Eu lembro que chorava, era uma dor insuportável, que não sei se iria passar. Minha cabeça parecia que ia explodir, eu lembro o que ia fazer lá e essa loucura me fez cair. Ouvia gritos, muitos gritos, a voz da minha mãe chorosa falando com alguém, também de um olhar triste sobre mim, equipamentos sobre meu corpo e muita dor. E então abri os olhos.
Uma luz não tão clara fez meus olhos se fecharem de novo, um suspiro que parecia de alivio veio da minha frente, retornei a abrir os olhos e dessa vez foi lentamente. Havia uma mulher de branco na minha frente, seu semblante era de satisfação e felicidade.
- Estou no céu? – perguntei e percebi que minha voz estava fraca
A mulher loura riu.
- Não Samantha, está no hospital. Você sofreu um acidente ao cair da escada, quebrou o pé e o cotovelo. – falou calma
De imediato olhei para meu pé que estava com um gesso groso em volta dele e meu cotovelo no mesmo estado.
- Eu me lembro do chão, minha cabeça doía muito e sangrava, mas como vim parar aqui? – toquei em minha cabeça, estava toda enfaixada.
- Bom você teve um corte na parte lateral na cabeça, nada muito grave e o seu amigo, Enzo se não me falha a memória chamou a ambulância assim que lhe viu.
- Há quanto tempo estou aqui?
- Hoje se faz uma semana, é normal você perder noção do tempo e do espaço, por conta do tempo que está desacordada.
- Eu quero minha mãe, por favor.
A doutora tocou na minha mão sorrindo, concordou coma cabeça e saiu. Logo após entrou uma mulher, não tão alta com os cabelos ruivos um pouco mais escuros que os meus e um sorriso triste, era minha mãe. Ela veio depressa até mim, me abraçou não tão forte e ainda pude sentir lágrimas molhando minha roupa.
- Minha querida, que bom que acordou! – falou com voz abafada
Mamãe se afastou de mim para que pudesse ver meu rosto, secou seus olhos com a mão e sorriu triunfante.
- Você tá bem? Meu Deus, eu fiquei tão preocupada Samy, não faça isso de novo comigo.
- Calma, estou bem mãe, não sinto mais dor.
Ela sorriu, mas logo vieram os soluços em meio ao choro.
- Eu pensei que você ia morrer meu amor, você perdeu tanto sangue e eu e seu pai não podíamos fazer nada.
- Como assim, fazer nada?
- Samy, em alguns casos os pais não tem o mesmo tipo sanguíneo dos filhos e isso aconteceu conosco. Você precisava de sangue, só que não podíamos fazer nada e então uma pessoa tinha mesmo tipo de sangue que o seu. – ela falou mais calma, não chorando agora.
- Quem mãe?
- Enzo.
Enfim tudo se encaixou, eu me lembro dele falando que eu ia ficar bem, que o que pudesse fazer para me socorrer assim faria e também se sentia culpado.
- Onde ele está?
A expressão da minha mãe passou feliz para preocupada.
- Oh minha querida, ele esteve aqui no dia em que chegou ao hospital, doou o sangue e foi para casa.
- Como assim?
- Ele não veio mais te ver, sinto muito minha filha.
Eu sorri tentando disfarçar.
- Mamãe, pode pegar algo para eu comer? Estou faminta.
- Claro Samy, tudo o que quiser. – ela sorriu e foi de imediato fazer aquilo que havia pedido
Assim que ela saiu soltei o choro. Ele disse que estaria comigo, que não me deixaria e tão somente mentiu, ele me deixou mais uma vez. Estava com raiva do Enzo, aliás, se não tivesse me preocupado tanto não estaria aqui nessa cama de hospital. Olhei para o criado mudo e peguei meu celular. Disquei seu numero e sabia que dessa vez ele me atenderia.
- Alô? – ele disse – Samantha?
- Não sua vó.
- Mesmo doente cheia de gracinhas.
- Por que não está aqui? – ignorei sua piadinha
- E por que eu deveria estar?
- Só por que é sua culpa de eu estar aqui, se você não tivesse me ignorado duas semanas eu não estaria nesse estado, ou melhor, se não estivesse com a piranha da Lindsay na cama quando fui te ver e não teria que caído na escada. Você não contou isso para minha mãe não é? Só quis de posar de herói salvando a donzela em perigo, mas esqueceu de que o vilão é você.
- Samy... – o interrompi
- Não me chama de Samy ok? Droga Enzo, eu passei duas semanas pensando em você, em tudo que havia acontecido entre nós, se era só físico mesmo e se valia a pena eu continuar amando o Matt enquanto a vida me dá uma oportunidade de ter um novo amor. Cheguei a uma conclusão que não queria assumir, que nem se quer gostava de pensar, eu estou apaixonada por você e fui até sua casa há uma semana para te falar isso. E te encontrei num estado melhor, me provando que estava errada, que você mentiu quando disse que estaria comigo, e... – parei, meu choro estava sufocante.
- E?
- E talvez seja melhor eu esquecer tudo o que passamos e que não passou de um envolvimento físico. Você apenas me ajudou a conquistar o garoto que eu amo, foi apenas uma ferramenta e nada mais. Isso dói, mais pelo o que você já me mostrou, vai ficar melhor assim. – desliguei
O choro veio junto a angustia e o desejo de que aquilo passasse também. Eu mentiria agora, para mim, para o mundo, eu vou negar com todas as forças que ainda me restam esse sentimento que tende a nascer mais forte, eu estava sozinha agora. Minha mãe entrou no quarto e vendo o meu estado deixou a bandeira na cadeira e abraçou, não falando nada.
Depois de um tempo ela quebrou o próprio silêncio.
- Tem alguém que quer te ver!
- Não mãe, eu não quero ver ninguém.
- Será bom pra você, acredite. – ela disse suave e saiu do quarto.
Alguns minutos depois, no qual parecia uma eternidade, uma cabeleira loira entrou na sala, com um buquê de flores na mão e um sorriso no rosto. Matthew.
Ele deixou o buquê no meu colo e sentou-se na beirada da cama ainda perto de mim.
- Oi – Matt disse
- Oi.
- Então, como, hm, você está?
- Estou bem, como pode ver, já estive melhor.
- Eu vim aqui pedir desculpas.
- Pelo o que? – me fiz de sínica
- Por eu ser um idiota e fazer sofrer a única garota que me amou de verdade.
- Ok, por essa eu não esperava. Nunca falei o porquê de eu amar você e não foi por ser popular. Quando olhava pra você sentia ternura, algo muito bom, quando sorria minhas pernas ficam bambas, não sabia o que fazer. Você nem quer sabia que eu existia, só ficava com seus amigos idiotas fazendo coisas idiotas, destruindo corações de garotas, sendo um babaca na verdade. Só que eu sabia que lá fundo você era um garoto doce que sua mãe tem orgulho, que se fechou depois que a irmã morreu e que havia muito amor nesse coração. Então quando começamos a sair, você foi esse garoto, o garoto que eu amo, até a Missie ficar grávida e desse jeito destruiu tudo o que tinha construído sobre você.
- Está dizendo que eu você não vai rolar é isso? – perguntou-me triste, podia sentir sua voz um tanto quanto desesperada.
- Não, estou dizendo que esse garoto ainda está ai, eu o amo, mas que ele me magoou muito. – passei a mão em seu rosto – Eu quero dar uma chance a nós mais uma vez, se você quiser é claro.
Matt sorriu e percebi que era o certo a fazer, que eu devia ficar com ele, esse era o meu destino. Ele me abraçou e pela primeira vez disse:
- Eu amo você!
E tudo ficou claro como água cristalina, talvez seja melhor assim, ou não.