Shindu Sindorei - as Crianças do Sangue escrita por BRMorgan


Capítulo 58
Capítulo 58




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Oficina de Wretched.

 - Parabéns, você faz parte da Venture C.O. & Associados! Que bonitinho... – Imladris puxou bastante a bochecha de Sorena até ela abrir a boca em um gemido dolorido. – Isso quer dizer que você é do Cartel Stealwheeler?

 - É só uma carta de recomendação. Preciso ganhar reputação lá com os grandões de Booty Bay...

 - Oficialmente você é uma propagadora de destruição em massa em áreas arborizadas em Kalimdor e Reinos do Leste. – lendo o cartão e o Manual enviado pelo correio para a amiga. – Cuidado com druidas, xamãs e subtipos, mas yeeeeey você! – levantando um dos braços de Sorena para empolgá-la.

 - Por que isso? Era pra você esbravejar e dizer o quanto estou errada...

 - Mantendo essa sua cabecinha oca bem ocupada é o meu dever... Só assim fico sossegada.

 - E se eu estiver secretamente planejando invadir Undercity com ovelhas explosivas e esquilos mecânicos roedores?

 - Aí eu vou te apresentar a uma amiga muito querida minha...

 - Sei... Amiga?

 - A Alma Curadora, conhece? – Sorena estremeceu no lugar e virou-se para o segundo Manual que recebera. Era sobre adaptações em Geringonças Voadoras Turbo.

 - Ainda acho que estou na profissão errada...

 - Lá vem você de novoooo...

 - E se for meu pai ainda habitando aqui dentro? – batendo na própria cabeça.

 - Clériga Artemísia deu a certeza absoluta que ele descansa agora em paz, sim? Nunca duvide de uma clériga.

 - Nem da Tyrande?

 - Éca! Não me faz regurgitar meu almoço!

 - Nem da Whitemane?

 - Deixa a Kali saber o quanto você cita o nome da notória Alta Inquisidora em nossas conversas... – cutucando Sorena no ombro, já que a garota ficara muito ruborizada. – E o Ox me disse que você sempre gostou de geringonças, parafusos e coisas do tipo...

 - Poderia ser coisa dele também. Cabeça flutuante ficava debaixo da minha cama.

 - Como você era mórbida... – brincou a clériga. – Guardar cabeças decepadas em decomposição debaixo da cama?

 - Você viveu entre cadáveres reanimados desde criança... – provocou a ex-feiticeira.

 - Sor, se for ele de novo, não se preocupe. Dou um jeitinho nisso pra você, sim? – limpando a testa manchada de graxa da mais nova com um paninho limpo. Os ruídos da oficina de Wretched tomaram conta do ar.

 - Immie...

 - Sim? – lendo o Manual com interesse.

 - Como é que é...?

 - Como é que é o quê?

 - Se sentir amada... Estar apaixonada... Essas coisas...

 - Ahn... Deixe-me ver... – pensando um pouco, mas Sorena a interrompeu.

 - Você não tem medo de ser uma reação involuntária do estômago que sobe para o coração e te deixa tonta por alguns segundos e depois desce de novo pro estômago? E a falta de ar? Deve ser coisas nos pulmões! Você viveu muito tempo em um ambiente fechado e mofado e cheio de limo e coisas no ar! Algo a ver com a Nova Praga! – exclamou ela batendo na mesa.

 - O meu notório livro pode não estar aqui, mas posso muito bem usar isso no lugar! – pegando um instrumento multi-uso e desengonçado para bater na cabeça da mais nova.

 - O meu canivete multi-uso não!! Comprei por uma fortuna com o Grizzly! Goblins mercenários...

 - Não mude de assunto, mocinha... Como sabe tanto sobre os sintomas hein? Oh pela Luz! Você está apaixonada!! – e rindo alto fez um coraçãozinho no ar com os indicadores. – Mesmo que a carrancuda feiticeira está amando e não sabe lidar com isso?!

 - Besteira! Eu, apaixonada? Por favor! – Sorena desconversou pegando a ferramenta da mão de Imladris e colocando em sua mochila de viagem.

 - Ficou tão vermelha quanto a cor dos seus cabelos... Lalalala, Sorena apaixonada? Quem diria?

 - Não estou apaixonada!

 - Negação é o primeiro passo para aceitação... Depois raiva, ilusão e aceitação e conformação... Ahn acho que tinha alguma coisa no meio ou no final...

 - Eu não estou!

 - Eu te conheço... Não ando quase um ano com você sem saber o que se passa!

 - Mas eu não estou!

 - Negação. Definitivamente você ainda está nesse estágio. – As duas saíram na garagem de madeira e caminharam para a Hospedaria pela estradinha de pedrinhas afundadas na areia fina de Ratchet. Oxkhar veio da caixa de correios com panfletos na mão.

 - Competição de pescaria em Cabo de Straglethorn! Primeiro prêmio: 50 moedas de ouro e mordomias!

 - Pescaria! – pulou Immie no lugar. – Eu ia bem lá em Undercity...

 - Você pescava também?

 - Naquele esgoto verde?! – Sorena ganhou um tapão no ombro. – Ai!

 - Sorena não fale mal da cidade da Immie.

 - Super protetor! Puxa-saco!

 - Pescava botas velhas, algumas coisinhas estranhas às vezes, mas era muito boa no anzol...

 - Pelo-amor-de-tudo-que-vocês-tem-de-sagrado, se vier uma cantada barata depois disso... – Oxkhar riu alto.

 - Maninha você anda lendo mentes, é?

 - Eu queria escutar a cantada barata... – Imladris fez um muxoxo e depois um suspiro fingido, Ox a enlaçou pela cintura e foi para beijá-la, Sorena apressou o passo.

 - Isso sempre faz ela se afastar não? – comentou o marido ganhando outro beijo enquanto andavam. – Ela nunca gosta de nada, já viu?

 - Eu não diria isso... – a clériga murmurou para o chão. – Sorenaaaa!!

 - O que é?! – já lá na frente. Ao passarem pela varandinha da Hospedaria, Kali estava ali toda esparramada em uma cadeira de praia, o gatinho Scido em seu colo ronronando baixinho. A arqueira-vigia não usava as calças de viagem, suas pernas nuas ao Sol. Sorena parou estagnada no lugar olhando fixamente para a frente e não para a cena.

 - Nove horas tem barco ali no cais...

 - Estaremos lá! – Immie levantou o braço de Sorena novamente, mas a mais nova não teve reação alguma. A clériga foi obrigada a empurrá-la escadas acima e tirar a mochila que ela sempre carregava.

 - Por que não contou ao Ox?

 - Porque eu sou sua amiga...

 - Você vai acabar contando eventualmente.

 - Você não confia em mim? – fazendo um biquinho de tristeza. A sobrancelha de Sorena levantou.

 - Você salvou minha vida. Mais de uma vez.

 - Bom saber... – ajeitando a postura da mais nova ainda letárgica no meio do quarto. – Vamos, projeto de Abandonada! Curvada assim vai ganhar do Jeremiah! – a cara da mais nova foi de atônita para séria.

 - Subitamente me esqueço do mero detalhe que você já salvou minha vida. Vou te jogar na caldeira lá da oficina se ousar falar isso de novo!

 - Se continuar assim, suas costas irão atrofiar... Só um aviso...

 - Nhé... – resmungou a mais nova.

 - Dormir de conchinha melhora...

 - Quê?!

 - Só uma opinião terapêutica... Calma... Você é muito sensível...


                Uma pedrinha bateu em suas costas, estava tão atarefada em manter-se ereta e concentrada naquele lagarto morto ali perto da cerca que mal percebeu a aproximação de Kalindorane.

 - Qual é o seu problema comigo?! – Sorena virou-se com desconfiança, seus olhos verdes cintilavam naquela hora da tarde. Kali usava o uniforme dos Farstriders e tinha os cabelos soltos, a mais nova só conseguiu dizer:

 - Tudo. - Kali sorriu debochadamente e ao chegar perto dela, deu-lhe um tapa bem dado em sua cabeça. – Heeey! O que é isso?!

 - Ajeita essa postura! - disse a arqueira altiva. Sorena obedeceu instantaneamente, mas percebeu em seu deslize de conduta anti-social. – Muito bem, pirralha... – riu Kali com a reação imediata.

 - Foi um lapso... – resmungou Sorena com as bochechas ruborizadas e desviando o olhar para o chão. – O que é hein? Vai me incomodar com o quê agora?

 - Immie disse que você precisa treinar. Ox disse que sua mira é péssima. E eu digo que você é perigosa demais para ser treinada sem supervisão de uma pessoa especializada.

 - Oh sim... Não estou vendo ninguém capacitado para isso aqui...

 - Então eu conversei com o Mestre Ayalas e ele me disse que você precisa de exercícios de concentração absoluta para as próximas aulas...

 - Haha. – Sorena debochou seriamente. – E você vai me obrigar a treinar com você? – um outro tapa foi desferido e bem abaixo da nuca.

 - Pela voto da maioria, você irá treinar arco e flecha...

 - E pelo meu voto, não vou não... – entrando na oficina, mas logo sendo puxada pela gola traseira da camiseta.

 - Ou vai chiar demais e vir na ponta de meu chicote? - o sorriso sarcástico de Kali desarmou Sorena.

 - C-chicote...?! – a cara da mais nova foi de terror. Kali abriu a sua bolsa de viagem e desembainhou um fino chicote já surrado pelo tempo com ponta em formato estrela. – Quêêê??

 - Você que deu a idéia lá em Silvermoon, lembra...? – Sorena estapeou a testa e resmungou alguma coisa. – E já que o conselho foi ótimo para a minha auto-estima, eu me tornei bastante íntima do instrumento...

 - Mas o que diabos você está falando?! – Sorena estava mais do que vermelha, estava era com a garganta trancada de pavor.

 - Você acha que é quem que manda lá em casa...? – estalando o chicote bem rente ao chão. O efeito instintivo de Sorena foi fechar os olhos. – O que foi? Não gosta do barulho? – fazendo novamente.

 - É irritante!! – ela disse com os olhos bem fechados que provocava rugas em volta dos olhos. – É que nem arranhar unhas grandes em quadro negro!!

 - Isso vai ser interessante então... – pegando a mais nova pelo braço e a arrastando para uma área mais elevada do vilarejo onde havia uma casinha simples abandonada e uma árvore podre e sem folhas na frente. Como muitos comerciantes diziam, ali era o lugar onde os piratas costumavam ser enforcados pela milícia de Ratchet.

- Isso vai ser ridículo! – exclamou Sorena com aflição por se ver em um lugar como aquele. A velha arvore retorcida tinha marcas de tiros, pontas de flechas e cordas penduradas em alguns galhos mais frondosos. Kali passava o arco e alvaja de flechas para ela. O arco pesou em sua mão e a alvaja quase caiu ao chão. – Eu não vou fazer isso!

 - Ah vai sim... Senão vou falar pra todo mundo que você chorou como um bebê birrento...

 - Pode falar, não estou nem aí...

 - Okay... – estalando o chicote perto da orelha esquerda da elfa.

 - Drooooga, pára com isso!!

 - Eu posso fazer isso o dia inteirinho e não cansar...

 - Convencida... – resmungou, Kali sorriu e se colocou atrás dela. – Dá pra sair detrás de mim?! Eu sei como se manejar um arco!

 - Aaaah, então vamos ver o quanto você sabe...

 - As arqueiras de Karin me ensinaram... – mentiu Sorena e empunhando uma flecha.

 - Mostre-me o seu melhor, feiticeira... – Sorena pegou o longo arco com má vontade e levantou-o como ainda se lembrava das poucas vezes que seu pai mostrou como se segurava um arco, Kali corrigiu a posição de seu braço duas vezes. Nas duas vezes Sorena tremeu visivelmente pela aproximação da arqueira. - Concentração... Ainda consegue ter isso...? – sussurrou em seu ouvido antes de deixá-la sozinha. O sol da tarde batia rente ao seu rosto e pouco se via do alvo mais à frente, apenas o contorno do tronco apodrecido de um carvalho frondoso na frente do casebre. - Tenho todo o tempo do mundo, sabe? – O alvo mostrou algo que ela não gostaria de ver. Alguém pendurado de ponta-cabeça, preso pelas mãos e pés e com uma mordaça em volta da boca. A cabeça estava exatamente na mira do alvo que Kali apontou.

 - Essa porcaria vai servir pra quê?! Eu não preciso disso! – reclamou ela focalizando outro ponto no tronco. A aparição continuava ali esperando pelo tiro.

 - Precisa sim para manter a concentração. Visualizar o alvo, ficar calma... – ajeitando a perna esquerda da mais nova com um cutucão no joelho com seu próprio.

 - Hey! Está machucando!

 - Oh a donzela reclama...? Oh perdoe-me frágil donzela de vidro!

 - Vai se ferrar... – a mais nova murmurou puxando a flecha para trás com toda a força. Tentar visualizar qualquer coisa menos a pessoa pendurada se contorcendo e gritando por piedade. Uma veia tencionou em sua testa, ela sabia que os seus olhos agora estavam alaranjados pela sensação de arrepio subindo pela espinha devagar e se alojando atrás de sua nuca.

 - Não puxe com força, pode escapar. Vá devagar.

 - Se você calar essa sua boca, eu consigo. – ela disse disfarçando a vontade de largar tudo e correr pra debaixo de sua cama.

 - A frágil donzela de vidro reclamona...! – sussurrou Kali novamente no ouvido da menor. Sorena se virou bruscamente e xingou.

 - PÁRA!! – Kali começou a rir alto e se afastou prendendo bem os cabelos ondulados e longos. Sorena encheu os pulmões de ar e tentou se concentrar. Concentrar queria dizer: focalizar algo em alguma coisa. No caso, seria a flecha no tronco da árvore. Fácil, poderia atirar dezenas de flechas que todas iriam encontrar o mesmo destino. Já fizera isso antes e foi bem sucedida. Seu pai até a parabenizou por saber lidar com uma arma daquelas sem ter treino prévio. Não olhar pro maldito se contorcendo na corda. Nem no que ele gritava e muito menos olhar para os olhos leitosos e sem vida, e as rugas de decomposição em volta do pescoço roxo. Sorena levantou um pouco o ombro direito e concentrou em sua mão o tiro, era assim que funcionava.

 - Sem usar magia, Sorena... Não quero ter que te carregar desmaiada para a Hospedaria de novo... - alertou a arqueira mais velha. Sorena a olhou com desprezo. Odiava ter que se lembrar da noite em que passou tão mal pelas vozes que quase se queimou na caldeirinha que esquentava os preparados químicos para as peças mecânicas. Kalindorane que chegara a tempo de pegá-la em começo de convulsão e com um braseiro ardendo na mão direita. Imladris curara o machucado totalmente, mas a leve ardência continuava na palma da mão.

 - Não estou usando magia... – defendeu-se Sorena.

 - Então será por quê sinto que toda vez que você se concentra demais, você na verdade quer explodir algo? - a garota chiou de raiva e baixou o arco.

 - Qual é o seu problema? Se não aceita o que sou, fale logo! - levantou novamente e focalizou o alvo à distância.

 - Aceitar o que você é, sempre aceitei... O problema é aceitar o que você faz para viver...

 - Você faria o mesmo se... – Sorena sentiu um aperto no peito de urgência (Na verdade o homem executado conseguira tirar a mordaça e horrivelmente mostrava a língua cortada em gritos guturais.) e atirou a flecha que afundou no tronco rapidamente, uma pequena fagulha foi vista quando o ferro da ponta se chocou com a madeira. - Se tivesse a mesma vida que eu... – sorrindo satisfeita pelo acerto de primeira e pelo desgraçado ter desaparecido.

 - Que vida? Ou seria morte?

 - Do que está falando? - ela disse com um olhar mortífero.

 - Eu vi o que você faz quando um animal morre por esses cantos... E desaprovo isso completamente... - Sorena ficou intimidada, mas não perdeu a postura.

 - Repito então... Se você tivesse a mesma vi...

 - Eu tenho a mesma vida que você, sua tonta!!! - gritou ela em seu ouvido. - Ajeita essa postura! Parece uma morta-viva toda curvada! - e circulando em volta da garota, Kali começou a dar ordens. - Se comporte como uma adulta e não como uma criança!

 - Eu não sou criança! - retaliou Sorena, Kali bateu em sua nuca com força.

 - Não me responda! Sou a mais velha aqui e te supervisionando no treino!

 - Você ficou lou...? - e antes de completar recebeu outro tapa bem forte, se encolheu para apreciar a dor do impacto do anel pesado que Kali usava em seu anular em sua nuca. Era o anel de casamento.

 - Respeito comigo, entendido? - e estufando o peito, olhou em volta com satisfação. – Já que acertou de primeira, acho que está pronta para a próxima aula de concentração...

 - Vai esquecendo. Eu tenho que terminar de calibrar duas turbinas e não tenho tempo para... para... – quando viu o chicote deslizar ao chão e o olhar de Kali para ela.

 - É um bom dia para caçar, o que acha pirralha?

 - Eu já disse que não sou pir... Aaaiii!!! - recebeu outro tapa e se sentiu tonta. – Quer parar com isso? Vou falar pro meu irmão!

 - Acho que ele está muito ocupado agora... – e com um sorrisinho malicioso completou. – A Immie sabe como deixar um rapaz ocupado por bastante tempo... – Sorena tapou as orelhas como pode e fez careta.

 - Vira essa boca pra lá!!

 - O que foi? Não gosta de ouvir esse tipo de assunto? Mas você sempre fez piadinhas do tipo para cima de mim em Silvermoon...

 - Eu era uma idiota! – exclamou a elfa menor, Kali recolheu o chicote em um rolo e colocou pendurado ao cinto.

 - Corrigindo. Você ainda É uma idiota.

 - Obrigada.

 - Disponha. – E começando a andar, ordenou: - Pegue minha alvaja e meu capuz. Rápido, rápido!!! - Sorena saiu em silêncio, praguejando contra o dia em que conheceu aquela mulher. Enquanto pegava as coisas para a caçada e caminhando rapidamente na frente, Kali a observava, sorriu para o chão e balançou sua cabeça. - Tenho que parar de pensar nessas coisas... Educar essa criança primeiro e depois... – Sorena resmungava na frente.

 - Parece uma déspota... Até parece que é a Divina Majestade dos Frangotestriders Invisíveis... – ia dizendo e arrastando os pés. Kali a cutucou forte nas costas e logo se juntou ao passo de Sorena.

- Os Frangotestriders agradecem pela consideração e pelo respeito, pequena aprendiz. – e sussurrando no ouvido dela – E quando ver uma dessas coisas, você pode me falar okay? – Enlaçando sua mão direita na esquerda que vivia machucada. A mais nova iria responder, mas Kali foi rápida. - Vamos, senão não teremos corça para o jantar!


Coberta de lama de pântano e em parte por areia, Sorena se jogou no Mar de águas frias ao lado do estábulo da Hospedaria. Queria se livrar de toda aquela imundície e comer. Estava tão cansada! Correra por toda extensão do pântano há alguns quilômetros adentrando o litoral, esperaram por muito tempo até terem sinal de algum animal. Lobos vieram primeiro, farejando a corça que elas almejavam abater e depois a briga com os animais. Se Oxkhar estivesse ali, saberia lidar com a situação. E Immie pediria para elas não machucarem os “cãezinhos fofos”, e por ter esse pensamento em mente, Sorena recebera uma rasteira do lobo maior e quase teve seu rosto mutilado por outro. Kali mandava, gritava, ria e brandia o seu arco como se fosse a grande Rainha das Arqueiras de Azeroth. Sorena achava tudo ridículo e brutal. Caçar nunca fora seu forte na Taverna do Sol, o máximo que fazia era pegar ovos de galinhas, tirar leite de vacas e pescar no riozinho ao lado de casa.

 - O que está fazendo? Quero aquela corça limpa e salgada antes do anoitecer! - Sorena se levantou ensopada da beirada do Mar, encheu a boca de água e com uma reverência exagerada, cuspiu o conteúdo no rosto sujo e ruborizado da mais velha.

 - Já se lavou devidamente. Você deveria tomar cuidado com sua higiene pessoal antes de tratar de comida, cara Rainha dos Frangotestriders... - Kali a segurou pelo braço e as duas se encararam com ferocidade. - Poderia largar o meu braço?

 - Você irá me obedecer, quer queira, quer não... Ouviu sobrinha da Vigia-General de Silvermoon? - Sorena sentiu seu sangue pulsar na garganta e se segurou para não deixar que sua armadura demoníaca aflorasse de sua pele e derrubasse Kali. Puxou o braço para si, mas Kali não largou. - Se eu não largar o que você fará? Acha que consegue me derrotar em uma luta limpa e justa?

 - Não, não acho que ganho de você em todas as coisas que poderia fazer... Mas meu braço dói absurdamente quando alguém me toca... E só isso me basta pra me manter bem longe de você... - Kali soltou o braço sem palavras, a garota entrou no estábulo e desapareceu na escuridão do andar superior. A Farstrider suspirou em desapontamento e arrastou a carcaça da corça jovem para os fundos da cozinha da Hospedaria. 



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