– Foi a melhor conclusão que eu cheguei – respondeu Cortana, projetada do capacete de Chief.


O humano gigante olhou para a dona da pergunta, a mesma Comandante de poucas horas atrás, agora em roupas completamente civis. Ela parecia menos intimidadora assim, e as roupas seguiam um padrão militar, diferente das outras mulheres da sala.


Uma alienígena, que como ele, parecia ter uma predileção por ficar de capacete. Ela tinha formas quase que perfeitamente humanas, embora não pudesse ver dentro do capacete dela e ao inves de cinco dedos em cada mão, tinha apenas três. A outra, também era uma alienígena, embora extremamente semelhante com uma mulher humana, tirando a pele completamente azul e a ausência de cabelo – no lugar espécies de tentáculos ou dobras na pele – não conseguia definir. Ela tinha um semblante sereno e amigável, apesar das suas vestes serem indecentemente reveladoras. As duas aliens estranhamente humanoides, com curvas humanas até demais. O decote da azul faz ele agradecer estar de capacete.


Estranho, pensa ele. Não sentia isso normalmente. Sua armadura e seus implantes eram preparados para altas dosagens de inibidores hormonais. Não era bom que um Spartan tivesse seus hormônios e instintos comandando sua mente. Talvez tenham parado de funcionar durante o tempo que ficou em sono criogênico.


As outras duas, também humanas, uma encapuzada que ele mal podia ver o rosto e com um sotaque oriental, e a outra, uma morena de pele clara com a roupa mais apertada e curvilínea que já viu uma mulher usar.


Mais uma mulher chegou atrasada, e assim que a porta abriu para ela entrar, pode-se ver uma pequena multidão de membros da tripulação do lado de fora. A porta fechou a e a mulher ficou parada.


Ela olhou para John longamente. O restante da sala fez o mesmo para ela. Eles viram aquela mulher que não se impressionava com nada arregalar aqueles grandes e expressivos olhos castanhos que tinha.


– Caralho! Olha o tamanho desse filho da pu-


– Jack, por favor, poupe-nos. – disse a morena de pele clara.


A desbocada era completamente careca e tinha o corpo coberto de tatuagens. Ela deu uma risada desdenhosa para seu desafeto e continuou.


– Não sabia que ainda estavamos recrutando, Shepard.


– E não estamos – respondeu sua comandante.


– Cara gigante é legal. Eu recrutaria ele, Shepard. Quebrou aquele vidro com um só soco. – disse Grunt, que também estava presente na sala.


– Não há mais necessidade de recrutar. Já acabamos com os Coletores – disse a comandante. – Eu tenho de falar com Anderson e Hackett sobre esse homem – olhar desconfiado dela para John.


– Eu vi o vídeo – diz Jack. O capacete de Shepard e Tali gravavam constantemente o que acontecia durante as missões. – Comandante, esse cara arrebentaria um husk na porrada, com um só soco. Eu digo que devemos recrutá-lo. Um filha da puta desse seria essencial para a luta contra os Reapers.


A mulher tatuada sorriu para ele. Sorriso malicioso. John não saberia diferenciar um sorriso daqueles antes, mas agora, estranhamente, o faz.


– Antes de você fazer qualquer coisa, Comandante – foi a vez de Cortana falar – já lhe contamos nossa história. É a vez de vocês contarem a vossa. Coletores, husks, Reapers. O que são eles?


– Estão preparados? – Disse Shepard, se apoiando na grande mesa – é uma longa história. Tudo começou 50.000 anos atrás...


John e Cortana não tinham ideia do quão longa.


––


– Creio não ser seu primeiro paciente humano – diz John.


O salarian cantarolava alguma coisa. Eu sou o perfeito modelo de um cientista salarian.


O alien parou na frente dele e usou aquele scanner alaranjado sobre o corpo de John. Disseram-lhe que se chamava Omnitool. Quase todo mundo naquele universo tinha um. Era uma ferramenta que podia ser tanto para integração social quanto para fins médicos, científicos e militares.


– Não. Muitos humanos. Muitas raças. Acho vocês fascinantes, mais do que qualquer um. Bem, exceto talvez Asaris. Não há como não achá-las fascinantes.


Uma raça inteira de mulheres. John não imaginava que isso seria possível. Cortana explicou por cima sobre elas. Não era como se fossem só mulheres. Elas tinham apenas um gênero, diferente de todas as outras raças, e podiam se reproduzir assim. Disse que ainda precisava estudar sobre esse processo, mas que era algo incrível.


– Não acha? – Pergunta Mordin, tirando-o de seus pensamentos.


– Perdoe-me, doutor Solus. Não estava prestando atenção.


– Asaris são fascinantes eu digo. Vida milenar, juventude quase eterna. Bióticas naturais. Lúdicas, sábias, excelentes políticas – ele respira fundo – e bonitas. Sabe, uma vez eu e uma asari tivemos um relacionamento. Pergunte-me qualquer dia que eu lhe conto sobre isso. Agora vamos aos exames.


Ele realmente não parava de falar um minuto. Shepard lhe avisara sobre isso.


Queria saber onde estava a mulher. Mesmo tendo sido uma das que pouco lhe deram atenção, isso porque a tripulação inteira o parava a todo instante para falar e perguntar coisas. Como assim de onde você veio não haviam Reapers?


– Nunca vi nada como você, Master Chief. Você tem mais implantes e cibernetics do que Shepard.


– Shepard tem implantes?


De onde John vinha ter implantes significava virar um Spartan, coisa que Shepard não parecia ser. Não tinha mais que 1,80m de altura, o corpo era de uma mulher normal, nada de melhoramentos musculares.


Mas por algum motivo, a ruiva lhe parecia mais capaz do que qualquer outro Spartan.


– Muitos. Não lhe falaram? Você é único, isso é verdade, mas Shepard é ainda mais creio eu. Mesmo todos os seus implantes não chegam perto do que ela é.


– Ela me parece uma mulher normal.


– Não é. Shepard é única, Master Chief. Você ouviu a história sobre os Reapers. Shepard foi a única pessoa que acreditou nessa história. Foi a única que perseguiu uma lenda enterrada a muito tempo atrás. Ela convenceu os outros que a seguiam, talvez até mais do que isso. Shepard mostrou que estava certa, que os Reapers existiam. Ela impediu que Soberania destruísse a Cidadela. Ela destruiu a base dos Coletores. Ela venceu a morte.


John tira o capacete. Os seus olhos arregalados. Aquilo não era uma coisa que acontecia normalmente.


– Perdão?


– Shepard morreu dois anos atrás – o salarian subitamente para o que estava fazendo e olha para John – um ataque dos Coletores. Ela salvou todos da sua nave antes de morrer. Seu corpo ficou vagando pelo espaço, o oxigênio acabando rapidamente até ela ficar sem ar e sufocar. Todas as células de seu corpo morreram, o seu sangue secou, ela teve morte cerebral. O vácuo do espaço a salvou, por assim dizer. Não há micróbios e bactérias no espaço. O corpo dela não teve tempo de decompor.


O salarian respirou longamente. Parecia fazer isso de vez em quando. Parar seus monólogos e inspirar o máximo de ar que podia, dar um tempo para as palavras serem absorvidas pelo mundo.


– Encontraram o corpo dela pouco depois. Não sei bem essa parte da história, mas uma asari, Liara T’soni, diferente de todos os outros, jamais desistiu de sua busca por Shepard. Ela encontrou o corpo da Comandante em posse do Shadow Broker. É uma mulher intrigante essa T’soni, deveria conhecê-la. Shadow Broker é, bem, era, um ser que tinha controle sobre toda a galáxia. Pense num mafioso, só que com influência sobre todas as estrelas. Liara conseguiu resgatar o corpo de Shepard e pode finalmente velar o seu corpo em paz.


Outra pausa.


– Acontece que Shepard não poderia ter morrido. A Cerberus, uma organização pró-humana e anti-aliens tomou posse do corpo da Comandante e gastou bilhões para trazê-la de volta à vida. Projeto Lazarus. Fascinante. É o ápice da tecnologia do nosso tempo. Não é, ainda, a conquista da vida eterna, mas ao menos é uma vitória sobre a morte.


Shepard parecia bem viva para alguém morta.


– Isso é difícil de acreditar, doutor – o salarian lhe dirige um olhar curioso – ela ter voltado à vida.


– Eu sei. Difícil de acreditar. Mas você eventualmente vai aprender que com ela não há nada mais falso do que essa afirmação. Mesmo a morte não consegue parar aquela mulher.


Eles ficam em silêncio por algum tempo. John, no entanto, sente vontade de falar. Isso era outra coisa que não acontecia. Seus implantes deviam estar defeituosos.


– Doutor, você disse que essa Cerberus é uma organização anti aliens. Mas vejo que o senhor e tantos outros estão aqui.


– Curioso, não é? A resposta para isso é Shepard. Não trabalhamos para a Cerberus, apenas seguimos Shepard. Ela própria não trabalha mais para a Cerberus, como você sabe.


– A explosão da base dos Coletores.


– Exato. Somos agora um grupo de vagantes sem aliança alguma e respondendo a ninguém. Perdão, permita-me corrigir: somos um grupo de vagantes sem aliança alguma, seguindo Andromeda Shepard.


John já havia percebido um sentimento semelhante no resto da tripulação. Parecia haver quase que uma aura mítica em volta daquela mulher, um respeito quase sacro que tinham com ela.


– Ciclo da vida. Samsara, conceito hindu. Humano. Na sua realidade isso existia?


Não entendeu a relevância da pergunta, mas resolveu responder:


– Sim. Religião hindu. Reencarnação, múltiplas vidas.


– Interessante. Você é de outra realidade mas a sua Terra parece, grande parte da história dela, ser semelhante à Terra da nossa realidade. Vou adorar conversar com você sobre isso, mas continuando: ciclo da vida. Todos nós estamos aqui, nessa vida, por algum motivo. Eu não sei o que pretende fazer em nossa realidade, Master Chief, mas quer uma sugestão minha?


Sorriso salarian.


– Fique ao lado daquela mulher. Ela veio a esse mundo para resolver os problemas de todos nós. Ela veio para nos salvar.


––


Shepard estava algemada. Hackett e quatro soldados da Aliança vieram buscá-la. Foi julgada por crime capital contra a Aliança dos Sistemas Humanos. Aliou-se a uma organização terrorista, aliou-se a terroristas, invadiu jurisdições da Aliança e do Conselho.


Ela, nesse processo, salvou a galáxia. Mas isso não importa.


Um batalhão de soldados teve de vir buscá-la, não porque não queria cooperar, mas porque sua tripulação não permitiu que a levassem. Andromeda Shepard nada fez e nada disse para impedi-los.


Ela não conseguia esboçar uma só reação.


Grunt e Zaeed, dois mercenários sem aliança e respeito algum por autoridades, agora, protegendo sua Comandante. Miranda e Jacob, até a pouco aliados a uma organização terrorista, e sabe muito bem Shepard, por motivos próprios e com muito desgosto a isso. Os dois agradeceram muito a Comandante por tê-los livrado daquelas amarras repletas de sangue da Cerberus.


Samara, que deveria respeitar o Código e as leis acima de tudo, desafiando um julgamento das leis humanas e das leis do Conselho. Aquela energia biótica emanando do corpo dela pronta para atacar todos os que tentassem levar sua comandante.


Kaidan, Garrus, Mordin, Kasumi, Thane e até mesmo Legion e Tali, os dois, um ao lado do outro, ela apontando sua espingarda, ele, o seu rifle. Uma aliança impensável de quarians e geths que ela conseguiu promover entre aqueles dois seres.


Eles morreriam juntos para defender sua Comandante. Eles estavam com as armas apontadas para um batalhão inteiro da Aliança. Eles enfrentariam dezenas de homens para impedir que a levassem.


Jack.


Jaqueline Nought, como ela veio a descobrir. A jovem que conseguiu levantar uma barreira biótica maior ainda que Samara, uma lendária justicar. A humana provavelmente era a biótica mais poderosa do universo. Energia escura correndo por todo o corpo dela, de uma maneira que Shepard nunca viu antes.


Ela liberaria aquilo tudo sobre os soldados, se assim Shepard ordenasse.


Mas Andromeda não podia fazer isso. Antes de qualquer coisa, ela era uma soldado da Aliança. Devia se sujeitar a suas decisões e suas vontades. Não devia questionar, apenas, obedecer suas ordens.


Eles levam Master Chief também, algemado como ela. Não apresentou objeção alguma. Olhou para Shepard longamente com aqueles olhos de um soldado que viu muita coisa na vida, assim como ela, quando Shepard se colocou na frente dele até que Hackett garantisse a ela que John seria apenas interrogado.


Não tinha razões para duvidar do Almirante Hackett. Ele mesmo se mostrou indignado com aquela decisão. Andromeda Shepard não podia ter aquele fim. Ela era uma heroína.


– Abaixem as armas. Todos vocês – ela finalmente diz. Eles fazem isso, aos poucos, não acreditando no que acontecia. Ela própria não acreditava – Jack. Você também.


– Não!


A jovem não deixa aquela energia em volta de seu corpo morrer.


– Jack! Obedeça minha ordem!


Ela fecha os olhos. A energia começa a se dissipar. Estava no centro da Ponte de Comando, frente a uma dezena de soldados. Ela foi a primeira a se colocar na frente deles.


– Se levarem a Shepard – diz a jovem – vocês todos estarão condenados a morrer. E sabem de uma coisa? – Ela olha para Hackett. O olhar dele era de quem concordava com ela. Um dos almirantes mais condecorados da Aliança concordando com uma criminosa assassina. – Quando os Reapers chegarem, vai ser Shepard a única esperança de merda que vamos ter. Se vocês a condenarem à morte... serão vocês que vão estar se condenando.


Essa era a Jack que ela conhecia? De onde aquilo veio? A sua tripulação abre caminho para que ela passasse, escoltada pelos quatro oficiais da Aliança. Todos os outros também abaixaram as armas, a mando de Hackett. 


Tudo que Andromeda consegue pensar agora é em seus amigos. Seus companheiros. Aquele grupo de desajustados e vagantes que ela transformou em salvadores da galáxia. Não, não foi só isso que aconteceu. Eles também a mudaram. Se não fosse por eles, a sua esperança já tinha se esvaído a muito tempo. Eram eles que a mantinham de pé, eles que ajudaram a construir aquele farol inderrubável de esperança que era ela.


Não haveria Shepard sem aquelas pessoas. E se os Reapers podem ser impedidos, será ela, Andromeda, e eles, seus amigos, que vão fazer isso.


Os Reapers estavam vindo. 


E ela estava sendo presa.


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Notas finais do capítulo

Comecei a escrever a história antes de Mass Effect 3 ser lançado. Agora, um ano depois de seu lançamento, resolvi retomá-la.
A parada súbita entre as narrativas de ME2 e ME3 é mantida aqui, mesmo com a adição de John. Assim como no jogo, Shepard é separada de sua tripulação e cada um segue o seu caminho. O mesmo vai acontecer com John 117.
A história seguirá o passos de Mass Effect 3, mas com ajuda de Chief na luta contra os Reapers. As coisas, obviamente, serão diferentes.



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