- Já vai! - falei assim que a companhia tocou.

Fechei o caderno e fui atender, me deparando com uma Missie que se derramava em lágrimas, mas mesmo assim uma raiva transparecia nos olhos. Ela entrou, fechei a porta e por um tempo veio o silêncio, então ela me entregou uma folha, que parecia um exame, eu não queria ler de verdade. Faz um mês que ela está estranha comigo, desde o dia em que sai com Matt e realmente não queria acreditar que ela estava com ciúmes.

- O que é isso? - perguntei calma

- Leia - Missie disse sem me olhar

Eu passei os olhos pelo papel, parei em uma palavra que mudaria totalmente a vida dela. Um exame de gravidez, uma exame de gravidez positivo. Fui até ela e a abracei forte, que chorou e chorou no meu ombro por um incontável tempo, então bruscamente ela se afastou de mim, sentando no chão, sentei ao seu lado preocupada.

- Me diga o que está acontecendo Miss, sou sua amiga não é?

Ela me olhou por um extenso minuto, séria, pálida como sempre, olhos firmes e duros, então riu, uma risada de dor e voltou a chorar.

- Vamos amiga, você consegue, me diga - eu disse paciente - Passamos por tantas coisas juntas, essa gravidez também vai ser assim, confie em mim, eu vou te ajudar.

- Você não entende não é? Eu fui expulsa da escola, da minha casa, eu estou morando de favor Samantha ninguém pode me ajudar.

- Calma Miss, eu estou aqui e posso você vem morar aqui em casa e poxa não fica assim eu posso pagar a mensalidade da escola pra ti.

Ela riu seca.

- Não pode Samantha, dá pra parar de ser assim, tão boa?

- Miss para com isso, até parece que está falando com uma estranha, você é como uma irmã pra mim.

- Cala a boca, por favor, para com isso, para de ser tão boa, de ser tão iluminada, tão segura, tão cheia de si, que todos prestam atenção.

Fiquei perplexa, aquelas palavras me atingiram como bala, não estava entendo tudo isso.

- Aonde você quer chegar, por que eu... - ela me interrompeu

- Me deixe terminar. Eu não te mereço Samantha, esses anos todos você vem renunciando tudo por mim e tudo que sei fazer é te trair, te apedrejar pelas costas. Você me ajudou quando eu não tinha nada e sem ligar me deu o que você tinha, eu não sou assim, infelizmente não. Esses anos todos eu ouvi você falando do Matthew, amando ele, querendo ele, eu tive inveja do amor que você sentia e queria sentir também, então foi quando eu comecei a gostar dele tão intensamente que não cabia dentro de mim. Eu tive que rejeitar tudo isso, ignorar, chorar todos os dias e ainda sorrir pra você, pegar várias meninos enquanto você o esperava. Quis te ajudar e realmente fiquei feliz por um tempo, até você sair com ele, até ele gostar de você. - Missie parou por segundo para secar as lágrimas - Um ódio me consumiu, não aguentei e quando você veio falar de vocês, eu disse para mim mesma que não mentiria mais pra mim e nem pra ninguém. Fui até a casa de Matthew um dia antes de ele sair com você, pedi pra ele ficar comigo, ele recusou, disse que gostava mesmo de você, foi ai que implorei e por pena ele ficou comigo, de jeito se que é me entende, tudo rápido demais, mas deu tempo para que eu engravidasse, do garoto que você ama, eu vou ter um filho dele, do seu querido Matt. - ela riu fria como gelo e parou de falar, não me olhou.

Um excesso de choro me dominou, soluço pós soluço, me encolhi no chão abraçando minha pernas. Não tinha nada o que dizer, ela me traíra todo esse tempo e Matthew também, fingido, descarado e o pior é que sempre a ajudei, recusei todos minha chances pra ela brilhar e como um obrigada apenas faz tudo errado e me machuca.

Missie levantou, veio até mim, abaixou-se um pouco para que olhasse nos meus olhos e disse:

- Você não é brilho agora Samantha e me desculpa, espero que um dia possa fazer isso de verdade e me entender, você não nasceu pro Matthew, você é bem melhor do que isso.

Uma fúria, um rancor, um nojo de mim mesma dominou-me, eu levantei, ficando de frente a ela.

- Saia da minha casa agora! - extrapolei me libertando

- Ora, ora quem está bravinha? Cadê a menina boazinha ruivinha?

- Está aqui, sempre esteve e sempre vai estar. Você não quer o monstro não é Missie? Por que se quiser eu posso te mostrar, destruir tudo o que eu construí por você, aliás, quem é você mesmo?

- Você acha que pode fazer isso Samantha? Coitadinha de você Sammie, foi traída pela melhor amiga, MENTIRA! - ela gritou, assustando-me - Traída fui eu todo esse tempo, você pode parecer tão meiga, mas não é. Só sabe ver você, enxergar seu umbigo, fazer as coisas pro seu próprio bem.

- Cale-se Missie e saia da minha casa, suma da minha frente, não olha na minha cara e não te desejo nada de ruim, apesar de que essa criança não mereça a mãe que tenha, não é? - perguntei vitoriosa não esperando resposta.

Virei de costas para ela e apenas ouvi a porta se batendo.

As lágrimas começaram a cair, céus, como doía, feria, cortava, sangrava, queria que isso parasse, acabasse eu vivesse feliz para sempre com o príncipe, mas no meio do caminho havia uma bruxa má. Em histórias que li normalmente a traição era o fim para um novo começo, mas na minha era começo para o fim. Eu sequei as lágrimas de dor que caiam sobre minha pele clara, sorri e levantei-me decidida, peguei meu celular, faria tudo o que possível. Disquei o numero que gravara na minha mente, um toque que e já atendeu.

- Está disponível?

- Que voz é essa menina, tá perturbada?

- Preciso de alguém, será que pode vir aqui, por favor?

- Depende.

- Depende de que?

- Do que eu vou fazer ai.

- Você sabe.

- Estou ai em duas horas.

- Até mais, Enzo.