Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 61
Capítulo 61




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 - Esse vai ser nosso primeiro encontro... – comentou Oxkhar segurando bem a mão da esposa.

 - Hallow’s End não contou não? – Imladris ficou indignada por ele não ter se lembrado da data mais importante para ela no calendário ods Abandonados.

 - Ah valeu! Mas não foi assim um encontro “encontro”...

 - E o que seria um encontro “encontro” pra você?

 - Você sabe! – Imladris riu e negou com a cabeça – Toda aquela coisa romântica de jantar a luz das estrelas, calorzinho de fogueira na praia à noite, juras de amor sussurradas ao vento... Essas coisas de menininhas meigas... – ele disse um tanto ruborizado por ser as idéias dele de encontro romântico.

 - Ox...

 - Eu?

 - Cala essa boca e me beija logo...

 - Mas...!

 - Schiu! – a esposa mandou o interrompendo com um beijo apaixonado.

 - Acorda!! – Kali a cutucou com o dedo indicador na costela fraturada, Sorena deu um pulo no lugar onde estava encostada e já cochilando pelo som do Mar batendo nas pedras.

 - Ai!!

 - Vai perder os fogos!

 - Faço melhor lá em Ratchet... – resmungou a mais nova se enfurnando no casacão de frio que conseguira em uma vendinha de usados. Estava tão mole que nem conseguia levantar a cabeça direito.

 - Duvido! – apontando para o nariz dela e o puxando devagar para que acordasse – Você vive falando que tudo de lá é melhor... E que faz tudo melhor que os outros. Mas você é uma metida mesmo hein?

 - Mas eu sou melhor sim... Já encontrou alguém como eu andando por aí?

 - Felizmente não... – os fogos pipocavam o céu escuro do Cabo Straglethorn em diversas cores ao mesmo tempo. Gritos e urros de alegria vinha de todos os lugares, Kalindorane gritou bem alto, Sorena pulou de novo no lugar.

 - Quer parar com a barulheira aí?

 - Mau-humorada.

 - Tou tentando dormir.

 - É Ano Novo oras!

 - Pra vocês... Pra mim amanhã é o mesmo que qualquer dia. Todo dia é exatamente o mesmo dia pra mim ultimamente. – dizendo baixinho e se sentando em um ponto em que havia um motinho de areia fina. Kali se assentou ao lado dela a segurando bem pelo lado. – Não aperta! Dói!

 - Tá, menina de vidro! Parece que vai quebrar desse jeito...

 - Costela fraturada, lembra? – apontando o ponto onde a arqueira segurara. – Ainda não resolvida a participar da regeneração de meu corpo...

 - Nem clériga Artemísia ajeitou isso?

 - Ela disse que demora a colar direito...

 - Ela disse isso...?

 - Minha mãe tem umas gírias estranhas...

 - Enviou notícias para ela?

 - Mandei por telepatia. – a cara da arqueira foi cômica. – Mães têm telepatia, não sabia?

 - Não tive muito tempo com a minha para descobrir esse atributo...

 - É o kit pós-parto. Telepatia avançada, detecção de movimentos suspeitos de filhos, e o pior! Modo mãe agressiva que ataca qualquer tipo de criatura viva ou morta em um raio de 15 metros.

 - Da onde você inventa essas coisas?

 - Já observei bastante o comportamento de mães em meu tempo em Goldshire.

 - Oh sim... Sorena, a observadora.

 - Engraçadinha... – bocejando e se enfurnando mais no casaco.

 - Dá um espacinho aí?

 - Não. – tirando uma manga do casaco e oferecendo para a mais velha se aconchegar dentro. – Não havia muito que fazer por lá... Além de servir refeições e bebida...

 - Guardar cabeças decepadas de parentes desconhecidos debaixo da cama...

 - Não foi de propósito! Era a única coisa parecida comigo...

 - Uma cabeça em decomposição?!

 - Orelhas pontudas? Ele as conservou e tudo mais...

 - Você nunca viu um elfo enquanto morava em Goldshire?

 - Conta Elfo da noite? – a careta de Kali respondeu o argumento. – Não, não conta. Eles eram raros...

 - Nenhum mesmo?

 - Ahn, teve uma vez que... ahn... não.

 - Por isso você é toda complexada! Nunca viu alguém de sua espécie durante a vida toda e a primeira oportunidade é alguém morto que te apresenta! – abraçando Sorena de lado com cuidado e puxando a gola do casaco para cobrir o pescoço dela. Os fogos continuavam em um som estrondoso e as duas conversavam murmurando uma no ouvido da outra.

 - Hey! Não é assim também tá? Tinha aquela estátua lá no Vale dos Heróis... Era da minha tia Alleria... E ela não era nada parecida comigo!

 - Por que não?

 - Exageraram nos peitos... E as orelhas... Não eram caídas pra trás, são erguidas pra cima! – uma corrente de fogos diferentes enfeitou o céu e muita gente fez o famoso: “Ooooooh!!” de espanto. – São só fogos de artifício!

 - É Ano Novo, sua tonta! – riu Kali com a revolta dela. – Tempo novo para novas decisões e novos desejos.

 - Isso é tão lugar comum!

 - Você não sabe o que é ser normal não?

 - Não quero saber! – mais outros urros de espanto com o espetáculo, uma imensa cascata de fogos mágicos fez o formato de um dragão acobreado no ar. As duas se viraram ao mesmo tempo ao ouvirem Imladris gritando empolgada.

 - Dragããããoooooo!! – Sorena estapeou a testa e Kali riu da clériga.

 - A Immie é uma figura... Sou fã dela... – voltando-se para Sorena que ajeitava a manga da camiseta longa que usava. Ali debaixo do Cais fazia muito frio, mas fora o melhor lugar que encontraram para ver os fogos maiores. – Mas me diga... E sua tia tem uma estátua em Stormwind? Famosa hein?

 - Sim, deve ser, sei lá o que ela fez de bom... Meu primo Arator vive dizendo coisas ruins sobre ela...

 - Quem?

 - Arator, meu primo? Ele é um outro Windrunner pirado que vive em Outland e é paladino que nem o pai. – e pigarreando para desabotoar um pouco a blusa na gola, ela continuou. – Já disse o quanto paladinos são manés? E paladino da Aliança? Piores que vigias élficos!

 - Isso não me ofende nem um pouquinho, espertinha linguaruda...

 - Frangotestrider...

 - Acho graça de você nos tratar assim... Caso não se recorde, todos em sua família fizeram parte de nossa organização...

 - Corrigindo: Apenas três. Meus avós eram contra, tio Lirath era herbalista e papai sequer queria saber desse povo...

 - Sabendo demais sobre a família hein?

 - Vovô resolveu me contar um pouco. E li em Silvermoon quando estava por lá antes de...

 - Aaaah sim na época em que você simplesmente se esqueceu de ir ao meu casamento...

 - Você vai remoer isso pra sempre?

 - O quanto eu puder te lembrar do quão idiota você foi por não ir, sim, irei remoer o evento... – sentindo a testa de Sorena e percebendo que ela estava com febre. – Você está febril, linguaruda...

 - E-eu não estou quente assim... É o calor do casaco...

 - Sei... – chegando bem perto e sentindo a pulsação no pescoço da garota com os a ponta do nariz, Sorena se encolheu e escapou do carinho disfarçado.

 - Não estou com febre... Não tenho nada desde que saí de Silvermoon. Tratamento completo dos clérigos engomadinhos... – pregando o botão da gola novamente.

 - Por que você não foi ao meu casamento? – Kali estava bem perto novamente.

 - Por que eu não tinha tempo? Nova Praga, meu pai doente, descoberta de genealogia da família?

 - Estava com vergonha não é?

 - Pode ser isso também...

 - E tem algo mais que eu sei... Ciúmes talvez?

 - Por que eu teria ciúmes de você? – riu Sorena afastando a perna encostada na perna da arqueira e desviando o olhar.

 - Eu conheço bem ciúmes quando vejo... E você poderia ter ido lá e na hora do “Alguém tem algo contra que esse casamento não se realize?”, você bem que poderia ter feito escândalo, drama-lhama.

 - Oh sim, porque você é a mulher mais linda de Azeroth e todos te disputam a tapa, não? Ainda bem que NÃO fui criada entre vocês...! Humildade ainda conservo bastante em meu coraçãozinho élfico... – Kali ficou a encarando com o rosto apoiado na mão e com um sorrisinho satisfeito disse:

 - Então eu fui a primeira elfa que você viu em sua vidinha pacata... Já que em Undercity...

 - Não, teve um manajunkie no Apotecário e a Immie... E o Embaixador Sunsorrow e a Paladina Dawnrose... E minha outra tia, mas ela está morta, então não conta...

 - Lady Sylvanas não está morta!

 - Oh bolotinhas, vamos discutir isso também? Immie me fez prometer que não devemos mais expressar nossas opiniões sobre esse assunto...

 - Lady Sylvanas não é morta e nem está morta... Ela é uma líder respeitada por todos na Horda. E você e a Immie podem ter acordos, mas quando o assunto é você e eu, isso é diferente.

 - Porque você vai defendê-la e balançar pompons porque ela foi a Frangotestrider mais legal do mundo?

 - E aposto todo o dinheiro que tenho que você a inveja por isso... – a cara de Sorena foi de surpresa. – Você inveja esse status de Lady Sylvanas, a arqueira mais eficiente de Azeroth, a líder mais fantástica da Horda, a General-Vigia que cuidava de nosso povo em tempos de guerra e paz...

 - Do que você está falando?! – se ajeitando longe do toque de Kali e descosturando parte da manga do casaco pelo puxão brusco que deu para se afastar.

 - Acontece que ela não é mais sua tia. Você deveria ter entendido isso desde o começo. A posição que ela ocupa é bem mais importante que ser a “sua tia”... Eu diria que ser “sua tia” é irrelevante no momento. – a mais nova a olhou com confusão e um faiscar avermelhado refletiu em seu olhar. – O que foi? Tá com raivinha por eu dizer a verdade tão claramente?

 - Você é tão delicada às vezes...

 - Você nem sabe a metade da quão delicada eu posso ser... – sorrindo maliciosa e voltando a sua discussão. – Como se você não fizesse o mesmo e na mesma intensidade! Suas brigas com a Immie são de dar nos nervos do quanto você é teimosa e ela mais ainda. – silêncio do outro lado, mas os fogos ainda explodiam no ar e enchiam a praia do Cabo. – E é tão ridículo essa sua teimosia porque você deveria ter se conformado com essa coisa toda de família. Tragédia familiar, todo mundo tem. A sua não é mais importante que a dos outros...

 - E você deveria ficar calada quando tem a chance...

 - Você não dá a mínima para a clériga Artemísia e ela te ajudou tanto! Só fica correndo atrás de fantasmas...

 - Os Windrunner não são fantasmas! – exclamou Sorena quase se levantando, mas Kali foi rápida em puxá-la pela cintura e colocá-la no montinho de areia novamente.

 - Quer que eu enumere quantos de vocês viraram fantasmas...? – fazendo o nº 4 com os dedos – Seu avô é um morto-vivo ambulante solitário em Fairbreeze, morre de medo de ajudar os outros e de desabafar o que aconteceu ou sequer tentar voltar para casa. Mestre Andrus, coitado, fica tão enfurnado no Beco Murder que quando vai em missão parece um zumbi... E pelo que percebi sua tia Vereesa não é lá muito agradável com nossa espécie, sempre remoendo essa besteira de “sangue-puro”. – quando Sorena iria protestar, ela a interrompeu. – E só foi gentil comigo porque clériga Artemísia estava ao meu lado. E ela não a trata pior porque sua mãe foi muito amiga dela no passado.

 - Cala logo a boca e termina de ver os fogos? – desconversou Sorena prestando atenção em outra cascata em formato de águia.

 - E você não deveria remoer tanto... Isso acaba com seu espírito, olha só pra você! Quando te achei perdida lá em Tranquillien, você era bem mais audaciosa! Tinha mais vontade de insultar os outros do que agora.

 - Porque é ótimo saber que sua tia entrou na sua cabeça, controlou suas pernas e te deixou sozinha numa vila lotada de nerubianos depois de drenar tudo que tinha lá dentro...

 - Você não deveria falar assim dela. Ela deve ter os motivos...

 - Todo mundo diz isso! – se levantando e caminhando em círculos. – Todo mundo defende ela!

 - Você queria que eu te defendesse?

 - Eles me chutaram de casa assim que nasci! E ela poderia ter feito coisa melhor do que me jogar em uma família humana!

 - Você foi retirada de uma necrópole, cara linguaruda. – foi a vez de Kali levantar e dar o casaco de volta para ela, mas Sorena voltou a andar em círculos. – Silvermoon era lotada de feridos nas ruas e caminhávamos pelos cadáveres de nossos amigos do lado de fora. É assim que você gostaria de ter sido criada?

 - Eriol foi e não deu problema algum!

 - Enviei Eriol pra Dalaran assim que Tranquillien foi sitiada. Você faria o mesmo se visse seu próprio irmão sendo ameaçado de morte todos os dias...

 - Ainda assim não concordo com nada que você fale... – Kali apertou o nariz dela com força. – Aieeeee!! – com a voz fanha.

 - Se quer achar alguém pra culpar por ter sido deixada em Goldshire, pode me culpar... Fui eu que te entreguei pras arqueiras...

 - Você o quê?! – o tom de voz da mais nova foi esganiçado.

 - Sim, ninguém te contou isso não? – a cara de Kali era de inocente. – Lady Sylvanas me passou a missão de encontrar um lugar calmo para você crescer... Como Lordaeron toda estava em pé de guerra e ser criada por anões estava fora de cogitação, fui até a Irmandade das Arqueiras da Lady Raven. Tinha algumas conhecidas que faziam parte e a líder delas na época aceitou com bom grado...

 - Eu apareci no riacho atrás da Taverna do Sol boiando em um embrulho com a cabeça decepada!! – gritou Sorena contrariada, estava começando a ficar irritada com tanta informação nova.

 - Deve ter sido a Karin que deve ter feito isso... Para o velho paladino aceitar de propósito, eu não sei...

 - Você tá dizendo que tudo foi armado?! Que vocês escolheram o meu destino sem nem pedirem opinião para os outros?

 - Você era um bebê ainda, então...

 - Estou falando do meu pai e meu irmão!! Tudo piorou na vila depois que eu cheguei!!

 - Não comece! – Kali dobrou o casaco em volta das mãos e caminhou até ela. Sorena se afastou com raiva e caminhou em direção ao vilarejo litorâneo. – Eu não tinha escolha! Ou era te deixar ali ou te criar!

 - Me jogava em um barranco e tudo seria perfeito!!

 - Pare de se martirizar! Eu nunca faria isso! – Kali segurou a mão dela, mas a mais nova escapou se misturando a multidão de pessoas que agora cantavam e choravam de felicidade pelo espetáculo de fogos e pelo Ano Novo. Ox e Immie estavam bem grudados um ao outro lá em cima no cais. A arqueira se espremeu entre a multidão e viu que Sorena entrara na Hospedaria onde estavam. – Sorena! Sorena!

 - Sai da minha frente! – os olhos dela estavam alaranjados novamente e lágrimas caíam sem ela querer. – Por que simplesmente não me afogou naquele maldito rio?!

 - Eu já disse que nunca faria isso!! Você era um bebezinho!

 - Você me segurou no colo?! Quantos anos você tinha?! Oito?!

 - 15 anos...

 - O QUÊ?! – e circulando pela soleira da Hospedaria vazia, já que todos estavam lá fora apreciando as festividades.

 - Eu era novinha ainda e... e... foi a minha primeira missão fora de Lordaeron, eu tinha que fazer alguma coisa! E rápido porque tinha muita gente de olho no que eu fazia, oras! – e vendo que nada do que falara fazia a mais nova ter reação, ela jogou o casaco em uma cerquinha de madeira dali e puxou Sorena para perto. – Você tá me ouvindo?

 - Tudo piorou depois que eu cheguei... A invasão do Flagelo nas fronteiras de Darkshire, as crianças do orfanato, a morte da mamãe Maeline... Fui eu que fiz isso!! E a culpa é sua por escolher o lugar errado!! – apontando para o busto da mais velha, ganhou um beliscão bem dado na mão que apontava.

 - Respeito comigo porque sou mais velha! Não te ensinaram que é feio apontar para os outros? – Sorena se encolheu segurando a mão. – Pára de ser tão idiota, por favor?! Aquilo já estava acontecendo ANTES de você chegar. Acontece que era o lugar mais protegido de todo Continente!!

 - Às vezes eu te odeio tanto...! – murmurou a mais nova subindo para o quarto separado de Ox e Immie e se trancando pelo lado de dentro. Kalindorane tentou abrir a porta, mas desistiu chutando a porta com violência.

 - Você é uma tapada! Uma criança! Fica aí sofrendo por coisas bobas que enfiaram na sua cabeça desde pequena e é nisso que dá!

 - Você é quinze anos mais velha que eu!!

 - Quatorze e meio!! – respondeu de volta esfregando os olhos para se acalmar. – O que tem a ver isso com o resto da história...?!

 - Você me segurou no colo!!

 - E daí?! – alguns hóspedes perceberam na discussão. – Briga de começo de ano... – ela tentou se explicar sem graça. – Sorena, abre essa porta!

 - Não!! Você me segurou no colo!!

 - Pelos Céus, o que isso tem a ver?!

 - Isso quer dizer que na cabeça dela vocês nunca poderão ficar juntas pra sempre... – explicou Imladris chegando com Oxkhar. – O que dificultava com o fato de você ser casada e ter tantos anos a mais que ela piorou tudo...

 - Sorena, abre essa porta! – sentenciou o irmão mais velho.

 - Me faz abrir! – ela devolveu. Ox olhou para Imladris e desceu as escadas.

 - O que ele vai fazer?

 - Vai pular a janela... – Imladris comentou vendo se as suas unhas estavam devidamente aparadas. – Ouvimos a discussão lá de cima. Vocês duas são bem barulhentas hein?


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