Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 62
Capítulo 62




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Carta para Artemísia selo comum de Stranglethorn.

                Cara bruxa velha,

                O Vovô Inverno decidiu chegar mais cedo.

                Coisas para ajudar no salvamento do povo sofredor de Silvermoon. Junto há o catálogo mais grosso que consegui em Stranglethorn sobre ervas medicinais e um folheto do bruxo-doutor (Ou doutor-bruxo? Nunca sei!) do acampamento. Sou alérgica a leite. Tem cura pra isso? Immie disse que não, mas espero que sim! O bruxo-doutor disse que leite faz a gente crescer. Odeio ser a baixinha do grupo, todo mundo fica dando tapinhas na minha cabeça.

                Espero que esteja tudo bem aí.

xx S. A. xx

Ps: Não tem neve em Ratchet no final do ano. Tem aí em Silvermoon? 

Carta não enviada para Undercity, mas bilhete achado por Imladris enviado com selo de Ratchet.

                Já sei. Não tem tempo para brincadeiras.

                Pergunta: Tem neve em Tirisfal Glades? Aqui faz calor demais para ter neve.

(sem assinatura)

Ps: A mãe de Lady Annie se chamava Joannes. Ela consta como sendo parte dos Cavaleiros da Lâmina Ébano, não diga que eu avisei! Mais informações, há um registro sobre ela e um tal de Cavaleiro Negro em Tarren Mill, em uma fazenda abandonada.

Ps2: Faz o favor não falar pra menina que a mãe dela é um Cavaleiro da Morte. Isso traumatiza crianças em fase de crescimento.

Ps do Ps: Seu sobrinho Arator mandou lembranças.

Sorena fazia pequenas tranças nas madeixas longas de Kali, a mais velha estava debruçada na cama, enquanto a menor estava sentada no chão de madeira do quarto e fazia o penteado. O silêncio entre as duas era incrível e Imladris às vezes tirava os olhos de seu livro de culinária de Ratchet para fitar as duas. Realmente as coisas haviam mudado. Finalmente.

O gatinho Scido arranhou vagarosamente a cauda da pequena criaturinha peluda e dimensional, Pippin, mas ela nem se moveu em seu sono diurno. Immie acariciou o pêlo abundante da coisinha tão alva e voltou a sua leitura. Realmente aprender a cozinhar era uma necessidade. Uma missão para poucos afortunados. Fazer salada era fácil, o ruim era o resto.

 - Sorena você cozinhava na Taverna?

 - Um pouco...

 - O quê por exemplo?

 - Sopa, guisado... Às vezes Primms deixava eu inventar algo com macarrão, queijo, resto de frango e legumes.

 - E ficava bom?

 - Oxkhar devorava o tacho. - a clériga anotou a pseudo-receita na ponta da página e continuou sua pesquisa.

 - Você morava numa taverna? - perguntou Kali preguiçosamente, Sorena terminava uma das tranças e passava já para outra mecha.

 - Desde que me entendo por gente...

 - Você atendia os clientes...?

 - Arram... - Imladris levantou uma sobrancelha para a conversa informal. Esperava gritos e provocações, não conversa amena e simpática. - E quando chovia muito, a gente fazia camas no chão para os viajantes... E servíamos chá e vinho quente...

 - Devia ser bom... - Kali pestanejou, deixando sua cabeça enterrar nos braços e fechar os olhos. - Você gostava de lá? - Sorena parou a trança e olhou intensamente para o chão com uma cara duvidosa, um suspiro profundo foi ouvido pela clériga.

 - Sim... - Kali se moveu um pouco na cama e se aprontou para um cochilo.

 - Então vamos até lá quando pudermos... Quero muito conhecer o lugar onde eu te deixei quando pequena... – Imladris levantou da cama de Sorena e foi para a porta.

 - Tenho que pegar outro livro. Esse aqui é péssimo com pratos rápidos...

 - Immie... – pediu Sorena com uma carinha preocupada.

 - O que foi? – já esperando alguma coisa absurda vir.

 - Ox comeria pedra cozida se você que tivesse feito... – a clériga sorriu gentilmente e foi fechando a porta.

 - Só que eu não como pedra cozida... – disse bem baixinho e mandando um beijinho para a elfa menor. Pippin a seguiu para fora do quarto.

 - Eu como pedra cozida... – sussurrou Kali sonolenta.

 - Eu não como pedra cozida... – repetiu Sorena ajeitando algumas mechas que estavam embaraçadas. Deslizou os dedos entre os cabelos longos e castanhos escuros de Kali e balançou a cabeça para espantar o sono que viera ao realizar a tarefa.

 - Você tem sorte, porque eu sei cozinhar muito bem...

 - Tenho sorte por quê? Você vai viver aqui em Ratchet e me dar comida de graça...? – levantando devagar do chão e esticando as pernas.

 - Sim, sua boba... Eu vou morar com você e te alimentar direitinho... – a arqueira virou-se na cama ficando de barriga para cima.

 - E o seu marido em Tranquillien...?

 - Ele sabe se cuidar muito bem...

 - Você ainda continua casada com ele...? – questionou Sorena sentando em sua cama e ajeitando a saia do vestido simples que Imladris havia feito antes da viagem.

 - E há algum problema nisso?

 - Claro que sim! Você fica aqui de férias por tempo indeterminado e nem vai avisar seu marido?! – se espreguiçando e ajeitando duas almofadas para deitar-se. Scido pulou antes que ela pudesse deitar. – Scidoooo...! – Kali se levantou devagar e foi até a cama de Sorena.

 - Vamos, chispa daí gato sarnento... – Kali ameaçou com um tapinha na traseira do gato folgado e parou na frente da garota.

 - O que foi? – perguntou Sorena não olhando para ela, mas sim para a manga do vestido com um detalhe que Immie costurara com o brasão dos Abandonados.

 - Olhe pra mim? – pediu Kali levantando o queixo da mais nova.

 - E pra quê isso? – Sorena tentou desviar o olhar novamente para o teto. Kali ficou bem próxima da cama, de pé e roçando as pernas nas de Sorena sentada.

 - Não quer falar nada não?

 - Não... – a elfa mais nova deu de ombros. – Quero dormir. Tou com sono. – Kali não largou o queixo de Sorena e esta tentou se afastar. A mais velha se abaixou um pouco e ficou encarando bem os olhos da feiticeira aposentada.

 - Eu gosto dos seus olhos... Eles não são verdes como os nossos...

 - Claro que são! Eu sou uma elfa-do-sangue não?

 - Você se tornou uma... Era uma Alto-Elfa antes...

 - Não vejo diferença alguma entre eu e você...

 - Eu nasci assim... Meus pais eram seguidores do Príncipe Sunstrider...

 - Ah... – Sorena estava tão hipnotizada pelo brilho esverdeado dos olhos de Kali que forçou as vistas. – Os seus olhos são verdes mesmo... – ela comentou tombando a cabeça.

 - Mesmo?

 - É... debaixo dessa coisa verde toda... Dá pra ver que são verdes... Bem assim verde escuro...

 - Você gosta... deles...? – ficando na mesma altura que o nariz de Sorena.

 - Arram... Tem a cor das folhas das árvores... – Kali sorriu tristemente e acariciou os cabelos vermelhos de Sorena. – Eu gosto de árvores...

 - Coincidência... Os seus tem a cor das árvores lá de casa... – se inclinando um pouco para chegar mais perto. Sorena virou-se para se aconchegar no colchão macio e interrompendo o momento entre elas.

 - Se importa se eu tirar um cochilo? Hoje a festa vai ser longa...

 - N-não... – se erguendo e ajeitando as costas. O gato a olhava curioso. – Quando acordar, não se esqueça das aulas de concentração, sim? Estarei lá embaixo praticando um pouco...

 - Vou esquecer não... – e virando-se subitamente. – Deixa o Scido aqui?

 - S-sim...

 - Eba... – voltando a mesma posição encolhida na cama e pegando Scido para abraçá-lo.

 - Você trata de vigiá-la, ouviu? – disse Kali beliscando a orelhinha caída do filhote antes de sair do quarto.

 - Então...?

 - Então o quê?

 - Como foi a conversa... ahn... particular?

 - O QUÊ?!

 - Ah Sorena... Você dá muito na cara!

 - O QUÊ?!

 - É a Kali, a não ser que você flerte agressivamente com outras pessoas que eu não saiba...

 - Não estou flertando agressivamente com a Kali!!

 - Eu sei que não, mas você faz isso sem querer... E é tão fofo!

 - Eu não faço isso...

 - Um ponto de Negação para Drama-lhama Sorena. Cadê ela, falando nisso?

 - Quem, a drama-lhama?

 - A Kali, cabeça de murloc!

 - Não sei e nem quero saber... – emburrando o rosto de maneira infantil.

 - Hahaha! Tem um anão de Ironforge querendo pescar um Marlin Espada! Nunca que ele vai conseguir aqui no raso!

 - Alerta para cara fechada. Prevejo mau-humor nas próximas horas... – comentou Kali com um arpão enorme na mão e as calças de caça molhadas até acima do joelho.

 - Farstriders pescam com arpões?! – exclamou Oxkhar impressionado e pegando a arma leve nas mãos. – Um tanto desajeitado isso...

 - Não pescamos. Isso é para derrubar Abominações...

 - Não!! – Imladris e Sorena exclamaram juntas.

 - O que foi isso?! – Oxkhar gracejou fincando a ponta do arpão na areia fina.

 - Abominações são fofas! Eu brincava com elas quando criança, ótimas pra nos balançar e levar pra lá e pra cá em Undercity!

 - Construtos meticulosamente acoplados com a arte da necromancia e alquimia para terem funcionalidade perfeita como máquinas de guerra na linha de frente!

 - Eu que o diga! Lembro muito bem da minha primeira Abominação... – Ox torceu o nariz em desagrado. – Fedida, grande, terrivelmente mortal.

 - E eu estava lá!! – Immie sorriu largamente. – Sempre gostei de passear em Strat com os grupos de reconhecimento... – o esposo teve que encará-la. – É um lugar fantástico! As bibliotecas continuam intactas!

 - Primeira Abominação: 17° dia do solstício de final do ano, 3° missão dos Farstriders nas Terras Infectadas Ocidentais.

 - Lá está cheio delas! – Immie exclamou empolgada.

 - Derrubamos muitas naquele dia... – disse Kali ajeitando a postura com orgulho.

 - Primeira Abominação... – lembrou Immie. – Luzran, o terrível em Cicatriz Letal. Só fui acordar com uma moça muito simpática me protegendo do pobre construto dominado pelo Flagelo. – Sorena girou os olhos em desagrado.

 - Toda conversa agora cai sempre “nela”...

 - Nem foi a Dama Sombria! Foi uma moça muito linda e vestida de branco. Já perguntei várias vezes se existiam Bem-Nascidos com a coloração azulada na epiderme, mas ninguém me respondeu ainda...

 - Uma Alma Curadora te salvou do Luzran?! – perguntou Kali espantada, Imladris concordou avidamente.

 - Aí alguém muuuuito especial chegou e despachou qualquer servo do Flagelo que estava ali perto... – Sorena estapeou a testa e se afastou. Os olhos de Imladris estavam cheios de lágrimas de emoção. – E aí a Dama Sombria me salvou pela primeira vez na minha nova vida... Destruiu Luzran e me levou para um lugar seguro com os Magos irresponsáveis e tapados que me perderam um ano depois na linda Undercity...

 - Credo, Mi... Você não havia me dito isso... E a Aminel?

 - Ela só me deixou lá pra morrer. Ficou com medo e saiu correndo.

 - Eu faria o mesmo se tivesse a idade dela... – comentou Sorena ajeitando uma varinha para ela.

 - Bem, querida... Luzran é só uma lenda que ninguém tem o prazer de contar em Tranquillien. O nosso grande problema agora é o irmão gêmeo dele Knucklerot. E você Sorena? Qual foi sua primeira Abominação?

 - Nunca tive primeira Abominação, nem quero ter...

 - Claro que sim! – Ox revidou, a irmã já se afastava lançando graciosamente a linha e anzol no cais onde a competição acontecia. – Ela controlou uma lá em Undercity quando... – Imladris fez uma mesura com a mão, ele se calou.

 - Não era ela. Era o crápula irresponsável do Mestre Derris a controlando.


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