IV

Meu primeiro castigo

Eu fiz um caminho que geralmente leva quarenta minutos em uma hora.

Não queria chegar em casa por um motivo óbvio: foi a primeira fez que eu arrumei confusão na escola. E se com uma família comum isso já daria pano pra manga, imagina uma família com uns 300 anos de tradição?

Dei uma olhada pra trás antes de abrir a porta, tentando tomar coragem. Não funcionou. Bem, depois de girar a maçaneta eu desvendei a imagem por trás da porta. Toda a minha família estava ali, menos Alice: Jasper no canto da parede, Emmet e Victoria no sofá, Carlisle e Esme em pé atrás do sofá e meus pais logo a uns passos a frente da porta. Todos, exceto Emmet, me encaravam com olhos de acusação. Foi meu pai quem abriu a sessão:

- Renesmee Carlie, eu realmente estou muito desapontado com você. - Seus lábios se fecharam em uma linha rígida.

- Pai... – Ele nem me deixou falar.

- Nada justifica a sua conduta na escola hoje. Quase expôs toda a nossa espécie.

- Não exagera pai!- Eu disse baixo.

- Exagero Renesmee? Como você acha que as pessoas reagiriam ao ver uma menina voando a 300 km/h depois de levar um simples soco de uma garotinha de 16 anos? – Ele não gritava, mas sua voz era tão firme que parecia vibrar na minha cabeça.

As palavras dele ecoaram por um minuto.

- Sinto muito pai, eu não queria nada disso.

- Então o que você estava pensando minha filha?- Minha mãe foi quem perguntou, enquanto meu pai passava suas mãos firmes pelo cabelo.

- Eu não sei... - Opa, eu sei sim! – Quer dizer, sei sim. Eu to cansada de ser tratada como um bebê. Eu sei que tenho oito anos de existência, mas meu corpo já é adolescente...

- Não basta que seu corpo seja adolescente Renesmee, sua mente precisa ser também!- Ai, pai essa doeu em? Dormia sem essa...

- É isso que eu estou tentando fazer pai, estou tentando crescer, mas cada pequena tentativa minha acaba como uma grande idiotice pra você!

- Pois então esta decidido Renesmee, vou te dar o tempo necessário pra pensar melhor nessas tentativas. Você esta de castigo. – Ele praticamente soletrou a palavra.

- O que? Castigo?

- Exatamente.

- Mãe...

- Seu pai esta certo minha filha, você tem se comportado de maneira muito estranha nos últimos dias... – TRAIDORA.

- E como você sabe como tenho me comportado, se nos últimos dias só teve tempo pra ficar com o papai, "mantendo a chama do amor acesa"! – Emmet riu que eu sei!

- Respeite sua mãe Renesmee!

- EU TO CANSADA DE RESPEITAR TODO MUNDO E NÃO RECEBER NENHUM RESPEITO EM TROCA!

Eu disparei pela escada, bati a porta do quarto e me joguei na cama. Mas, por maior que a minha raiva fosse nenhuma lágrima conseguia penetrar meu organismo de vampira e aparecer em meus olhos. Seria tão bom chorar. Simplesmente deixar que tudo o que me desce raiva fosse levado por lágrimas, e ao final de todas elas, a dor que eu sentia poderia ser apenas um incomodo. Seria bom, mas não era assim.

Alguns minutos depois o telefone tocou. Eu corri para pega-lo no criado ao lado da cama, mas quando o coloquei no ouvido percebi que alguém já tinha atendido na extensão. Eu continuei ouvindo:

- Residência dos Cullen? – Era a voz doce e suave de meu pai.

- E ai sanguessuga!- Eu reconheceria aquela voz até debaixo d'água.

- Cão...

- Liguei pra saber como a Nessie esta.

- Irritada, rebelde e impossível.

- Eu esperava pior. Ela tem personalidade e ainda não sabe muito bem como pode ser forte.

- Essa é minha maior preocupação.

- E o que você fez?

- Ela esta de castigo.

- Bom... Que tipo de castigo?

- Ainda não sei bem, mas logo saberei.

- Quer uma ajuda?

- Adoraria.

- Tem uma festa a fantasia no colégio neste final de semana, e parece que Nessie adoraria ir.

- Obrigado cão.

- Disponha.

- Agora é melhor desligar, Renesmee pode aparecer logo.

- Claro.

Jake desligou o telefone e foi logo acompanhado pelo meu pai. Eu ainda fiquei com ele em meu ouvido e meu queixo cedeu. Porque o desgraçado do Jake queria acabar com a minha vida? Como ele sabia da minha vontade de ir pra festa? POR QUE ELE ME ODEIA?

Ele responderia a todas aquelas perguntas, de qualquer maneira, sobre ameaças, interrogatórios, torturas... Tanto faz.

Ele iria me pagar, eu ia fazer da vida dele um inferno.

A ideia de ferrar com a vida de Jacob Black fez com que um sorriso frio parecesse em meu rosto pela segunda vez naquele dia.

Eu me arrumei para o primeiro dia de castigo. Desci as escadas em silêncio e já ia abrindo a porta quando...

- Aonde você vai Renesmee?- Era minha mãe. Acompanhada do meu pai é claro.

- Ué, to indo cumprir o castigo da escola! – Falei.

- Castigo da escola? - Meu pai repetiu.

- É! Ou você quer que eu não vá ao castigo e seja expulsa da escola?

- Claro que não... Só não sabíamos desse detalhe. - Meu pai disse pensativo.

- Então vocês têm um informante muito ruim, porque é tudo verdade... - Brinquei.

- É talvez ele seja mesmo... - Meu pai respondeu baixo.

Eu enrijeci.

- O que? - Eu não entendi o que lê quis dizer.

- Não é nada minha filha... – Me engana que eu gosto.

- Não vai comer nada antes de ir? – Sabe como é mãe, eu posso estar em crise, mas se estiver me alimentando bem ta beleza!

- Não estou com fome. E se ficar, como qualquer coisa na rua mesmo. Posso ir agora? Vou me atrasar.

- Que um carona pro colégio?- Carlisle foi quem perguntou desta vez. – Estou indo para o hospital, venha comigo.

- Tudo bem então.

Eu sempre abraçava meus pais antes de sair, mas desta vez só dei as costas, eu vi que eles perceberam!

Meu lindo avô e eu saímos da sala e fomos em direção a enorme garagem que sempre caracterizava a casa dos Cullen. Ali sempre havia de sete a dez carros, o mais clássico sempre era de Carlisle. Ele abriu a porta do carro pra mim e eu entrei. Logo em seguida ele estava do meu lado dando a partida.

Meu avô dirigia bem mais de vagar do que o resto da família, certamente porque mesmo sendo vampiro, ele atendia dezenas de vítimas de acidentes todos os dias!

É sempre bom ficar com meu avô, ele transborda calma e experiência. E foi assim que ele começou a falar:

- Queria conversar com você Nessie, mas não tenho tido tempo ultimamente.

- É eu sei. Ultimamente geral ta querendo conversar comigo, até a diretora do colégio que eu achava que nem sabia meu nome bateu um papo legal comigo!- Eu disse brincando.

- Bom saber que seu senso de humor foi uma das coisas que não mudou em você.

- É. – Meu senso de humor e o jeito como eu sou tratada.

- Você mudou sim Nessie. Agora já é uma jovem, e todos estamos vendo isso.

EU AMO MEU AVÔ *-*

- Obrigada, vovô. – Ele sempre sorria quando eu o chamava assim. – Mas então porque meus pais parecem não entender isso.

- Seus pais estão com medo Nessie. Não é fácil aceitar que o único bebê que tivemos em nossa casa, hoje já não é mais criança. Você agora vai se tornar uma vampira completa, e seus pais têm medo do que você pode querer fazer com todos os seus poderes.

- Mas eu tenho o exemplo de vocês pra seguir, como eu posso fazer alguma coisa ruim se a vida inteira eu vi vocês lutando pra fazer o certo.

- É bom saber que você pensa assim querida.

- E nunca vou pensar diferente. – Eu sorri pra ele.

- Dê uma chance ao seu pai, ele só esta tentando ser um bom pai.

- AH! Alguém tem que falar pra ele que ele esta indo pro lado errado!

- E tem outra coisa, se me permite. – Ele me olhou pelo canto do olho.

- O que?

- Dê uma chance a Jacob também.

- Foi mal vovô mais não só loteria pra dar chance pra qualquer um! – Prefiro depilar a sobrancelha com fita crepe.

- Ele esta muito preocupado com você.

- Blá!

- Bem, de qualquer jeito um dia você vai entender.

Chegamos à escola.

- Obrigada pela carona vô... Pai! – Já tinha gente perto demais.

- Disponha.

Logo depois que sai do carro meu lindo vovô foi embora.

Alguns segundos depois o meu bom humor decorrente do caminho com o meu avô tinha desaparecido. Eu me lembrei do que iria fazer naquela tarde: acabar com Jake. Então eu fui marchando até a sala de esportes, onde provavelmente o treinador da equipe de corrida estaria.

Acertei, ele estava lá, conversando com alguns alunos que saíram assim que eu cheguei.

- Com licença professor. – Disse na melhor educação.

- Ah... Posso ajudá-la? – Ele respondeu também educadamente.

Eu nunca tinha reparado no professor de corrida. Caralho, ele era muito lindo! Estilo esportista, com corpo de esportista, sorriso e cabelo de modelo... Ai meu Deus, o que eu vim fazer aqui mesmo?

- Ah... Eu... Eu sou a ajudante... – babei

- Outra ajudante?

- É, parece que a diretora não tem muita criatividade... – Opa, falei isso alto? – Quer dizer...

- Não precisa dizer nada, eu acho o mesmo. Bem, mas agora que tenho duas ajudantes...

- A outra já chegou?

- Sim, a mais ou menos meia hora, esta no campo com os meninos...

- Eu devia imaginar...

- O que?

- Nada. É... Posso te perguntar uma coisa?

- É claro.

- Quando é o próximo campeonato?

- Neste sábado da manhã. Por quê?

- Ah... Não nada. Só curiosidade.

- Bem, já esta na hora de irmos pro campo. Vem comigo?

- Claro, vou ser sua sombra a partir de agora. – Que sacrifício meu Deus! *-* - Aham... Precisa que eu leve alguma coisa?

- Ah sim... Pegue aqueles coletes ali, por favor. E não se preocupem estão limpos.

- Melhor assim.

Ta bem, ta bem. Meu plano inicial falhou. Ah! Eu esqueci de contar meus planos. É que estou tão acostumada com um chato lendo a minha mente que até esqueço de falar o que penso. Bem, era simples se eu não iria à festa, Jake também não iria! Pensava que a próxima corrida fosse no domingo, então daria ao treinador a ideia não deixar seus corredores irem à festa pra que corressem melhor no outro dia. Mas, fudeu a corrida era no sábado de manhã. Porém como eu sou muito esperta já tinha um plano B. Esse eu não vou contar porque é a próxima parte da história!

Eu e o treinador moreno alto bonito e sexual fomos juntos para o campo de corrida, sabe aquele circulo que fica em volta de um campo de futebol americano, então é lá. Eu não sabia. Devo admitir que esportes nunca foi a minha praia...

Quando chegamos a turma inteira fez uma linha reta na nossa frente. E Leah, com sua roupa de ginástica mais apertada, ficou ao lado direto do treinador, nem preciso falar que eu estava no esquerdo né? Jake estava no meio exato da fita, cheio de pose! Imbecil! Ah! Ele ganhou um beijinho na bochecha da Leah, antes que ela ficasse do lado do professor! Vaca.

Então o professor começou:

- Bom, acho que já estão alongados, então pra aquecer quero todos vocês dando dez voltas ao redor da quadra agora.

É claro que o Jake foi o primeiro a sair. Exibido que só ele.

Então o professor se virou para nós duas.

- Se quiserem também podem se aquecer meninas! – Eu sabia que ele tinha falado isso brincando, mas adorei a ideia, era a oportunidade perfeita pra falar com Jake. Então eu disparei, não no modo vampiro de falar, e em pouco segundos estava ao seu lado.

- Sempre correndo atrás de mim não é Nessie? – Ele brincou. Muito engraçado.

- Eu estou do seu lado, imbecil!

- Calma, foi só brincadeira!

- Mas eu não estou de brincadeiras com você Black, então eu vou ser bem direta.

- Pode falar Cullen. – Ele continuava achando aquilo muito engraçado.

- Esta pronto pra corrida de sábado?

- Claro. Vai ser moleza.

- Você é o primeiro corredor não é?

- Fala alguma coisa que eu não saiba.

- Sabia que se alguém mais rápido do que você aparecer você vai se tornar o segundo corredor e não vai poder competir?

- Mas não existe ninguém mais rápido do que eu neste colégio, então...

- Engano o seu. Eu sou mais rápida do que você.

- Qual é Nessie, já apostamos milhares de corridas e você nunca ganhou, a menos quando eu deixava você ganhar, é claro.

- Já correu comigo como humano?

O tom dele foi surpreso.

- Não. – Ele respondeu.

- Pois então Black, você é o mais rápido em quatro patas e eu sou a mais rápida em duas. – Eu sorri.

- O que você quer Nessie? – Ele me olhava furioso.

- Quero que me explique porque quer me ver de castigo.

- O que?

- Ah Black, eu ouvi o seu telefonema pro meu pai hoje!

- Que coisa feia...

- Sem gracinhas Black, pode ir falando, porque anda me vigiando e contando tudo pro meu pai?

- Simples. Estou fazendo o que sempre fiz, cuidando de você. Só que como você não quer mais me ver, estou fazendo isso sem que você saiba...

- Peraí... – Os pensamentos vieram como um raio. Alice não poderia ter visto a briga porque Jake estava lá. Ela não estava em casa! Não teve tempo de contar a eles! E se meus pais não sabiam do castigo era porque a diretora não tinha ligado pra eles, então eles não ficaram sabendo da briga por nenhuma das duas. Outra pessoa contou. – Seu idiota! Foi você quem contou tudo pra eles.

- Foi. – Ele sorriu.

- Quer dizer que você não satisfeito de me ferrar com meu pai ainda deu a ideia do melhor castigo do mundo pra ele?

- Não. Não queria te ferrar, você fez isso sozinha quando brigou com a Leah. E seus pais iam ficar sabendo de qualquer jeito, a diretora ligaria a qualquer momento, eu só adiantei as coisas.

- Não Black, você estragou tudo. Sabe o quando eu queria ir nesta festa?

- Leah me contou! E por que você quer tento ir nesta festa? Vai encontrar alguém lá?

- Não quer que eu vá à festa por ciúmes? – Eu ri. – Por favor Black, não seja infantil. Se não conhecer ninguém na festa, posso conhecer em qualquer outro lugar!

- Claro que não é ciúmes! Só estou protegendo você, é o meu trabalho...

- Então enfia essa proteção no...

- Opa!- Ele me interrompeu.

- Bem, de qualquer maneira sua intromissão não vai valer de nada porque eu vou à festa.

- Sinto muito Nessie, mas seu pai não vai deixar, você esta de castigo.

- Ah ele vai deixar sim...

- E por quê?

- Por que você vai me levar.

- O que? – Ele sorriu. – Ta me chamando pra sair?

- Não. Eu disse que você vai me levar e não ir comigo a festa.

- Então não vai rolar. Sinto muito Nessie.

- Então acho que o treinador vai gostar muito de saber que eu atinjo 100 km/h em 2,4 segundos!

- O que?

- Andei praticando meu bem!

- Tudo bem.

- Te espero no sábado às 8h! Ah e, não fale comigo até lá. – Eu acelerei e só parei ao lado do professor moreno alto bonito e sensual. Que puxou assunto:

- Não agüentou as dez voltas?

- Não... – Fingindo cansaço. – Cinco... São... O meu... Máximo!

E tudo estava bem, muito bem obrigada.